NONA ARTE
MEMÓRIAS DA BANDA DESENHADA
(CXVIII - CXVIX)
Fernando Bento (1910 - 1996)
O Louletano, 7 de Janeiro de 2008
FERNANDO BENTO
O MAGNATA DO TEATRO E DO PETRÓLEO – 3
por
ANTÓNIO DIAS DE DEUS e LEONARDO DE SÁ
Porém, o acontecimento fundamental já tinha sido o começo, em 4 de Janeiro de 1941, de uma das melhores realizações da Empresa Nacional de Publicidade – a revista infantil Diabrete.
Mestre da maquetização, a maioria das ilustrações e histórias aos quadradinhos sobre ele irão incidir, com argumentos de Adolfo Simões Muller, que se tornaria director da revista a breve trecho, e Maria Amélia Bárcia, sua colaboradora.
A influência de Muller detecta-se principalmente nas histórias aos quadradinhos de carácter didáctico-histórico ou de adaptações de clássicos da literatura. Desde "O Príncipe e o Pobre" até "S. João de Brito", irão desfilar diante de nós "Miguel Strogolff”, “Dois Anos de Férias”, “Um Herói de 15 Anos”, “A Ilha do Tesouro”, “As Mil e Uma Noites”, “A Ilha Misteriosa”, “O Príncipe Feliz”, “Matias Sandorf”, “O Evangelho”, “O Soldadinho de Chumbo”, “O Pajem do Rei”, “Luís de Camões”, “Afonso e Albuquerque”, “As Minas de Salomão”, “Serpa Pinto”, etc. – um nunca mais acabar.
Fernando Bento desforrou-se da “submissão” à História e à Literatura inventando séries cómicas, algumas extraordinariamente longas, como “Bèquinhas, Beiçudo & Barbaças”, “34 Macacos e Eu!”, “Diabruras da Prima Zuca”, “Zé quitolas”, além de muitas tiras e pequenas pranchas cómicas polvilhadas, durante os onze anos de existência do Diabrete. »»
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FERNANDO BENTO
O MAGNATA DO TEATRO E DO PETRÓLEO – 4
por
ANTÓNIO DIAS DE DEUS e LEONARDO DE SÁ
O Louletano, 21 de Janeiro de 2008
No jornal infantil que se lhe seguiu, logo em Janeiro de 1952, a abundância não é tão grande, mas aparecem-nos as suas melhores obras em HQ, como "Beau Geste", "O Anel da Rainha de Sabá" e, principalmente, "Quintino Durward", que foi a história mais amada pelo próprio Fernando Bento.
Com o findar do Cavaleiro Andante, a sua carreira na arte de quadricular reduziu-se muito, praticamente com uma única intervenção desportiva em A Capital, com "Um Homem chamado Joaquim Agostinho", em 1973, já de grafismo mais modernista.
A partir de finais dos anos 70, começámos a assistir à reedição de várias das suas obras anteriores. Mas apesar de todo o movimento em volta do seu trabalho, raras foram as novas páginas de quadradinhos que deixou na década seguinte.
Após ter conseguido a proeza de obter a melhor novela gráfica em quadradinhos, com a sua adaptação de "A Ilha do Tesoiro", em 1947, eis que Fernando Bento, no início dos anos 90, agora com o argumentista Jorge Magalhães, se decidir por uma reformulação onde já nada há de Stevenson, além dos nomes emprestados. E lança-se com tal entusiasmo ao trabalho que completa as primeiras 16 páginas em mês e meio. O álbum Regresso à Ilha do Tesouro – volume I, onde o artista alcançou o delírio da composição e movimento totais, poderá ser interpretado como o culminar estilístico do artista. Aos 80 anos consegue surpreender o leitor, apresentando-se sob novas roupagens, com a introdução de suaves e delgados elementos do género feminino, mais algumas adendas ao gosto do tempo e dos gostos, explodindo os quadradinhos. Encomendado, o segundo volume da obra ficará incompleto, por lamentável desleixo da editora, ficando a faltar apenas algumas páginas. Foi a sua derradeira obra-prima, o seu testamento quadriculado. Já não poderia ir mais longe, nem na sua arte, nem na sua vida. ■
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