sábado, 29 de julho de 2017

398º ENCONTRO DA TERTÚLIA BD DE LISBOA – 1 DE AGOSTO 2017

398º ENCONTRO 
DA TERTÚLIA BD DE LISBOA
1 DE AGOSTO 2017 
CONVIDADA ESPECIAL 
PATRÍCIA GUIMARÃES





Patrícia Guimarães nasceu em 1985, em Lisboa.

Desde miúda que rabiscava as paredes da sala e dos quartos lá de casa. Mais tarde passaram a ser os cadernos da escola. O primeiro dia de escola foi um tormento, mas depois para além de desenhar percebe que gosta de ler e criar histórias.

O contacto com a Banda Desenhada chega com o Tio Patinhas e o Donald que lia de uma acentada. A seguir tenta acompanhar as aventuras dos super-heróis da Marvel, mas depressa se cansa.

Surgem as visitas anuais ao Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora (quando a “Fábrica da Cultura” era verdadeiramente incrível!) e nessa altura os livros de Jean-Pierre Gibrat e Massimiliano Frezzato, ou Quino.

Mas será mais tarde, já na faculdade que irá descobrir outros autores que irão influenciar o seu trabalho, tais como Roland Topor, Hieronymus Bosch, Goya, Lorenzo Mattotti, João Fazenda, Filipe Abranches, Susa Monteiro, Alain Corbel, Marjane Satrapi, as animações de José Pedro Cavalheiro (Zepe), de Regina Pessoa, José Miguel Ribeiro, Marie Paccou, Michaela Pavlátová, Koji Yamamura e muitas outras referências visuais e/ou literárias como as que lhe vão chegando em conversas com amigos/as da área.

Não sabe como foi parar à Animação, mas depois de ter experimentado só pensa em dar vida às suas histórias, entretanto, e porque não existe uma sem a outra, vai fazendo Banda Desenhada e Ilustração.

CV

Patrícia Guimarães, Licenciou-se em Arte e Multimédia - Animação, na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa (FBAUL).

Em 2014 frequentou o Curso Laboratório de Ilustração e Banda Desenhada, na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa (FBAUL).

De 2014 a 2015 integrou a equipa de traçagem na produtora MODOImago para a produção dos filmes de animação VÍGIL e A CASA ou a Máquina de Habitar de Catarina Romano, participou ainda no desenvolvimento de outros projectos de animação.

Em 2015 apresentou “STABAT MATER”, no ano seguinte “MANUELinútil” publicados em parceriacom a Façam Fanzines e Cuspam Martelos (Tiago Baptista e Catarina Domingues).

Na mesma altura, participou activamente no projecto artístico SOU ESTA CASA.

Em 2016 vence o 3º Prémio no Concurso Nacional de Banda Desenhada e Cartoon 2016, na categoria de BD, na 27ª Edição do Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora.

Tem trabalhos publicados em fanzines como Nicotina, Preto no Branco, Your Mouth Is A Guillotine e O Princípio.

Actualmente desenvolve projectos de Banda Desenhada, Ilustração e Animação 2D.

Contacto: patrice_guimaraes@hotmail.com - Site: patriciaguimaraes.weebly.com




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A H-alt é uma revista digital gratuita de BD escrita em português e relacionada com as temáticas de ficção-cientifica, fantasia, realidade/História alternativa (ficção especulativa).

O objectivo desta publicação é divulgar e incentivar produção de pequenas histórias de BD. Existe também a preocupação que os vários participantes criem histórias em equipa (argumentistas, desenhadores, coloristas), com o propósito de incentivar o trabalho colaborativo.

Existe também uma versão impressa correspondente à edição digital, acessível, por encomenda ou disponível em algumas livrarias.

Resumo:

A imagem da capa é da autoria do consagrado ilustrador Ricardo Cabral estando o seu trabalho em destaque nesta edição. Aparece também uma breve entrevista exclusiva com ele.

