sábado, 30 de janeiro de 2010

BDPRESS (RECORTES DE IMPRENSA) #110 – Carlos Pessoa (Público) SOBRE O 37º FESTIVAL DE BD DE ANGOULÊME





Público – P2. 29 Janeiro 2010-01-29

Festival de Angoulême

BANDA DESENHADA DESAFIA A CRISE


Por Carlos Pessoa

Num cenário de restrições e de tensão entre a organização e as instituições apoiantes, começou ontem a 37.ª edição da festa francesa da BD, onde são esperados mais de 200 mil visitantes

O contrato que liga o Festival Internacional de BD de Angoulême à região francesa da Charente termina este mês e a renegociação anuncia-se dura e difícil. A crise económica impôs restrições orçamentais às instituições públicas que viabilizam o festival e aspiram a ter um maior controlo sobre os despesas - um corte de 140 mil euros num financiamento global público de 1,5 milhões de euros -, superadas este ano pelo reforço da participação financeira de entidades privadas, que asseguram os restantes 1,5 milhões do orçamento anual.

Nada disto deverá interessar muito aos mais de 200 mil visitantes que são esperados na pequena cidade francesa até ao próximo domingo. O que os traz são as grandes exposições, os concertos ou as numerosas iniciativas que animam as ruas, as praças e os edifícios durante os quatro dias do mais importante festival europeu de banda desenhada. E, sobretudo, o contacto directo com uma legião de autores em busca de um desenho ou de uma dedicatória nos álbuns dos seus heróis preferidos.

Há na programação motivos de interesse para todos. A chamada BD de "grande público" está presente através de uma exposição "lúdica e familiar" consagrada a Léonard (de Turk e De Groot), uma série de humor desconcertante que já vendeu mais de seis milhões de álbuns. A trajectória dos Túnicas Azuis (de Raoul Cauvin e Willy Lambil) é outro exemplo de concessão aos gostos populares, devidamente reconhecida por um público fiel que é responsável por tiragens superiores a 160 mil exemplares de cada novo álbum.

O Mangá Building (antigo Espace Franquin) acolhe a exposição One Piece, sobre a série com o mesmo nome, mas também todas as novidades nos diversos segmentos da BD japonesa, cinema de animação ou jogos de vídeo. É o terceiro pilar do edifício dedicado à BD comercial.

A obra de Blutch, consagrado em 2009 com o Grande Prémio da Cidade de Angoulême, é dada a conhecer através de uma grande exposição que recorda as duas décadas do seu percurso pessoal. Pela mão deste autor original é apresentado pela primeira vez em Angoulême Fabio Viscogliosi e o seu universo poético, numa antecipação à publicação pelo editor L"Association de Da Capo, uma recolha de 400 pranchas do seu personagem animal (um gato) mais conhecido.

Para o investigador e enciclopedista francês Patrick Gaumer, a exposição colectiva dedicada à BD russa contemporânea é um dos mais fortes motivos de curiosidade. "Estou ansioso por descobri-la", confessou ao P2 na véspera de partir para Angoulême. "O festival também é isso - o prazer de descobrir coisas novas e autores novos. Darmo-nos conta também de que a banda desenhada é verdadeiramente um modo de expressão internacional."

Os nomes destes jovens autores de um país onde o mercado da BD não tem expressão real - pelo menos nos termos em que o entendemos no Ocidente - nada dizem, mesmo aos mais conhecedores. O desafio que lhes foi proposto é sugestivo: como pôr em imagens uma identidade nacional que emergiu de um mundo (o universo soviético) praticamente desaparecido?

Cent pour Cent é a exposição que poderá levar os visitantes ao novo Museu da BD, inaugurado em Junho. Será seguramente o caso do estudioso Dominique Petitfaux, para quem esta é a "grande novidade de Angoulême": "Cem desenhadores contemporâneos fizeram uma prancha de banda desenhada que é a reinterpretação de um grande autor clássico; podemos comparar as duas pranchas (Muñoz reinterpretando Pratt, etc.)". São mais de 700 originais do fundo do museu, a que se juntam as 100 pranchas concebidas expressamente para esta exposição.

Outro núcleo que vale a pena explorar é o da Expo Louvre. Reúne os trabalhos de quatro autores de grande nível (Nicolas de Crécy, Marc-Antoine Mathieu, Eric Liberge e Bernard Yslaire) que há um ano deram corpo à exposição que pela primeira vez fez entrar a banda desenhada no Louvre com o seu olhar criativo e livre sobre a realidade do famoso museu.

Uma exposição monográfica permite conhecer melhor Fabrice Neaud, um jovem autor já premiado, em 1997, pelo primeiro volume da sua obra. O desenho de humor e satírico é o corpus da mostra Desenhadores de Humor, que reconstitui a cronologia deste género desde o seu aparecimento na imprensa.

Mais autores vivem da BD

Entre as iniciativas paralelas, são aguardadas com expectativa os Concertos de Desenho, cujo cenografia é assinada este ano por Zep (criador de Titeuf) para a performance de Blutch e do seu espectáculo de lápis na mão acompanhado pela música de Irène e Francis Jacobs. Bilal assegura Cinémonstre, um documentário que revisita as suas três primeiras longas-metragens. A dupla Schuiten-Peeters, por seu lado, irá explorar os arcanos das Cidades Obscuras, megaciclo de banda desenhada desenvolvido por ambos há mais de 25 anos.

Os já tradicionais Encontros Internacionais anunciam, este ano, um leque muito sugestivo de participantes - Joe Sacco, Ivan Brunetti, Dash Dash Shaw, Davis Heatley, Kevin O"Neill, Alan Martin, Seiichi Hayashi, Bilal ou Floc"h & Rivière - que irão reflectir sobre os caminhos presentes e futuros da BD mundial.

À laia de contextualização, o relatório anual de Gilles Ratier, secretário-geral da Associação de Críticos e Jornalistas de BD, faz o balanço de 2009. Apesar da crise mundial, diz, o ano foi marcado pela manutenção do dinamismo da edição de BD de língua francesa; a convergência com outros meios de expressão (a chamada estratégia media-mix que engloba a edição digital, ainda incipiente, mas também suportes como o DVD ou os jogos de vídeo); e a diversificação dos leitores tradicionais.

Registou-se uma desaceleração da produção (mais 2,4 por cento, contra os 10,04 registados em 2008 comparativamente ao ano anterior), traduzida em 4863 livros, dos quais 3599 novidades. A tendência de concentração manteve-se, com nove grupos a assegurarem 60 por cento da produção. O número de autores a viverem da BD aumentou (1439, contra 1416 em 2008). Em contrapartida, o número de revistas especializadas em BD sofreu uma nova redução (64 contra 71 em 2008).

