terça-feira, 28 de agosto de 2012

JOBAT NO LOULETANO – 9ª ARTE – MEMÓRIAS DA BANDA DESENHADA (LXVI e LXVII) – ROUSSADO PINTO – 30 ANOS DEPOIS... (2 e 3)




9ª ARTE
MEMÓRIAS DA BANDA DESENHADA
(LXVI - LXVII)

O Louletano, 12 a 18 de Julho de 2005 

ROUSSADO PINTO – 30 ANOS DEPOIS (2) 

Por José Batista 

Foi através de Carlos Alberto que pessoalmente conheci Roussado Pinto (RP) na sede da Portugal Press (PP), na Rua Coelho da Rocha, a Campo de Ourique. Ele já conhecia de há muito as minhas ilustrações. Não que na Agência Portuguesa de Revistas (APR) elas saíssem assinadas. Mário de Aguiar, a exemplo dos editores ingleses, era avesso a que os ilustradores nelas apusessem os nomes, embora lhes exigisse a exclusividade da produção realizada.

Assim sendo, só alguém com pleno conhecimento no campo da edição, e também do estilo artístico dos ilustradores, saberia reco­nhecer a autoria de qualquer desenho publicado.

Inicialmente a minha colaboração para o "Jornal do Cuto" (JC) cingiu-se, apenas, às ilustrações de "Cantinho de um Velho", da autoria de Raul Correia (RC), o "Avozinho" de "O Mosquito", que bem conhecia através da sua colaboração com a APR, como tradutor. Era autor que muito admirava, que mais não fosse pela gentileza, sensibilidade e competência pro­fissional demonstradas, sem esque­cer a sua magnífi­ca prosa nesse bissemanário, de grata memória.

Também Roussado Pinto – há muito esque­cida a mordaz nota que RC publicara n' "O Mosqui­to" aquando do lançamento do "Pluto" – admi­rava o estilo lite­rário – e não só – inconfundível de RC de quase três décadas antes. Grande parte do material inglês utilizado na PP, era por ele traduzido, inclusive toda a série dos livros de "Tarzan", editados pela "Portugal Press".

Sempre que ia entregar as ilustrações para os seus textos, as trocas de impres­sões com Roussado Pinto prolongavam-se por tempo ilimitado, versando o cam­po complexo da BD, seus ilustradores e técnicas, que ele tão bem conhecia de toda uma vida. Contam-se pelos dedos, aque­les – poucos conheci – que tudo arrisca­ram por amor à BD, servindo-a, como Roussado Pinto sempre o fez, e não apenas dela se servindo. A sua primeira aventura no campo da edição ocorreu ti­nha ele apenas 19 anos, lançando "O Pluto", o que atesta bem o fascínio que os jornais infantis ilustrados sempre so­bre ele exerceram. A pequena fortuna – para a época – que enterrou nesse jornal, foi-lhe dada por seu pai, não logicamente com essa finalidade, mas sim para iniciar um negócio que lhe garantisse autonomia económica. Segundo me narrou, – certa tarde já como chefe da redacção do JC –, aquele não gostou mesmo nada do destino que o filho deu ao dinheiro disponibilizado. Todavia, a escolha da sua vida, que jamais abandonaria enquanto viveu, esta­va definitivamente tomada. Perdeu vezes sem conta muito dinheiro como editor; lançou inúmeras revistas cuja vida foi efé­mera, mas sempre se recompôs com o mesmo ímpeto inicial, como se outra coisa não quisesse, soubesse ou pudesse fazer que não isso. E, curioso: foi com as edições que o coração não escolheu que ganhou para alimentar o sonho que muitas vezes redundou nas inúmeras noites de insónia que sempre o afligiram: as suas queridas edições de banda desenhada!

Nesse final de 73, quando a minha colaboração com Roussado se tornou mais intensa, a PP já editava, para além do "Jornal do Cuto", outras edições em BD, tais como: "Colecção Titã", Colec­ção Modernos da Banda Desenhada" e "Canguru", entre outras que de momen­to não recordo. 

