quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

BDpress #485 - Colecção Torpedo DA LEVOIR – A DISTRIBUIR COM O PÚBLICO

BDpress #485 (31 Janeiro 2018)

Colecção Torpedo
DA LEVOIR
A DISTRIBUIR COM O PÚBLICO
A PARTIR DE AMANHÃ - 1 DE FEVEREIRO

Nesta última página do destacável de publicidade à série, o Público destaca o Tornado de Estrompa.

Textos de João Miguel Lameiras

Torpedo 1936, a série de culto de Enrique Sánchez Abulí a que Jordi Bernet deu vida com o seu traço único tem finalmente direito à edição integral portuguesa que merecia! Clássico incontornável do policial Noir em Banda Desenhada e a BD espanhola mais traduzida em todo o mundo, a série Torpedo regressa a Portugal mais de trinta anos após a sua estreia na revista Mosquito, numa edição em cinco volumes que recolhem as 61 histórias protagonizadas pelo gangster mais popular da BD, mais de metade das quais permaneciam inéditas no nosso país.

E a colecção termina com o regresso de Torpedo em 1972, agora pela mão de Eduardo Risso, o desenhador de Batman Noir, numa história inédita que mostra que o Torpedo pode estar mais velho, mas continua mortífero.

A partir de dia 1 de Fevereiro, durante as próximas seis semanas, o crime vai compensar graças ao Torpedo!

TORNADO O IRMÃO PORTUGUÊS DE TORPEDO

Publicada em Portugal logo a partir do nº 2 da quinta série da revista Mosquito, em 1984, a série Torpedo 1936 rapidamente conheceu uma grande popularidade no nosso país, pela forma como subvertia os clichés do género policial, em histórias em que a violência e o erotismo andavam de braço dado com o humor.

Entre os inúmeros leitores que se tornaram fãs incondicionais da série Torpedo, estava José João Amarai Estrompa, nascido em 1942 e falecido em 2014. Conhecido pelo seu apelido, Estrompa desenvolveu a sua actividade profissional no campo da publicidade e das artes gráficas, mas sempre teve na banda desenhada a sua paixão, seja como autor, ou como editor de fanzines como o Shock, que logo em 1991 dedicou número à série Torpedo, com homenagens de diferentes desenhadores portugueses. E foi precisamente nos fanzines que nasceu e viveu a sua mais conhecida criação, a série Tornado, que homenageia simultaneamente o Torpedo de Abulí e Bernet e o actor Humphrey Bogart.

Como referiu Geraldes Lino no blogue Divulgando BD, num post a propósito da morte do autor: "Quando Estrompa viu pela primeira vez o Torpedo, em 1985, nos álbuns da entretanto extinta Editorial Futura, apercebeu-se que ele lhe fazia voltar à memória as imagens de alguns dos actores que o tinham impressionado na infância, uns tais Humphrey Bogart, James Cagney, Edward G. Robinson ... Daí a criação de Tornado 1989, anti-herói que o autor admite ter desenhado um tanto à maneira de pastiche do Torpedo, embora sejam de sua autoria, enquanto argumentista, as diferentes e muito especiais características de malandro profissional evidentes no Tornado, o qual tem sido um pouco de várias coisas: polícia, mas também ladrão, detective, dono de um bar em Casablanca ... – versatilidade que lhe confere uma personalidade desconcertante e muito própria.

Tornado foi criado graficamente em 1989, pormenor em destaque no "nome de guerra" com que se apresenta. Ao longo da sua existência tem-se constatado que ele possui tendências humorísticas e críticas diferentes da do respectivo modelo.

Os constantes apartes, brejeiros ou sardónicos, que intercalam os diálogos e pensamentos da personagem, bem como os comentários mordazes do narrador, criam na série, por sua vez, uma textura interventiva que rareia nas suas congéneres."

Com histórias espalhadas por diversos fanzines como o Shock, Banda, Comic Cala-te, Almada BD Fanzine, CaféNoPark, Seasons of Glass, Boom e Tertúlia BDzine, para além de uma história na revista Selecções BD e de um volume da colecção LX Comics editado em 2002 pela Bedeteca de Lisboa, Tornado protagonizou mais de duas dúzias de aventuras ao longo de mais de quinze anos, com destaque para a história Tornado contra Torpedo, em que as duas personagens se encontram finalmente.