Na secção Descobrir é possível ver trabalhos de ilustração de Sara Leal.

Estão disponíveis nesta edição trinta e uma histórias de BD.
Este é o link para a versão on-line do nº5:
https://issuu.com/h-alt/docs/h-alt-n05-web

Autores Participantes neste número: Kim Roberts, João Tavares, Cristian Navarro, Joana Varanda, Tânia Cardoso, Sérgio Santos, Alberto Pessoa, Fábio Veras, Edgar Ascensão, Filipe Duarte, Catarina Eusébio, Roberto Gomes, Sofia Livesay, Alexandre Carvalho, Bárbara Lopes, Bruno Teodoro Maio, José Marono, Daniel Ablev, Gabriela Torres, M C Carper, Nick Valente, Sandro Leonardo, Mafalda Fernando, Francesco Conte, Gabe Ostley, Chris Allen, Jack Wallace, Machinson, Troy Vevasis, Matt James, Bob Schroeder, Nick Hadley.


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quarta-feira, 26 de julho de 2017

CORTO MALTESE FEZ 50 ANOS


CORTO MALTESE FEZ 50 ANOS
FOI PUBLICADO PELA PRIMEIRA VEZ 
NA REVISTA SGT. KIRK EM 10 DE JULHO DE 1967


Para ser sincero, não me lembrei que Corto Maltese começou a ser publicado exactamente há 50 anos na revista Sgt. Kirk com a mítica história Una Ballata del Mare Salato (Uma Balada do Mar Salgado) iniciada nessa revista a 10 de Julho de 1967. Foi graças a um post de Geraldes Lino no seu blogue “divulgando banda desenhada” (http://divulgandobd.blogspot.pt/) que me recordei dessa data e o próprio Lino também, graças a um artigo de Francisco Louçã, no jornal Público. Fica aqui a transcrição do texto de Louçã:

18 de Julho de 2017 
Por Francisco Louçã

Corto Maltese, 50 anos depois 

Parece que Mitterrand, perguntado sobre que personagens o impressionavam ou o seduziam, apontava para Corto Maltese. Matreirice, seria uma imitação mais elegante, mas escassamente menos narcísica, de um De Gaulle que afirmava que só temia a concorrência da popularidade de Tintin. Cada um vinha do seu tempo e, se ambos sobreviveram com um “perfume de lenda”, como escreve Umberto Eco sobre Corto, o facto é que foi Hugo Pratt quem marcou a imaginação que trespassa as fronteiras do espaço e da imaginação. Por isso, Corto Maltese é o herói moderno que sobrevive à sua contemporaneidade.

Talvez as pistas sobre este marinheiro maltês, filho de uma cigana de Sevilha e de outro marinheiro perdido, que nasceria em 1887 e cresceria no bairro judeu de Córdoba, ou seja, sem pátria, assistindo depois às guerras inaugurais do novo século, estejam por aí espalhadas: Italo Calvino participara na preparação de um guião de um filme, “Tikoyo e o tubarão” (1962, Folao Quilici), sobre uma criança que fala com o seu amigo tubarão, e horizontes oníricos desse tipo foram sendo explorados por muitos autores (veja-se a “Balada” ou “Mu”); e, evidentemente, a literatura de viagens aventurosas, de Rimbaud a Jack London, povoara a juventude de Hugo Pratt. Pratt, aliás, cresceu na Etiópia, viveu em Buenos Aires e Veneza, e sobretudo, percorreu as fábulas em que se mistura com Corto, a que dá forma no dia 10 de julho de 1967, com “A Balada do Mar Salgado” – fez agora cinquenta anos.

O maravilhamento de algumas figuras cimeiras da literatura com a banda desenhada, mesmo que a vissem como género menor, também não é de hoje e não se inventou certamente com Pratt. Steinbeck, que não era modesto, adivinhava provocatoriamente um Nobel para Al Capp, pela força do seu Li’l Abner, a representação encantatória do mundo rural norte-americano (e de uma simplicidade desarmante que levava a água ao seu moinho). Umberto Eco dedicou-se aos Peanuts e a Charlie Brown num livro, “Apocalípticos e Integrados” (edição portuguesa na Relógio d’Água), em que descreve os enquadramentos de cinema na tira do desenho.

