domingo, 27 de março de 2016

GAZETA DA BD #56 NA GAZETA DAS CALDAS – OS ARGUMENTISTAS DA BD PORTUGUESA (4) – JORGE MAGALHÃES



GAZETA DA BD #56 NA GAZETA DAS CALDAS
OS ARGUMENTISTAS 
DA BD PORTUGUESA (4)
JORGE MAGALHÃES
O Homem de quase todos os ofícios na BD

Gazeta das Caldas, 25 de Março 2016

Jorge Machado-Dias

Geraldes Lino tem dito e escrito, muitas vezes, que em Portugal o argumentista é a avis rara da BD.

No entanto penso que Lino chama “aves raras” aos argumentistas portugueses, não só por terem sido em menor número que os desenhadores, mas sobretudo por serem muito menos conhecidos. São referenciados algumas dezenas de nomes de argumentistas em Portugal, desde Raul Correia – que já aqui referimos como argumentista de “Os Doze de Inglaterra” desenhado por Eduardo Teixeira Coelho –, Adolfo Simões Müller e Roussado Pinto (que assinava Edgar Caygill), até aos actuais David Soares, André Oliveira (ambos também desenhadores) e Nuno Duarte, que foram já tema de anteriores Gazetas da BD. Contudo, a proliferação de argumentistas na BD portuguesa deu-se especialmente enquanto durou o período dourado das revistas periódicas de banda desenhada, desde sobretudo de “O Mosquito”, iniciado em Janeiro de 1936, até ao último título, da periódica “Selecções BD”, que terminou a sua publicação no nº 31, em Maio de 2001. Depois desta data deixaram de se publicar revistas periódicas de Banda Desenhada, passando as apostas editorias a valorizar o álbum.

E foi precisamente nas “Selecções BD”, que pontificou aquele que consideramos o “último” e o mais prolífico dos grandes argumentistas da BD portuguesa desse período das revistas periódicas: Jorge Magalhães.

Jorge Arnaldo Sacadura Cabral de Magalhães nasceu no Porto, na Rua de Cedofeita, a 22 de Março de 1938. Uma vez concluído o antigo Curso Liceal e, antes de partir para Angola, publicou contos nas revistas juvenis Mundo de Aventuras e O Mosquito (II série), em 1959 e 1960. Em Angola foi funcionário público, trabalhando no Instituto do Café de Angola. Aí viveu entre 1961 e 1973, em Luanda, Novo Redondo e Porto Amboim. Durante a sua permanência em Angola, colaborou activamente em periódicos locais como o Comércio de Luanda, onde coordenou a página juvenil, Trópico e n’A Província de Angola, sem esquecer a sua passagem pela rádio e pelo Teatro. Mesmo longe de Lisboa, publicou artigos sobre BD no jornal República, na revista Pisca-Pisca e outras publicações.

“A paixão pelas histórias aos quadradinhos nasceu, por assim dizer, logo que aprendi a soletrar. Nesse tempo, com cinco anos, já gostava de folhear o “Mosquito“, que me ajudou bastante a decifrar as primeiras letras. Fui sempre um leitor assíduo de revistas infanto-juvenis e, depois do “Mosquito” e do “Diabrete“, comecei a coleccionar o “Cavaleiro Andante” e o “Mundo de Aventuras“. Não houve praticamente revista de BD que não me tivesse passado pelas mãos.” Refere Jorge Magalhães em entrevista ao Blogue do Tex, conduzida por José Carlos Francisco.

Regressado a Portugal em 1973, trabalhou na Agência Portuguesa de Revistas, tornando-se em 1974 coordenador da célebre revista de BD Mundo de Aventuras (II série), entre outros títulos da editora (Mundo de Aventuras Especial e Seleções), traduzindo bandas desenhadas e escrevendo artigos e contos. Em 1976 foi um dos sócios fundadores do Clube Português de Banda Desenhada, onde chegou a ser membro da direção, sendo esse ano marcado também pelo início da sua atividade como argumentista de BD, com "A Lenda de Gaia", desenhada por Batista Mendes para o Mundo de Aventuras.

