segunda-feira, 22 de abril de 2013

JOBAT NO LOULETANO (104-105) - JOSÉ RUY - RISCOS DO NATURAL (1 e 2)

José Ruy em pleno trabalho...


NONA ARTE 
MEMÓRIAS DA BANDA DESENHADA 
(CIV)

Depois da série sobre Eduardo Teixeira Coelho, iniciada n'O Louletano de 4 de Outubro de 2005 — para homenagear E.T.C., falecido a 31 de Maio desse ano em Florença — com a republicação de um texto de José Ruy das suas memórias do relacionamento com o mestre e terminando em 20 de Agosto de 2007, durante 30 edições portanto, Jobat iniciou outra série dedicada ao próprio José Ruy, com textos de Leonardo De Sá, entre 3 de Setembro de 2007 e 22 de Outubro do mesmo ano.

É esta série que passamos a reproduzir aqui no Kuentro, com as imagens em formato maior de A Vida Romanceada de Gutemberg, de José Ruy, retirada por Jobat do álbum Ubirajara, da Editorial Futura.

Gostaria de acrescentar, já agora, que conheci José Ruy aquando de uma exposição na Livraria Barata - Histórias da História - realizada em finais de 1986 e que foi a minha estreia em exposições de banda desenhada. Depois, talvez em 1988, quando José Ruy, que era também capista da Editorial Notícias e passou a dedicar-se em exclusivo à Banda Desenhada, vim a substituí-lo nesse trabalho de capista na editora. Estabeleceu-se entre nós uma sólida amizade durante estes quase 30 anos, que deu também azo a algumas colaborações de José Ruy aqui no Kuentro, como é o caso dos textos que vai escrevendo sobre o historial do CNBDI, que temos vindo a publicar na rubrica Às Quintas Falamos do CNBDI
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O livro José Ruy, Riscos do Natural, de Leonardo de Sá e António Dias de Deus, Âncora Editora, Lisboa, 2001. Este livro faz parte da colecção NonArte - Cadernos do Centro Nacional de Banda Desenhada e Imagem

 O Louletano, 3 de Setembro de 2007

CAROS LEITORES

É com imenso prazer que iniciamos uma nova série ilustrada cujo autor, José Ruy, é já vosso conhecido da coluna de texto que acompanhou a publicação de "O Defunto", cujas memórias por certo tornaram possível um conhecimento mais amplo de Eduardo Teixeira Coelho. A obra publicada de José Ruy Matias Pinto, de seu nome completo, colega e amigo do grande mestre, é talvez a mais extensa de quantos se dedicam às Histórias em Quadradinhos, vulgo BD, pois está praticamente presente em todas as publicações juvenis editadas em Portugal, quer em séries de continuação quer em álbuns. A história romanceada de GUTENBERG que hoje damos à estampa, foi inicialmente publicada no "Álbum Especial n° 7 do Cavaleiro Andante", em 1954, e depois inserida no álbum "Ubirajara", da Futura Editora.

Deve-se a Leonardo De Sá - autor cujos créditos de há muito estão firmados na área da BD através da pesquisa, estudo, coorde­nação de exposições e colaborador em várias publicações - a autoria do texto biográfico referente ao ilustrador da série que hoje começa. A ambos os autores, José Ruy e Leonardo De Sá, bem como à referida editora, os nossos agradecimentos do coordenador da secção "9a Arte". Boa leitura para todos.

Jobat

(1)

Dizem as biografias enfastiadas que José Ruy Matias Pinto nasceu na 'Vila Lacerda', a 9 de Maio de 1930, na antiga Porcalhota - melhor dizendo na actual freguesia da Venda Nova da Amadora. O seu pai era guarda-livros (contabilista, na expressão em vigor) e depois ingressou nos Serviços Florestais e Aquícolas governamentais. Como é rela­tivamente sabido, foi o pai de José Ruy quem lhe comprou o primeiro número do novel magazine O Mosquito na ocasião do seu emocionante lançamento, no início de 1936. O pequenito ficou de tal modo fascinado que logo lhe fizeram uma assinatura da revista, a partir do segundo número. Obviamente que já nessa altura fazia garatujas, a maioria das quais se per­deram com o acumular dos anos. Uma das suas primeiras tentativas na arte quadriculada terá sido o seu próprio O Mosquito, realizado em 1937, exibindo na capa do número inaugural sobrevivente uma história aos quadradinhos com um "Iiopardo". Não era propriamente um fanzine na definição aceite, mas "apenas" um exemplar único que o rapaz realizava para se conferir a fantástica ilusão do cria­dor de histórias ilustradas. A "publicação" prosseguiu até ao n° 4 mas depois passou a intitular-se A Barata, mercê de uma ímpia guerra no país dos insectos. Era executada simplesmente com tinta de escrever e agua­relas e ainda durou até ao décimo número.