Pode-se perguntar então de onde vem o ciúme ou a curiosidade que escritores de mérito têm da banda desenhada. No caso do sucesso de Pratt, percebe-se de onde vem essa sensação: é que Corto Maltese é mesmo um romance em forma de apresentação gráfica. Aliás, Pratt explora decididamente esse vínculo e pisca o olho à literatura clássica: Pandora lê Melville, Slutter lê Rilke e Shelley, Corto cita Conrad e a “Utopia” de More e, ao atravessar as mitologias (célticas, etiópicas, caribenhas, argentinas, venezianas, o vodoo ou o que lhe apetece), ao escolher com que se cruza (Butch Cassidy, o Barão Vermelho, Tiro Fixo, mas também Hemingway, Hesse, Joyce), vive aventuras que transcendem os limites do tempo. Nenhum romance pode pedir mais, se os traços são marcados, se as personagens vivem a sua vida, se nos surpreende, então é a melhor literatura. É certo que, sendo desenho, deciframos melhor nessas páginas alguma coisa do autor (Eco conta que a sua filha pequena, apresentada a Pratt, disse que ele era Corto), e portanto a mentira da literatura é vivida à nossa vista.

Mas Pratt morreu há vinte e dois anos. Corto, que é mais teimoso, continua agora com o desenho dos espanhóis Juan Diaz Canales (Blacksad) e Rubén Pellejero, em “Sob o Sol da Meia Noite”, já editado em Portugal (Arte de Autor, 2017), anunciando-se um segundo livro desta dupla, “Equatoria”. Discutir-se-á se outro escritor pode continuar “Os Maias” ou “A Guerra e Paz” e dir-se-á que não pode. Mas, neste atrevimento, Corto cruza-se com Jack London, encontra rebeldes irlandeses, sonha com Rasputine, destrói uma rede de tráfico de mulheres, percorre o Yucon – e nós imaginamos o resto e aceitamos a aventura.
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Obviamente a próxima Gazeta da BD será sobre Corto Maltese...

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domingo, 23 de julho de 2017

GAZETA DA BD #77 NA GAZETA DAS CALDAS – A GUERRA COLONIAL NA BANDA DESENHADA


Gazeta da BD #77, 21 Julho 2017. Porque há muita gente a tentar ler o recorte a partir da imagem do mesmo cortada a meio e montada lado a lado, para ter melhor visibilidade aqui no Kuentro, desta vez anexei, do lado esquerdo o formato original em que o artigo é publicado na Gazeta.

GAZETA DA BD #77 
NA GAZETA DAS CALDAS
A GUERRA COLONIAL 
NA BANDA DESENHADA 

Apesar das potencialidades do tema, há poucas histórias...

Imagem do livro Vampiros, de Filipe Melo e Juan Cavia, 
que devia ter aberto este artigo, mas que já lá não coube.
 
Mesmo com a importância que teve na História portuguesa, a guerra colonial não é um tema recorrente na BD deste país. Contei apenas 13 histórias de maior envergadura, havendo no entanto muitas mais, neste caso curtas, dispersas por revistas e fanzines que, talvez pela sua escassa extensão, nunca chegaram ao álbum. Muitas outras são apenas referências à guerra colonial – as suas origens e as suas consequências – que se limitam a apontamentos mais ou menos breves nas abordagens históricas mais alargadas da época contemporânea.

Deixo aqui, cronológicamente, referências a algumas das obras mais marcantes sobre o tema.