A partir de 1976, a sua actividade como argumentista de BD ganhou fôlego, no Mundo de Aventuras e depois em Quadradinhos (2ª série), Tintin, O Mosquito (5ª série), Jornal da BD, Jornal do Exército, BDN (suplemento do Diário de Notícias), etc. Trabalhou com os desenhadores Augusto Trigo (desenhador com quem mais colaborou), António Carichas, Chaterine Labey (sua esposa), José Abrantes, Vítor Péon, Zénetto, Eugénio Silva, Fernando Bento, José Garcês, Ricardo Cabrita, João Mendonça, Carlos Alberto Santos, Rui Lacas, etc... Os seus textos abarcam os temas históricos, passam por aventuras em África e, sobretudo westerns (o seu tema preferido). Em algumas histórias, como na do nº 369 (2ª série), de 6-11-1980 do Mundo de Avenuras, com o título “A Sombra do Gavião“, desenhada por Augusto Trigo, Jorge Magalhães assinou o argumento com o pseudónimo de Roy West.

Foi coordenador da totalidade da produção da Editorial Futura, incluindo O Mosquito (5ª série), dirigido por José Chaves Pereira, assim como dos excelentes Cadernos de Banda Desenhada. Editou, durante alguns anos, vários fanzines especializados: Fandaventuras, Fandwestern, e outros. Assinou, como argumentista, mais de duas dezenas de álbuns editados, desde 1985. Publicou artigos sobre banda desenhada em diversos fanzines, bem como no Especial Quadradinhos (de A Capital) e outras secções especializadas em jornais, assim como nas publicações de sua responsabilidade. Colaborou com textos para as Edições Época de Ouro, tendo assegurado a coordenação de O Mosquito – 60º Aniversário (1996). Para as Edições Rodrigues Chaveiro coordenou a revista de reedições americanas Heróis Inesquecíveis, em 1997. Foi redactor-chefe e coordenador da revista Selecções BD, da Meribérica Liber, desde o início da revista em 1998 até ao seu final em 2001. Editou, pelo Salão de BD de Moura, os cadernos “O Western na BD portuguesa”, “Victor Péon e os Western”, “Banda Desenhada e Ficção Científica” e “ Franco Caprioli – no Centenário do Desenhador Poeta”.

Actualmente, como sócio do Clube Tex Portugal, escreve para a revista do Clube e mantém o seu blogue, “O Gato Alfarrabista – na sua Loja de Papel”: https://ogatoalfarrabista.wordpress.com/.

Fontes principais: Leonardo De Sá, “Dicionário dos Autores de Banda Desenhada e Cartoon em Portugal” (edições NonArte/CNBDI, 1999) e Entrevista para o Blogue do Tex, conduzida por José Carlos Francisco, em http://texwillerblog.com/wordpress/?p=6659.

Jorge Magalhães com o seu inseparável boné, que quase nunca tira da cabeça, nem mesmo à mesa, durante os convívios bedéfilos almoçarados (ou ajantarados).

A Sombra do Gavião (1980), com argumento de Roy West (Jorge Magalhães) e desenhos de Augusto Trigo. 

Dama Pé de Cabra (1989), também ilustrado por Augusto Trigo.

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quarta-feira, 23 de março de 2016

BANDA DESENHADA – PARA A TERCEIRA IDADE – COM A REVISTA “VISÃO”



BANDA DESENHADA
para a terceira idade
COM A REVISTA “VISÃO”

Começou hoje (23-03-2016), a ser distribuida gratuitamente com a revista Visão (ou seja por €3,00 porque quem só quer a reprodução das revistas tem que pagar a própria Visão), depois de grande campanha de divulgação, uma colecção de reimpressões de seis antigas revistas de BD – agora no formato da própria revista Visão: 19 x 26 cm – revistas de que só os mais velhos adeptos bedéfilos se lembram – dos anos de 1970, ou seja de há 40 anos! Portanto o título correcto para esta coisa é mesmo o que escrevi acima: Banda Desenhada para a terceira idade (na qual me incluo, obviamente).

Mas vamos por partes, as revistas a distribuir com a revista são, O Falcão nº 577, de 1971, dimensões originais: 13 x 18 cm (que saiu hoje), Mundo de Aventuras, de 1974, o original tinha 21 x 28 cm, O Jornal do Cuto, de 1975, 19 x 27 cm, Cavaleiro Andante, de 1961, 21 x 29,5 cm, Colecção Galo nº 1, de 1977 e O Mosquito, de 1975, 17 x 24 cm.

