CARNAVAL
PARTE II
Gazeta das Caldas, 15 de Fevereiro de 2013
Não gosto nem tenho por hábito dar o dito por não dito mas, à data da publicação desta minha coluna, já a caixinha que há muito invade as nossas casas, terá divulgado os folguedos carnavalescos por esse mundo!
Mantenho o tema, mas noutra vertente...
A designação de entrudo, com sentido de carnaval, terá aparecido no reinado de D. Afonso III (séc. XIII) e poderia sugerir um conceito histórico específico, ligado às lutas entre Cristãos e Muçulmanos.
Terá o carnaval um passado de índole religiosa, sendo essa ideia reforçada pela gastronomia da quadra festiva?
Foi sempre uma sátira, uma sátira ao outro, ao vizinho, ao pobre, ao rico, ao político, ao religioso, a tudo!
Os Caretos de Podence - Macedo de Cavaleiros
Caretos de Vila Boa de Ousilhão
As filhós de carnaval, as filhós estendidas, também chamadas orelhas de abade, seria o escárnio dos muçulmanos contra os cristãos.
Filhoses no carnaval do Faial
Fritando filhoses de carnaval em Valado dos Frades
Coscorões e filhoses típicos do carnaval do Faial
De novo, confortavelmente "apoiado" nas Festas e Comeres de Portugal, que Maria de Lourdes Modesto escreveu com Afonso Praça e que Nuno Calvet fotografou, edição da Verbo, aventuro-me por esta realidade social.
A época carnavalesca começaria mesmo no Dia de Reis, 6 de Janeiro. A partir de então, os domingos eram assinalados por festas, já carnavalescas e grandes comezainas, daí a designação de Domingos Gordos.
Em algumas regiões era encenada uma luta entre o gordo Entrudo e a magra Quaresma: pelas principais ruas das povoações desfilava um estranho cortejo, no qual participavam dois bonecos o Entrudo e a Quaresma, protagonistas de uma luta constante, procurando o primeiro expulsar a segunda da cena.
Não custa aceitar que o Entrudo era símbolo do mal (do pecado e do diabo, portanto), ao qual se opunha, como antídoto possível a Quaresma, iniciada na Quarta Feira de Cinzas.
Mergulhando na raiz profana e carnal, o verdadeiro motivo que move o Careto (de Podence, na foto) é apanhar raparigas para as poder chocalhar. Sempre que se vislumbra um rabo de saia, o Careto é impelido pelo seu vigor.
Sobre a origem do vocábulo, ele derivará do latim introitus o que significa entrada, invasão ou assalto de carnaval; uma e outra são usadas para designar o mesmo, passando a de entrudo, com referências desde o século Xlll, a dar lugar à de carnaval, a partir do século XVI.
No final dos festejos de carnaval, com o enterro do entrudo, tradição bem popular, na qual, entre outros significados podemos encontrar o de enterrar o mal referente à estação do Inverno.
No enterro do entrudo, também chamado enterro do bacalhau, temos mais uma vez a gastronomia. O bacalhau, símbolo de alguma fartura, simboliza aqui, também, a satisfação e a folia vividas, que vão acabar, vão acabar porque se aproxima um período de jejum e penitência, conforme os preceitos da igreja católica.
No final dos festejos de carnaval, com o enterro do entrudo, tradição bem popular, na qual, entre outros significados podemos encontrar o de enterrar o mal referente à estação do Inverno.
No enterro do entrudo, também chamado enterro do bacalhau, temos mais uma vez a gastronomia. O bacalhau, símbolo de alguma fartura, simboliza aqui, também, a satisfação e a folia vividas, que vão acabar, vão acabar porque se aproxima um período de jejum e penitência, conforme os preceitos da igreja católica.
João Reboredo
Enterro do bacalhau, em Penacova 1932
Enterro do bacalhau...
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Imagens da responsabilidade do Kuentro
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