terça-feira, 4 de junho de 2013

IX FESTIVAL INTERNACIONAL DE BANDA DESENHADA DE BEJA – A SOLO (1 e 2) – JOSÉ RUY e PEDRO ZAMITH

IX FESTIVAL INTERNACIONAL DE BANDA DESENHADA DE BEJA 

A SOLO (1 e 2)
JOSÉ RUY e PEDRO ZAMITH

Do Splaft...

JOSÉ RUY
UM MESTRE DA BANDA DESENHADA PORTUGUESA
MESTRE EM AFABILIDADE

Pedro Mota

Desde a primeira edição que o Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja dedica uma especial atenção aos autores portugueses, das mais variadas gerações e tendências.

Este ano, o Festival tem a oportunidade de apresentar uma exposição retrospetiva da obra de um dos mais importantes e originais autores portugueses de banda desenhada: José Ruy.

José Ruy nasceu na Amadora em 9 de Maio de 1930.

Possui três anos de habilitação a Belas Artes e o Curso de Artes Gráficas da Escola António Arroio. A sua primeira banda desenhada foi publicada n’ "O Papagaio", em 21 de Dezembro de 1944 (com a idade de 14 anos). Através do mestre Rodrigues Alves entra para a equipa d' "O Mosquito". Aí conhece o director António Cardoso Lopes (o Tiotónio) e EduardoTeixeira Coelho, com quem passa a colaborar, nomeadamente, com a criação de estúdios num trabalho de banda desenhada e publicidade que se desenvolve no sentido da especialização (nomeadamente do desenho a partir do modelo vivo).

Desde a primeira história de 1944, José Ruy colabora em quase todas as publicações de BD portuguesas, com destaque para, além dos já citados "Papagaio" e "Mosquito", “Cavaleiro Andante" onde o autor se afirma definitivamente como desenhador realista. Com a popularização dos álbuns, o trabalho do autor passa a marcar forte presença neste formato. Em 1983, o álbum "Peregrinação de Fernão Mendes Pinto" é selecionado pelo International Board of Books for Young People (IBBY) para a exposição de Bratislava daquele ano. Os álbuns "Os Lusiadas" e "Porto Bomvento – Homens sem Alma" conhecem edições especiais para Macau e para as Comunidades Portuguesas.

Tem exposto o seu trabalho em Portugal e no estrangeiro, e recebe diversos prémios ao longo da sua carreira, incluindo a Medalha Municipal de Mérito e Dedicação, da Câmara Municipal da Amadora (1991), cidade que já batizou uma escola e uma rua com o seu nome.

A obra de José Ruy é, a um tempo, pessoal (muito motivada por causas e interesses muito particulares) e dirigida a um leitor abrangente, quase de todas as idades.

Verdadeiramente imparável na sua produção, José Ruy revela um crescente entusiasmo (muito evidente quando, recentemente, começou a utilizar o computador no seu processo criativo), que se reflecte no próprio dinamismo e composição das suas pranchas. Autor dum estilo inconfundível que se reconhece desde o ritmo da narrativa à aplicação da cor, José Ruy é, por mérito, um dos mais importantes autores da história da banda desenhada portuguesa, e um dos que mais contribuiu para definir a sua identidade.

Para além deste currículo impressionante, em que a obra fala por si, há que considerar a pessoa de José Ruy. Sem falar na competência e profissionalismo que a obra revela, trata-se de uma pessoa muito atenta, observadora e crítica (que não hesita quando se trata de mandar alguns "recados"mais ou menos implícitos – dos discursos de Salazar em “As Aventuras de 4 Lusitanos e Uma Porca”, em colaboração com Paulo Madeira Rodrigues, à presença de Ramalhão e Lameiroso em “Nicolau Coelho”, passando pela mensagem de esperança para o CNBI da última fala de “Levem-me Nesse Sonho... Acordado!”), com uma grande capacidade de diálogo e um enorme respeito, consideração e simpatia pelos outros, e, em especial, pelos seus leitores.

José Ruy está sempre a aprender e a ensinar. É um verdadeiro mestre.
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AS FOTOS

No domingo fizemos o percurso todo das exposições, começando pela de José Ruy no Museu Regional de Beja, que foi o primeiro a abrir, às 9h30, depois seguimos em direcção ao Castelo, pela Rua dos Infantes para as Exposições de João Amaral, no Espaço Expositivo da Rua dos Infantes e a de João Sequeira e Miguel Costa Ferreira, no Espaço "Os Infantes" - ambas fechadas. Seguimos então para a rua paralela à dos Infantes, a Rua do Touro e visitámos a exposição de Pedro Zamith, no Museu Jorge Vieira. 

As ruas de Beja - a Rua de Mértola e as que derivam dela -, estão diferentes, com umas "velas-toldo" a sombrear o espaço e uns repuxos de água a refrescar o ambiente...

 
O Museu Regional de Beja - instalado no Real Mosteiro de Nossa Senhora da Conceição
 
 
 
 
 
 
 
 

 Não, isto não pertence à exposição de José Ruy, mas apenas um intermezzo entre o espaço das pranchas expostas: o esplendor da talha dourada da igreja do Real Mosteiro de Nossa Senhora da Conceição

 
 
Repararam nos reflexos, que não deixam ver nada em condições?
Estou já um bocado cansado de explicar aos responsáveis pelas exposições dos nossos festivais (desde 1992, à organização do FIBDA) que o uso do acrílico normal tem este efeito - não só nas fotos mas sobretudo em quem vê as exposições - os reflexos são os maiores assassinos de exposições que se conhece. 
Usem acrílico anti-reflexo, porra - o preço é quase o mesmo!!!