Esta edição de reproduções das revistas mencionadas é feita em colaboração com o Clube Português de Banda Desenhada, segundo nota da Visão.

Para não estar a esticar-me em “críticas” ao CPBD, até poque não sei qual foi o envolvimento do Clube nesta edição, aconselho a leitura da opinião de Pedro Cleto em: http://asleiturasdopedro.blogspot.pt/2016/03/coleccao-banda-desenhada-com-visao.html

Deixo aqui apenas as imagens da capa d’O Falcão nº 577 – Major Alvega e a reprodução do material que foi lançado hoje com a Visão. Obviamente, quem fez a digitalização das páginas não percebe patavina do que está a fazer, nem sabe sequer trabalhar as imagens para eventualmente suprimir o efeito de transparências da impressão original que, como todos (os da terceira idade) sabemos, era “rasca”.

Como foi publicado. São óbvias as transparências de páginas anteriores e seguintes e...

... mais ou menos como deveria ter sido publicado.


Próximos "Capítulos":

  
  

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domingo, 20 de março de 2016

CLUBE PORTUGUÊS DE BANDA DESENHADA – EXPOSIÇÃO DOS 80 ANOS D’O MOSQUITO NA BIBLIOTECA NACIONAL – DEBATE SOBRE O CPBD



CLUBE PORTUGUÊS DE BANDA DESENHADA
EXPOSIÇÃO DOS 80 ANOS D’O MOSQUITO NA BIBLIOTECA NACIONAL
DEBATE SOBRE O CPBD

Só hoje me foi possível colocar aqui esta matéria. As minhas desculpas.

Retomando a questão do Clube Português de Banda Desenhada e aproveitando para deixar aqui algumas fotos da Exposição dos 80 anos d’O Mosquito na Biblioteca Nacional, publico também as respostas de José Ruy e de Pedro Magalhães Mota (actual presidente do CPBD) às minhas opiniões acerca da exposição sobre os oitenta anos d’O Mosquito na sede do CPBD.

Os textos de José Ruy e de Pedro Mota, não respondem nunca a questões primordiais que já coloquei aqui há uns tempos: qual é o objectivo do CPBD neste seu ressurgimento (ou seja, para que serve o Clube?) e quais as estratégias para atingir esse objectivo, se é que existe objectivo.

Não quero, contudo, prosseguir na linha das opiniões que tenho aqui deixado, porque já entendi que não vale a pena prosseguir por aí. Outros ventos virão, ou não.

Deixo só duas ou três “coisinhas”:

Só para dar um pequeno exemplo, porque é que não se coloca um cartaz à entrada da sede a anunciar que existe lá dentro uma exposição a visitar? Era basicamente o que o CNBDI já fazia.

Uma coisa deste género seria muito chamativa e nem era preciso mudar a tela (à direita) com o logotipo do CPBD (onde o CNBDI colocava os seus cartazes), uma vez que do modo que mostro seria mais barato e reutilizável. 

Quanto à crítica de José Ruy sobre o meu comentário à foto da sede, eu referia-me à responsabilidade da Câmara da Amadora em ter os espaços públicos limpos, não ao CPBD. Mas se calhar expliquei-me mal.

Já a resposta do Pedro Mota (O CPBD e a BD para Malta Jovem, em http://www.acalopsia.com/bd-para-malta-jovem/), não refere nada daquilo que considero necessário. Portanto não vou comentar, não por desconsideração para com o Pedro Mota, mas porque ele escreve quase o mesmo que José Ruy.

Contudo devo referir que este “debate”, que envolve José Ruy e Pedro Mota, de uma forma retórica e civilizada, não belisca minimamente a nossa amizade. Só que, cada um diz o que pensa sobre determinadas matérias (neste caso o CPBD) e a mais não é obrigado. Portanto, as minhas saudações cordiais a ambos, agradecendo o contributo para o debate sobre o tema neste espaço.

Em breve estarão aqui também as opiniões de Santos Costa e respectiva resposta de Geraldes Lino.

