sexta-feira, 8 de março de 2013

MORREU DIDIER COMÈS



MORREU DIDIER COMÈS

Descobri, no Verão de 1979, numa tabacaria da Costa de Caparica, o número 9 ou 10 da revista francesa de banda desenhada (A Suivre). Andava arredado da BD desde que perdera o interesse juvenil na revista Tintin e já tinha lido e relido todos os Asterix e Lucky Luke publicados por cá pela Bertrand, para mais René Goscinny tinha morrido em 1977 e os novos títulos do “irredutível” gaulês, escritos pelo desenhador Uderzo não eram a mesma coisa. Dedicava-me à pintura, mas o desenho de arquitectura e de construção ocupavam-me cada vez mais tempo, porque era daí que ganhava para a subsistência. Contudo, essa descoberta da (A Suivre) foi um detonador poderoso na minha cabeça e não descansei enquanto não comprei todos os números que já tinham saído (abençoada livraria Linhares). Por causa da (A Suivre) acabei por comprar também alguns números da Metal Hurlant (que tinha começado em 1975) e essa banda desenhada - a banda desenhada que se publicava nessas revistas - deu-me completamente a volta ao miolo. Comecei a fazer BD logo em 1980, enviei quatro pranchas para um fanzine de que não me recordo o nome, mas que foram recusadas, porque, diziam na “amável” resposta (isto era tudo por carta na altura, claro) que aquilo era um fanzine decente, onde não entrava pornografia... Que diabo, a heroina da minha história, era desenhada um bocado à maneira de F. Murr e da sua Jehanne d’Arque, e gostava de andar nua, apenas isso.

Bom, vem tudo isto a propósito da morte, na madrugada de ontem, de Dider Comès e porque, de repente, constato que todos os grades autores que li na (A Suivre) ou já morreram, ou estão a “ir-se” aos poucos. Já morreram, além de Comés, pelo menos e que me lembre, Auclair (1990), Pratt (1995), Forest (1998), De la Fuente (2010), Toppi (2012) e talvez mesmo mais alguns...

Didier Comès em 1980 quando recebeu o Prémio atribuído a Silence, em Angoulême

Didier Comès (11/12/1942 - 7/3/2013)

Li o Silence de Comès na (A Suivre) entre nº13 e o nº21, depois Le Maitre des Tenebres, Une Descente aux Enfers e Eva. Foi um autor que me cativou sobretudo pelo traço, que tinha um bocado de Hugo Pratt. Devo dizer, já que falo nele, que quando li o Corto Maltese na revista Tintin, achei aquilo execrável. Mas a partir da redescoberta de Corto na (A Suivre), nunca mais o larguei. E Comès considerava-se, um bocado, como o herdeiro espiritual de Pratt, embora, quanto a mim, lhe faltasse a capaciade literária do mestre, isto apesar de Silence ser uma história fabulosa.


Didier (Dieter Herman) Comès, nasceu em Dezembro de 1942 em Sourbrodt, uma localidade situada na zona este da Bélgica. Ao todo publicou apenas uma dúzia de álbuns de BD, tendo sido editados em Portugal, além de Silêncio, A Árvore-Coração, A Casa onde as Árvores Sonham e As Lágrimas do Tigre. Devo dizer que tudo o que li de Comès foi na (A Suivre) e só tenho o álbum Silêncio, da Bertrand, em português, que nunca li.



Foi homenageado no ano passado com uma exposição de 250 pranchas originais, no Museu de Belas Artes de Liège, Bélgica e já este ano, o seu trabalho foi mostrado ao público, numa retrospectiva com 50 pranchas originais, na 40.ª edição do Festival de Angoulême. 


Prancha de L'Ombre du Corbeau


Podem ler apreciações ao trabalho de Didier Comès nos blogues de Pedro Cleto (As Leituras do Pedro) e de João Miguel Lameiras (Por um Punhado de Imagens).

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Nota: o culpado pelas notas biográficas pessoais com que inicio este post, é Geraldes Lino, que me obrigou a escrever a minha biografia para a homenagem (que aceitei, um bocado contrariado) que me fez na Tertúlia BD de Lisboa do passado dia 5. Tive que desenterrar coisas que já estavam sossegadamente arquivadas...

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1 comentário:

  1. Descobri este autor na minha adolescência (tive de convencer a bibliotecária a deixar-me leva-lo para casa porque na opinião da senhora era muito hard para os jovens) e sempre tive um fascinio pelo traço do autor a ponto de até ter tentado desenhar como o senhor.

    Enfim, assino por baixo da opinião do bloguista, os grandes criadores estão a partir em demasia.

    Há-de viver para sempre nas nossas colecções.

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