 
 
 
 
 
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Do Splaft...

PEDRO ZAMITH
"HELL COME TO MY WORLD"
NO CABARET ZAMITH, 
LEVAMOS UM ESTALO COM EDUCAÇÃO

Pedro Moura

Apesar de tudo, há grande cortesia.

Somos dados as boas-vindas, sorrisos e cerimónias, e dirigem-nos para o nosso lugar, copo servido. Olhamos em torno e parece reconhecermos rostos, gestos familiares, situações que já experienciámos ou poderíamos imaginar cumprir sem grande esforço. Mas é um engano, e tudo isto é uma armadilha. As luzes diminuem.

É bem possível que a origem da palavra "grotesco" remeta, através do termo quinhentista italiano grottesco, às caves (grotta) dos antigos edifícios romanos em ruínas, nas quais eram encontradas pinturas. De referente somente às condições de um espaço, passaria a referir-se a figurações imaginativas e fantásticas e, sob o domínio das revisitações ao classicismo do século XVIII, ganha um tom pejorativo. O filtro do século XX, século grotesco ele mesmo, quase que obriga os artistas a empregarem métodos que negam espelhar essa crua realidade.

De George Grosz a Frida Kahlo, de Francis Bacon a Paul McCarthy, a distorção e a contorção, a compressão e o alongamento e a inversão, a miniaturização e o gigantismo, a simplificação estilizada e o excesso de sinais gráficos, a projecção e a simbolizaçào, a duplicação e a combinação modular, a apropriação e a colagem e o readymade e a assemblagem, são arvorados como canais de irem ao osso das coisas. De pejorativo, melhorativo.

Afinal, a recusa de um espelho acaba por criar uma superfície que capta com maior rigor a ambiência de um mundo. As relações entre o grotesco, o absurdo, o maravilhoso e o fantástico, o estranho familiar (unheimlich), tudo termos precisos, mereceria um tratamento alongado: ficamo-nos pela consciência de que esses métodos de imagem acabam por reflectir dimensões invisíveis a olho nu. Neste palco, põe-se tudo a nu.

De um modo sistemático, sustentado e de pequenas variações em torno de um tema central, também a obra de Pedro Zamith – na pintura, nos murais, na banda desenhada, na ilustração – tem seguido esse canal, e reinstaura o grotesco como reflexo. Quando nos apercebemos que todas estas personagens são uma superfície especular, é tarde demais, já caímos na esparrela. Não se tratam de meras piadas, nem sequer de paródias — mesmo quando a referência a personalidades, a ícones do cinema, a tipos, são óbvias e escavadas. Mas tampouco é um abandono ao deboche ou a uma malícia. Pois o grotesco não surge por hábito de gesto ou por imperícia em relação à (suposta) beleza; ela é intencional e é fruto de decisão de ridicularização: o grotesco de Zamith espuma de uma sátira dinâmica, lança sombras demoníacas que votam tudo à sua condição de possibilidade de gozo. É uma espécie de ode à desconfiança, ao cinismo, à caça de vacas sagradas e com elas fazer os mais banais hambúrgueres de franchising. Os pratos estão servidos.

Não deixa de ser curioso que todas estas peças possam ser vistas, conforme a nossa posição crítica face ao inevitável "mercado da arte" (que também pode ser visto como a forma como as obras circulam no mundo e o artista vai pagando as contas), ora como "sobreviventes" ora como "restos". De cada exposição, usualmente temática ou que persegue uma qualquer linha coesa, formal, matérica, temática, figurativa, vende-se muito, mas ficam sempre algumas peças menos amadas pelo público-comprador. Ao mesmo tempo, são elas que, alapando-se ao espólio do artista pós-exposiçào, o obrigam a olhar para a sua produção de uma maneira mais desarrumada, menos programática, e revelarem-se quer as marcas distintivas e comuns quer as falhas intransponíveis. Independentemente dos suportes (de telas a fotografias, passando por esculturas genéricas de gesso) e dos materiais riscadores e cromáticos (havendo uma preferência pelo acrílico, e as possibilidades de cores planas e de um brilho que não esconde a sua artificialidade), explorando-se várias formas geométricas e efeitos de composição, há uma constância pela centralidade de uma figura que, de uma maneira ou outra, nos olha e confronta, lançando-nos num pequeno momentâneo desconforto, a familiaridade que nos faz primeiro aproximar e logo depois compreender o engano e a armadilha em que caímos. O cheiro da mostarda já nos chega ao nariz. Estas personagens dançam, cantam, contorcem-se. Estamos num palco do burlesque, pequeno circo ambulante das províncias, montra de heteromorfia humana, em que cada passo se sente pegajoso. Mesmo aquelas que pareceriam estar mais inertes, fumando ou posando, acabam por se apresentar em gestos ou formas dinâmicas, por vezes em detrimento de uma acalmia expectável do corpo, uma respeitabilidade clássica e académica das artes. Zamith explora as camadas do pathos mais profundo de todos os seus seres (humanos?, semi-humanos?) – e as intervenções sobre imagens encontradas reforçam esse efeito de raio-X a um só tempo fantástico e tão verídico –, como se um alucinado tratado das paixões se tratasse. E terminada a dança, cobram-nos o bilhete. Com uma vénia.

 
Rua dos Infantes...
  
Núcleo Expositivo da Rua dos Infantes.
 
 
Museu Jorge Vieira - Casa das Artes, na Rua do Touro

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 E... aconteceu no entanto que Geraldes Lino veio...

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