NINGUÉM ESCAPA ÀS RUGAS
Público, suplemento Fugas - rubrica Leia Isto, 24 Março 2013
Isabel Coutinho
Duas das páginas mais impressionantes de Rugas mostram o tempo a passar num lar de velhos e doentes. "Então como foi o dia?", pergunta ao protagonista desta banda desenhada, Emílio, o seu companheiro de quarto. E nós, os leitores desta banda desenhada, sabemos que o dia se passou, com os residentes do lar a dormir cada um para seu lado, sentados numa fileira de sofás coloridos encostados a uma parede onde há um relógio cujos ponteiros vão avançando lentamente. "Quem é que vai querer ler uma BD sobre velhos doentes?" — perguntavam a Paco Roca quando este autor de BD espanhol começou a pensar neste projecto, que a todos parecia ser anticomercial. Enganaram-se. Rugas foi primeiro publicado em França, considerado pelos críticos franceses um dos melhores álbuns de 2007. Quando saiu em Espanha, em 2008, vendeu mais de 35 mil exemplares. Recebeu também o Premio Nacional dei Cómic 2008, dado pelo Ministério da Cultura espanhol, e os prémios para Melhor Autor e Melhor Obra no Salão Internacional de Banda Desenhada de Barcelona.
Paco Roca queria abordar o tema da velhice e da senilidade. Também queria falar sobre lares de idosos. "Dizem que quando te olhas ao espelho e começas a ver o teu pai, é sinal de que estás a ficar velho. O meu reflexo começa a parecer o meu pai e o meu pai começa a parecer-se com a imagem que recordo do meu avô. Inevitavelmente, os pais dos meus amigos também sofrem esta transformação", explica numa nota no final do livro. Naquele lar para onde vai viver Emílio, um bancário reformado doente de Alzheimer, há um piso para "os válidos" e um piso para "os assistidos" — aqueles que já não conseguem tomar conta de si próprios. Todos querem evitar ir parar ao andar de cima, mas todos sabem que mais cedo ou mais tarde será inevitável. O protagonista de Rugas é inspirado no pai de um dos amigos do autor, MacDiego. Mas não é o único. Na nota final, Paco Roca explica que durante uns tempos visitou lares de idosos para saber como era a vida lá dentro. Conheceu pessoas que viviam há mais de 20 anos num lar. Muitas contaram-lhe histórias que estão no livro e também na sua versão cinematográfica, Arrugas, realizado por Ignacio Ferreras. É um filme de animação que serviu a Paco para corrigir certas coisas e acrescentar outras que não couberam no livro. Nos Goya de 2012 recebeu os prémios de Melhor Filme de Animação e de Melhor Argumento Adaptado. Do que já vi, parece-me um filme de animação imperdível, mesmo para quem tenha lido o livro.
Rugas
Argumento e desenhos: Paco Roca
160 pág., cor, 24 x 16 cm, €16,60
Bertrand Editora, Março 2013
Ver AQUI também, a opinião de Pedro Cleto sobre este livro.
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