EXPOSIÇÃO
ENKI BILAL
COLOCOU 22 PERSONAGENS APÓCRIFAS
JUNTO A QUADROS FAMOSOS
DO MUSEU PARISIENSE
Diário de Notícias 31.de Dezembro de 20l2
Uma estrela da BD leva 'fantasmas' ao Museu do Louvre
Durante meses, o desenhador Enki Bilal vestiu a pele de "caçador" para encontrar os "fantasmas" saídos dos quadros do Museu do Louvre. Agora, o resultado desse trabalho é publicado num livro e alvo de uma exposição - "Os Fantasmas do Louvre" - que pode ser vista até 18 de março naquele museu parisiense.
São 22 personagens apócrifas, de destino trágico, que saíram dos encontros do artista francês com as obras do Louvre. Rostos lívidos, de olhares atormentados, parecem emergir das obras-primas do museu e das suas várias alas.
"Ê como se no Louvre se respirasse um ambiente fantasmagórico", explicou Enki Bilal à AFP. Nascido em 1951 em Belgrado, de mãe eslovaca e pai muçulmano bósnio, o autor de banda desenhada recebeu, há ano e meio, carta branca do diretor do Museu do Louvre, Henri Loyrette, para percorrer sem limites as salas do museu nos dias de encerramento.
Bilal tirou"400 fotografias de salas e obras, de ângulos muitas vezes inesperados. No final, escolheu 22, que reproduziu em telas de grande formato. Foram estas que serviram de fundo aos "fantasmas", pintados a acrílico realçado a pastel. O artista imaginou depois, em pormenor, os destinos destas personagens. "Fiz investigações sobre a época, a alimentação, as doenças", explicou à AFP. À Mona Lisa, Bilal decidiu juntar o fantasma de Antonio di Aquila, "nascido em 1475, amante de Leonardo da Vinci, ciumento em relação ao jovem assistente Salai, preferido do mestre". "Aquila acaba por tentar o suicídio, aos pés da Mona Lisa ainda por acabar e à qual ele junta as sobrancelhas", imagina o desenhador.
Cada obra faz-se assim acompanhar de uma longa descrição da vida fictícia destas personagens, todas mortas de forma violenta.
A célebre Vitória de Samotrácia, próxima da sala onde estão expostas as obras de Bilal, também tem direito ao seu fantasma. O de um escultor que criou o corpo da estátua a pensar na mulher morta, mas que morre num acidente antes de ter terminado a sua obra .
"Eu aviso o visitante para desconfiar do que eu lhe estou a contar", alerta Bilal, que revela o seu humor negro nestas biografias.
Curiosamente, do seu primeiro contacto com o Louvre, o desenhador guarda uma impressão desagradável. "Foi o primeiro museu que visitei, com o meu pai", antigo alfaiate do marechal Tito, refugiado em França. "Tinha apenas dez anos. Estava cansado, não falava francês. Fiquei com uma memória terrível", recorda.
AFP
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