Jornal de Notícias, Artes & Vidas de 9 de Agosto de 2012
MEIO SÉCULO COM GRANDES PODERES
HÁ 50 ANOS, O HOMEM-ARANHA NASCIA NUMA REVISTA MORIBUNDA
F. Cleto e Pina
Há 50 anos, Peter Parker, após ser mordido por uma aranha radioactiva, ficou com força sobre-humana, um sexto sentido e a capacidade de escalar paredes. Rapidamente viria a descobrir que esses grandes poderes lhe traziam grandes responsabilidades…
Nada, no entanto, fazia prever o sucesso desta criação de Stan Lee e Steve Ditko (ao que se sabe hoje com uma importante mãozinha de Jack Kirby). Na verdade, esse primeiro episódio de apenas 12 páginas, simplesmente intitulado “Spider-man!”, foi publicado na revista “Amazing Fantasy” #15, de Agosto de 1962, condenada a acabar aí. As surpreendentes vendas desse número, levaram Martin Goodman, responsável pela Marvel Comics, a promover o regresso do herói aracnídeo em “The Amazing Spider Man” #1, em Março de 1963.
Na sua aventura de estreia, o adolescente Peter Parker - tímido, desajeitado, esforçado e pouco popular; em resumo bem humano, segundo Lee alguém com quem os leitores se podiam identificar - órfão de pai e mãe, a viver com os seus tios May e Ben, veria este último morrer às mãos de um assaltante que não quisera deter.
A sombra da tragédia que desde o início o perseguiu, viria a adensar-se no início da década de 1970, quando provocou involuntariamente a morte do Capitão Stacy, quase um pai para ele, e poucos meses depois, da sua filha Gwen, a sua primeira namorada, num tempo em que as mortes nas histórias de super-heróis ainda eram definitivas…
Depois de uma escaldante relação com a ladra Gata Negra, assumiria a sua longa relação romântica com a ruiva Mary Jane, casando com ela em 1987. Com altos e baixos, o casamento durou até 2006, quando foi apagado da memória de todos (!) – juntamente com 20 anos de bandas desenhadas marcantes - na controversa saga “One more day”, na sequência de um acordo com Mefisto para salvar a vida da sua tia May, assumindo Peter, de novo, a vida de solteirão desajeitado, mais ajustada à realidade dos seus leitores…
Divulgado em Portugal durante muitos anos em edições brasileiras, o Homem-Aranha
teve a sua primeira revista lusa, da Agência Portuguesa de Revistas, em 1978, e regressou já na década de 1990 com o selo da Devir, tendo a tira diária que Stan Lee e John Romita iniciaram em 1977 sido publicada no Jornal de Notícias.
Ao longo de 50 anos, Peter Parker/Homem-Aranha, um dos primeiros super-heróis fantasiados de Nova Iorque, foi estudante, fotógrafo no jornal de J.J. Jameson que é o seu maior detractor, professor e cientista, enfrentou uma das mais fantásticas galerias de vilões da BD - Duende Verde, Abutre, Rhino, Kraven, Dr. Octopus, Electro, Lagarto, Homem-Areia, Venom… - foi substituído por clones, dominado por um simbionte extraterrestre, assistiu à morte e ressurreição de entes queridos e adversários, viu a tia quase casada com o Dr. Octopus, estreou em desenhos animados em 1967, em série televisiva live-action dez anos depois e no cinema em 1973 (num filme turco não autorizado onde era vilão!), teve versões japonesa, indiana e futurista, revelou a sua identidade secreta ao mundo durante a Guerra Civil que opôs super-heróis, foi muitas vezes mal compreendido por aqueles que tentou ajudar, sentiu-se impotente nas ruínas do World Trade Center a 11 de Setembro de 2001 e chegou mesmo a salvar Barack Obama (!) do vilão Camaleão, sem nunca perder o sentido de responsabilidade nem as características bem humanas que fizeram dele um dos mais amados pelos leitores.
Agência Portuguesa de Revistas, 1978
Caixa à parte
Homem-Aranha português
A revista “The Amazing Spider Man” #692, deste mês, assinala os 50 anos do seu protagonista e promete fazer história. Não só por ter várias capas diferentes, mas também por introduzir Alpha, um adolescente que será em breve o parceiro de um Peter Parker mais velho.
Para além disso, este número inclui uma história desenhada pelo português Nuno Plati Alves, desenhador regular da revista “Ultimate Spider-Man”, que publica este mês o seu quarto número.
Foi Josh Fialkov, o argumentista, que já tinha trabalhado com o desenhador português, quem o escolheu devido ao seu “estilo expressivo, maravilhoso, que capta a alegria e a emoção das personagens”. Na BD de 22 páginas, sem qualquer super-vilão, Peter Parker tenta ajudar um adolescente vítima de bullying, contando-lhe como é um dos seus dias normais.
O Spider Man de Nuno Plati
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