Karzan, capa de Carlos Alberto
9ª ARTE
MEMÓRIAS DA BANDA DESENHADA
(LXIV - LXV)
O Louletano, 28 de Junho a 4 de Julho de2005
ROUSSADO PINTO – 2
por António Dias de Deus e Leonardo de Sá *
A "Parilex" publicou muitas pequenas colecções ("Texas Jack" etc...), e aí Roussado Pinto dirigiu a Colecção "Escravelho Azul", de maneira anónima. Em 7 de Julho de 1971, subitamente, irrompeu "Jornal do Cuto", na sua nova editora, a Portugal Press. A revista tomou o nome de um dos mais famosos heróis invasores de "O Mosquito", tão bem aceite que por português passara. Mas não só ele.
As oportunas reedições de E.T. Coelho, algumas bem logradas, outras disformes ou inacabadas, mostravam finalmente aos jovens leitores portugueses como era o grande artista antes das estiradas narcolépticas de “Vaillant” e “Pif”. Entre as reposições famosas colocavam-se também trabalhos de Emílio Freixas. Mas, sem dúvida, o prato forte da ementa vinha constituido por Jesús Blasco, quer no jornal d’”O Cuto” quer nas revistas-álbuns paralelas. “Colecção Jaguar”, “Colecção Titã”, editadas também por Roussado Pinto na Portugal Press. Para além destas, muitas mais edições houve (“Enciclopédia O Mosquito”, “Colecção Galo”, etc...). Roussado Pinto revelou-se ainda estudioso da dita 9ª arte, coligindo memórias (algumas vezes quiméricas, apontando defeitos e remédios para o jornalismo infantil nacional, trazendo à presença dos mais novos as HQ do período áureo de Portugal e de Espanha (dos anos 40), que também serviram para avivar a memória dos mais velhos e inflamar os tições que as cinzas cobriam. O agravamento da situação económica mundial, com a crise do petróleo em 1973, acrescido pela destabilização dos mercados internos, após o 25 de Abril de 1974, afectaram profundamente a empresa. "Jornal do Cuto" procurou reagir alterando os preços, piorando o papel, diminuindo as cores, abandonando as séries mais caras. Os novos figurinos não agradaram e, no n° 174, em 1 de Fevereiro de 1978, "Jornal do Cuto" saiu pela última vez. Da vasta gama de publicações da "Portugal Press", as mais resistentes foram as eróticas (Zakarella) e as pornográficas (Karzan). Para ressarcir dos desaires, Roussado Pinto enveredou pela imprensa sensacionalista do "Jornal do Incrível". Isto porém, já nada tinha a ver com quadradinhos... Autor de numerosos livros (sob vários pseudónimos, dos quais o mais frequente era "Ross Pynn"), faleceu em Lisboa, a 3 de Março de 1985. ■
* in "Dicionário dos Autores de Banda Desenhada e Cartoon em Portugal", edição Época de Ouro, 1999
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O Louletano, 5 a 11 de Julho de2005
ROUSSADO PINTO – 30 ANOS DEPOIS
por José Batista
Apenas conheci pessoalmente Roussado Pinto (RP) em meados de 1971, talvez um ou dois meses antes do inicio da publicação do "Jornal do Cuto", em Julho desse ano. Ambos, - Carlos Alberto e eu -, colaborávamos nessa altura na "Agência Portuguesa de Revistas" (APR), empresa da qual RP e Vítor Péon (VP) tinham saído 17 anos antes. Não fora essa imbatível dupla e o "Mundo de Aventuras" teria soçobrado na sua fase tablóide inicial. Quando comecei a colaborar na APR, em fins de 1954, o peso da ausência desses dois gigantes da BD fazia-se sentir, pois notei-o nas conversas que à boca pequena ecoavam pelos cantos do enorme armazém da Rua Saraiva Carvalho, a nova sede da empresa a partir do inicio desse ano.
Alfredo Silva, paginador da "Plateia" e "Colecção Cinema", companheiro de equipa da dupla ausente, substituirão primeiro como coordenador gráfico das revistas de BD. Era com um misto de respeito e admiração que falava de ambos. Se apenas de nome Roussado Pinto me não era estranho, a minha curiosidade por esse batalhador da BD - pois iniciara a carreira de editor com apenas 19 anos, lançando "O Pluto”, acicatou o desejo de pessoalmente o conhecer.
A saída de RP e VP para a "Fomento de Publicações" (FP) apanhou Mário de Aguiar (MdA) e António Dias (AD) desprevenidos, pois que ambos de sobejo conheciam tanto a capacidade literária como a artística dos elementos que agora lhe faziam concorrência.
A publicação do "Titã", semanário de BD editado pela FP, incomodou sobremaneira o império que era, já nessa altura, a APR. Foi com um misto de azedo desagrado que MdA manuseou as revistas onde ambos pontuavam, na novel empresa.
Essa foi, a meu ver, a ocasião de ouro para a ascensão de José de Oliveira Cosme (JOC) na APR, assumindo-se, pessoalmente, como se fora a bóia de salvação das publicações de BD, lançadas pela batuta ímpar de Roussado Pinto e Péon - "Condor" mensal e "Romances Célebres", entre outras.
As razões que mais fortemente os terão influenciado a optar pela FP, terão sido, em relação ao primeiro, o de o seu nome nunca ter aparecido como director de nenhuma publicação das por si iniciadas, traduzidas e dirigidas, como as acima apontadas, pois por norma, era JOC quem aparecia como tal, embora nelas não interviesse; as de Vítor Péon, seriam, porventura, o companheirismo que de há longos anos o juntara a Roussado Pinto, potenciados por uma apreciação infeliz de Mário de Aguiar sobre a forma como o artista fazia as mãos dos seus desenhos, esquecendo o valioso contributo do ilustrador no enriquecimento gráfico nas publicações de BD, que a APR editava.
Poder-se-ia afirmar, sem errados juízos de apreciação, que ambos - um no campo literário, o outro no da ilustração - fizeram uma das mais felizes duplas no campo específico das histórias aos quadradinhos, desde o lançamento de "O Pluto", em 1944, até ao fim da Palirex, porém aí, de forma menos acentuada.
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