Bacanal, desenho renascentista...
ZÉ DAS PAPAS (16)
CARNAVAL
PARTE I
Aproveitando o "balanço" do bolo-rei e do significado da fava, volto às festividades.
Começo pelas generalidades históricas e guardo para segundas, terceiras e, se calhar, quartas núpcias o Entrudo, na versão "galaico duriense", as respectivas papas e as várias características que apresenta pelo nosso mundo fora.
As reminiscências carnavalescas perdem-se no tempo e autores há que chegam a remontar essas celebrações ao paleolítico.
No mundo, em todas as civilizações, o carnaval, sob outras designações e em épocas diferentes, é uma época de exaltação. Foi e continua a ser uma presença popular, mas todas as religiões tentaram sacralizar as festas de carnaval.
O carnaval começou por simbolizar o período em que os homens comemoravam a boa colheita com manifestações muito simples.
Foi com o desenvolvimento das civilizações que surgiram as classes sociais.
Na Grécia antiga, as Bacanais e em Roma as Saturnálias, festas ligadas aos deuses gregos e romanos, podem ser vistas como festejos carnavalescos, período de distensão para evitar uma ação mais drástica das classes menos favorecidas.
Na Grécia as festas eram realizadas em homenagem ao Deus Dionísio: os bacanais, onde havia a liberdade para se fazer o que se quisesse.
Em Roma, eram as Saturnálias, em homenagem a Saturno, de que já me ocupei, em termos muito gerais, no último texto.
Num caso e noutro é um período de festas regidas pelo ano lunar.
Terá sido o carnaval primitivo? Há quem o afirme.
Com o cristianismo, a Igreja Católica começou a reprimir esse tipo de manifestação, pois via essas festas como grandes orgias. Mas não conseguiu acabar com o carnaval. O reconhecimento oficial do carnaval pela Igreja Católica foi feito no ano 590 d.C. pelo Papa Gregório I, que o "integrou" no calendário cristão, constituindo o momento do ano em que haveria mais liberdade para fazer coisas normalmente proibidas.
O carnaval de outrora era, segundo a etimologia da palavra latina carne vale, o "adeus à carne", "adeus aos prazeres da carne".
A partir da Quarta-feira de Cinzas, durante toda a Quaresma e até o Domingo de Páscoa, a Igreja impunha aos cristãos o jejum e a abstinência.
Para alguns autores o carnaval moderno, feito de desfiles e fantasias, é produto da sociedade vitoriana do século XIX.
Não sei se será bem assim.
Já no Renascimento as festas que aconteciam nos dias de carnaval incorporaram os bailes de máscaras, com ricas fantasias e carros alegóricos. Ao caráter de festa popular e desorganizada juntaram-se outros tipos de comemoração e progressivamente a festa foi tomando o formato atual.
Alguns atribuem a Paris o principal modelo exportador da festa carnavalesca para o mundo. Cidades como Nice, Nova Orleans, Toronto e Rio de Janeiro "inspiraram-se" no carnaval parisiense para implantar as festas carnavalescas.
Já o Rio de Janeiro criou e exportou o carnaval com desfiles de escolas de samba para outras cidades do mundo, como São Paulo ou Tóquio, entre outras.
No próximo escrito, veremos os festejos carnavalescos que "dão mais nas vistas".
João Reboredo
The Youth of Bacchus (1884), de William-Adolphe Bouguereau (1825-1905)
Ave, Caesar! Io, Saturnalia!, quadro de Sir Lawrence Alma-Tadema, 1880.
Bacanal, de Peter Paul Rubens
Carnaval de Paris, Le Petit Journal, 28 de Fevereiro de 1807
Carnaval de Paris, L'Eclipse, 7 de Fevereiro de 1869
Saturnalia, escultura de Ernesto Biondi, localizada no Jardim Botânico de Buenos Aires.
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