Entretanto informo que o Clube Português de Banda Desenhada já tem página no Facebook, aqui: https://www.facebook.com/clubeportuguesbandadesenhada/?fref=ts

AS FOTOS DA EXPOSIÇÃO NA BIBLIOTECA NACIONAL
(Fotos de Dâmaso Afonso)

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A RESPOSTA DE JOSÉ RUY AOS ÚLTIMOS POSTS 
NO KUENTRO SOBRE O CPBD

Meu caro amigo Machado Dias

Abraço.

Eu entendo a amizade como um sentimento que vai para além dos «com-licenças» e de estarmos sempre de acordo com tudo, «ratando» por vezes nas costas, para evitar confrontar o amigo para que ele não se ofenda.

É dever dos Amigos verdadeiros chamar a atenção do que achamos estar mal, mas olhos nos olhos, sem ser preciso usar o megafone para que todo o mundo oiça; o «Kuentro» ouve-se em todo o mundo, tenho prova disso. [Devo, neste aspecto chamar a atenção de José Ruy que este assunto não é uma questão particular – se o fosse eu nunca a publicaria no Kuentro – mas sim um "debate" público, uma vez que considero o CPBD como um Clube de eventual utilidade pública, digamos assim. Os posts sobre o CPBD no Kuentro têm tido afluências de mais de quinhentos visualizadores e só não deixam lá os seus comentários porque tenho uma qualquer avaria no Blogger, que ainda não consegui corrigir e que não deixa publicar comentários (nem os meus). Contudo, como coloco sempre uma entrada no Facebook com chamadas aos posts do Kuentro, essas entradas no Facebook (https://www.facebook.com/jorgemachadodias) têm tido algumas discussões públicas sobre o CPBD, o que revela o interesse geral pelo Clube.]

E depois deste preâmbulo vamos ao assunto:

A sua última crítica ao CPBD e ao modo como apresenta as suas exposições na nova sede na Amadora.

Começa o meu amigo por chamar a atenção para umas réguas tortas por sobre a fachada, que se encontram assim há anos, responsabilidade do condomínio (a CMA só é proprietária da instalação térrea) e da relva a nascer entre as pedras da calçada. Faltou destacar o mau aspeto de algum papel que ande pelo chão, levado pelo vento de algum caixote do lixo mal tapado.

Já agora, talvez o pó acumulado sobre os automóveis estacionados em frente da porta dê má aparência e os voluntários do CPBD tenham de lhe puxar o lustro para não serem criticados.

[Há aqui, talvez, um lapso de interpretação e exagero de José Ruy: eu chamei a atenção para o que a Câmara deveria fazer, como proprietária. Não critiquei o CPBD por esses aspectos, dos quais não tem culpa alguma, a não ser chamar a atenção da Câmara para o facto.]

Depois dá a sua opinião de que é degradante mostrar reproduções e que só deveriam ser expostos originais mesmo, se o CPBD quer aliciar os «jovens» a irem ver as suas exposições.

Fiz uma exposição dos meus originais do livro «Aristides de Sousa Mendes» no Consolado Geral de Portugal em Paris, em 2014, montados em cartolinas pretas e protegidos com acetato, onde foi inaugurado com a presença de um dos netos do Cônsul que vive em França e do corpo diplomático do Consulado, e depois de duas semanas passou para outros organismos em França e não houve um único queixume pelo facto de não ter molduras «dignas» com vidro verdadeiro. Eu e um membro da direção do «Círculo Artístico e Cultural Artur Bual», promotor do evento, levámos esse material no avião connosco, sem o perigo de estilhaçar os vidros, mesmo se fossem em acrílico, dentro do peso estipulado para a bagagem e sem mais essas despesas.

E a exposição foi visitada por muitos jovens, e até numa das itinerâncias, esteve num colégio.
O meu amigo divulgou com imagens este evento.

A Bedeteca da Amadora tem exposto originais meus e de outros autores montados da mesma maneira, e não tem havido reclamações, pelo facto de estarem «indignamente» apresentados.

Os visitantes de todas as idades não deixaram de ir por não terem molduras.