Quase uma centena de séries (99, mais quatro do que no ano anterior) "beneficiaram de enormes presenças no mercado [mais de 50 mil exemplares de tiragem] e continuaram a manter-se entre as melhores vendas de todos os tipos de livros", escreve Ratier. A coroa de glória vai para os 1,2 milhões de cópias do álbum comemorativo dos 50 anos de Astérix, havendo mais nove álbuns que superaram os 220 mil exemplares de tiragem.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

JÁ ESTÁ A DECORRER O 37º FESTIVAL DE LA BANDE DESSINÉE DE ANGOULÊME 2010 + um BDpress (recortes de imprensa) #109 – TEXTO DE PEDRO CLETO NO JN SOBRE O



O 37º FESTIVAL DE LA BANDE DESSINÉE DE ANGOULÊME começou ontem – sob a presidência de Blutch, Grande Prémio de 2009 – dia 28 e prolonga-se até domingo, dia 31. Com um diversificado programa, como é habitual, o Festival dos Festivais europeus (embora não tenha sido o primeiro) pode ser seguido no renovado site: bdangouleme.com com destaque especial para a lista dos candidatos aos prémios, cujo vencedor será anunciado no domingo.

Curiosamente o site da Associação de Críticos e Jornalistas franceses de Banda Desenhada (ACBD) elegeram como vencedor do seu Grande Prémio – o livro do ano de 2009 – DIEU EN PERSONNE, de Marc-Antoine Mathieu, editado por Éditions Delcourt, que nem sequer é candidato em Angoulême… ver AQUI.

Podemos seguir, momento a momento, o que se passa durante o festival, no site do BDAngoulême, que se encontra referenciado (como ligação directa) aqui no Kuentro2, na coluna da direita – basta clicar para ver o que vai acontecendo.

Infelizmente não parece haver nenhum editor português entre os cerca de 200 editores presentes neste 37º FIBDA (curiosa esta designação, não é? – conheço isto de qualquer lado – com outros numerais associados –, vocês não?…), o que é um bocado mau para a BD deste país. Lembro que no ano passado estiveram presentes a ChiliComCarne e a ElPep…

Aqui ficam os cartazes e algumas fotos de anos anteriores, mais os banners do site do Festival.

Depois, um texto de Pedro Cleto (sempre em cima dos acontecimentos), no Jornal de Notícias de 27 de Janeiro, sobre a participação de alguns autores portugueses no FIBDAngoulême.

Imagens da responsabilidade do Kuentro.




Jornal de Notícias, 27 Jan2010

AUTORES NACIONAIS MOSTRAM OBRAS EM ANGOULÊME

Maior festival europeu de BD arranca amanhã. Esperados mais de 200 mil

F.CLETO E PINA

Começa amanhã o 27.º Festival International de la Bande Dessinée d'Angoulême, em França, a mais importante manifestação europeia dedicada aos quadradinhos. Alguns criadores portugueses vão aproveitar o evento para mostrar a sua obra a nível internacional.

Durante quatro dias, entre os mais de 200 mil visitantes esperados na pequena cidade, haverá cinco portugueses, de portfólio na mão, para mostrarem o seu trabalho aos editores. É o caso de Filipe Pina e Filipe Andrade, autores de BRK, cuja editora "tem reuniões e contactos marcados para colocar o livro no mercado estrangeiro". Ao JN, revelaram que levam também uma BD que Pina desenhou "para a Marvel sobre o Iron Man" e projectos novos, entre os quais "Senhores do fogo", sobre "um bombeiro que, no seu primeiro incêndio, se depara com um monstro de fogo que só ele consegue ver e lhe obedece".

Também Rui Lacas, que em 2006 conseguiu em Angoulême o contrato para publicar, na Paquet, "Merci patron", está de regresso a França, para mostrar "Asteroid fighters", um projecto de super- -heróis bem recebido pela crítica nacional e propostas para uma novela gráfica.

Acompanham-no dois outros membros do Lisbon Studios, João Tércio, que leva os originais do álbum que vai editar em Portugal em Maio, e Ricardo Cabral, para mostrar "Israel sketchbook" e tentar concluir as negociações para desenhar um álbum para uma editora francófona.

No entanto, o destaque vai para as mostras dedicadas a Blutch, Grande Prémio de 2009 e presidente do festival, e às populares séries "Túnicas azuis", "Léonard" e o manga "One piece". O programa, diversificado, tem também lugar para autores experimentais, como Neaud ou Fabio, e para as colectivas Desenhadores de Humor, BD Russa ou 100 por 100, que revela como uma centena de autores reproduziu ou sequenciou uma das pranchas clássicas do Museu da BD local.



Pepedelrey, Jorge Coelho e um amigo de ocasião, no Festival do ano passado.





terça-feira, 26 de janeiro de 2010

RECORTES DE IMPRENSA #108 – Carlos Pessoa (Público) A MORTE DE PIERRE COUPERIE E Pedro Cleto (Jornal de Notícias) Quick e Flupke nasceram há 80 anos

Um texto de Carlos Pessoa no Público de 25 de Janeiro sobre a morte de Pierre Couperie o primeiro europeu que estudou a bd a sério, precursor de alguns outros historiadores de nomeada na BD europeia como Thierry Groensteen, Benoît Peeters, Alfredo Castelli, Leonardo de Sá ou Michel Kempenners, com depoimentos de Leonardo De Sá. Depois um texto de Pedro Cleto sobre os 80 anos de Quick e Flupke, personagens menos conhecidas de Hergé…


Público - P2 • Segunda-feira 25 Janeiro 2010

1930-2009
PIERRE COUPERIE
O PRIMEIRO EUROPEU QUE ESTUDOU A BD A SÉRIO


Carlos Pessoa

Teve um papel determinante no reconhecimento dos quadradinhos na segunda metade do século XX. O rigor e a seriedade na investigação, que eram as suas marcas de água, fizeram escola. Morreu sozinho, em Paris

Discreto na vida, discreto na morte. Pierre Couperie, um dos grandes pioneiros europeus na investigação e divulgação da banda desenhada, morreu sozinho, na sua casa parisiense, no dia 24 de Dezembro de 2009. O corpo só foi encontrado a 5 de Janeiro por alguns amigos próximos, que estranharam o seu silêncio.

Na segunda metade do século XX, Couperie teve um papel determinante na afirmação da banda desenhada como uma arte maior. Mas há bastante tempo que não se falava dele e o facto de ser avesso à exposição pública favoreceu esse apagamento. No próprio meio da BD são poucos os que o conheceram. O investigador Dominique Petitfaux é um deles, tendo-lhe feito uma das raras entrevistas de que há memória.

“Ainda assisti a algumas sessões do seu seminário na Escola de Altos Estudos...”, recorda ao P2. “Pierre Couperie era muito reservado e há muito tempo que quase ninguém sabia nada dele.

Não era pessoa para aparecer muito, sobretudo se pudesse evitar fazê-lo”, acrescenta o estudioso da BD portuguesa Leonardo de Sá.

Os dados biográficos disponíveis são escassos. Sabe-se que nasceu em Montauban (França) em 1930.

