quarta-feira, 11 de junho de 2014

X FESTIVAL INTERNACIONAL DE BD DE BEJA 2014 (8) – AS EXPOSIÇÕES (7): TOMMI MUSTURI + ZAKARELLA: PRELÚDIO A INFERNUS


CASA DA CULTURA | TOMMI MUSTURI | Finlandia


DESLUMBRAMENTOS CROMÁTICOS
Sara Figueiredo Costa

O último livro de Tommy Musturi não se anuncia como best of ou antologia, mantendo-se na capa a expectativa de um inédito que acaba por revelar-se enganador. Apesar disso, Beating constitui uma porta de entrada privilegiada para a obra do autor finlandês: trabalhos previamente destinados a fanzines, exposições e várias publicações dispersas surgem reunidos num tomo que dá a ler uma obra plural, produzida entre 2003 e 2013, agora com a acessibilidade facilitada por uma edição única. Neste volume, de grande formato, privilegia-se o efeito de montra que uma colecção com estas características pode constituir, mas a leitura das obras individuais de Tommy Musturi conduz-nos por caminhos mais estruturados em termos de narrativa e semântica. A série The Books of Hope, composta por cinco livros (alguns deles já com edição em inglês e francês) e recentemente concluída, explora o tema da memória e o modo como a sua construção se assume como definidora de uma vida, mesmo quando essa vida é partilhada e a memória do outro nem sempre corresponde à nossa. A composição de pranchas e vinhetas com uma arrumação mais rígida do que é formalmente habitual na obra do autor é, talvez, o elemento mais visível de um processo que, ao longo de oito anos, centrou Musturi na experimentação à volta do storyboard e da arrumação narrativa, sem demasiada liberdade para estender as fronteiras de cada vinheta para um infinito potencial que atropelasse, como noutros trabalhos do autor, a fronteira da prancha.

Se é possível reconhecer em The Books of Hope uma certa inovação na linguagem de Musturi, não enquanto escala de valoração qualitativa, mas antes como deriva na procura de outros modos de trabalhar, a presença de uma ponderada utilização da cor continua a ser linha de força essencial e dominante na sua obra. O trabalho do autor com a cor é emblemático, não porque as suas pranchas e imagens sejam mais ou menos coloridas do que as de outros, mas antes pelo modo como infunde significação às escolhas cromáticas. Em Caminhando Com Samuel, editado em Portugal pela Mmmnnrrrg, a utilização da cor revela-se essencial na própria estruturação narrativa, já que é a partir dos contrastes, da diferenciação de tons e da gradação que os diferentes episódios e momentos da quase cosmogonia que compõe o referido livro se constroem. De um certo modo, quer este livro, quer a personagem de Samuel podem ler-se como nucleares na obra de Tommy Musturi, na medida em que o modo de Samuel olhar o mundo, sem que a História seja o elemento organizador da narrativa, prevê o acaso como possibilidade maior para os acontecimentos e a sua explicação, criando um universo onde não são as respostas aquilo que se procura, mas antes os deslumbramentos.


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CASA DA CULTURA | ZAKARELA: 
PRELÚDIO A INFERNUS, 
de Nuno Amado, Jo Bonito, Gisela Martins e Sara Ferreira Portugal


ZAKARELLA - UMA VIAGEM NO TEMPO
Aida Teixeira

Corria o ano de 1976, ainda tudo muito quente da recente revolução de Abril de 74, quando surgiu, pela primeira vez, no escaparates, a heroína nacional, de seu nome Zakarella.

O nome da nossa heroína foi, claramente, baseado em heroínas não nacionais já existentes, e que faziam grande sucesso fora de Portugal - Barbarella, e Vampirella.

Roussado Pinto (escritor/jornalista), e Carlos Alberto (pintor/ilustrador), ambos trabalhadores da extinta Portugal Press, tiveram a ideia de, aproveitando o talento de ambos, criarem a nossa Zakarella. E assim foi durante 28 revistas.

A partir de 1978, data de saída da revista n° 28, nunca mais ninguém soube da Zakarella, apareciam umas revistas à venda, de vez em quando, nos alfarrabistas, apenas isso.

Mas, pelo menos no seio dos amantes da Banda Desenhada, da Pintura, e da Ilustração (sim as maiúsculas são propositadas, porque são merecidas), a Zakarella nunca foi esquecida, e a prova disso é o seu reaparecimento. Difícil mesmo foi "como encontrar o Carlos Alberto?"

Sabem que mais? As redes sociais são muito úteis, podem falar mal à vontade, dizer que tiram produtividade (e tiram), que as pessoas perdem mais tempo ali do que a conviverem com amigos reais (e é verdade), mas foi através de uma rede social que o Nuno Amado conseguiu chegar até ao Carlos Alberto.

Um muito obrigado ao Henrique Marques, que não me conhecendo de lado nenhum, me ajudou, só porque sim, puro altruísmo. E que dizer do Carlos Alberto? É um Senhor (sim, a maiúscula também é propositada, porque também é merecida), de uma simpatia sem limites. Já nem ele se lembrava que um dia tinha desenhado a personagem Zakarella, foi com um sorridente "nunca mais pensei nisso" que se voltou a lembrar dela, e nos disse "Agora até tenho medo dos desenhos que fiz, acho que ali soltei os meus demónios. Tinha outra idade."

Em 2010, o Carlos Alberto, cedeu-nos os direitos de autor que tinha sobre a personagem, e nome da Zakarella. Aí começou nova aventura.

Encontrar um desenhador que apanhe o espírito da personagem, não é fácil. E que depois o desenho resulte, exactamente, como se pretende, é ainda mais difícil.

Foram tentados alguns desenhadores, mas o resultado não era o pretendido, nada em desabono dos desenhadores, que são bons, e com provas dadas, mas faltava-lhes o tal "espírito", e a demanda continuou até encontrar-mos a Jô Bonito, que ao vencer um "desafio" feito no blog "Leituras de BD", nos mostrou que, mesmo sem conhecer bem a personagem (não tem idade para ter acompanhado a saída das revistas em 1976, uma vez que ainda nem nascida era), lhe captou o tal "espírito", "determinação", e "garra".

E cá estamos, à espera que a Zakarella nos mostre a sua valentia, o seu lado mau (que todos temos), o seu lado bom (que alguns vão tendo), e que nos conte, o que andou a fazer, escondida, estes 36 anos.

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Jô Bonito – em foto do blogue Zakarella: http://zakarella.blogspot.pt/

Nuno Amado e Jô Bonito na Bedeteca de Beja, durante a apresentação do projecto – em foto do blogue Zakarella: http://zakarella.blogspot.pt/

A Zakarella de Carlos Alberto

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