terça-feira, 31 de dezembro de 2019

COMANCHE - DE GREG E HERMMAN O LIVRO DE BANDA DESENHADA DO ANO DE 2019 PARA O KUENTRO

COMANCHE 
DE GREG e HERMMAN
O LIVRO DE BANDA DESENHADA 
DO ANO DE 2019 
PARA O KUENTRO

Para “Livro de BD do ano” o Kuentro escolheu a obra em dois volumes, com que a editora Ala dos Livros assinalou os 50 anos da série Comanche numa esplêndida edição integral comemorativa a preto e branco.

A edição desta obra num magnifico preto e branco, e formato de edição generoso, permite observar ao pormenor as excelentes histórias de Michel Régnier, mais conhecido pelo pseudónimo Greg e desenhadas pelo inconfundível traço de Hermann Huppen. A única nota negativa nesta edição é a ausência da numeração das páginas – um erro de palmatória!

A série Comanche foi publicada pela primeira vez em Portugal em 1970. A publicação ocorreu no número 7 do 3º ano da revista Tintin (de 11 de Julho), onde surgiram, a cores, as 8 primeiras pranchas que constituem a história curta Red Dust, a qual introduz o personagem e explica a sua aparição em Greenstone Falls.

Para além da publicação na revista Tintin, há ainda episódios da dupla Greg/Hermann publicados no Almanaque Tintin, na Selecções Tintin e na revista Mundo de Aventuras (2ª fase).

O primeiro álbum da série publicado em Portugal, surgiu em 1978 com selo da Livraria Bertrand.

A última publicação portuguesa ocorreu na revista Selecções BD (1ª série), em 1990, onde foi publicada a banda desenhada As Feras, do duo Greg/M. Rouge.

Esta série integral a preto e branca editada pela Ala dos Livros corresponde à série editada pela belga Niffle (de Frédéric Niffle) na sua colecção La Grande Bibliothèque. Nesta colecção belga, têm sido também editadas a preto e branco séries como Blake e Mortimer, Jeremiah, João e Pirolito e Thorgal.

COMANCHE – Volume 1


Contém: RED DUST, OS GUERREIROS DO DESERTO, OS LOBOS DO WYOMING e O CÉU ESTÁ VERMELHO SOBRE LARAMIE

Obra Completa de Greg e Hermann
Cartonado: 235 x 310 mm, p/b, 200 págs.
ISBN: 978-989-54171-1-7
PVP: 32,90€

COMANCHE – Volume 2

Contém: O DESERTO SEM LUZ, FÚRIA REBELDE, O DEDO DO DIABO e OS XERIFES

Obra Completa de Greg e Hermann
Cartonado. 235 x 310 mm, p/b, 200 págs.
ISBN: 978-989-54171-3-1
PVP: 32,90 €

A OBRA 

Por Pedro Cleto* 

Não sei quando descobri Comanche – e Red Dust, o verdadeiro protagonista – mas sei que a/o fui lendo ao sabor dos álbuns portugueses que – à revelia da sua ordem cronológica – me iam caindo nas mãos. Mais tarde, completada a colecção com as edições originais franco-belgas inéditas em português, a leitura ordenada do conjunto possibilitou uma visão mais completa e abrangente e a confirmação de que estava perante uma das grandes séries de BD ambientadas no velho Oeste.

Sendo eu, desde sempre – ou quase? – amante de western, foi com Comanche – e Red Dust, friso de novo – que descobri que o género podia oferecer mais – muito mais – do que grandes cavalgadas, duelos emocionantes, tiroteios cerrados, perseguições e confrontos entre brancos e brancos ou estes e os índios.

Que estão todos presentes – em doses generosas, embora variáveis – em Comanche, mas onde descobri(mos) também que o herói nem sempre vence, que a rapariga pode não ficar com ele, que o que é certo e a justiça nem sempre caminham de mãos dadas, que esta última é muitas vezes cega.

E que o mais selvagem dos animais é sempre o homem – e por vezes a única forma de o tratar é como tal – e que a ganância, a prepotência, o racismo ou a simples – simples? – sede de sangue justificam, para muitos, comportamentos arrepiantes e nada civilizados, de que ninguém está ao abrigo ou livre.