Era historiador de formação e foi chefe de equipa do Centro de Investigação Histórica da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, em Paris. No currículo de Pierre Couperie conta-se a vice-presidência do Clube das Bandas Desenhadas – o primeiro na Europa –, fundado em Março de 1962 pelo desenhador Jean-Claude Forest (Barbarella), o cineasta Alain Resnais e o crítico Francis Lacassin. Esta estrutura foi responsável pela publicação, em Julho do mesmo ano, de Giff -Wiff , o primeiro fanzine francês e europeu de banda desenhada. Desempenha as mesmas funções na Sociedade Civil de Estudos e Investigações das Literaturas Desenhadas (Socerlid), criada em Novembro de 1964 com Claude Moliterni, Édouard François, Maurice Horn e Proto Destefanis.

Pierre Couperie participa na concepção e realização de todas as exposições promovidas pela Socerlid, e em particular da famosa exposição Banda Desenhada e Figuração Narrativa, aberta em 1967 no Museu das Artes Decorativas de Paris. A maioria dos textos do catálogo, hoje uma peça bibliográfica de grande importância, são da sua autoria.

Nesse ano, Vasco Granja está em França para participar no Festival de Annecy (cinema de animação). Desloca-se a Paris e visita a exposição. O que ali vê deixa-o vivamente impressionado. “Foi a experiência que reconduziu Granja para a BD e a respectiva divulgação nos jornais portugueses”, nota Leonardo de Sá.

A partir de Outubro de 1966, Pierre Couperie assina regularmente textos na revista Phénix, criada nesse ano e com saída regular até finais da década seguinte. Devem-se-lhe igualmente contributos fundamentais na edição e enquadramento das primeiras bandas desenhadas americanas publicadas em França – caso de Little Nemo, Flash Gordon ou Príncipe Valente. No campo da edição, deixa o nome associado à Enciclopédia da Banda Desenhada (1974-75), a primeira a ser publicada na Europa, da qual sairão apenas dois volumes.

Pierre Couperie está presente na organização da primeira Convenção Europeia da Banda Desenhada, em 1969, e faz parte do núcleo que iria assegurar a realização, a partir da terceira edição, do mítico Festival de Lucca (Itália). É também um dos impulsionadores do actual Festival Internacional de Angoulême.

Todos os especialistas ouvidos pelo P2 são unânimes em assinalar a importância do trabalho de Couperie. “Foi o primeiro a demonstrar que se podia estudar a BD tão seriamente como qualquer outra forma de expressão”, diz Petitfaux. “A sua grande força terá consistido em estabelecer pontes entre diferentes domínios, da história de arte ao cinema, da fotografia às disciplinas científicas”, acrescenta Patrick Gaumer, especialista em banda desenhada e autor do Larousse de la BD. Jean-Pierre Mercier, conselheiro científico do Museu da BD de Angoulême, realça o facto de Couperie ter sido “o primeiro a fazer pesquisas na história da banda desenhada francesa numa perspectiva que consistia em inscrever as obras estudadas no contexto da época”. Lembra ainda que Couperie foi, durante muito tempo, o único académico a ensinar BD no seio da Universidade francesa.

Seriedade, rigor e fiabilidade eram as marcas de água de Couperie. “Escreveu numerosos artigos que chamavam a atenção pela sua precisão e pelo elo que estabeleciam com o contexto político”, realça o crítico Gilles Ratier, secretário-geral da Associação de Críticos e Jornalistas de BD. Yves Frémion, membro do colectivo Papiers Nickelés, dedicado à divulgação das artes de imagem populares, destaca que “ele era o primeiro a ser sério no seu trabalho, com todas as informações verificadas, uma visão clara e argumentos sólidos e inteligentes”. Leonardo de Sá, por seu lado, limita-se a citar uma frase do próprio Couperie: “Toda a informação fornecida por uma agência, um editor, um jornal ou um autor deve ser considerada falsa até à sua verificação. Nove em cada dez vezes apercebemo-nos que era efectivamente falsa...”

Quem são os herdeiros?

Pioneiro no estudo e divulgação da banda desenhada, Pierre Couperie deixa uma escola moldada no seu espírito e método? “Os seus herdeiros são os que associam um verdadeiro conhecimento da BD com a utilização de informações verificadas, sem se esquecerem ao mesmo tempo de ter um ponto de vista pessoal e fundamentado. Ou seja, há poucos herdeiros!”, responde Frémion. Cita as revistas Collectionneur de Bandes Déssinées (de Petitfaux), com publicação suspensa, e Hop! (de Louis Cance), a par dos “jovens historiadores” Patrick Gaumer e Gilles Ratier, e reivindica para o colectivo de Papiers Nickelés essa mesma aspiração de “fiabilidade”. Patrick Gaumer admite que Couperie faz parte daquelas pessoas que, um dia, lhe deram vontade de “estudar seriamente a banda desenhada”. Acha que ele “descomplexou muitos universitários e investigadores, ensinando-lhes a verificar sempre as suas fontes de informação”.

Entre os “herdeiros” de Couperie inclui especialistas como Thierry Groensteen, Benoît Peeters, Alfredo Castelli, Leonardo de Sá ou Michel Kempenners. Leonardo de Sá, em contrapartida, considera que “é muito difícil falar numa filiação”:

“Há uma série de estudiosos que têm uma preocupação historicista – é um dos grandes eixos, ainda hoje – e de cruzamento com outras áreas e géneros. Há uns que o fazem com mais rigor que outros – pode dizer-se que esses são os herdeiros de Couperie”.

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“Jornal de Notícias” de 23/01/2010.

QUICK E FLUPKE NASCERAM HÁ 80 ANOS

Se é normal associarmos o nome de Hergé a Tintin, a sua obra maior e uma das bandas desenhadas mais celebradas de sempre, o autor criou outros heróis, entre os quais Quick e Flupke, que há exactamente 80 anos eram vistos pela primeira vez em papel impresso.

Tratava-se de dois pequenotes de Bruxelas - revisão ficcionada da própria infância de Hergé - juntos pela amizade, pela vontade de experimentar coisas novas e pela especial queda para provocar pequenos desastres.

A estreia ocorreu no "Le petit vingtiéme" de 23 de Janeiro de 1930, pouco mais de um ano depois de Tintin, e as diferenças entre as duas criações eram significativas. Enquanto o repórter viria a ter longas aventuras, viagens, exotismo, justiça e ordem, Quick e Flupke não saíam da sua Bruxelas natal e viviam um quotidiano igual ao dos outros miúdos, mas as suas partidas provocavam o caos e desesperavam o Guarda 15, vítima recorrente das diabruras em duas pranchas.

O humor em Quick e Flupke, mais tarde decalcado em Tintin para os "gags" com Haddock ou Tournesol, raia muitas vezes o "nonsense", pode ter conteúdos sociais ou politizados (como quando satirizam Hitler e Mussolini), representa-os como diabos (literalmente) e levava-os mesmo a chocar com os limites físicos das vinhetas ou a interagir com o desenhador. E se o traço é o mesmo de Tintin, sente-se uma maior liberdade criativa e o privilegiar da eficácia estética e narrativa.

