AMANHÃ NO CENTRO CULTURAL E DE CONGRESSOAS DE CALDAS DA RAINHA – COM DOG MENDONÇA E PIZZABOY
FILIPE MELO E JUAN CAVIA
Workshop "Como fazer uma Banda Desenhada
– da ideia à concretização"
Gazeta da BD (35) na Gazeta das Caldas, 12 de Dezmebor de 2014
J. Machado Dias
Qual foi então o motivo que levou ao êxito de vendas destes livros? Digamos que existiram precedentes, com uma reanimação do mercado português de BD, pelo menos desde 2008, com um tipo de histórias diferentes do que se tinha publicado até aí, desde logo com obras de “puro entretenimento”, que já havia começado com BRK, de Filipe Pina (argumento) e Filipe Andrade (desenhos) – história parcialmente pré-publicada no BDjornal – e Asteroïd Fighters, de Rui Lacas (arg. e des.), ambas editadas pela Asa em 2009, mas sem as incisivas e divertidas campanhas de divulgação que os autores de Dog Mendonça e Pizzaboy protagonizaram.
Os três livros, As (Incríveis, Extraordinárias, Fantásticas “Requiem”) Aventuras de Dog Mendonça e Pizzaboy, a que se deve juntar o pequeno volume The Untold Tales of Dog Mendonça and Pizzaboy, da Dark Horse Comics, nascem da fervilhante imaginação de Filipe Melo, que em boa hora se associou ao ilustrador argentino Juan Cavia (mas também ao colorista, igualmente argentino, Santiago Villa) para produzir histórias rocambolescas, em que vampiros, lobisomens, gárgulas, fantasmas e outros monstros, são os maus da fita e em que um jovem distribuidor de pizzas (depois operador de call-center), um ex-lobisomem de meia-idade, que passou a ganhar a vida como “detective do oculto”, mais um demónio de seis mil anos – que vive no corpo de uma menina pré-adolescente (e fuma que nem uma chaminé) – e uma cabeça de gárgula com um estranho sentido de humor, serão os únicos capazes de fazer frente às forças do mal que ameaçam a Humanidade. Estas histórias formam, porassim dizer, um “arco completo”, uma vez que no último livro ”Requiem”, se assiste à morte de João Vicente “Dog” Mendonça, depois da explosão do edifício do Parlamento português...
“Não há dinheiro que pague a persistência de Filipe Melo”, escreve Ana Markl no Making Of de As Incríveis Aventuras de Dog Mendonça e Pizzaboy. Mas acrescentaríamos que também ninguém consegue ficar indiferente à sua energia electrizante, que contagia até o público, como já vimos em sessões de apresentação ou de autógrafos dos livros de Dog Mendonça e Pizzaboy.
Nascido em Lisboa, Filipe Melo foi detido pela polícia e interrogado, aos 15 anos, por pirataria informática. Optou então por se dedicar ao piano, ficando desde cedo interessado no jazz e na improvisação. Desde então, a sua vida centra-se na música, no cinema e na BD. Estudou no Hotclube de Portugal e no Berklee College of Music, em Boston.
É também professor e arranjador, tendo trabalhado ou tocado com músicos e grupos como Peter Bernstein, Camané, Carlos do Carmo, Donald Harrisonjr., Jessé Davis, Sheila Jordan, Paulinho Braga, Swingle Singers, Martin Taylor, Perico Sambeat, Herb Geller, Orquestra de Jazz do Hotclube, Orquestra Metropolitana, entre muitos outros. Conta com mais de 15 discos gravados, entre trabalhos como líder e colaborações.
O seu hobby e a sua maior paixão é o cinema: em 2003, fundou “O Pato Profissional", uma produtora dedicada ao género fantástico. Escreveu, produziu e realizou vários projectos de culto: I’ll See You in My Dreams, curta metragem vista por 250 mil pessoas e vencedora do Fantasporto 2004 e de 12 prémios internacionais, e Um Mundo Catita, uma série de televisão exibida na RTP. Realizou ainda videoclips, documentários e publicidades. Em 2011, foi convidado pela editora Dark Horse Comics para escrever quatro histórias curtas de Dog Mendonça e Pizzaboy, para a colectânea Dark Horse Presents, ao lado de nomes como Frank Miller, Dave Gibbons e Mike Mignola.
Quanto a Juan Cavia, nasceu com um talento inato para o desenho. Em pequeno passava horas a copiar os seus livros de banda desenhada preferidos, sem no entanto chegar a bons resultados. Aos 10 anos de idade e depois de muitas tentativas falhadas de fazer as suas próprias histórias, começou a ter aulas com o professor Carlos Pedrazzini, que durante mais de um ano fez incidir os seus estudos sobre a anatomia humana, perspectiva e síntese, para depois se concentrar mais profundamente sobre a narrativa.
Durante 11 anos, sem interrupções, Juan Cavia desenvolve os seus conhecimentos em pintura, desenho, composição, dinâmica e diversas técnicas de representação. Depois do ensino secundário, começa a estudar cinema, enquanto trabalha paralelamente como storyboarder e concept designer para algumas produtoras de publicidade.
Um ano mais tarde começa a trabalhar com Marcelo Pont (designer de produção e desenhador de BD), com quem trabalha como assistente durante dois anos em diversos campos do audiovisual.
Aos 21 anos teve o seu primeiro trabalho profissional como director de arte e desde aí até hoje, realizou mais de cento e cinquenta comerciais, tanto para o mercado argentino, como internacional; mais de sessenta videoclips; várias cenografias (Teatro del Pueblo, Centro Cultural Cooperación, Teatro Argentino de la Plata, entre outros), campanhas gráficas e integrou as equipas de uma série de longas metragens: como Assistente de Direcção em Buscame (2005) e Retorno (2005); Director de Fotografia em El sueño de Harvey (2007); Director de Arte em Mi primera boda (2011), La ronda (2008) e Interrumpimos nuestro programa... (2004); como Actor em Chico conoce chica, se enamoran, etc... (2010); Set Designer em El secreto de sus ojos (2009) – Óscar para o Melhor Filme Estrangeiro em 2010.
Em 2009 viu finalmente concretizar-se o sonho de trabalhar em banda desenhada nos livros As Aventuras de Dog Mendonça e Pizzaboy I, II e III, editados pela Tinta da China entre 2010 e 2013. Mais a história curta publicada na Dark Horse Presents #4 a #7 (Setembro a Dezembro de 2011), reunida no livro The Untold Tales of Dog Mendonça and Pizzaboy.
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