Tudo isto, está já presente neste volume inicial, que se nos apresenta centrado na chegada do cowboy solitário Red Dust ao rancho 666, gerido pela indomável – jovem, mestiça – Comanche, e a constituição da sua equipa base, com o velho Ten Gallons, o negro Toby, o imberbe Clem e o pele-vermelha Raio de Luar.

As diferenças de pele e temperamento, as ameaças veladas da civilização que se aproxima sem pedir licença nem respeitar nada nem ninguém, a fome, a exploração, as vinganças e a ameaça do bando sanguinário dos irmãos Dobbs – de um seu misterioso aliado…–, são os ingredientes seguintes destes primeiros quatro álbuns, reunidos neste integral.

Construído como ‘falsos’ episódios curtos de 8 páginas, Comanche apresenta um ritmo próprio, bastante pausado para um western, muitas vezes introspectivo, com tempo para respirar e olhar os magníficos cenários desenhados por Hermann

É verdade que Greg tem algumas tiradas grandiloquentes, que hoje soam um pouco forçadas, mas que se desculpam face ao conjunto com que nos presenteia.
E, para os amantes do western puro e duro, uma chamada de atenção para duas cenas fundamentais presentes neste integral, mais precisamente dois duelos, aqueles em que Dust enfrenta Kentucky – virá mais à frente uma bela história curta que torna (ainda) mais dramático este confronto – e o final, com Russ Dobbs.

(*) in: http://asleiturasdopedro.blogspot.com/2019/04/comanche-1.html

Greg, pseudónimo de Michel Louis Albert Regnier (Bélgica, 1931 – 1999) assina as suas primeiras pranchas de banda desenhada aos 16 anos, dando início a uma das carreiras mais prolíficas da profissão. No início dos anos 50 conhece Franquin, para quem escreve alguns gags. Rapidamente, e por via da agência International Press, produzirá um número impressionante de pranchas para todos os gostos e em todos os estilos. Enquanto argumentista, capaz de abordar temas que vão do humor ao western, passando pela espionagem, trabalha com vários desenhadores, continuando, simultaneamente, a desenhar. E foi como autor completo que, em 1963, criou o seu personagem mais célebre, Achille Talon, pequeno burguês que surge pela primeira vez nas páginas da revista Pilote.


Dois anos mais tarde, em 1965, enceta uma nova aventura ao tornar-se Chefe de Redacção do Journal Tintin. Dedica-se durante 9 anos a modernizar as publicações da editora Lombard, escrevendo séries e rubricas e revelando inúmeros jovens artistas que reúne no célebre Studio Greg. Verdadeiro descobridor de talentos, dará a conhecer autores como Hermann, Dany, Dupa e muitos outros.

Em 1974, deixa a redacção do Journal Tintin e a Bélgica para rumar a Paris e tentar a aventura editorial na Dargaud. Essa aventura leva-lo-á até aos Estados Unidos, país que o fascina desde a infância. Regressa a França em meados dos anos 80, sem nunca ter deixado de escrever histórias humanistas. Greg dedicou-se à 9.ª Arte até ao final da sua carreira.

Hermann Huppen (Bélgica, 1938) sai de uma infância passada no meio da Guerra e da ocupação com uma forte vontade de aprender um ofício e uma confiança bastante relativa no Homem. Depois de uma estada no Canadá, regressa ao seu país natal e casa-se. Por um acaso da vida, é o seu cunhado, Philippe Vandooven, quem o lançará na banda desenhada ao encomendar-lhe uma história para a revista de escuteiros do qual é responsável. Depois da publicação desta Histoire en Able, Greg telefona ao jovem desenhador. O autor de Achille Talon fica imediatamente impressionado com o vento de renovação que Hermann aporta ao desenho realista, e com ele enceta Bernard Prince. Seguem-se as aventuras de Comanche, após as quais a notoriedade de Hermann é tal que pode serenamente pensar em lançar-se a solo. Daí resultará Jeremiah, para começar, e uma série de one-shots, ao longo das quais nos faz partilhar o seu gosto pela aguarela, mas sobretudo uma certa misantropia. Hermann nunca o escondeu: desconfia do Homem e não gosta dele. E toda a sua obra tem por ambição mergulhar-nos na nossa própria perversidade. E é raro, e precioso, que tal fealdade case na perfeição com a beleza do desenho! Hermann recebeu, em 2016, o Grande Prémio de Angoulême pelo conjunto da sua obra.













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