No dia 17 de fevereiro de 2016 inaugurou-se uma exposição sobre a edição, agora em livro, da história de ETCoelho, «Os Doze de Inglaterra» na Bedeteca da Amadora, e foram expostos originais deste artista, muito pouco conhecidos, o que foi previamente anunciado.

Como poderá ver pelas fotos que oportunamente lhe enviarei, não estiveram presentes jovens.
Porque talvez não se interessem por este tipo de trabalho, e isso levar-nos-á para outro debate.

Portanto não é pelo facto de se mostrarem originais verdadeiros que alicia os iniciados (nesta arte) a interromperem os seus jogos nas tabletes para se deslocarem às exposições que não tenham trabalhos seus.

O facto do fotógrafo ocasional ter tirado fotos ao material exposto (reproduções) sem o cuidado de escolher o ângulo para não receber reflexos, não é culpa dos expositores. [A máquina fotográfica capta exactamente o mesmo que o olho humano vê, portanto o público tem que andar a “escolher o ângulo” certo?...]
As boas reproduções expostas, foi a maneira possível de mostrar esse material sem o CPBD ter de pagar um seguro proibitivo e montar um sistema de alta segurança durante o período de exposição, exigido (e muito bem) por quem detém esse precioso material. [Aqui estou de acordo com o que José Ruy refere!]
O CPBD está a renascer de um longo letargo e não tem ainda posses para essas fantasias. Será que para começar temos de primeiro fazer um investimento principesco para que a crítica fique satisfeita?

Lembro-me de um rapaz, até familiar, que mostrava alguma habilidade e gostava de ser pintor e desenhador. Compraram-lhe um belo estirador de sala, caixas com tintas aguarela e a óleo, papeis «qb», pinceis e todo o material de qualidade.

Esqueceram-se de lhe comprar outra coisa indispensável: o talento. Todo esse equipamento de nada lhe serviu.

O Coelho começou a trabalhar numa prancheta sobre os joelhos, no quarto que partilhava com o seu irmão.

Os jovens de que fala, se forem à sede do CPBD podem aprender como com materiais baratos e simples, se pode começar a apresentar os trabalhos.

Mas só se quiserem, pois ninguém pode obrigar seja quem for a participar nestes eventos.

Além disso, o que é exposto é para ser visto ao vivo, e o facto de serem reproduções, boas reproduções de provas originais, torna-se secundário.

E o que está exposto foi fruto de muitas horas de trabalho exemplar, voluntário e gracioso, de membros da direção do CPBD.

Temos, todos nós, a responsabilidade de dar a conhecer aos jovens, que para conseguirmos crescer precisamos de construir, sem esperar que tudo ou quase tudo apareça feito e pronto a usar.

Para o público que não pode ir à Amadora, as fotografias de conjunto podem mostrar todos os reflexos (como em tantas exposições de gabarito) mas para verem em pormenor, basta que os órgãos de informação e divulgação peçam os ficheiros digitalizados para serem reproduzidos nos seus blogues ou edições em papel em boas condições.

Esse público que se remedeia em ver as imagens no monitor, tanto lhes faz serem originais ou não, o que precisa é de ver essas imagens com qualidade.

Esta é a minha opinião, pois sempre me atirei para a frente para fazer coisas com apenas as condições possíveis no momento, ultrapassando os escolhos, e só ao longo de décadas fui melhorando essas condições de trabalho. Se estivesse à espera do ótimo para começar, ainda não tinha feito nada.

Além disso, o único responsável pelo processo que o CPBD adotou para realizar as suas exposições na nova sede, sou eu. Fui eu quem propus esse material, pois tenho experiência de o usar, sem grandes despesas e problemas de conservação e deslocação.

Quem não tem cão caça com gato. O que interessa é caçar. [Caçar o quê, amigo José Ruy?]
Não dei esta resposta no próprio Kuentro, por ser longa e para lhe dar a oportunidade de recusar publica-la. Numa altura em que a coesão é primordial, qualquer polémica pode dar a impressão a quem passa ao largo, que estamos desunidos e em guerras de alecrim e manjerona.

