ÀS QUINTAS FALAMOS DO CNBDI (10)
AS EXPOSIÇÕES (4)
CINEMANIMAÇÃO
80 anos de cinema de animação em Portugal
26 de Junho a 21 de Novembro de 2003
Contracapa e capa do Catálogo
Algumas páginas do Catálogo:
As fotos desta exposição, gentilmente cedidas por Dâmaso Afonso:
Em Outubro de 2003 sairia também o nº0 do Boletim D'informação do CNBDI
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AMIGOS DO CNBDI (8)
José Ruy
Como estava a contar, um dos grandes sonhos da direção do CNBDI, depois que o Dr. Luís Vargas seguiu a sua rota para outros cargos de destaque, foi de conseguir ter em exposição nas suas instalações, a mítica máquina que imprimia O Mosquito. Esta máquina «Roland» teve uma história brilhante e acabou tristemente no chamado «Museu da Ciência e da Técnica» a partir de 1981.
Depois da separação da sociedade entre Raul Correia e o Tiotónio, este ficou com as oficinas gráficas e portanto com a máquina impressora, onde continuou a imprimir o jornal «O Camarada» e o «Gafanhoto», jornalinho então lançado pelo autor de «Zé Pacóvio & Grilinho». Com a partida do Tiotónio para o Brasil de onde não voltaria, e depois da revolução de 1974, a insigne Roland foi para um departamento do Ministério da Educação e Cultura, em Mem-Martins, e durante um tempo imprimiu pontos de exame. Mas ultrapassada a sua capacidade para esse fim, pelo avanço da tecnologia, não foi para abate como acontece na maioria dos casos, pois o Ministro da altura sabendo do seu valor histórico, como exemplar único em Portugal e possivelmente na Europa, enviou-o para Coimbra, para o referido Museu.
E aqui a noite caiu. A máquina chegou ao Museu desmontada, por causa do transporte como habitualmente acontece a este género de material, e assim se manteve, pois embora ela fosse enviada para ser exposta, os seus responsáveis talvez desconhecendo o que representava, deixaram-na «repousar» nos seus armazéns.
Quando em 2005 o CNBDI começou a planear tê-la em exposição em 2007, pediu-a emprestada (com tempo suficiente para a burocracia e imponderáveis). Enviou um ofício ao Museu, ao então seu diretor o Professor Doutor Paulo da Gama Mota. Este diretor deve ter tido conhecimento do que aquela máquina representava para o País, pela carta do CNBDI, descobrindo que afinal pediam para ver aquele «monte de sucata» que ele tinha abandonado à ferrugem num armazém (ao que consta) ao ar livre.
Vai de fugir para a frente. Nunca respondeu às muitas cartas enviadas, mandando sempre faze-lo por alguém através de telefonemas. Marcaram-se várias datas para irmos identificar a máquina (pois quem melhor para o fazer do que o seu primeiro impressor, José da Luz e eu próprio que lidei junto a ela durante anos) mas à última da hora telefonavam sempre a dizer que o Senhor Diretor não podia estar presente, e ele é que possuía a chave do tal armazém. O tempo foi-se esgotando e a paciência também. O tal Senhor Doutor nunca respondeu a uma única carta do Vereador da Cultura e do Presidente da Câmara. Então o Autarca decidiu escrever ao Ministro que superintende o Museu; este mandou um ofício ao diretor do Museu, e a resposta (ao Ministro) foi hilariante, para quem estava dentro do assunto. Afirmava o Senhor Professor Doutor, que ele é que esperava uma resposta do CNBDI da Amadora, e que a máquina estava à disposição, mas que precisava de uma reparação, e esta só seria feita por intermédio do «seu» Museu, e a custas da Câmara Municipal da Amadora.
Foi esta a resposta que o Ministro deu ao Presidente da Câmara da Amadora, pensando que era esta a verdade.
Tanto a presidência como a vereação da Amadora viram tratar-se de pessoa intratável e sem princípios e relegaram-no ao desprezo merecido.
Indignado com a situação, decidi criar um movimento que forçasse o tal Senhor a deixar ver a máquina, ou o que resta dela, escrevendo artigos no Jornal da Amadora, no Diário do Sul, no Kuentro, e que teve também eco no «Imaginário» de José de Matos-Cruz. Comecei a enviar os artigos para o Museu, pois o seu diretor não será pessoa que leia estas coisas. Alarmado com esta divulgação, o dito Senhor resolveu-se a escrever-me (a única carta escrita por si e assinada em todo este processo) a comunicar o mesmo que havia dito ao Ministro. Continuei a escrever artigos, todos se mostraram solidários com a minha ação, mas quando os afazeres profissionais me obrigaram a abrandar a pressão, não encontrei ninguém ao lado nem atrás a garantir uma retaguarda sólida e a continuar a cruzada.
Em 2007 o CNBDI resolveu fazer uma reprodução da máquina, em tamanho quase natural, para expor no local onde esta devia estar e montou uma bela exposição sobre O Mosquito.
Entretanto o diretor em causa ainda se encontra em funções, e a esperança é que quando for galardoado com um cargo mais importante, venha para o seu lugar alguém com capacidade de diálogo para franquear o tenebroso armazém e deixar ver a criminosa incúria e o estado irresponsável em que a máquina se encontra, ou se ainda existe, pois há razões para pensar ser muito conveniente que ela desapareça, para não haver corpo de delito.
Este sonho do CNBDI não se realizou, mas sonhamos que possa vir a ser uma realidade, e que justiça se fará sobre este caso de lesa Património Nacional.
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