Com cerca de 250 pranchas publicadas (de forma irregular) durante uma década, Quick e Flupke tiveram nova vida nos anos 80, em versão animada e em álbuns redesenhados e coloridos pelos Estúdios Hergé, a partir das histórias originais.
Esta edição foi lançada em Portugal pela Verbo, com os heróis rebaptizados como Quim e Filipe.

F.CLETO E PINA

Imagens da responsabilidade do Kuentro.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

RECORTES DE IMPRENSA #107 – MORREU JACQUES MARTIN – Carlos Pessoa no Público e Eurico de Barros no Diário de Notícias (hoje)


Com 88 anos, morreu ontem o pai de Alix, Keos, Orion, Jhen, Lefranc, etc…
Aqui fica a notícia, em textos de Carlos Pessoa (Público) e Eurico de Barros (Diário de Notícias, publicados hoje mesmo, dia 22 de Janeiro de 2010.

Público, sexta-feira – 22 Janeiro 2010

JACQUES MARTIN, CRIADOR DE ALIX, MORREU ONTEM NA SUÍÇA

Carlos Pessoa

Primeiro Hergé, depois Jacobi e Morris. Com a morte deJacques Martin, ocorrida ontem numa clínica suíça, desapareceu o último grande nome da chamada Escola de Bruxelas.
"O meu pai morreu esta manhã [ontem] enquanto dormia", disse à AFP Frédérique Martin, filha do criador de Alix, Lefranc e Arno. Tinha 88 anos. O seu editor francês (Casterman) divulgou um comunicado em que falava do desaparecimento do -"último gigante da banda desenhada belga". Mas acrescentava: "Os seus heróis nunca morrem."

Nascido em Estrasburgo (França) em 1921, Jacques Martin estudou na Bélgica, onde iniciou a sua carreira profissional em 1946 na revista Bravo. Quando nasce a revista Tintin (edição belga), dois anos mais tarde, Martin candidata-se. É ali que surgirá Alix, uma banda desenhada que tem como protagonista um jovem gaulês adoptado por um patrício romano. Martin é alguns anos mais novo do que Hergé e Jacobs, mas fará parte dessa geração de ouro formada pelos mestres da chamada linha clara, à qual se associa um inconfundível estilo gráfico realista.

Alix, por seu lado, é o representante maior de uma linhagem – depois prosseguida em Jhen, Arno, Orion, Kéos e Loïs, outros héróis concebidos nas décadas seguintes – caracterizada por uma abordagem das temáticas históricas subordinada a uma grande preocupação de rigor documental.

Fora desta lógica fica apenas Lefranc, um herói jornalista criado em 1952, num registo realista e contemporâneo, por vezes tintado por uma vertente fantástica.
No final dos anos 1980, Jacques Martin foi afectado por problemas oculares graves que o obrigaram a apelar a uma equipa de colaboradores para desenhar as bandas desenhadas que continuaria a escrever - é o caso, entre outros, de Bob de Moor; Gilles Chaillet e Jean Pleyers.

"As suas obras, de estrutura clássica, figuram entre as maiores do género e estão na origem de numerosas vocações",escreveu Patrick Gaumer no Larousse de la BD.
O conjunto das obras de Martin, traduzidas em mais de dez línguas, entre as quais o português, vendeu mais de 15 milhões de álbuns. Só a série Alix, que o PÚBLICO•vai reeditar dentro de semanas, vendeu mais de. sete milhões de álbuns.

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Diário de Notícias, sexta-feira – 22 Janeiro 2010

Banda desenhada

MORREU JACQUES MARTIN, 'PAI' DE ALIX

Por Eurico de Barros

Autor era um dos últimos grandes nomes da escola clássica franco-belga.

Era um dos maiores representantes da "escola de Bruxelas" da banda desenhada franco-belga, o último sobrevivente dos Estúdios Hergé, um dos mais antigos desenhadores da revista Tintim e o expoente da BD histórica, que praticamente criou, graças à personagem de Alix (Roma antiga), a mais famosa de sua autoria. Mas também de Jhen (Idade Média), Kéos (Egipto dos faraós), Orion (Grécia clássica), Arno (época napoleónica) e Loïs (reinado de Luís XIV). Jacques Martin morreu ontem aos 88 anos, na Suíça, deixando uma obra sem igual, no rigor gráfico, na minúcia documental e no retrato detalhado das várias eras históricas que abrange e retrata.

Num comunicado, a Casterman, sua editora, lê-se: "Desapareceu o último gigante da banda desenhada." No Larousse de la BD, escreve-se: "As suas obras, de factura clássica, estão entre as melhores do género e estão na origem de numerosas vocações."

Os seu álbuns venderam, no conjunto, mais de 20 milhões de exemplares em todo o mundo, sendo que os de Alix (editado em Portugal pela Asa) atingiram vendas de mais de oito milhões.

Juntamente com Tintim, Blake & Mortimer, Astérix, Lucky Luke ou os Schtrumpfes, Alix é uma das personagens da banda desenhada franco-belga de verdadeira dimensão mundial.
Apenas Lefranc, a única das suas personagens que vive aventuras no mundo contemporâneo, saiu da norma das temáticas históricas. Numa entrevista dada ao DN em 2002, quando veio ao Festival de Banda Desenhada da Amadora, que lhe dedicou uma exposição, dando grande destaque a Alix, Jacques Martin contou que Lefranc foi concebido como herói de um só álbum, A Grande Ameaça (1954). Mas o sucesso deste foi tal que se transformou numa série que dura até hoje.

Nascido em Estrasburgo (França), em 1921, Jacques Martin fez os seus estudos de engenharia na Bélgica. Apaixonado por arte clássica, por história da Antiguidade e por banda desenhada, começou a desenhar e a publicar com o pseudónimo de Marleb, alternando séries cómicas e realistas.

Em 1948, entrou para a lendária revista Tintim, onde começou a publicar as aventuras de Alix, um jovem escravo gaulês adoptado pelos romanos e protegido de Júlio César, cuja primeira aventura foi Alix O Intrépido, e conheceu um sucesso imediato. Alix tem como fiel companheiro outro adolescente, o egípcio Enak.

No Tintim, Martin encarregou- -se também de desenhar rubricas sobre automóveis e aviões, travando conhecimento com autores como E.P. Jacobs, Bob de Moor, Jean Graton ou Albert Weinberg.

Em 1952 criou Lefranc e um ano mais tarde entrou nos Estúdios Hergé, onde colaboraria com o criador de Tintim durante quase 20 anos, saindo após a publicação de Voo 714 para Sydney. A série pedagógica As Viagens de Alix, que criou nos anos 90, tem uma intenção pedagógica, reconstituindo cidades ou civilizações do mundo antigo.