1972 - O Ericeira, da autoria de Baptista Mendes, publicada na Revista da Armada. Trata-se da biografia de um soldado com várias comissões em África onde acaba por morrer vítima de uma explosão. O “Ericeira” era Eduardo Pereira, nascido na Ericeira em 1946. Ofereceu-se como voluntário da Armada, aparece na Guiné, no Destacamento de Fuzileiros Especiais n.º 9, em 1964. Cedo dá sinais de destemor e finda a primeira comissão, ofereceu-se novamente como voluntário para a Guiné, foi incorporado no DFE n.º 7. Regressa com uma Cruz de Guerra e vários louvores. E três meses depois está a caminho de Angola onde veio a morrer.

1975 - Angola 1971 (Visão #7, Edibanda), de Pedro Massano, que narra o abate, por engano, de uma negra e do seu filho de colo, por um soldado português.

1975 - Matei-o a 24 de Victor Mesquita com argumento de Machado da Graça, revista Visão – uma excelente e prometedora BD, apenas com 12 pranchas publicadas. Uma das abordagens mais marcantes do tema, apesar da história ter ficado incompleta. Desenhada num estilo realista, a cores, com uma planificação muito dinâmica, é narrada na primeira pessoa por Eduardo, recém-regressado à vida civil após cumprir a sua comissão em Moçambique, com evidentes sintomas daquilo que hoje se designa por Síndroma de Guerra. Nela se descreve como, após ter sido dado como morto na sequência de um ataque, se vê frente a frente com um guerrilheiro negro – um “turra”, como eles eram chamados pelos portugueses – e como conseguiram ultrapassar a rivalidade inicial para se ajudarem mutuamente. Desentendimentos internos na revista levaram à saída do seu autor, ficando os leitores sem saber o destino de Eduardo e do parceiro, embora o título o deixasse adivinhar...

1977 - Mamassuma – Comandos ao ataque de Vassalo Miranda – num formato entre a revista e o mini-álbum. O autor, veterano de guerra, antigo 'comando', publicou uma excelente banda desenhada sobre o conflito em Angola, Guiné e Moçambique, entre 1961 e 1974. A acção desenrola-se no norte de Angola, entre uma companhia de 'comandos' do Exército Português e grupos armados da FNLA, em meados dos anos sessenta. A história surpreende pelo tom assumido, se tivermos em conta o contexto, tendo sido por muitos apodada de “fascista” e “reaccionária”.

1994 - 7.72 (Azul BD3 #2, Jogo de Imagens), de Diniz Conefrey, que conta a morte de “um soldado que nunca disparou um tiro e ia a cantar”.

1994 – Operação Gata Brava, Alpoim Calvão e Vassalo Miranda (ed. Intermal). Calvão foi capitão de mar e guerra, afecto ao regime do Estado Novo, recusando-se a participar no 25 de Abril. Foi expulso das Forças Armadas, sendo reintegrado em 1986. A banda desenhada, de 36 páginas relata uma operação especial na Guiné-Bissau comandada pelo autor do argumento.

1995 – Operação Trovão, Alpoim Calvão e Vassalo Miranda (ed. Intermal).

1996 – Quem vem e atravessa o rio (Quadrado #3, 2ª série, ASIBDP) de Arlindo Fagundes e Pedro Sousa Dias, mostra em tom mordaz os efeitos da guerra a longo prazo, quando o herói, Pitanga, encontra um ex-PIDE prestes a suicidar-se na ponte D. Luiz I, no Porto, dividido entre uma atitude racista e os remorsos do que fez em África.

1999 – A Sombra dos Naufragos (primeiramente intitulado A Serpente), de Diniz Conefrey, publicada no jornal Público no ambito das comemorações dos 25 anos do 25 de Abril.

2000 – Operação Óscar (Meribérica/Líber), de José Ruy. Um preambulo do 25 de abril. Recorde-se que “Óscar” era o anagrama de Otelo Saraiva de Carvalho.