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O Louletano, 19 de Julho a 9 de Agosto de 2005 

ROUSSADO PINTO – 30 ANOS DEPOIS (3) 

Por José Batista 

Embora começasse a colaborar no "Jornal do Cuto" (JdC) a partir do 1° número, publicado em 7 de Junho de 1971, só em meados de 73 – após sair da Agência Portuguesa de Revistas (APR) – estive disponível para participar na área da BD, na Portugal Press (PP) – como chefe de redac­ção. O nº 99 do JdC, de Outubro de 73, pu­blica uma nota refe­rindo o facto, na ter­ceira página.

O términos da mi­nha estada de 18 anos na APR, ficou a dever-se a uma pequena his­tória de Camões, por mim ilustrada, publica­da no n.°49 desse jornal e assinada, tal como todos os desenhos até então aí publicados, por Jobat.

Com um estilo de desenho já perfeita­mente definido, não foi difícil a Mário de Agui­ar descodificar o acrónico que utilizei, tão identificável como a pintura de M. Gustavo, nome que Carlos Alberto escolheu para assinar os seus Quadros da História de Portugal, publicados nesse semaná­rio. Este, o motivo pelo qual passei a grafar Jo­bat, e não José Batista, daí em diante, como assi­natura dos meus dese­nhos.

Curiosamente, foi Roussado Pinto (RP). quem – quando colaborei mais assiduamente na PP – me informou que o mes­mo tinha feito José Or­lando Marques, colabo­rador de "O Mosquito", ao utilizar o acrónimo "Jomar" nas novelas que publicara no extinto "Pluto", muitos anos antes.

Profissional experi­mente na área específica de jornais de BD, o fracasso de RP, como editor, ficou prioritariamen­te a dever-se ao facto das principais editoras – caso da Agência Portuguesa de Revistas e Diário de Notícias (Diabrete, Cavalei­ro Andante, Zorro, etc.) – possuírem um invejável potencial eco­nómico como suporte; depois, no caso concreto da Agência, o próprio RP ter adquirido – como che­fe de redacção do " Mundo de Aventuras" (MdA) e de outras publicações dessa editora – boa parte dos personagens que a partir daí alimenta­vam o êxito das revistas que a APR semanalmen­te editava. Poder-se-á afirmar que o espaço edi­torial estava praticamen­te saturado com as várias edições em BD, semanalmente publi­cadas, e bem assim como os leitores com poder de compra fidelizados a personagens que os cativavam de há muito. Seria extremamente difícil quebrar o quase monopólio edito­rial existente na altura.

O relativo êxito do "Jornal do Cuto" ficou a dever-se, em minha opinião, a uma camada etária remanescente, saudosista do extinto "O Mosquito", condimentado com alguns personagens cuja publicação RP iniciara no MdA, – heróis da King Features Sindycatc, tais como Rip Kirby, Mandrake, Fantasma, Cisco Kid e ou­tros –, pois que algum do público do ex "O Mosquito", com a sua extinção, optou pelo Mun­do de Aventuras como natural substituto.

Só que toda a bela tem um senão! – a reposição de algumas séries, quase todas elas extraídas do velhinho bissemanário e também do MdA, vulgar­mente compactadas – duas páginas ou mais numa só! – anulava a qualidade original das histórias, especialmente as de ET Coelho e Vítor Peon, muitas delas sofrivelmente impressas.

Se por um lado o "Jornal do Cuto" matava as saudades dos mais "velhos", saturava a apetência dos mais novos, mais exigentes que os leitores de BD dos anos 40/50. O desequilíbrio e a má quali­dade de algumas reimpressões transformavam esse jornal num quase museu arqueológico dos anos quarenta. E um facto que relançou muito material desconhecido das gerações mais novas, o qual jazia no limbo poeirento de saudosas edições, inacessíveis aos leitores dos anos 70.




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PERRO NEGRO em SANGUE BRETÃO
Benoit Despas (arg), José Pires (des)



 PERRO NEGRO em TIPHAINE
Benoit Despas (arg), José Pires (des)


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1 comentário:

  1. Ainda bem que estes artigos vão sendo preservados digitalmente e divulgados.
    A história da publicação de bd em Portugal ainda está por fazer e estas crónicas são boas contribuições.

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