A esta vieram ainda juntar-se Le Costume Antique e La Marine Antique, todas elas executadas com a colaboração de uma equipa de desenhadores e argumentistas, já que devido a uma doença que lhe atingiu a vista Jacques Martin teve de abdicar do desenho em 1992, continuando, no entanto, a assegurar histórias e diálogos, e a supervisão das suas várias criações.

Na citada entrevista ao DN, Martin frisou: "A perfeição na arte nunca é demais." A frase serve como uma luva à sua obra, na excelência da recriação histórica como no classicismo do desenho.

Imagens da responsabilidade do Kuentro:



quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

RECORTES DE IMPRENSA #106 – VINHOS: RÓTULOS NAS GARRAFAS DESENHADOS POR CARTOONISTAS… CONTRA A CRISE.

Falemos hoje um pouco de vinhos!!! É que, para além de nos descrever saídas imaginativas para a crise, mostra-nos também como a banda desenhada (ou, neste caso o cartoon) se dá muito bem com o néctar das uvas. Repare-se que o rótulo é para ser lido de cima para baixo (em tiras verticais, digamos assim), para evitar que o utilizador comece logo por ficar com a cabeça à roda, se tivesse que ler a coisa como tradicionalmente costuma ser feita – em tiras horizontais…

Contudo a ideia dos rótulos desenhados por cartoonistas, é uma reincidência desta marca vinícola… espero que o Leonardo De Sá tenha pachorra para escrever aqui um comentário a preceito sobre a ideia original, que remonta, se não estou em erro a 2005.



Público – Suplemento Fugas – sábado, 16 de Janeiro 2010

Vinhos

"Diálogo" para combater a crise


Com a crise nascem também as grandes oportunidades e as grandes empreitadas da vida, numa renovação que se deseja e se adivinha. O"Diálogo" é uma das melhores e mais doutas propostas nacionais para uma renovação no sector dos vinhos.

Rui Falcão

A crise, essa malfadada palavra patente no léxico do dia-a-dia, insiste em perdurar no quotidiano, insinuando-se em todas as conversas, entranhando-se nas preocupações e anseios mais íntimos de cada português.

Uma crise que nos tolhe o ânimo, que instiga medos e preocupações, embarga projectos e investimentos, protela decisões, provocando comportamentos irracionais de prostração e insegurança. A consciência da presença de uma crise estrutural e duradoura continua a gerar sentimentos profundamente derrotistas, perigosos para a sanidade e indispensabilidade da tomada de decisões. Sim, a crise é tremenda, incómoda e perigosa! Porém, muitos persistem em querer desprezar dos ensinamentos da história, desconhecendo que as épocas de crise são também estações de oportunidade, quadras apropriadas para a tomada de risco, fases esperançosas para o investimento, pretextos excelentes para a renovação e crescimento.

Com a crise, com a imposição forçada desta crise, abrem-se novas conjunturas, novos mercados, novos horizontes, novos paradigmas que merecem ser explorados. A crise, apesar de toda a angústia a ela associada, consegue acenar com propostas verdadeiramente inovadoras.

Uma das tendências originadas pela crise, numa das orientações internacionais mais marcantes da actualidade, particularmente visível nos corredores da restauração, é o conceito de low cost superior, materializado na oferta de produtos cuidados e superiores, atraentes e bem embrulhados, transaccionados a preços mais do que justos, maximizando ao extremo a relação qualidade/ preço. Em Portugal, a tendência ganhou relevo especial na restauração, traduzindo-se na proliferação de restaurantes de autor com refeições servidas a preços sensatos e agradáveis, corporizados em nomes como o 100 Maneiras, de Ljubomir Stanisic, Alma, de Henrique Sá Pessoa, Spot Lx e S. Luís, de Fausto Airoldi, Tasca da Esquina, de Vítor Sobral, De Castro Elias, de Miguel Castro e Silva, ou Club, de Henrique Mouro. Todos eles chefes que anteriormente se ocupavam de cozinhas muito mais requintadas e caras... mas de rentabilização difícil ou mesmo impossível. Num simples piscar de olhos, os novos espaços converteram-se em gigantescos sucessos comerciais, de visita impossível sem marcação prévia, confirmando a existência de uma apetência natural pelos prazeres mais eruditos.

Porém, e estranhamente, no vinho tal revolução continua por fazer. Ao invés da grande tendência europeia, os melhores e mais reputados produtores e enólogos portugueses continuam autistas face a este segmento dó mercado, desbaratando a oportunidade de oferecer grandes vinhos, com apresentação primorosa, vendidos a preços adequados. Em Espanha, muitos dos produtores mais consagrados, vinhos de enólogos de prestígio inquestionável como Álvaro Palacios, Benjamín Romeo ou Peter Sisseck, entraram no jogo de cabeça erguida e decidida. Álvaro Palacios, um dos mitos vivos de Espanha, criador de alguns dos vinhos mais cobiçados do Priorato, com vinhos cujos preços en primeur rondam os 450€, acaba de lançar no mercado vizinho o Camins dei Priorat, um tinto muito bem vestido, sedutor e... vendido ao público a apenas 12€! Benjamin Romeo, o eterno senhor 100 pontos Parker, com vinhos mágicos transaccionados a preços estratosféricos, projectou o Predicador... negociado a pouco menos de 20€. Por sua vez, Peter Sisseck, o compositor do vinho mais caro de Espanha, o Pingus, rateado a mais de 600€ por garrafa, oferece agora o Psi, valorado em cerca de 30€, aproximadamente 5% do valor do
Pingus!

E em Portugal, qual dos produtores de prestígio conseguiu descortinar e aproveitar esta oportunidade? A resposta evidente e directa condensa-se no nome Niepoort, através de uma das criações mais talentosas e perspicazes da história recente do vinho português, o tinto Diálogo.

Diálogo, ou melhor, Fabelhaft, Gestolen Fiets, Fabelaktig, Sarvet, Fantasi, Öö Ja Päev, Twisted, Drink Me, Allez Santé, Alonso Quijano, Sásta ou Eto, títulos que o vinho duriense Diálogo vai assumindo conforme os mercados a que se destina, respectivamente Portugal, Alemanha e Áustria, Holanda, Noruega, Finlândia, Dinamarca, Estónia, Estados Unidos da América, Inglaterra, Bélgica, Espanha, Irlanda e Japão.

A ideia essencial de Dirk Niepoort reveste-se de uma simplicidade atroz e uma intuição feroz, assente num pressuposto que poucos assumem de forma realista, o chauvinismo vinico.

Porque é muito mais confortável comprar um vinho que nos seja próximo, que esteja rotulado na nossa língua, que conte uma história que nos seja familiar, proporcionando o conforto da proximidade cultural. Por isso, Dirk Niepoort insistiu em escolher um nome distinto para cada mercado e, sobretudo, em desenhar um rótulo original para cada país, recorrendo a um carroonista local para ilustrar uma história adequada aos valores e sensibilidade de cada país.

