BANDA DESENHADA
SOBRE ERRO MÉDICO
ESTREIA-SE NUMA PRESTIGIADA REVISTA CLÍNICA
Público online, 20/03/2013
Ana Gerschenfeld
Um médico e um ilustrador publicaram um "artigo" aos quadradinhos numa revista clínica. Vai haver novelas gráficas nas publicações médicas e científicas?
Todavia, a sua publicação foi tudo menos irrelevante. Como explica a revista médica no editorial da sua edição de 5 de Março, "recebemos [o] primeiro manuscrito neste formato enquanto estávamos a começar a rever os manuscritos para um suplemento sobre a segurança dos doentes" (suplemento, esse, que foi publicado na referida edição).
"Por um feliz acaso, a novela gráfica contava a história de um erro de diagnóstico que iria assombrar um médico ao longo de toda a sua vida profissional", lê-se ainda no editorial. "E como vários artigos do suplemento abordavam estratégias para evitar o tipo de erro clínico descrito com tanto realismo neste singular artigo "gráfico", achamos adequado publicá-lo."
A história aos quadradinhos foi escrita por Michael Green, professor de medicina da Universidade Estadual da Pensilvânia (EUA) - e desenhada por Ray Rieck, ilustrador freelance e colega de Green naquela universidade. E aborda um tema que provavelmente todos os clínicos receiam (ou recearam) viver em carne própria. E que Green, de facto, viveu. "A história é autobiográfica. Aconteceu há cerca de 20 anos, quando estava a fazer a minha formação médica", disse Green ao PÚBLICO.
É a primeira vez que um artigo deste tipo é publicado numa revista como esta? "Tanto quanto sei", responde-nos o autor - que lecciona, em particular, aulas sobre medicina e banda desenhada aos estudantes de medicina -,"é de facto a primeira vez que uma banda desenhada é publicada numa revista médica de cariz clínico".
Sem revelar demasiados pormenores: um jovem médico está de banco no hospital, à espera de conseguir dormir umas horas nessa noite, quando recebe um telefonema a dizer que tem de ir examinar um doente que acabou de dar entrada na urgência. Ao longo da noite, o doente, que sofre aparentemente de um problema pulmonar, piora apesar dos tratamentos que lhe vão sendo administrados. E acaba por morrer. A seguir, quando o médico recebe o resultado da autópsia, percebe que não soube ver um sintoma-chave do doente (um sopro cardíaco), apesar de ter estado, literalmente, à frente do seu nariz. Fez um diagnóstico errado - um erro fatal.
"Há muito tempo que sentia que a banda desenhada é uma forma ideal de contar histórias que têm um impacto emocional", confiou entretanto Green à revista Science. "Os médicos estão habituados a contar e a ouvir histórias e pensei que tinha chegado a altura de experimentar novas maneiras de contar essas histórias."
E ao PÚBLICO, salienta: "Acho que os comics são uma excelente ferramenta pedagógica - e que têm lugar na sala de aula. E não me surpreenderia nada que começássemos a ver surgir mais histórias em formato de banda desenhada a descrever a experiência de uma doença, de um médico ou outras coisas do género."
A BD está acessível na íntegra, mediante pagamento, em http://annals.org/article.aspx?articleid=1656688 (é contudo possível visualizar gratuitamente a totalidade da primeira página). E daqui a seis meses, informou-nos uma porta-voz da revista, ficará no domínio público.
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