quinta-feira, 7 de março de 2013

JOBAT NO LOULETANO — 9ª ARTE — MEMÓRIAS DA BANDA DESENHADA (XCII e XCIII) — JOSÉ RUY SOBRE EDUARDO TEIXEIRA COELHO (13 e 14)


O Século, desenho de Eduardo Teixeira Coelho, em número especial dedicado ao Império, de 16 de Outubro de 1948. Impresso a cores.


NONA ARTE 
MEMÓRIAS DA BANDA DESENHADA 
(XCII – XCIII)

O Louletano, 28 Maio 2007 

O ARTISTA, O MESTRE, O COMPANHEIRO, O AMIGO - 13 

Recordações de Tertúlia confidenciadas por José Ruy 

(...Continuação) 

Dificuldades surgidas na deslocação dos animais, go­raram essa possibilidade. O Leitão de Barros, apreensivo de princípio com esse contratempo, teve uma ideia: já que o E.T. Coelho se saíra tão bem da sua primeira escultura, iria fazer também os dois elefantes. Quando estes ficaram prontos, o doutor mandou formá-los em gesso para que não se desmanchassem, como já estava a acontecer com o cavalo do S. Jorge, pois o barro se não for cozido, abre rachas à medida que vai secando. O Leitão de Barros estava então sempre a recomendar: - Cuidado com essas maquetas! Olhem que nem um escultor das Belas Artes foi capaz de fazer uns animais tão perfeitos!

E todos havíamos assistido a essa verdade.

O cortejo histórico saiu para a rua, a equipa dispersou, mas ficámos sempre amigos. Muito amigos. O doutor Leitão de Barros passou a ter sempre trabalho para nós em decoração, cinema, jornalismo e artes gráficas. Havia sido ele o primeiro a introduzir em Portugal o processo da rotogravura, em que cheguei a especializar-me mais tarde. Já o E.T. Coelho se encontrava radicado no estrangeiro, dizia-me muitas vezes o doutor Leitão de Barros: - Nunca conheci ninguém que desenhasse tão rápido como o Eduar­do Coelho. E que o tempo é dinheiro! A rapidez na realização de qualquer trabalho, é cada vez mais importante quanto à rentabilidade.

Nunca esqueci estas palavras que tan­tas vezes me têm servido de lição ao longo dos anos que se seguiram... até hoje.

Um dos grandes trabalhos em que colaborámos com o doutor Leitão de Barros, foi na realização de uma nau do século XVI, que se destinava a servir de exposição itinerante dos produtos portugueses navegando através do mun­do. Nós trabalhávamos nos desenhos de todas as secções do navio, tanto do exterior como do interior, maquetizando até ao mais pequeno pormenor.

Desenhámos dezenas de quadros que o doutor Leitão de Barros aguarelava em seguida. Desde, o convés com a marinhagem vestindo à época na faina da manobra, até aos porões cheios de tonéis e arcas trabalhadas, a nau S. Vi­cente, (assim era o seu primeiro nome, depois foi a nau do Vinho) ia tomando vida no atelier da Rua D. Pedro V em Lisboa. Esse atelier pertencera ao Mes­tre Roque Gameiro. A construção da Nau estava a fazer-se nos estaleiros da Gafanha, pelo velho Mónica. Quando pôde navegar veio de reboque até ao rio Tejo... onde jaz no fundo do «Mar da Palha», naufragada durante uma tempestade num rigoroso Inverno. Afundou-se também nesse momento o sonho desse artista em dotar este país de uma peça que, mais não fosse, serviria hoje de estudo no Museu da marinha, à semelhança da Espanha e Inglaterra... »»

“Um pormenor do grupo da Pérsia: o andor do xá, no desenvolvimento do título de D. Manuel I, no Grande Cortejo Histórico de Lisboa”. Desenho especial para O Século, 1947. Versão impressa.

A Nau S. Vicente: Camarim das Jóias Aliança. Desenho de E. T. Coelho com aguarela de Leitão de Barros. Circa 1954.

A Nau S. Vicente Feita para a Expansão Comercial Portuguesa, na interpretação 
de Martins Barata com aguarela de Leitão de Barros. Circa 1954.