Por isso aqui vai desta forma.
No entanto vou dar conhecimento à família CPBD.
O mesmo abraço
De admiração e a mesma amizade

José Ruy
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TEXTO DE PEDRO MAGALHÃES MOTA (PRESIDENTE DO CPBD) SOBRE O MESMO ASSUNTO

AELIPSE, DESTAQUE Fevereiro 20, 2016

BD Para Malta Jovem

Num “post” no blogue Kuentro, Machado-Dias critica as mais recentes exposições que têm sido promovidas pelo Clube Português de Banda Desenhada (CPBD) nos seguintes termos: “Não é com “exposições deste género – mesmo com originais ou reproduções impressas, mas muitas vezes e o pior de tudo com fotocópias, afixados em cartolinas pretas e com um acetato por cima – que atrai novas gerações. A malta nova está habituada a exposições montadas profissionalmente (ou não) com outro requinte, seja de emolduramento ou outros enquadramentos expositivos. Enquanto o CPBD não perceber isto, o resultado será sempre a “excelente afluência de jovens” nas suas iniciativas.”

Tenho tantos reparos a este comentário, que resolvi escrever uma crónica só sobre o assunto.

Em primeiro lugar, há a afirmação sobre o requinte com que se tem habituado a “malta nova”. Julgava eu que o requinte é o mesmo com que se tem habituado a malta menos nova, mas falta a indicação de qualquer fonte ou razão de ciência que sustente a afirmação crítica. Partindo da minha experiência pessoal, há dois eventos que têm promovido uma nova forma (mais profissional ou requintada) de apresentar uma exposição de banda desenhada: o AmadoraBD e o Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja (sem esquecer a experiência do CNBDI). Mas são eventos cujos meios, por disponibilidade orçamental ou por competência em áreas como a carpintaria, permite outro tipo de aposta. De qualquer forma, são eventos criticados por pessoas como Machado-Dias pela sua incapacidade para… renovar o seu público e trazerem a tal malta nova.

No entanto, em segundo lugar, Machado-Dias faz notar que esta é a questão, e que o que falta ao CPBD não é o orçamento do AmadoraBD ou os carpinteiros e outros trabalhadores da Câmara Municipal de Beja, mas apenas “perceber isto”.

Em terceiro lugar, afirma que o resultado de o CPBD não perceber isto é a falta de malta jovem nas iniciativas do Clube.

Tenho muito respeito pelo Machado-Dias e pela sua (nem sempre fundamentada) voz crítica, mas não me parece que a questão seja tão simples como está enunciada. De resto, da forma como a questão está colocada, até parece que a malta nova só se move pela forma e nunca pelo conteúdo, o que não me parece ser o caso. E isto, partindo do princípio de que a crítica é pertinente. Fará sentido criticar a falta de malta menos jovem numa iniciativa como o Anicomics? Não me parece.

A verdade é que as exposições de banda desenhada não contribuem muito para a afluência da malta nova, que se move mais por outro tipo de coisas (mesmo nos eventos de BD, move-se sobretudo pela presença de autores, ou pelos desfiles e concursos de cosplay, por exemplo).

De resto, não me parece que uma exposição sobre os 80 anos d’O Mosquito, apresentada na sede do CPBD tivesse mais malta nova, se fosse apresentada com maior requinte (e igual dignidade e dedicação). Será uma questão a avaliar quando o Clube desenvolver uma iniciativa especialmente vocacionada para os mais novos, mas não agora.

Para já, aquilo que me parece que justificava ser destacado (e não foi), é a enorme afluência da malta menos jovem (que se interessa por um bom conteúdo independentemente da forma), e o interesse manifestado pela comunicação social. E se queremos ser críticos em relação aos meios (mesmo no caso de desconhecermos as limitações expositivas da nova sede do CPBD), podemos sempre desejar que o Clube disponha de maior orçamento ou apoio na sua atividade.

O Clube deve procurar sempre ter um cada vez maior número de associados, e renovar o seu público numa perspetiva de continuidade da sua atividade, mas o fator que se procura atrair não está ligado à idade. Liga-se antes ao interesse, retorno e participação. Só faz falta quem está. E, contrariando a crítica de Machado-Dias, o Clube Português de Banda Desenhada vai continuar a dar prioridade ao conteúdo sobre a forma.
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domingo, 13 de março de 2016

Bdpress #468: A LIGA DOS AFRICANOS EXTRAORDINÁRIOS


Bdpress #468
A LIGA 
DOS AFRICANOS EXTRAORDINÁRIOS

Devido à influência dos filmes de super-heróis, estão a surgir álbuns de banda desenhada dedicados a Super-heróis de origem africana. 
O sucesso tem sido tanto que estas BDs estão a chegar a outros continentes.

