segunda-feira, 27 de maio de 2013

JOBAT NO LOULETANO (114-115) — JOSÉ RUY — RISCOS DO NATURAL (11 e 12)


Imagem de José Ruy - Riscos do Natural, de Leonardo de Sá e António Dias de Deus, Cadernos NonArte do CNBDI, Âncora Editora, 2001

NONA ARTE
MEMÓRIAS DA BANDA DESENHADA
(CXIV - CXV)

O Louletano, 19 de Novembro de 2007

(11)

[SOBRE O RIGOLETTO]
Por António Dias de Deus

» Entretanto, José Ruy vinha frequentando a Escola Antó­nio Arroio, no curso de Desenhador-Litógrafo, e começava a trabalhar na tipografia de O Mosquito fazendo a selecção e a aplicação das cores nas chapas de zinco. Foi este, de facto, o seu melhor tirocínio. Lembremo-nos só que as cores dos grandes anos da publicação, de finais de 1947 até 1949, estiveram sob a sua responsabilidade.

Para O Mosquito só publicou uma HQ, de qualidade infe­rior ao habitual – "O Reino Proibido". Por essa altura estava entusiasmado com a técnica tipográfica e preocupava-se mais em trabalhar nas obras dos outros do que nas suas.

O Mosquito acabou em 1953 e José Ruy tentou fazê-lo ressuscitar em 1960. O desenhador apenas conseguiu publicar duas HQ, fez muitas ilustrações, mas acabou por ficar com a casa atulhada de sobras. Conseguiu por essa altura a edição de um álbum sobre o Infante Dom Henrique.

 Imagem de José Ruy - Riscos do Natural, de Leonardo de Sá e António Dias de Deus, Cadernos NonArte do CNBDI, Âncora Editora, 2001

Tentou ainda O Lidador, com a Mocidade Portuguesa – que entretanto utilizava as instalações das Edições O Mosquito, na Travessa de S. Pedro –, publicação que não chegou a ver a luz do dia. Para essa organização o desenhador igualmente viria a trabalhar, nomeadamente no álbum Grandes Portugueses e num livro de ginástica infantil, além de colaborar na parte gráfica.

Melhor resultado obtivera na exposição da Organização Nacional da Mocidade Portuguesa. realizada no Palácio da Independência, em Lisboa, no final de 1952, expondo em quadricromia pranchas de E.T. Coelho e do próprio José Ruy, executadas graças ao seus dotes de artista gráfico.

A escolha decisiva dos temas ocorreu em meados da dé­cada de 1950 e no Cavaleiro Andante com "Ubirajara", sobre o livro do brasileiro José de Alencar, começando no n° 210, de 7 de Janeiro de 1956. Desta vez, o artista estava à vontade: só tinha que retra­tar a floresta, indivíduos nús, animais selva­gens, lutas e corridas.

Na seguinte HQ, "A Mensagem", começada no n° 231, o assunto decorria no século III antes de Cristo, com cartaginenses, lusitanos e romanos, o que não levantou dificuldades quanto às indumentárias.

No n° 244 começa uma história africana, "Na Pista dos Elefantes", que fornecia ao desenhador a possibilidade de se voltar a ocupar de animais selvagens.

Finalmente, no n° 249 de 6 de Outubro de 1956, começa a HQ que consideramos peça central da obra de José Ruy - "O Bobo", adap­tado do romance de Alexandre Herculano. O desenhador teve o bom senso de começar pelo capítulo que no livro é dado em apêndice, o que facilita a compreensão do problema. »»

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O Louletano, 26 de Novembro de 2007

(12)

[SOBRE O RIGOLETTO]
Por António Dias de Deus

» Qualquer texto de Alexandre Herculano é dificilmente adaptável aos quadradinhos e "O Bobo" é um dos mais es­pinhosos. José Ruy teve de se socorrer de muitas legendas intercalares explicativas da acção; porém, o desenho decorre límpido e escorreito, com detalhes apurados, boa composi­ção das vinhetas e consegue o melhor espectáculo visual e dinâmico que é possível numa HQ tão longa e tão complexa. Realmente a introdução de balões só iria atravancar a história sem nos esclarecer.

No n° 311 do "Cavaleiro Andante", (com capa no anterior) começa a adaptação da "Peregrinação" baseada em Fernão Mendes Pinto e que duraria até ao n° 388. Decididamente José Ruy começa a ilustrar os mais difíceis assuntos, geralmente histórico-literários. Posteriormente remodelou a história em álbum solto. Conta-se, como anedota, que a figura do pirata Coja Acem com uma enorme catana, foi colhida do "modelo" Ernesto Assis (que alguns recortaram do fandom português das décadas de 1960 e 1970), empunhando uma vassoura de cabo comprido. A história tem páginas muito felizes e outras menos.

Entretanto, no sétimo dos números especiais do Cavaleiro Andante apareceu a HQ "Gutenberg", uma versão muito ho­nesta da vida do mestre e inventor da imprensa no Ocidente.

Tanto a BD histórica como a de divulgação municipal e ainda o bosquejo politico ("Dimitrov"), a relação com os media ("Vida de Charlot"), propagandístico ("O Bicho da Letra"), publicitário ("Clique e Claque"), benemérito ("História da Cruz Vermelha"), viriam germinar na sua cabeça e a ser executadas por sua mão, sobretudo nos últimos anos algumas ainda através de revistas ou­tras já subme­tidas à tirania dos álbuns. E se por acaso, tropeçarmos nalgum dese­nho que nos pareça menos harmonioso, a culpa deve se nossa.

José Ruy é um artista ex­perimentado e experiente, óptimo con­versador, bom conferencista, excelente memorialista dos quase setenta anos em que entrou no convívio dos nossos melhores argumentistas, desenhadores e editores, que recorda efusivamente como ninguém. Fala da técnica litográfica com a compe­tência de quem sempre a praticou. É um professor sem o título.

Até isso conseguiu ganhar! ■

Nota: Os textos publicados nesta coluna fo­ram retirados do Álbum "José Ruy, RISCOS DO NATURAL", publicado pela Âncora Editora. Aos autores dos textos e à respectiva Editora os nossos agradecimentos. JOBAT

Contracapa e capa de José Ruy - Riscos do Natural, de Leonardo de Sá e António Dias de Deus, Cadernos NonArte do CNBDI, Âncora Editora, 2001

Algumas imagens deste mesmo livro:








O nosso agradecimento ao CNBDI pela oferta dos volumes da Colecção NonArte que nos faltavam.
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Na próxima semana s série ilustrada “O Príncipe Feliz” baseada num conto de Orson Wilde com desenhos de Fernando Bento

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(11 e 12)
Argumento e desenhos de José Ruy




Última página de Gutemberg, que não foi publicada n'O Louletano, mas que aparece no álbum

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