Ilustração de Carlos Alberto, para a capa do nº1 de Zakarela, uma das criações de Roussado Pinto, desenhada (e pintada nas capas) por Carlos Alberto Santos
9ª ARTE
MEMÓRIAS DA BANDA DESENHADA
(LXII - LXIII)
O Louletano, 14 a 20 de Junho 2005
NOSTALGIA
por José Batista
Podemos, sem sombra de dúvida, integrar Roussado Pinto no rol dos mais fecundos e perseverantes profissionais na área da BD, tanto no campo da edição como no de autor de textos e investigador. A banda desenhada foi o seu sonho, e, O Mosquito, a sua paixão. Em 1946, após o fracasso comercial d’O Pluto, ei-lo a colaborar com O Mosquito, no qual se inspirara, tendo aí conhecido, entre outros, E.T. Coelho agora falecido.
O texto que a seguir se publica faz parte de um conjunto de memórias saídas no Jornal do Cuto, em 1975, o qual, pela referência a Eduardo Teixeira Coelho, se insere na recente ocorrência que afastou de nós esse grande mestre da BD. JB
NOTAS DE 30 ANOS DE BANDA DESENHADA
É curioso contar aqui a maneira como conheci Cardoso Lopes e Eduardo Teixeira Coelho. linha então 18 anos, fazia o «Pluto». e naquela segunda-feira, quando fui à Direcção dos Serviços de Censura buscar as provas do jornal e saber se havia algum corte a fazer, o funcionário de serviço disse-me:
Já viu o «Mosquito» desta semana? Olhe que ele atira-se a si com força!
Enchi-me de curiosidade e fui ver. Numa local, que depois vim a saber ter sido escrita por Raul Correia, o «Mosquito» falava no aparecimento d'«O Pluto», e dava-lhe umas ferroadas bem dadas (e com justa razão). De facto, «O Pluto» tinha sido feito dentro da linha do «Mosquito», embora sem sofisma. Os meus dezoito anos e toda a ternura que sentia por ele, levaram-me a fazer quase o «Mosquito», apenas com a preocupação de que o material a utilizar fosse português. Nessa local, porém, falava-se de plágio de desenhos e isso, fez me ficar fulo.
Para que o leitor se possa sorrir um bocado, dir-lhe-ei que nessa altura não só praticava luta como treinava râguebi - tudo com o velho amigo Miramon, um apaixonado por estes desportos, e a quem eles tanto devem - e, portanto, estava na idade em que resolviam os problemas deste tipo recorrendo ao «físico» (oh, os 18 anos!). Claro que me estão a ver a passo-de-carga-da-brigada-ligeira a caminho da Travessa de S. Pedro de Alcântara, chegar ao balcão a gritar pelo sr. Cardoso Lopes, e exigir-lhe que me explicasse «ali» e «naquela altura», «imediatamente!», tais palavras.
O velho e querido Cardoso Lopes olhou-me do alto dos seus óculos (para ver de perto olhava sempre por cima dos óculos) e pressentindo os meus «fumos», sorriu-se - ele sorria sempre mesmo quando lhe davam pontapés no traseiro, o que infelizmente acontecia muitas vezes - e chamou Eduardo Teixeira Coelho. Ambos tiveram paciência para o rapaz que eu era, e levaram-me para a sala de trabalho que daí a meses seria a minha - onde me mostraram a razão das suas palavras. Foi o Coelho, aliás, quem me elucidou. Dir-me-ia, porém, que isso em nada diminuía «O Pluto», pois era vulgar os ilustradores aproveitarem a experiência dos mais velhos, e mais ainda em Portugal, onde não havia escolas. Apenas o Raul Correia «pegara» nisso e fizera «cavalo batalha»...
Dissiparam-se os meus «fumos» - «fumos» idiotas de rapazola com a mania da luta e do râguebi - e acabámos por ficar os três a conversar sobre jornais, faltas de papel (também nessa altura ...), mestres de ilustração, e outras coisas do estilo.
Pois bem: foi assim que conheci o Cardoso Lopes e o E.T. Coelho. Algumas semanas mais tarde, quando o «Pluto» era enterrado, o primeiro chamar-me-ia para o seu lado.
Roussado Pinto
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O Louletano, 21 a 27 de Junho 2005
BIOGRAFIA – ROUSSADO PINTO
por António Dias de Deus e Leonardo De Sá*
Natural de Lisboa, onde nasceu a 14 de Julho de 1926, a carreira de José Augusto Roussado Pinto cresceu ligada ao jornalismo infantil. Estreou-se em finais de 1945, como director de "O Pluto", com dezanove anos de idade. A revistinha apareceu em 30 de Novembro de 1945 e vinha escrita fundamentalmente por Roussado Pinto, desenhada quase 100% por Vítor Péon e maquetizada, em parte, por José Garcês – qualquer deles em princípio de carreira e com idades rondando os vinte anos. Houve também colaborações de António Barata e Orlando Marques.
A publicação foi até ao nº 25, de 24 de Maio de 1946, começou completamente nacional mas no final teve que admitir comics estrangeiros. Incansável Roussado Pinto passou em seguida para "O Mosquito", "O Papagaio", "O Mundo de Aventuras", editando, dirigindo, traduzindo, escrevendo novelas, inventando argumentos (por vezes sob o pseudónimo "Edgar Caygill, um das várias dezenas que utilizou), nomeadamente para Vítor Peon, foi esforçado lutador nas revistas de histórias aos quadradinhos - e não só.
O romance, a reportagem, a literatura sensacionalista, bem como a edição de antologias policiais e de western, encontraram nele um paladino. Mesmo as publicações humorísticas contavam-no entre os seus redactores, como foi o caso de "Riso Mundial" e, depois, de "A Risota". Em 1951, com a "Colecção Condor", da Agência Portuguesa de Revistas, introduziu em Portugal os "Mini-Álbuns", publicações de revistas mas com histórias completas.
Em 1954-55, fundou e dirigiu a Fomento Publicações, produzindo entre outras revistas juvenis "Titã" e "Flecha", assim como diversos pequenos álbuns com histórias de E.T. Coelho e dos irmãos Blasco. Em 1956 editou a revista "Valente".
Adaptou as aventuras do "Capitão Trovão" (El Capitan Trueno, de Ambros), para a Editorial Íbis, em 1959-63, e realizou a pequena colecção "Ciúme" para a Editorial Organizações - mas, de modo geral o seu nome não apareceu nas fichas técnicas desse período.
Em 1966, juntamente com Acácio Francisco S. Gomes (que mais tarde formaria as Edições Pirâmide) e Alfredo Silva, fundou a Parilex - editora à qual esteve também associado o nome dc Vítor Péon.
* in "Dicionário dos Autores de Banda Desenhada e Cartoon em Portugal" (Edição Época de Ouro, 1999)
S.O.S. NA IDADE DA PEDRA
Argumento de Edgar Caygill (Roussado Pinto), desenhos de Vítor Péon
Esta banda desenhada pode ser vista na íntegra (36 páginas)
no blogue Quadradinhos
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