terça-feira, 4 de setembro de 2012

JOBAT NO LOULETANO – 9ª ARTE – MEMÓRIAS DA BANDA DESENHADA (LXVII-A e LXVIII) – ROUSSADO PINTO – 30 ANOS DEPOIS... (4 e 5)




9ª ARTE 
MEMÓRIAS DA BANDA DESENHADA 
(LXVII-A e LXVIII) 

 O Louletano, 10 de Agosto de 2005 

ROUSSADO PINTO - 30 ANOS DEPOIS (4) 

Por José Batista 

Tão surpreso ficou Vitor Peon pelo serôdio revivalismo da reposição de algumas histórias por si ilustradas, que ainda tentou ressuscitar a sua mais emblemática criação - Tomahawk Tom – iniciada no N° 62 (19/10/1950) do "Mundo de Aventuras". Não que o personagem não fosse apelativo, porém, o lume que atiçara o fulgor juvenil de outros tempos era, nos anos 70, apenas fumaça que o momento actual rapidamente diluía. Depois, a experiência, a pesqui­sa e a criatividade espontânea, o génio da planificação e o nervoso da linha, há muito tinham emigrado para paragens de onde o retorno é impossível. O Regresso de Tomahawk Tom, então dado àestampa, foi quase um pastiche do garboso personagem de outrora, aquele que animou os longínquos anos cinquenta da nossa adolescência.

Factores, outros, justifi­caram tais republicações: de uma maneira geral, não eram pagos direitos de autor e, er­guê-los do mais que evidente esquecimento, era preço que bastava aos seus autores; sem tal publicação, como chegari­am ao conhecimento das ge­rações mais jovens? Assim, o "Jornal do Cuto" – e não só – cumpriram uma meritória tarefa: a da pesquisa e divul­gação de um precioso acervo, para muitos desconhecido; talvez o que de melhor se ilus­trou e editou em Portugal nos anos 40 e 50, os quais foram classificados por muitos como a Era de Ouro da BD portuguesa e americana.

Não fora o momento político conturbado então vivido, poten­ciado pela também crise do petróleo, as publicações então editadas pela Portugal Press não teriam terminado tão inglória e abruptamen­te. Porém, falemos do homem.

O convívio com Roussado Pinto era agradável, humano e enri­quecedor. Colhera das múltiplas e facetadas experiências uma filoso­fia de vida que lhe permitia encarar as mais difíceis situações com uma serenidade inquebrantável, quase búdica. Apreciador da boa comida e bom garfo diplomado, fazia jus a uma boa refeição na companhia de amigos e colaboradores.

O agravamento no preço do papel e da impressão, conjugado com o período acima descrito, colocou a empresa em difícil equilíbrio financeiro, pois só a distribuição absorvia 45 % sobre opreço de capa.

O Jornal do Cuto passou de semanal a quinzenal, e por fim a mensal, com histórias completas e estupendo material, mas o mo­mento atribulado que então se vivia não era con­sentâneo com o esforço exigido na sua manuten­ção. Interrompi­do no n.° 109 e relançado um ano depois, arrastar-se-ia, penosamente, até ao n°174-Nov.78. Porém, nessa al­tura, há muito me afastara da em­presa.

O êxito pos­terior do "Jor­nal do Incrí­vel", e de algu­mas publicações eróticas, fruto da alteração editorial então vigente, - terminadas todas as edições de BD - permitiu a Roussado Pinto algum desafogo económico, a ponto de confidenciar o desejo de futuramente ainda relançar "O Jornal do Cuto". Não chegaria a tal, pois que uma crise cardíaca fulminante interrompeu cerce a longa e atribulada carreira de um dos mais fecundos amantes das histórias aos quadradinhos, em 3 de Março de 1985.

A sua colaboração, espalhada por quase todas as publicações de BD entretanto editadas em Portugal, atesta bem o esforçado labor e a originalidade da sua obra, impondo o seu nome à admiração dos amantes dessa área específica que é a 9.a arte.



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O Louletano, 17 de Agosto de 2005 

ROUSSADO PINTO - 30 ANOS DEPOIS (4) 

Por José Batista 

Em princípio – confirmando a regra de que o programado ra­ramente se cumpre – os textos sobre Roussado Pinto (RP) deve­riam ter terminado na passada semana. Mas valores de outra ordem – quais os da gratidão e camaradagem, entre outros – exigem uma adenda aos anterior­mente publicados.