Na versão portuguesa, o Diálogo beneficiou com a contribuição de Luís Afonso, autor das famosas tiras do Bartoon, publicadas diariamente neste jornal há mais de dezasseis anos! A brincar, a brincar, são já 650.000 garrafas de Diálogo a sair do Douro, nas suas múltiplas declinações, vendidas a cerca de 10€, 90 por cento das quais exportadas para doze grandes mercados internacionais. O conceito torna-se ainda mais interessante quando se deduz que a Niepoort conseguiu antecipar com acuidade as grandes tendências internacionais, visto que a primeira edição do Diálogo, na versão alemã Fabelhaft, foi editada ainda em 2004, três anos antes dos primeiros sinais inequívocos da crise!

Será possível fazer algo semelhante com o Vinho do Porto?




NOTA: o rótulo que se apresenta nesta última imagem - dupla, é o tal, que remonta a 2005 e, também a 2006. Aliás, o rótulo datado de 2007, relacionado com a "crise" (e reproduzido no artigo do Fugas) diz-nos que esta "crise" já vem de longe, né?

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

RECORTES DE IMPRENSA #105 – COSPLAY, COSPLAY, COSPLAY… NO P2 DO PÚBLICO!

O P2 do jornal Público visita o mundo do cosplay, pela mão de Pedro Rios (texto) e Fernando Veludo/nFactos (fotos). Um factor importante quando vemos o mercado da banda desenhada a definhar neste país, para podermos reflectir um pouco sobre as apetências do público mais jovem (ou não tão jovem como isso)…



Público – caderno P2 – Quinta-feira, 14 de Janeiro 2010

VAMPIRO EXORCISTA OU GUERREIRA COM QUATRO MÃOS?

Tudo é possível no cosplay: Em Portugal, tem cada vez mais praticantes. O que leva jovens a encarnarem os seus ídolos de anime e mangá, a aprenderem a costurar e a perderem horas à procura de tecidos? “As pessoas fazem isto por amor á personagem” é uma resposta. É a única forma de lhes poderem tocar: Por Pedro Rios (texto) e Fernando Veludo/nFactos (fotos).

As traseiras do Hotel Dom Henrique, no Porto, acolhem uma daquelas galerias comerciais, com muitas lojas desocupadas, que parecem condenadas ao esquecimento na lufa-lufa das cidades. Mas no último sábado à tarde os seus corredores tornaram-se num quebra-cabeças para quem passava por ali. Quem seriam aqueles jovens, com cabelos pintados, olhos com lentes de contacto coloridas, fatos estranhos e falsas armas de madeira? "Que Carnaval fora de época é este?", terão pensado.

O fenómeno chama-se cosplay (designação que junta costume e play - pode ser traduzido por "jogo de disfarces") e tem crescido nos últimos três anos em Portugal. Produtos como Star Wars e Harry Potter também são alvo dos cosplayers, mas o termo tem designado sobretudo a arte de imitar persol1agens da banda desenhada (manga), desenhos, animados (anime) e videojogos japoneses. Nos seus encontros, os cosplayers encarnam, da forma mais fiel possível, estas personagens, vestindo-se, maquilhando-se, penteando-se e comportando-se como elas.
Em países como o Brasil, os Estados Unidos e, claro, o Japão, há convenções com milhares de cosplayers. A Portugal chegou timidamente (em 1997, por ocasião do Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora) e só nos últimos tempos ganhou alguma dimensão. Hoje, é uma aposta da embaixada japonesa em Portugal na promoção da cultura nipónica: no próximo domingo, na FIL, integrado na Bolsa de Turismo de Lisboa, haverá um concurso de cosplay, organizado pela embaixada do Japão e pela futura Associação Nacional de Cosplay, que deve ser formalizada ainda este mês.
A revista on-line Waribashi, publicação portuguesa especializada no Japão, estima que haja cerca de 400 praticantes em Portugal. A maioria são jovens com menos de 20 anos; mas há também um número significativo de cosplayers portugueses com mais idade. Juntam-se em encontros ou concursos, como o do último sábado, promovidos por organizações informais dedicadas à cultura japonesa, cosplayers ou livrarias que vendem a fonte de inspiração de muitas personagens, os livros manga.

Um sério deprimido

A escadaria da galeria comercial do hotel do Porto está transformada numa passerelle improvisada. Ruidosas claques sub-20 berram a cada gesto dos cosplayers, concentrados em replicar os gestos e a atitude das personagens. "Sempre gostei de teatro. Aqui, estou a encarnar uma personagem", diz Ricardo Dias, de 20 anos, de Vila do Conde. Venceu o concurso com a sua transformação em Arystar Krory, um "vampiro exorcista" da manga e anime D.Gray-man. Não se riu uma única vez ao descer a escadaria: "A minha personagem é um sério deprimido".

Bruno Nunes, de Vila do Conde, com 29 anos (é o mais velho dos participantes) ficou fascinado com a possibilidade de "conhecer pessoas com os mesmos interesses". Está vestido de Seijuro Hiko, do manga e anime SamuraiX- esconde uma catana, verdadeira, por trás das vestes de guerreiro. Paulo Santos, de 19 anos, do Porto, escolheu L, personagem de Death Note, por ser "parecido" com ele. "É a segunda vez que faço este. Gosto de arranjar as roupas, o cabelo. E de ver a reacção das pessoas na rua", afirma Paulo, cosplayer há cerca de dois anos.
Daniela Pata, de 15 anos, de Aveiro, transformou-se em Lucy, protagonista de Elfen Lied. "Gosto muito da personagem", conta. Porquê? "Tem quatro mãos invisíveis que matam pessoas." "Só comprei a peruca e as lentes de contacto [tudo cor-de-rosa]", conta, enfiada nos seus calções verdes minúsculos. "As pessoas mais velhinhas acham muito giro. O jovens-é que mandam bocas - 'Já estamos no carnaval?'. Mas eu não ligo."
O cosplay é um "escape à realidade", como diz Daniela Oliveira, de 23 anos, de Lagos? Sim, mas não só, aponta Lars Konzack, professor na Universidade de Aalborg, na Dinamarca, especialista no estudo de videojogos. "Os cosplayers querem mais do que um escape. Querem fantasia", diz ao P2, por e-mail. Konzack associa os cosplayers à geração Internet. "Querem atingir urna nova forma de pensar. O cosplay exige muita energia e esforço. O que recebem em . troca são novas perspectivas sobre como se podem relacionar com o mundo e a Internet." Invasão japonesa