 José João Amaral Estrompa, nascido em 1942 e falecido em 2014
(foto de Jorge Machado-Dias)

  

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segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Gazeta da BD #88 – IV Comic Con Portugal 2017

Gazeta da BD #88 - na Gazeta das Caldas - 26 Janeiro 2018


IV Comic Con Portugal 2017
Mais de 100 mil visitantes num evento de BD/Comics 
em Portugal é obra!!!

Antes de me debruçar sobre o ano editorial de BD de 2017, como tinha previsto, tenho que deixar aqui um apontamento sobre o IV Comic Con Portugal, que decorreu em Dezembro passado, como sempre nas instalações da Exponor de Matosinhos. Recordo que já escrevi aqui sobre a 2ª edição deste evento, em Dezembro de 2015.

A Comic Con Portugal tem vindo a aumentar o número de visitantes, desde os cerca de 30 mil na 1ª edição em 2014, até atingir os 100.748 em 2017 – um salto gigantesco em quatro anos. Daí a razão de ser deste texto.

Escrevi em 2015, que as Convenções de Comics juntam num festival não só as criações dos comics (bandas desenhadas) impressos, como os seus resultados em filmes e outros média, em que os americanos são profícuos, ou seja, todos os produtos comerciais que possam ser daí derivados: jogos de computador, séries televisivas, merchandising, brinquedos, concursos e torneios de jogos, divulgação e lançamento de novos filmes e séries de televisão, etc... Daí que se designem como Convenções de Cultura Pop (Cultura Popular) e abarquem tudo o que diz respeito a esse tipo de publicações, filmes ou séries de TV, sendo que a característica mais conhecida, é a denominada Cosplay (Costume Play, ou jogo de vestimentas), uma invenção americana dos anos de 1930, depois fortemente implementada no Japão e que leva os fãs a vestirem-se de acordo com os seus heróis preferidos.

Claro que esta é a fonte fantasista e colorida do público que frequenta estes eventos, ou seja, os fãs fantasiados a rigor como os seus heróis de referência, dos filmes ou séries de TV, para se exibirem depois nos concursos de cosplay.

Embora se tenham reunido os habituais editores e livreiros de BD nesta Convenção, distribuídos por diversos stands, não me parece que o objectivo dos visitantes seja o de comprar livros ou revistas (os comic books), apesar de quase toda a temática destes eventos resultar de adaptações dos comics para cinema, ou vice-versa, em que filmes originais tenham sido convetidos, por sua vez, em BD.

Mas a Música voltou, nesta edição, à Comic Con Portugal com o concerto “Hollywood in Concert” proporcionado pelo Canal Hollywood. A magia do cinema chegou a todos os visitantes pelas grandiosas bandas sonoras tocadas pela Lisbon Film Orchestra dirigida pelo maestro Nuno de Sá, que transportou cada espectador para mundos imaginários provocando as mais variadas emoções. As experiências de realidade virtual da área Gaming e os torneios e desafios de eSports como a Final da Liga Moche LPLOL e a Final do Moche TPGO, concentraram muitas das atenções, assim como a presença do Batmobile - carro original e oficial do Batman no filme “Liga da Justiça”.

Um dos locais mais visitados do evento foi o icónico “Espaço Oficial Star Wars” que recebeu a visita de milhares de pessoas durante os quatro dias para conhecerem a nave “T-65 X-WING” e o “Imperial Combat Assault Tank” e viverem todo o universo “Star Wars”.

A presença, como convidados, de actores de cinema e TV, intérpretes dos filmes e séries de culto, é também um dos grandes motivos de interesse do evento.

No entanto, segundo parece, o Camicon Portugal vai mudar-se para Lisboa no próximo ano. A notícia foi avançada pela organização ainda em Setembro.

“Tem a ver com a maturidade ganha pela própria organização ao fazer o evento e com os fatores estruturais. Ao realizarmos este evento em Lisboa criamos uma ponte mais rápida para chegar cá, a espanhóis e outros europeus que queiram vir fazer parte desta festa”, dizem os organizadores. Além disso, salientam, a capital tem “maior oferta hoteleira, maior capacidade de distribuição e interação”.