2012 – Cinzas da Revolta (Asa), de Miguel Peres e Jhion (pseudónimo de João Amaral). Angola, 1961. Durante um ataque a uma fazenda de portugueses, o casal que lá habita é assassinado e a sua filha adolescente levada por um dos assaltantes. Angola, 1963. Um comando de soldados portugueses é enviado para encontrar a rapariga desaparecida dois anos antes. As mudanças por ela sofridas, o questionar da missão – eventualmente do interesse de uma alta autoridade nacional – e da própria guerra pelos soldados, são outros dos motes que orientam a narrativa. 1963. Chegamos a Angola. Somos um contingente militar formado na sua maioria por jovens inexperientes. A guerra amedronta-nos. A nossa missão é encontrarmos a rapariga desaparecida em 61... 1966. O inesperado acontece... Afinal, porquê tantos anos perdidos na busca de uma única pessoa?

2012 – Operação Mar Verde, de Alpoim Calvão e Vassalo Miranda, história reeditada pela editora Caminhos Romanos. Esta história relata o ataque e destruição do quartel-general do PAIGC na República da Guiné (havendo a intenção de capturar Amílcar Cabral – o que não foi conseguido).

2016 – Vampiros (Tinta da China), de Filipe Melo e Juan Cavia. O cruzamento da ficção militar com o terror ou o fantástico, que alguns críticos comparam com o filme Apocalipse Now de Copolla, numa abordagem com a qual não concordo. Já escrevi sobre esta história na Gazeta da BD #59, publicada a 17 de Junho de 2016.


Páginas de "Operação Mar Verde" e  de "A Sombra dos Naufragos" de Diniz Conefrey

 Matei-o a 24, de Machado da Graça (arg.) e Vitor Mesquita (des), na revista Visão.


 
 4 pranchas de "Operação Óscar", de José Ruy

Capa e página de Cinzas da Revolta, de Miguel Peres e Jhion (pseudónimo de João Amaral)
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EM PRÓXIMO POST PUBLICAREMOS AQUI A HISTÓRIA
QUEM VEM E ATRAVESSA O RIO
DE ARLINDO FAGUNDES (ARG.) E PEDRO SOUSA DIAS (DES.)

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segunda-feira, 17 de julho de 2017

Gazeta da BD #76 - HERÓIS DA BD PORTUGUESA – 8 PITANGA, BARBEIRO A DOMICÍLIO DE ARLINDO FAGUNDES

 Gazeta da BD #76 – 7 de Julho de 2017

HERÓIS DA BD PORTUGUESA – 8 
PITANGA, BARBEIRO A DOMICÍLIO 
DE ARLINDO FAGUNDES

EM EXCLUSIVO NESTE POST A HISTÓRIA
PITANGA - QUEM VEM E ATRAVESSA O RIO
de Arlindo Fagundes (arg.) e Pedro Sousa Dias (des.)

Pitanga, barbeiro a domicílio é uma personagem criada por Arlindo Fagundes em 1985, cuja primeira história, intitulada La Chavalita, foi pré-publicada no jornal O Diário, tendo depois uma versão a cores publicada no Jornal da BD em 1986. Esta história seria mais tarde editada em álbum pela Editorial Caminho. Neste título inaugural surge como personagem o cantor António Variações, também ele barbeiro. Fagundes contactou com Variações quando estava desenhar a história, mas o cantor morreu antes de a poder ver realizada. La Chavalita é uma história negra, com o autor a avisar logo de início que muita gente iria morrer. Pitanga desloca-se na sua inseparável mota e, quando a conduz a altas velocidades, o autor cria um curioso jogo visual com o longo cachecol do protagonista, que é uma espécie de imagem de marca destas histórias.

Em 1991 Fagundes escreveria o argumento de Quem vem e atravessa o Rio, uma história de 10 páginas, que seria desenhada por Pedro Sousa Dias e que foi pré-publicada no Fanzine Pedra Pomes #1, em Julho de 1991 – um dos antecessores do BDjornal. A história decorre na cidade do Porto e seria publicada em definitivo na revista Quadrado #3, da Associação de Banda Desenhada do Porto em 1996. Na revista de pequeno formato Quadradinho, da mesma Associação, seria publicada mais tarde a história Parabéns a Você, já em 1997.