Os cosplayers portugueses convergem ao ligar a popularidade crescente da prática ao aumento do número de séries de animação japonesa na televisão. ASIC Radical tem apostado nos anime e, em 2008, surgiu um canal no cabo, o Animax, inteiramente dedicado a eles. Para livrarias de banda desenhada, como as portuenses Central Comics e a Mundo Fantasma, as histórias manga representam uma importante fatia das vendas.
O sucesso da cultura popular japonesa no Ocidente deve-se à capacidade do Japão de absorver elementos de culturas estrangeiras sem as adoptar por completo, acredita Roland Kelts, autor de japanamenca: Howjapanese Pop Culture Has Invaded the US (2006).
Produtos como os anime "saúdam o Ocidente do século XXI com uma identidade peculiar e distinta - suficientemente japonesa para ser fresca e atractiva, mas ocidental quanto baste para não parecer extraterrestre e muito estranha", explica, por e-mail. E o cosplay é um "exemplo perfeito" dessa contaminação, já que nasceu, segundo Kelts, depois de japoneses verem em revistas norte americanas dos anos 1970 imagens das convenções de trekkies (Ias do universo Star Trek). "Fizeram o mesmo, com fatos mais estranhos e coloridos, adequados às suas histórias de animação."
O cosplay encontrou no Japão um caminho fértil para o seu desenvolvimento. "O Japão produziu mais opções para o escape, em parte porque é uma nação incrivelmente rígida na sua ética de trabalho e na vida diária desde a Segunda Guerra Mundial", justifica Kelts.

Regresso à costura

Patrick W. Galbraith, autor de The Otaku Encyclopedia: An Insider's Cuide to the Subculture ofCoo/japan, lançado no final de 2009, também ele um cosplayer, diz que "as pessoas fazem isto para mostrar o seu amor à personagem". "Isto é pessoal e comunal, ao mesmo tempo. Estás mais próximo da personagem, como se ela estivesse na tua pele. Esta é a única forma que nós, Ias, podemos tocar nestes ídolos bidimensionais que adoramos. A um nível comunal, quando fazemos cosplay, mostramos aos outros as personagens que adoramos e quanto as adoramos.
Pode ser uma forma de começar uma conversa ou uma amizade", afirma, por e-mail. No mesmo sentido, Konzack vê o cosplay como um dos territórios de manifestação da cultura geek (termo que define pessoas com um interesse forte numa área, sobretudo em temas mais obscuros ou específicos), que abriu uma terceira via diferente da vida comunitária dos hippies e do individualismo dos yuppies. Uma cultura dominada por mulheres, ao contrário da maioria das manifestações ditas geek, e que é fortemente criativa, defende.
Daniela Oliveira, de Lagos, licenciada em Multimédia sem emprego, tem 23 anos e é cosplayer desde 2002 - uma "eternidade" no universo cosplay português.

Há lojas na Internet que vendem fatos e acessórios, mas a comunidade valoriza mais quem se lança ao trabalho de fazê-los.

A paixão pelas personagens dos anime, mas também de videojogos (as de Final Fantasy já deram origem a vários dos seus fatos), aliada ao interesse pelo design editorial, levou-a a lançar a Cosplayer, revista digital trimestral. O projecto, com 11 colaboradores, não tem fins lucrativos.
O cosplay é também responsável por Daniela ter aprendido a costurar, com a ajuda da mãe e da tia. "Comprei a minha máquina de costura. Agora consigo fazer os meus fatos sozinha", diz, satisfeita. "Fazer um fato exige trabalho e muita paciência. Depois de escolher a personagem, procuro imagens de referência, de vários ângulos. Caso não existam muitas imagens, procuro fotos de outros cosplayers para ver como resolveram o problema. Depois, é a caça ao tecido."
Há lojas na Internet que vendem fatos e acessórios, mas a comunidade valoriza mais quem se lança ao trabalho. "Comprei uma máquina de costurar", conta também Ema Paiva, de 18 anos, do Porto, para quem o cosplay é também um "tributo" às personagens. Ema recorre a tutoriais e vídeos do YouTube, que ensinam a coser e outras técnicas.
A futura Associação Nacional de Cosplay quer promover workshops sobre como trabalhar com tecidos, madeira, ferro (usado na feitura de armas, por exemplo) e outros materiais para elevar a qualidade do cosplay português, diz André Filipe, um dos mentores da associação.
Os jovens cosplayers são criativos e rejeitam ser meros receptores de entretenimento, atesta Lars Konzack.
"Querem participar", "querem acção e interacção", diz. "A geração Net quer ser parte da diversão, das narrativas e dos mundos ficcionais." E "como esta nova geração está familiarizada com o conceito Net dos avatares, interessa-lhes ter um alter-ego", prossegue. Porém, é importante distinguir "identidade" e "papel". "O cosplay ajuda-os nesse processo" - só se é personagem nos dias de cosplay.

Ficam aqui algumas imagens do Dia do Cosplay no 20º FIBDA-AmadoraBD 2009:




sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

RECORTES DE IMPRENSA #104 – A MORTE DE TIBET (POR CARLOS PESSOA) E OS OITENTA ANOS DE MICKEY MOUSE (POR PEDRO CLETO).

Textos de Carlos Pessoa, no Público de dia 9 – TIBET (1913-2010) UM CLÁSSICO NA SOMBRA DOS MESTRES e de Pedro Cleto no Jornal de Notícias de dia 13 - MICKEY MOUSE, 80 ANOS AOS QUADRADINHOS.

As imagens são da responsabilidade do Kuentro.



PÚBLICO - 9 de Janeiro 2010-01-14

TIBET (1931-2010)
UM CLÁSSICO NA SOMBRA DOS MESTRES


Carlos Pessoa

A história da banda desenhada não lhe concede o mesmo lugar destacado que ocupam Hergé, Jacobs ou Franquin. Mas foi um dos pilares da revista Tintin e um autor muito popular.
Setenta e seis aventuras mais tarde, o jornalista-detective Ric Hochet enfrenta o seu maior desafio: sobreviver a Tibet, o homem que concebeu o herói em 1955 e o desenhou até à morte, no dia 3 de Janeiro, 30 minutos depois da meia-noite. Tinha 78 anos.

Tibet, nascido em Marselha, é o nome artístico de Gilbert Gascard, "dado" por um irmão mais velho que pronunciava mais facilmente Ti-bet do que Gilbert... Deixa atrás de si uma longa carreira na BD, que começou nos Estúdios Disney de Bruxelas, no final dos anos 1940 - é aí que conhece o argumentista Duchâteau, com quem irá manter uma longa parceria.

Não é um nome de primeira grandeza - pelo menos com a projecção de Hergé, Jacobs, Morris, Franquin e outros monstros sagrados da BD europeia de filiação franco-belga. Mas está longe de ser um mero figurante. A sua extensa biografia assim o demonstra.
Em 1951 entra para o quadro da revista Tintin como maquetista e ilustrador. Em 1953, surgem na revista Ons Volkske e na equivalente francófona Chez Nous Júnior as aventuras de Chick Bill, com desenho e argumento de Tibet, depois transferidas para o Tintin.