E esta não será a única mudança. A Comic Con Portugal também deverá começar mais cedo, em Setembro – recorde-se que a edição deste ano foi realizada em Dezembro. Além disso, não deverá ficar restrita a um único espaço como tem acontecido até agora. Pelo contrário, a ideia é dividir o evento em pelo menos cinco locais diferentes.

“Foi a partir destas premissas que surgiu o modelo da Comic Con em Lisboa, depois de vários brainstorms e de conversas com o município da capital.”

Mas isso não significa que o evento se mude de vez para Lisboa. A edição de 2018 vai servir de teste para ver como é que tudo corre, mas ninguém pondera fechar o círculo numa única cidade.

“Pode-se encontrar uma versão mista e dividir o evento por Lisboa e Porto. Podemos até ir para outro sítio. Mas sabemos que Lisboa tudo fará para nos seduzir e cativar.”

Enquanto isto e a ter em atenção, o Festival Internacional de Banda Desenhada d’Angoulême (que ultrapassou já os 300 mil visitantes no ano passado), está já a preparar a sua 45ª edição, que decorrerá entre 25 e 28 de Janeiro.














Clicar em cima da imagem para ouvir e ver a performance da Lisbon Film Orchestra no tema da  
Marcha Imperial de Star Wars



Filipe Melo e Juan Cavia no IV ComicCon Portugal, para o lançamento do livro Comer-Beber...

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sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Gazeta da BD #87 – HERÓIS DA BD PORTUGUESA #13 – A GUARDA ABÍLIA – de Júlio Pinto e Nuno Saraiva


Gazeta da BD #87 na Gazeta das Caldas
HERÓIS DA BD PORTUGUESA #13 
A GUARDA ABÍLIA
de Júlio Pinto e Nuno Saraiva 

(5 Janeiro 2018)


Para iniciar este artigo, não posso deixar de transcrever o texto descritivo inicial de Júlio Pinto que inaugura a banda desenhada A Guarda Abília – Uma Mulher de Fardas. Trata-se de uma verdadeira pérola na BD portuguesa:

“Filha de pais ausentes, nem por isso Abília deixou de ter uma infância feliz. O avô, republicano, socialista e laico, cedo a ensinou a dizer “carbonária”. A avó adormecia-a com maravilhosos discursos de Afonso Costa. E os bigodes eriçados de Buiça, na fotografia ao lado da sua pequena cama, velavam pela tranquilidade do sono da inocente. Os primeiros anos da vida de Abília decorreram assim, num cenário a que uma velha farda, romanticamente roída por sucessivas gerações de traças, dava o toque de perfeição final.

Era a heróica farda de um antepassado morto na campanha que um dia permitiria a trasladação dos ossos de Gungunhana para o Maputo. Foi com essa peça de vestuário militar, que Abília vestiu os primeiros amigos imaginários. Mais tarde, já na escola, o fascínio da pequenita por fardas continuou a manifestar-se. Aos 11 anos, fazia questão de oferecer amendoins à porteira (fardada) do prédio onde vivia. Aos 15 fornecia cerveja ao guarda-nocturno da zona. Aos 16 teve a sua iniciação sexual, logicamente com um bombeiro de Sacavém. Depois veio a universidade, a licenciatura em antropologia e o primeiro emprego, no departamento de alteração comportamental de clientes do BPL, o famoso Banco do Povo Livre.

Mas havia um vazio na sua existência, que nem a leitura de clássicos do nosso tempo conseguia preencher. Abília sofria do que certos lacanianos chamam “a angústia da farda ausente”. Até que um anúncio, um simples anúncio na TV, deu novo rumo à sua vida e lhe permitiu o início de uma bela carreira. Abília respondeu ao chamamento da farda e entrou para a Polícia da Felicidade Pública. Hoje é a agente mais popular da Esquadra dos Prazeres. O perfume das fardas dá-lhe ânimo para as ingratas tarefas no dia-a-dia.

Era Lisboa e chovia. Nos passeios da cidade, acotovelava-se a arraia miúda: correctores da bolsa, dealers, gestores de recursos humanos, um ou outro crítico literário, o incessante a-fazer do quotidiano endurecia as próprias faces talhadas para a ternura. Havia contudo um oásis de paz e serenidade, na confusão da urbe: a Esquadra dos Prazeres! (...)”

