COLECÇÃO BLUEBERRY Nº 7
SOMBRAS SOBRE TOMBSTONE
HOJE COM O PÚBLICO
Album 7
Colecção Blueberry
Quinta-feira, 9 de Janeiro
Por+7,90€
BLUEBERRY REVÊ O PASSADO ENQUANTO RECUPERA DOS GRAVES FERIMENTOS SOFRIDOS
BDpress #525 Recorte do artigo publicado no jornal Público de 04/01/2020
"Jogador profissional abatido pelas costas", anuncia a edição especial do Tombstone Epitaph. Nada de extraordinário, não fosse o jogador chamar-se Blueberry, uma verdadeira celebridade, segundo Campbell, jornalista em Boston. Toda a gente pensa que o jogador está morto, mas, mesmo com três balas no corpo, o herói não morre. Mal abre um olho, Campbell precipita-se para a sua cabeceira, a fim de registar as memórias do herói. Entretanto, Strawfield celebra com grande aparato a partida para Tucson do seu carregamento de prata, que os Clanton planeiam atacar, disfarçados de apaches.
O xerife Wyatt Earp desconfia de algumas coisas e, apesar de não o levarem muito a sério, prepara-se para todas as eventualidades. E é com a sombra de Gerónimo a pairar sobre as colinas que o ataque se consuma... Este é o ponto de partida de Sombras sobre Tombstone (texto e desenho de Jean Giraud), sétimo álbum da colecção Blueberry, que será distribuído com o Público na próxima semana.
É quase por milagre que Blueberry sobrevive, mas durante o enredo passa todo o tempo na cama, em convalescença.
Ou seja, a aventura desenrola-se sem a sua presença e apenas graças a uma dinâmica de flashback o leitor pode voltar a ver o protagonista em acção. Este episódio só saiu três anos depois do capítulo precedente e – ironia das ironias – os admiradores de Blueberry deparam-se com um argumento que praticamente não faz avançar a acção um centímetro...
Mas, entretanto, começa uma história dentro da história, e a pergunta que está na cabeça de muitos leitores é se Giraud está a preparar-se para sacrificar o seu herói e pôr fim à série... A resposta, todos o sabem, é negativa. Ao contrário, o desenho está mais requintado do que nunca, a planificação é soberba, há olhares cúmplices ao grafismo da série Incal (desenvolvida por Moebius, a outra face criativa de Giraud), inesquecíveis grandes-planos sobre as personagens, belas histórias de amor... Pode mesmo desejar-se mais?
Há algo de paradoxal neste álbum: à densidade das personagens corresponde uma fraca progressão do eixo central da narrativa e isto, por si só, diz muito acerca do talento do argumentista e desenhador. O texto de Giraud é mais descontraído e calmo do que era o de Charlier, muito mais focado sobre as personagens e menos sobre a acção, no sentido clássico do termo. Por isso, não é difícil de acreditar que, à data da aparição do episódio, os leitores impacientes tenham ficado, muito provavelmente, à beira de um ataque de nervos, pois só a perspectiva de aguardar tanto tempo para saber o que iria suceder a Blueberry era desanimadora.
O herói está, nesta altura, muito longe da personagem solar dos primeiros tempos - encharcado em álcool, sujo e a tresandar, tentando agredir Geronimo. Muito para além da "provocação" aos incondicionais da série, o que Giraud se propõe é reescrever o mito que ele próprio criou; sob este prisma, é possível ver que a passividade de Blueberry aponta para uma reavaliação introspectiva das aventuras anteriores sem a menor complacência.
O grafismo de Giraud, já ficou dito, é magnífico. Num certo sentido, há como que uma permuta do desenho de Giraud e Moebius, com a série Blueberry a exibir agora muito da precisão do estilo Moebius dos anos 70-80, enquanto as histórias do Incal contemporâneas deste álbum apresentavam um desenho mais rápido e descontraído. A consequência desse processo é, obviamente, benéfica para a série western, a viver uma segunda vida que a toma definitivamente incontornável.
Carlos Pessoa
"Jogador profissional abatido pelas costas", anuncia a edição especial do Tombstone Epitaph. Nada de extraordinário, não fosse o jogador chamar-se Blueberry, uma verdadeira celebridade, segundo Campbell, jornalista em Boston. Toda a gente pensa que o jogador está morto, mas, mesmo com três balas no corpo, o herói não morre. Mal abre um olho, Campbell precipita-se para a sua cabeceira, a fim de registar as memórias do herói. Entretanto, Strawfield celebra com grande aparato a partida para Tucson do seu carregamento de prata, que os Clanton planeiam atacar, disfarçados de apaches.
O xerife Wyatt Earp desconfia de algumas coisas e, apesar de não o levarem muito a sério, prepara-se para todas as eventualidades. E é com a sombra de Gerónimo a pairar sobre as colinas que o ataque se consuma... Este é o ponto de partida de Sombras sobre Tombstone (texto e desenho de Jean Giraud), sétimo álbum da colecção Blueberry, que será distribuído com o Público na próxima semana.
É quase por milagre que Blueberry sobrevive, mas durante o enredo passa todo o tempo na cama, em convalescença.
Ou seja, a aventura desenrola-se sem a sua presença e apenas graças a uma dinâmica de flashback o leitor pode voltar a ver o protagonista em acção. Este episódio só saiu três anos depois do capítulo precedente e – ironia das ironias – os admiradores de Blueberry deparam-se com um argumento que praticamente não faz avançar a acção um centímetro...
Mas, entretanto, começa uma história dentro da história, e a pergunta que está na cabeça de muitos leitores é se Giraud está a preparar-se para sacrificar o seu herói e pôr fim à série... A resposta, todos o sabem, é negativa. Ao contrário, o desenho está mais requintado do que nunca, a planificação é soberba, há olhares cúmplices ao grafismo da série Incal (desenvolvida por Moebius, a outra face criativa de Giraud), inesquecíveis grandes-planos sobre as personagens, belas histórias de amor... Pode mesmo desejar-se mais?
Há algo de paradoxal neste álbum: à densidade das personagens corresponde uma fraca progressão do eixo central da narrativa e isto, por si só, diz muito acerca do talento do argumentista e desenhador. O texto de Giraud é mais descontraído e calmo do que era o de Charlier, muito mais focado sobre as personagens e menos sobre a acção, no sentido clássico do termo. Por isso, não é difícil de acreditar que, à data da aparição do episódio, os leitores impacientes tenham ficado, muito provavelmente, à beira de um ataque de nervos, pois só a perspectiva de aguardar tanto tempo para saber o que iria suceder a Blueberry era desanimadora.
O herói está, nesta altura, muito longe da personagem solar dos primeiros tempos - encharcado em álcool, sujo e a tresandar, tentando agredir Geronimo. Muito para além da "provocação" aos incondicionais da série, o que Giraud se propõe é reescrever o mito que ele próprio criou; sob este prisma, é possível ver que a passividade de Blueberry aponta para uma reavaliação introspectiva das aventuras anteriores sem a menor complacência.
O grafismo de Giraud, já ficou dito, é magnífico. Num certo sentido, há como que uma permuta do desenho de Giraud e Moebius, com a série Blueberry a exibir agora muito da precisão do estilo Moebius dos anos 70-80, enquanto as histórias do Incal contemporâneas deste álbum apresentavam um desenho mais rápido e descontraído. A consequência desse processo é, obviamente, benéfica para a série western, a viver uma segunda vida que a toma definitivamente incontornável.
Carlos Pessoa
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