O álbum A Rapariga do Poço da Morte, 2003 publicado pela Caminho, foi apresentado na Bedeteca de Lisboa, onde esteve patente a exposição A Navalha de Pitanga. O herói terá ainda um terceiro álbum, O Colega de Sevilha, nos inícios de 2015, (pelo que me disse Geraldes Lino, esta história ainda não foi publicada). Desta vez a cores, foram aplicadas por José Pedro Costa. Entretanto foram publicadas histórias mais curtas, como Pitanga e os Animais (sete pranchas) n’O Mosquito, em 1985 e Pitanga e o Paradoxo do Barbeiro no Mundo Universitário em 2007.

O estilo gráfico destas histórias é indubitavelmente o do Corto Maltese de Hugo Pratt, do qual Fagundes é um apreciador indefectível.

Sobre o autor diremos que Arlindo Fagundes nasceu em Ovar, a 3 de Julho de 1945. A sua formação inclui a passagem pela Sociedade Nacional de Belas Artes, onde frequentou o curso de Desenho e Pintura, depois a Escola Superior de Belas Artes, onde foi aluno do curso de Pintura, isto para além da frequência do Conservatoire Libre de Cinéma Français, onde se diplomou como realizador de cinema em 1973, durante o seu exílio em França (1967-1974). Aderiu ao Partido Comunista Português em 1968. Fagundes nasceu em Ovar, a 3 de Julho de 1954 e a sua formação, de que citámos acima um percurso genérico, permitiu-lhe exercer várias profissões ligadas à artes plásticas e cinematográficas. Depois do exílio regressou a Portugal já após o 25 de Abril, tornando-se um ceramista de renome, para além de ilustrador e autor de banda desenhada. Como ceramista foi agraciado com o 1º Grande Prémio de Design Artesanal da Bienal de Arte de Vila Nova de Cerveira em 1987. Reside em Prado – Santa Maria, no distrito de Braga. Colaborou como caricaturista em vários jornais regionais, mas o seu mais conhecido portfólio é o trabalho para editorial Caminho, com as capas e ilustrações da colecção Uma Aventura, de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada e também, das mesmas autoras, da colecção Viagens no Tempo. Foi docente da Escola Profissional de Braga, leccionando também na Escola Calouste Gulbenkian como responsável da formação profissional em fotografia.

 Prancha de La Chavalita, em que se pode ver António Variações...



 

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EXCLUSIVO DO KUENTRO
QUEM VEM E ATRAVESSA O RIO
De Arlindo Fagundes (arg.) e Pedro Sousa Dias (des.)
história publicada pela primeira vez no Fanzine Pedra Pomes














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quarta-feira, 5 de julho de 2017

Gazeta da BD #74 – Heróis da BD Portuguesa 6 – Tónius o Lusitano – de Fernando Tito e José André


Gazeta da BD #74 – 23 de Junho de 2017
Heróis da BD Portuguesa – 6
Tónius o Lusitano
de Fernando Tito e José André

Com argumento e cores de Fernando Manuel Tito e desenhos de José Ferreira André, Tónius o Lusitano – A Truta de Ouro, surgiu em Abril de 1979 na 2ª série da revista Spirou. Tratava-se de uma tentativa de criar um herói mais ou menos semelhante a Asterix, mas cujas aventuras decorriam na Lusitânia visigótica, depois da invasão islâmica (já por volta de 716). Com esta intenção, os romanos foram substituídos pelos mouros, havendo o cuidado de evitar os paralelismos, o que talvez tenha sido em parte conseguido.