 Esboços de E. T. Coelho para a nau S. Vicente

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O Louletano, 4 Junho 2007 

O ARTISTA, O MESTRE, O COMPANHEIRO, O AMIGO - 14 

Recordações de Tertúlia confidenciadas por José Ruy 

Apesar da sua assídua e tão bem aceite colaboração no Jornal «Chicos» do país vizinho, Eduardo Teixeira Coelho só em 1954 atravessou a fronteira a caminho de França. De­morou-se um tempo em Espanha, e Consuelo Gil, a directora de «Chicos» pediu-lhe que fizesse uma banda desenhada com aviões. Como sabemos, o E.T. Coelho tinha a paixão pelos leões.

Está bem retorquiu ele - eu faço uma história com leões.

- Não! Eu preciso de uma história de aviação respon­deu a Consuelo. O Coelho sem se desconcertar, prosseguiu: Pois será uma história de aviões... e leões.

A directora ficou perplexa, como iria o Coelho conjugar esses dois elementos tão antagónicos? Pouco tempo depois teve a resposta à sua curiosidade. Efectivamente ele desenhou uma história com leões e aviões. Chamava-se «XA-39».

O motivo que levava o E.T. Coelho a gostar de desenhar leões, era a sua forma anatómica, a natureza do seu pêlo que permite estudar os músculos sob a pele, e sobretudo a sua dificuldade. Só com um grande treino e estudo se consegue desenhar esse felídeo, sem que fique a parecer uma mulher velha com lenço na cabeça. Reparem nesse pormenor.

Foi assim que ele me incutiu também o interesse por este animal. Certa vez, tinha o nosso Zoo recebido um exemplar muito jovem, fomos desenhá-lo. Não tinha mais de oito meses.

Havia sido apanhado numa armadilha que lhe tinha ferido as patas traseiras. Os medicamen­tos aplicados atacaram-lhe o pêlo, que viria a cair-lhe em todo o corpo. Ficou assim, um exemplar magnífico para estudo anatómico. O leãozito estava na enfermaria do Zoo, num pequeno pátio onde estávamos autorizados a desenhá-lo. O bicho brincava com os ataca­dores dos nossos sapatos não se cansando de os mordiscar nas gáspeas. Colocados cada um de nós nos extremos do recinto, lá íamos fazendo croquis aproveitando o vai-vem do leão. Súbito, uma galinha salta para o pequeno pátio. O leão deixou de nos ligar dedicando todas as atenções à galinha. Tentámos evitar o pior... mas não conseguimos parar a corrida vertiginosa à volta do recinto.

O E.T. Coelho sai esbaforido em busca de um guarda. Eu fiquei a acenar com a pasta dos desenhos a tentar distrair o leãozinho. O Coelho começou a demorar, pois estava na hora de almoço e não apareciam guardas ou tratado­res. Peguei então num pau decidido a fazer-me respeitar. Dei-me então conta de que um leão pequeno não é um cão grande... e passei a fazer companhia à galinha à frente da fera. Raspei-me então pela cancela na altura em que já havia penas pelo ar. Daí a pouco encontrei o E.T. Coe­lho que ainda procurava um guarda. - Já não é pre­ciso - disse eu. - Vamos mas é comer. - E o leão? - interessou-se o Coelho.

- Também está a al­moçar... »»

“XA-39”, Versão reproduzida de Chicos (3ª série) nº 25, de 5 de Dezembro de 1954

Todas as imagens aqui apresentadas de reproduções de desenhos de Eduardo Teixeira Coelho, foram sacadas de ETCoelho - A Arte e a Vida, de António Dias de Deus e Leonardo De Sá, Edições Época de Ouro, 1998.

(Continua...)

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19 e 20

Baseado no conto de Eça de Queiroz 
Desenhos de Eduardo Teixeira Coelho



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2 comentários:

  1. Atenção meus amigos Jobat e Machado Dias, às gralhas que alteram por vezes o sentido que dei ao meu texto. Espero que os leitores consigam descobrir o texto original.
    Abraço amigo
    José Ruy

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  2. Caríssimo José Ruy, obrigado pelo reparo. A única gralha que encontrei (depois do seu comentário e corrigi agora)
    foi a de "Leitão de Barros guardava em seguida" em vez de "aguarelava em seguida". Por vezes, o OCR que é preciso fazer aos PDFs que o Jobat me enviou, trunca algumas palavras e, nem sempre o que parece é. Mas penso que a que referi é a única. As minhas desculpas e um grande abraço.

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