Nesses cinco anos de convívio com R.P. (1971/75), o último dos quais mais próximo e intenso, foi possível conhecê-lo na profun­didade que só o trato diário plenamente per­mite; analisar o inter­locutor na sua humani­dade, psicologia, fraquezas e grandezas, aptidões e projectos.

Roussado era um sonhador, mas os sonhos fugiam-lhe qual areia entre os dedos. Sem um suporte eco­nómico que servisse de cabouco à concretização dos seus projec­tos, estes esfumavam-se assim que consumidos os recursos ini­ciais disponíveis, quase sempre minguados. Com um enriqueci­do trajecto no campo da edição e tarimba que bastasse na área da escrita, - fruto da sua extensa colaboração em jornais e revistas -, Roussado era, no seu tempo, um elemento indispensável em qualquer redacção. Poder-se-ia dizer, em linguagem popular, que era pau para toda a obra, tal a sua adaptabilidade a qualquer géne­ro de textos que se fizessem ne­cessários para complementar uma qualquer edição.

Um dos que mais me cativaram e surpreenderam, foi a "sua" coluna sentimental, no "Diário da Manhã", assinada com nome

feminino, na qual aconselhava as leitoras que consultavam essa secção - maioritariamente escri­tas pelo próprio Roussado! - A resolver as mais intricadas situ­ações do foro íntimo e sentimen­tal que a sua verve criativa congeminava!

Os pseudónimos por si uti­lizados foram imensos, sendo tal­vez Edgar Caygill o mais conhe­cido na área da BD, e Ross Pynn, como autor literário.

Era fecunda a sua capacida­de efabulativa na criação de te­mas, fruto de longos anos em contacto com a escrita e a vida, as quais lhe deram uma incomum e facetada experiência. Nota-se, por vezes, nos seus escritos em relação a personagens, técnicas e autores na área da BD, análises e opiniões algo fantasiosas e desfasadas da realidade, fruto mais do amor por esse tema que conhecimento específico adquirido sobre os mesmos. Foram no entanto úteis no seu tempo pois que eram nulos e inexistentes na altura em que os deu à estampa, mormente nas páginas do "Mundo de Aventuras".

Não era hábito, nos jornais de BD, fazer referência aos autores das historietas ilustradas que publicavam, argumento e desenhos, tanto nacionais como estrangeiros.

No que a mim me toca, o meu nome teve mais projecção, em termos de o tornar conhecido, num único ano, que na dúzia e meia em que colaborei na Agência Portuguesa de Revistas, em que assinar um boneco era quase um sacrilégio. Roussado não era avaro nesse campo. Talvez sentisse na pele o haver criado e dirigido imensas publicações de êxito sem que o seu nome nelas viesse impresso, como que escondendo ou ignorando o autor a quem deviam esse mesmo êxito. Essa era uma falha intencional na maioria dos editores portu­gueses - e não só - não publicitando o nome dos autores dos trabalhos artísticos publicados, forma subtil de os manter ignorados e subjugados aos seus interesses editoriais imediatos.

Foi também Roussado o primeiro a escrever um artigo sobre o meu trabalho, técnicas utilizadas e experiência adquirida, texto esse ilustra­do com fotos e publicado no "Jornal do Cuto" n.° 102 (Jan. - 74).

A sua camaradagem para comigo - como chefe de redacção das publicações de BD da Portugal Press - foi sempre de sadio convívio, mútua admiração e respeito. Não fossem esses conturbados anos então vividos - o chamado PREC - e a empresa teria singrado, con­quistando um lugar de pleno direi­to no universo editorial português do género.

Trinta anos volvidos, é justo reconhecer o mérito da sua capaci­dade e profissionalismo e bem as­sim demonstrar a minha gratidão pelo trato humano e projecção pública da minha arte e do meu nome, fruto de uma postura editorial que considero coerente, justa e digna. Essa a razão e finalidade deste texto. Silenciá-lo, seria in­desculpável esquecimento.




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O PERRO NEGRO em TIPHAINE
(2 – 3)
Benoit Despas (arg), José Pires (des)

 

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