SUPER-HERÓIS DE ORIGEM AFRICANA


Courrier internacional, Nº 241, Março 2016
QUARTZ – Nova Iorque – 04/01/2016 – Autora: Lily Kuo – Tradutora: Mariana Passos de Sousa

A Comic Repúblic, uma start-up sedeada em Lagos (Nigéria) e fundada em 2013, está a criar um universo de super-heróis para os leitores africanos espalhados pelo mundo. O elenco das personagens é já designado “Vingadores de África” pelos seus fãs.

Entre as personagens, destacam-se Guardian Prime, um estilista de moda nigeriano de 25 anos, que utiliza a sua força extraordinária para lutar pelo pais; Hilda Avonomeni Moses, uma mulher de uma aldeia remota no estado de Edo, que vê espiritos; e Marcus Chigozie, um adolescente privilegiado, mas revoltado, que se desloca a velocidades supersónicas.

"Lembrei - me de quando era mais novo e de como fazia para tomar decisões: No meu lugar, que faria o Super-Homem? E o Batman? Então, pensei: Porque não super- heróis africanos?", explica o fundador da empresa, Jide Martin. O seu lema é: "Qualquer um pode ser um herói".

Super-heróis, de África para o mundo.

Esta start-up pode ser um sinal de que a banda desenhada está a ganhar protagonismo no continente e num mercado que, dizia-se, não tinha interesse em personagens inspiradas em africanos. A equipa de nove pessoas da Comic Republic tem visto a popularidade dos seus álbuns crescer, de duas centenas de exemplares descarregados gratuitamente em 2013, para 25 mil no seu último lançamento, em Dezembro de 2015. Como os álbuns estão disponiveis gratuitamente no site da empresa, a Comic Republic tenciona angariar patrocinadores e publicidade para ganhar dinheiro.

Algumas empresas já pediram à Comic Republic para criar álbuns de banda desenhada sobre os seus produtos e houve organizações não-governamentais que lhes pediram ajuda para campanhas de divulgação contra riscos de saúde, como o paludismo.

O responsável do maior grupo de comércio eletrónico do país pediu-lhes um retrato seu como super-herói. A história de uma das personagens, Aje - que quer dizer "bruxa" em yoruba - poderá ser adaptada em filme por um cineasta local; recentemente, foi lançada mais uma edição das aventuras de Guardian Prime.

A Comic Republic faz parte daquilo a que alguns se referem como o "renascimento do made in África", em que a música, literatura e arte africanas começam a ter impacto para lá do continente. Mais de metade dos downloads dos álbuns foram feitos a partir dos Estados Unidos, do Reino Unido e de alguns outros paises, como o Brasil e Filipinas.

Segundo Martin, 30% dos downloads são provenientes da Nigéria. Em Lagos, todos os anos há uma conferência Comic Con, onde participam representantes da indústria da banda desenhada e do entretenimento. No Quénia, a primeira Comic Con decorreu em 2015.

Martin afirma que a indústria dos álbuns de banda desenhada tem potencial em África, em parte devido à popularidade dos filmes de super-heróis. A empresa lançou-se com as aventuras de Guardian Prime, "um Super-Homem negro", explica Martin no mesmo dia em que estreou, em 2013, o filme Homem de Aço.

Entretanto, surgiram outras personagens africanas. O designer e ilustrador Loyiso Mkize criou uma popular banda desenhada, intitulada Kwezi - ou estrela, em xhosa e zulu - que conta as aventuras de um super-herói adolescente em Gold City, urna metrópole inspirada em Joanesburgo. Esta banda desenhada, que incorpora o jargão e a cultura locais, é uma história sobre a transição para a idade adulta e sobre a descoberta das raízes, segundo explica Mkize. A novela grafica E.X.O.: The Legend of Wale Williams, lançada em Agosto do ano passado por Roye Okupe [director de animação e fundador do YouNeek Studios], tem como objetivo "pôr a Africa no mapa, no que diz respeito a histórias de super-heróis", segundo o autor.

