Nota: devido a poblemas técnicos, não foi possível colocar este post online ontem como estava previsto.
Apesar de termos vindo a apresentar as exposições realizadas na Galeria do CNBDI por ordem cronológica, optámos agora e excepcionalmente, por divulgar aquela que lá está montada neste momento – PEREGRINAÇÃO – para mostrar aos leitores que a mesma está à disposição do público diariamente e vale a pena ser vista. Visitámos esta exposição no passado dia 22 e aqui a reportagem fotográfica.
AS EXPOSIÇÕES — 20
DE FERNÃO MENDES PINTO
27 de Outubro de 2013 a 30 de Junho de 2014
A exposição actualmente instalada na Galeria do CNBDI e cuja exibição se prolongará até meados de 2014, é uma revisitação da Peregrinação de Fernão Mendes Pinto, tendo como ponto de partida a história desenhada por José Ruy entre 1957 e 1959. Depois mostra-nos o que se fez na área da banda desenhada e da ilustração com base neste clássico da literatura portuguesa, desde José Garcez a João Fazenda, passando por Carlos Marreiros e Artur Correia, revisitando também o espectáculo teatral d’A Barraca, com o seu Fernão Mentes?, os azulejos de João Duarte, desembocando no Por Este Rio Acima, de Fausto. Contudo, nesta exposição destaca-se também, pelo seu grau de perfeccionismo, a maqueta da caravela que José Ruy realizou para se apoiar no desenho – é fabulosa!!!
Aqui ficam reproduções do excelente Catálogo da exposição e as fotos que realizámos em meados deste mês, quando visitámos o CNBDI.
UM PONTO DE PARTIDA:
A PEREGRINAÇÃO DE JOSÉ RUY
A Peregrinação de José Ruy começa a ser publicada em 1957, no Cavaleiro Andante, e termina em 1959, dividindo-se pelos números 311 a 388 (a capa saiu no 310). Adaptação directa do texto de Fernão Mendes Pinto, a versão de José Ruy confirma a vocação do autor para o trabalho a partir de textos de grande fôlego, à semelhança do que já havia acontecido com Ubirajara, de José de Alencar, e com O Bobo, de Alexandre Herculano. A essa vocação juntou-se o à vontade no registo de aventuras e o domínio do pormenor e do traço realista que já revelara nos primórdios da sua carreira, características fundamentais para o fôlego exigido na adaptação de uma obra com a dimensão, a variedade de registos narrativos e a dispersão de lugares representados que a Peregrinação revela.
Colocando lado a lado o texto original, de Fernão Mendes Pinto, e a adaptação feita por José Ruy o que se destaca é um processo de transposição narrativa habilmente efectuado. Respeitando o itinerário geográfico e a cronologia textual, José Ruy conseguiu fazer da sua versão um novo texto onde não pesa o efeito de simples resumo, mas antes o de síntese, harmoniosa e cuidadosamente construída. Os principais episódios, os personagens que desencadeiam as acções e os que permitem as digressões e as reflexões do narrador, assim como os espaços e encontros essenciais não escapam ao processo de leitura e reconstrução que o autor teve de levar a cabo para alcançar um argumento passível de se suportar numa outra linguagem, a da banda desenhada, com um ritmo e um fôlego muito diferentes dos que se verificam no texto de Fernão Mendes Pinto, mas sem nunca se afastar das características discursivas (múltiplas e muito diferentes entre si) que definem o texto que serviu de ponto de partida.
Na preparação desta exposição houve oportunidade de contar com a presença do autor numa das sessões de trabalho, pelo que alguns excertos da conversa que decorreu em torno da adaptação da Peregrinação serão aqui reproduzidos, devidamente assinalados com aspas, para complementar a informação sobre este núcleo da exposição. Nessa conversa ficou a saber-se que a intenção de adaptar a obra de Mendes Pinto para banda desenhada é devida a Eduardo Teixeira Coelho, que chegou a iniciar o empreendimento com um conjunto de vinhetas desenhadas (para a Exposição de Literatura Infantil que se realizou no Palácio da Independência, em Lisboa, em 1952), tendo-o abandonado com a sugestão de lhe dar continuidade oferecida a José Ruy. A oferta foi aceite e o resultado apareceria nas páginas do Cavaleiro Andante, em 1957, como já é sabido. E nesse sentido, tornou-se imprescindível incluir as vinhetas desenhadas por Eduardo Teixeira Coelho nesta exposição, antecedendo o núcleo dedicado ao trabalho desenvolvido por José Ruy, ainda que sejam apenas três.
Os originais da Peregrinação de José Ruy apresentam-se em formato A2, algo que era comum na época "por imposição da arte gráfica, porque o offset - que é uma impressão indirecta em que o zinco passa a imagem para uma borracha, e essa borracha passa-a para o papel - engrossa o traço. Então, trabalhávamos em maior dimensão para que o traço quando da redução ficasse suficientemente fino de modo a aguentar o que engrossava ao chegar ao papel", como nos explicou o autor...
O CATÁLOGO
Comissariado
Sara Figueiredo Costa Cristina Gouveia
Pranchas e ilustrações originais
de José Ruy e Artur Correia da colecção do CNBDI
Selecção documental
Cristina Gouveia e Sara Figueiredo Costa
Textos
Sara Figueiredo Costa
Concepção Cenográfica
Catarina Pé-Curto
Carpintaria
ATN Carpintaria, António Namora
Emolduramento
Jorge Brito, Lda
Projecto Pedagógico
Catarina Pé-Curto com Ângela Ribeiro
Visitas Guiadas
José Eduardo Ferreira
Espectáculo A Peregrinação
Paulo Lajes e Pedro Leitão
Encontros Imaginários, com Fernão Mendes Pinto
Hélder Costa - Parvoíces Produções Artísticas, Lda
Agradecimentos
Fausto Bordalo Dias
Hélder Costa, Grupo de Acção Teatral A Barraca Instituto Camões, na pessoa da Prof3 Doutora Ana Paula Laborinho Impresa Publishing, nas pessoas da Dra Mónica Balsemão e Cristina Batlle Y Font
Luís Gaspar, Audioblogue Estúdios Raposa
A todos os autores que generosamente cederam as suas obras: André Letria, Artur Correia, Carlos Marreiros, João Costa Duarte, João Fazenda e José Garces.
Um agradecimento especial a José Ruy, sem ele esta exposição não teria sido possível.
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