José Ruy desencadeou então discretamen­te a sua carreira tipográfica aos oito anos de idade editando, compondo e desenhando um jornalinho que imprimia pelo sistema do copiógrafo, método de reprodução caseiro muito em voga entre a juventude dessa altura. »»

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O Louletano, 10 de Setembro de 2007 

(2)

Chamava-se Novidades Cinematográficas e teve 14 números com tiragem variável entre os 20 e 30 exemplares (mas alguns números atingindo as 50 cópias, com as reedições sucessivas), impressos a azul, roxo, encarnado e verde. Era vendido a meio tostão por exemplar, passando mais tarde para um tostão inteiro graças a uma inflação que era já então galopante. Tratava-se agora, em toda a propriedade, de um verdadeiro fanzine, com distribuição mínima. Não sendo uma publicação de banda desenhada, obviamente também aqui o autor-editor tentou as suas primeiras armas elaborando uma ou outra história curta.

No n° 41 de A Abelha, su­plemento ao n° 58 da Colecção de Aventuras, foi publicado um desenho seu, com nove anos. Após assistir com os pais e a irmã ao desenho animado Pinóquio, das produções Walt Disney, aquando da sua estreia, reconstituiu, de memória apenas, as diferentes cenas em dezenas de folhinhas de papel traçadas a tinta nanquim e lápis de cor. A sua mãe coseu as folhas à máquina, de forma a que se pudessem encadernar, e o miúdo confeccionou uma capa de cartão com letras em relevo. Esse exemplar único resistiu às mudanças de residência e à crónica falta de espaço para livros nas prateleiras. Aos 11 e 12 anos, José Ruy compunha novelas aventurescas que batia furiosamente à má­quina de escrever, acompanhando as mesmas sempre com ilustrações.

Nestas condi­ções, e porque os amigos dos pais também lhe reconheciam as habilidades, foi matriculado na Escola de Artes Decora­tivas António Arroio, onde ingressou aos 11 anos.

Em 1943 estava no 3° ano do curso de habilitação a Belas Artes.

Acontece que, por um acaso tremendo, um dos seus vizinhos era um experiente desenhador, editor e director de revistas infantis. Chamava-se António Cardoso Lopes Jr., mas todos o conheciam como Tiotónio. Com 33 anos já passara pelo ABC-zinho, onde se estreara, pelo Os Sportsinhos, pelas duas séries de O Bebé, pelo Có-Có-Ró-Có, pelos dois Tic- Tac. Editor desta revista, Cardoso Lopes abandonara o cargo para fundar com Raúl Correia a mais importante publicação de quadradinhos portuguesa, O Mosquito, que se iniciou a 14 de Janeiro de 1936. E José Ruy começou a conversar com esse seu vizinho, o tal que dirigia artisticamente a revista preferida da rapaziada, e a quem mostrava os seus "bonecos".

Pouco antes dos eventos que rela­tamos, apresentara-se na redacção de O Mosquito um desenhador de alto porte. Chamava-se Eduardo Teixeira Coelho e o seu nome seria em breve sinónimo de qualidade. Mas nesse ano de 1943, pouca gente conhecia o seu nome - ele que mal se estreara. O jovem E. T. Coelho, na altura com 24 anos, participava nas sessões de desenho na Sociedade Nacional de Belas Artes, onde encontrou João Rodrigues Alves, que aí intervinha. »»

O Pavão Real N°1, de Março de 1943, Fanzine impresso em litografia. Como o fragmento de pedra litográfica utilizado tinha apenas cerca de 20 x 17 cm, a impressão começava pelo preto e, depois de limpa a pedra, era estampada a cor na mesma página. Seguia-se idêntica operação para a contracapa e vinha finalmente o interior, apenas a uma cor. Os cinquenta exemplares editados ao formato 17,5 x 15 cm representavam quatrocentas passagens, pelo que o segundo número ficou apenas pela impressão da capa. O preço inicial era de cinco tostões, reduzido em seguida para quarenta centavos. Isto em relação ao Pavão Real. 

História assinada por "Domador", em O Pavão Real n° 1 

Novidades Cinematográficas n° 1, um proto-fanzine de 1938


Já agora, pode ler-se AQUI, no blogue As Leituras do Pedro (Cleto) uma entrevista com José Ruy

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(1 e 2)
Argumento e desenhos de José Ruy



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