ACTUAL – EXPRESSO, 29 Novembro 2014
JIM CURIOSO
Matthias Picard
Polvo Edições, 2014, trad. de Miguel Nunes, 52 págs., €16,50 Banda desenhada
Os escaparates estão cheios de livros que recorrem a artifícios visuais apenas para criar diversão, "Jim Curioso" não se enquadra nesse gesto, apesar da tridimensionalidade e dos óculos para leitura adequada no encarte. A narrativa sem palavras que acompanha Jim numa viagem que começa e termina à porta de sua casa, não sem antes atravessar as profundezas do oceano, é uma banda desenhada cujas vinhetas se compõem num preto e branco riscado a tinta e bisturi. As três dimensões configuram uma camada de leitura essencial, elemento que acrescenta profundidade à geografia submarina e tempo à viagem de Jim, num universo visual fulgurante. O Imaginário de Picard deve tanto às gravuras que integraram as primeiras edições de Júlio Verne como ao trabalho dos irmãos Wllllamson que, em 1916, realizaram a primeira adaptação cinematográfica de "As 20,000 Léguas Submarinas", captando imagens do fundo do mar com um complexo sistema de tubos, vidros e espelhos.. A viagem de Jim é também temporal, dimensão essencial nesta narrativa, começando no lixo acumulado do presente e vogando em direção a um passado que inclui destroços da II Guerra, um galeão talvez afundado por piratas, as ruínas perdidas de uma hipotética Atlântida. Recuando ainda mais no tempo à medida que progride no espaço, Jim acabará vogando num labirinto onde se percebem os traços moleculares das primeiras formas de vida, aquela espécie de sopa primordial de onde teremos vindo, e é desse passado remoto que Jim salta para o regresso ao seu presente. Poucas pranchas têm sabido abarcar a vida e os seus abismos de um modo tão beio e tão ilusoriamente singelo.
Sara Figueiredo Costa
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