Mas logo na página/história seguinte, A Morte dos Paradigmas – não esqueçamos que cada página publicada no Independente, tinha um título – na Esquadra dos Prazeres, enquanto um guarda pergunta a outro, enquanto jogavam às cartas: “Não achas que o Levantado do Chão operou um corte epistemológico no percurso do Saramago?” A guarda Abília atendia uma chamada de “um caso de polícia”. O chefe da esquadra manda-a investigar. Qual não é o espanto da guarda quando, chegada ao endereço indicado pelo telefonema, lhe aparece um antigo professor dela na faculdade, Pleonasmo Farto Coelho (será preciso “traduzir” o nome?): “O que é que uma ex-aluna minha faz com essa farda vestida?”, pergunta-lhe ele. Na vinheta seguinte, às escuras, ela comenta: “Você está um bocadinho mais gordo, professor Pleonasmo...”

Parece-me que nesta série de histórias, a agudeza de Júlio Pinto, atinge um estágio supremo de mordacidade crítica nos argumentos que ele escreveu e que foram subliminarmente interpretados no desenho de Nuno Saraiva. Júlio Pinto morreria em 5 Outubro de 2000 – sarcásticamente, diria eu, precisamente no “dia da República”.

Esta série foi publicada no semanário O Independente, – tal como Filosofia de Ponta e Arnaldo, o Pós Cataléptico – entre Outubro de 1998 e Julho de 1999, histórias depois agrupadas em álbuns editados pela Contemporânea Editora entre 1999 e 2000 – ao que parece completamente esgotados.

Na minha opinião, Saraiva nunca mais conseguiria uma qualidade literária nas suas bandas desenhadas como na colaboração com Júlio Pinto, que foi, ao que parece o único argumentista com que aceitou trabalhar. Isto muito embora, ressalvando a qualidade de Tudo Isto é Fado, publicada semanalmente no semanário Sol.

Deixo aqui um pequeno excerto do texto crítico de Pedro Moura, publicado no seu blogue LerBD:

“(...) É bem possível que, no futuro, olhemos para trás e vejamos o papel de Nuno Saraiva como que ocupando um papel fundamental numa certa imagem de Lisboa. Uma das grandes desvantagens de existir apenas uma certa atenção crítica ou massificada para com BD existente em livros é colocar na sombra outro tipo de produções, como por exemplo a banda desenhada em jornal, a qual, não sendo de facto mais uma das colunas vertebrais desta disciplina, como o foi entre os séculos XIX e XX, não deixa de ter aqui e ali alguma presença. E no caso de Saraiva, uma presença de importância extrema. Afinal de contas, a sua produção tem atravessado décadas quase ininterruptas de uma média de duas páginas publicadas por semana em vários semanários, do Independente ao Expresso, e inclusive o Sol, de onde saem estas páginas reunidas em volume (Tudo Isto é Fado). E se algumas séries primitivas associadas aos jornais foram sendo reunidas em livro (Filosofia de Ponta, Arnaldo o pós-cataléptico, A Guarda Abília), muitas outras nunca encontraram esse poiso físico mais definitivo, e quase seguramente mais por responsabilidade do próprio autor, mais preocupado com a produção do passo seguinte, do que esse balanço e congelamento da forma através da colecção livresca...”

Os meus agradecimentos a Leonardo De Sá, que me conseguiu as digitalizações de algumas pranchas desta BD.









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segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

REPORTAGEM – 403º ENCONTRO DA TERTÚLIA BD DE LISBOA – APRESENTAÇÃO DE LIVROS/FANZINES/REVISTAS...

REPORTAGEM
403º ENCONTRO 
DA TERTÚLIA BD DE LISBOA
APRESENTAÇÃO DE LIVROS/FANZINES/REVISTAS... 

5 de Janeiro de 2018
Cerca de 20 participantes.




COMIC JAM
Os autores foram:

1. Osvaldo Medina
2. João Gordinho
3. Sérgio Santos
4.
Nuno Vieira
5. Dani Santos
6. Mitsu


FOTOS
(de Álvaro)


























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