Claro que nem Tito possuía o génio de Goscinny, nem André a destreza gráfica de Uderzo. Mas a experiência parece não ter corrido mal de todo. Apesar de se tratar de uma “imitação” de Asterix, as aventuras de Tónius eram um bocado diferentes, como não podiam deixar de ser – tanto na construção dos argumentos, na utilização gráfica interessante dos balões e das legendas, no aproveitamento da sonoridade das palavras e de alguns anacronismos como fonte de humor. Contudo partilhava com o pequeno guerreiro gaulês alguns pontos base, como o facto de viver numa aldeia (o castro de Pedróbriga), que resistia aos invasores – neste caso os mouros – a quem os lusitanos distribuiam “castanhadas” sempre que possível. Tónius era hábil no manejo da funda (arma que não existe em Asterix) e tinha como parceiro de aventuras, um encorpado apreciador de trutas, de nome Chicolindus, contraponto de Obelix, o apreciador de javalis. Havia também Videntius, um bruxo vidente como o nome indica, a contrapor ao druida Panoramix de Asterix e o chefe da aldeia, um tal Herminius, que não mandava grande coisa – tal como sucedia com o chefe gaulês... Mas as semelhanças ficavam-se por aqui. Refira-se que os nomes dos lusitanos apresentam todos sonoridade latina, uma vez que na época visigótica era a língua usada – o latim vulgar, ou tardio.

Depois de A Truta de Ouro ter sido publicada até ao nº 22 da revista Spirou, o herói regressaria com Uma Aventura nas Astúrias, que seria publicada apenas em álbum, primeiro em edição simultânea belga e neerlandesa, pela editora flamenga Het Volk e pela holandesa CentriPress, com os títulos De Gouden Forel (1980) e De Asturiers (1981), sendo também editado pela editora finlandesa Lehtimiehet Oy, com o título impenetrável Kultainen Taimen (1981). Em Portugal seria editado em 1981 pela Editorial Futura.

Devo dizer que a única história que li de Tónius foi mesmo esta, Uma Aventura nas Astúrias, em que o enredo me pareceu basicamente frágil e muito linear. Tónius vai com Chicolindus, Tigagus e Tintus, a pedido do asturiano Recesvindo, servir de escolta a este, até à sua terra, Astorga, nas Astúrias. Após alguns acidentes de percurso, ouvem o “fado” em Aeminium (a Coimbra antiga) e, depois de mais alguns incidentes e alguns encontros com mouros pelo caminho, lá chegam a Astorga. Portanto, tudo muito pouco imaginativo, embora a história se leia com algum interesse. Mas nada que possa sequer parecer-se com as características subtilezas e o humor da obra prima de Goscinny e Uderzo.

Na Bélgica e na Holanda seria ainda publicada uma terceira história, A Invasão dos Alfas, até hoje inédita em Portugal. As duas primeiras histórias foram reeditadas no Jornal da BD (1984/1985), tendo os autores deixado incompletos dois outros projectos, A Pedra do Norte (argumento completo, parcialmente desenhado) e Tónius e as Sete Maravilhas (apenas com a ideia base esboçada).

Tónius, apesar da carreira breve ainda protagonizou, com amigos e adversários, um jogo de loto cuja base eram caricas de Sumol!

Dos autores podemos dizer que Fernando Manuel Tito nasceu a 27 de Setembro de 1943, no Vidago.
Começou a trabalhar em banda desenhada de parceria com José Ferreira André, publicando as suas primeiras pranchas na revista Visão, em 1975. Seguiu-se Tónius o Lusitano, mas devido a divergências com a editora, Tito e André abandonaram o seu herói, em favor do mais rentável trabalho em arte-final e publicidade para as revistas da Abril-Morumbi, com material das Walt Disney Productions. Jose Maria Ferreira André nasceu a 9 de Julho de 1939, em Lisboa. Frequentou um curso industrial e fez depois o serviço militar na Força Aérea. Começou a trabalhar no campo da banda desenhada também na revista Visão, em 1975. Viria a desenhar ainda para Fungagá da Bicharada, falecendo em 1993.



 
  
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TÓNIUS O LUSITANO
UMA AVENTURA NAS ASTÚRIAS














































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