Modelos de conduta

O universo de heróis da Comic Republic difere dos seus pares ocidentais também de outras formas. Das nove personagens criadas pela start-up, quatro são mulheres. Martin é de opinião que isso espelha o facto de as mulheres terem um papel activo na politica e nos negócios. "Hoje em dia, na Nigéria, a questão do género não é importante. Não diria que se trata de uma decisão estratégica. É apenas a nossa forma de vida".

Para lá de combater o mal e de ganhar o dia, o objetivo destas bandas desenhadas é mostrar como os indivíduos se podem unir para criar uma "África melhor e mais segura", explicou o adminstrador da Comic Republic, Tobe Ezeogu.

A mensagem parece ter chegado a alguns dos leitores. Um fã escreveu o seguinte, na página de Facebook da Comic Republic, sobre Guardian Prime: "A minha frase preferida dele: 'Para o mal triunfar basta os bons homens não fazerem nada. Não aceito isso, porque sou nigeriano'. Eu não sou nigeriano mas os super-heróis vão ajudar a juventude e estimular o patriotismo".

O fundador da Comic Republic, Jide Martin, a trabalhar numa prancha, na sede da Comic Republic em Lagos – 8 de Janeiro de 2016.


  





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segunda-feira, 7 de março de 2016

REPORTAGEM - 381º ENCONTRO DA TERTÚLIA BD DE LISBOA – 1 DE MARÇO DE 2016 – CONVIDADO ESPECIAL TIAGO BULHA



REPORTAGEM
381º ENCONTRO 
DA TERTÚLIA BD DE LISBOA
1 DE MARÇO DE 2016
CONVIDADO ESPECIAL TIAGO BULHA 


O meu nome é Tiago Bulha. Nasci em 1984 e sou natural de Faro. Desde pequeno que adoro o mundo fantástico do cinema, banda desenhada e videojogos. Adoro também ler, ouvir música e viajar sendo estas umas das minhas grandes fontes de inspiração.

Não me considero um ilustrador, ou um escritor, ou outro título qualquer que seja mais específico. Gosto de fazer um pouco de tudo, escrever, desenhar, fotografar, realizar vídeos, já experimentei mesmo até compor musica e anotar melodias que me vêm à mente. No fundo adoro todos os elementos criativos que possam contribuir para criar uma boa história e como temáticas gosto sobretudo de ficção, aventura, fantasia e acção.

Comecei desde tenra idade como brincadeira a desenhar várias bandas desenhadas e a escrever histórias, e chegando mesmo a criar alguns jogos de computador por diversão. Sendo autodidacta por natureza e tendo um gosto por aprender em geral levou-me a ir experimentando diversas áreas desde estudos de música, ciências, desenho e ilustração, fotografia e vídeo, e até mesmo desporto e danças. Estudei arquitectura no Instituto Superior Técnico mas sempre com o intuito de um dia vir a ter tempo de poder trabalhar nas minhas próprias histórias. Mais tarde estudei 3D e animação, tendo mesmo estagiado nesta área e continuando até hoje em dia a realizar trabalhos como freelancer.

Recentemente tenho trabalhado em colaboração com Marta Patalão, tendo escrito as histórias Ikarya e The Opal Flame, tendo esta ultima sido publicada na revista italiana Nuname #3 e lançada no Lucca Comics and Games 2015. Encontro-me de momento a continuar a trabalhar em equipa num novo capítulo do mundo de Opal Flame e outras histórias que já comecei a criar há uns anos e a visionar mundos fictícios e fantásticos.

Contacto: Kwenronart@gmail.com
Websites: Kwenronart.wix.com/kwenronartworks - facebook.com/kwenronart -tapastic.com/TeaplusCoffee/
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COMIC JAM


Autores participantes:
1 - Tiago Bulha
2 - Mitsu
3 - Sérgio Santos
4 - Paulo Vicente
5 - Edgar Ascensão
6 - Marta Patalão


AS FOTOS
(de Álvaro)
























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