Dois anos mais tarde lança com Duchâteau a série policial Ric Hochet. Nos anos seguintes, está envolvido no desenvolvimento de Globul le Martien, Alphonse (ambos em 1956, este último com Goscinny) e Mouminet (1957, com Greg). Entre 1962 e 1967, desenha a série 3 A (argumento de Michel Vasseur, aliás Duchâteau).
Antes, durante e depois, haverá uma presença constante das aventuras das suas duas séries mais conhecidas - Chick Bill (60 álbuns) e Ric Hochet (76 álbuns e o último, ainda desenhado por Tibet, com saída marcada para Março). São dois sucessos de público com milhões de álbuns vendidos.

Um senhor encantador

O reconhecimento é justíssimo: Chick Bill é "uma comédia à maneira de Laurel & Hardy aplicada ao western", comenta para o P2 Didier Pasamonik, editor do site francês Actua-BD. A segunda é, diz, "o arquétipo do Whodunit na BD, esse género policial denominado light suspense de que fazem parte Agatha Christie ou John Dickson Carr na literatura".

Benoît Peeters, também autor de BD e estudioso dos quadradinhos, confessou ao P2 que "conhecia mal a obra", mas recorda o homem como "um senhor encantador". Tibet foi, além disso, um cultor aplicado da famosa linha clara, "absolutamente pessoal, menos académica do que a do criador de Tintin", sublinha Patrick Gaumer, autor de uma monografia sobre o artista e do Dictionnaire Mondial de la BD.

Considera "essencial" a contribuição de Tibet para a história da BD clássica franco-belga. "Durante toda a sua vida bater-se-á pelo reconhecimento do estatuto de autor", disse ao P2.

Tanto Laurent Mélikian, jornalista especializado em banda desenhada, como Gilles Ratier, secretário-geral da Associação dos Críticos e Jornalistas de BD (França), coincidem na dimensão "popular" da obra de Tibet. "Contribuiu para manter o estilo linha clara", responde Mélikian. "O seu traço permitiu popularizar a BD made in revista Tintin", acrescenta Ratier. Pasamonik, por seu lado, considera "Tibet um dos esteios da BD franco-belga": "A sua série Ric Hochet foi durante muito tempo uma das preferidas da revista Tintin. Numa das últimas sondagens, continua a registar uma notoriedade de 80 por cento entre os belgas."

A opinião de Geraldes Lino, divulgador de BD e editor de fanzines, vai no mesmo sentido: "Ele fez mais coisas mas, para mim, Tibet é Ric Hochet, uma série em registo policial que não é vulgar na BD europeia." Amplamente divulgada pela edição portuguesa da revista Tintin, esta série "era muito cativante para os leitores de 16-18 anos da época", dando a conhecer um criador "com um trabalho correcto, eficiente e agradável de ler".

É tudo isto que leva a maioria dos críticos ouvidos pelo P2 a rejeitarem a visão de Tibet como um autor de segunda linha. "É a segunda geração de autores clássicos", defende Didier Pasamonik. "É um dos grandes da BD franco-belga, mesmo se o seu contributo (e o seu talento) estavam nitidamente abaixo da envergadura de Hergé, Jacobs, Morris ou Cuvelier", diz Gilles Ratier. Patrick Gaumer também não concorda com a menorização de Tibet: "Seduziu um público muito amplo e deixa uma marca indelével no coração de muitos leitores."



Jornal de Notícias, de 13 de Janeiro de 2010

MICKEY MOUSE, 80 ANOS AOS QUADRADINHOS

F. Cleto e Pina

Há 80 anos, fazia a sua estreia na banda desenhada, em tiras diárias de carácter humorístico publicadas nos jornais, aquele que possivelmente é o rato mais famoso e conhecido de todos os tempos, Mickey Mouse.

Tudo começara cerca de um ano antes, com o filme animado “Steamboat Willie”, estreado a 28 de Novembro de 1928. Desde então, Mickey já protagonizara uma quinzena de desenhos animados, cujo sucesso comercial levaram a King Features Syndicate a sondar Walt Disney quanto à possibilidade de o transpor para tiras diárias.

Uma vez o acordo alcançado, Ub Iwerks, que participara na criação gráfica do rato e animara a curta-metragem inicial, foi encarregado de desenhar os quadradinhos, passados a tinta por Win Smith, a partir de argumentos do próprio Walt Disney. A primeira tira, publicada a 13 de Janeiro de 1930, intitulada “He’s going to learn to fly like Lindy.”, mostrava Mickey deitado num monte de feno a sonhar com viagens de avião, numa alusão a Charles Lindbergh, que fizera o primeiro voo transatlântico sem escalas três anos antes. Era a primeira de uma série de tiras que adaptavam livremente “Plane Crazy”, um filme da “pré-história” de Mickey.

De início auto-conclusivas, embora com sequência, e de carácter puramente humorístico, as histórias aos quadradinhos bebiam na animação muito do seu dinamismo e do seu espírito.

Mas poucas semanas decorridas, Iwerks, não sentindo reconhecimento por uma colaboração com mais de uma década, abandonaria os estúdios Disney. Floyd Gottfredson assumiria a BD em Abril desse ano e ficaria na história como “o desenhador” de Mickey por excelência, após desenhar mais de 15 mil tiras e pranchas dominicais, até se reformar, em 1975. Nelas, dotou Mickey com um espírito mais decidido, empreendedor e aventureiro e introduziu muitos dos heróis secundários que com ele geralmente contracenam , criando outros como Morty e Ferdie (Chiquinho e Francisquinho) ou Phantom Blot (Mancha Negra).

Mantendo algum paralelo em relação à animação, em que manteve o tom mais divertido, na BD Mickey evoluiu graficamente aproximando-se mais da figura humana, cresceu e desenvolveu-se, em histórias policiais, de mistério, aventura e ficção-científica, participou no esforço de guerra contra os nazis, encarnou personagens clássicas e históricas, reviveu filmes célebres, experimentou um sem-número de profissões, prolongando o sucesso dos anos 1930, considerados a sua idade de ouro nos comics. Para isso contribuiriam, entre muitos outros, grandes artistas como Al Taliaferro, Ted Osborne, Paul Murry, Romano Scarpa ou Giorgio Cavazzano.

Hoje, 80 anos depois, a banda desenhada Disney, cancelada em diversos países, há muito que deixou os seus tempos áureos, surgindo como raras excepções a Itália ou os países nórdicos (Finlândia, Dinamarca, Suécia). Talvez por isso, em Dezembro de 2008, a companhia anunciou a sua entrada na BD digital, com meia centena de histórias produzidas em Itália, para iPhone, iPod e PSP. Possivelmente a melhor forma de transmitir o humor, a aventura e a magia que Mickey levou a tantos leitores, a uma nova geração com hábitos diferentes mas a mesma necessidade de sonhar.


(Caixa)

Histórias Memoráveis

Entre as quase 30 mil histórias de Mickey escritas e desenhadas ao longo de oito décadas, em especial nos EUA, Itália, Dinamarca e França (mas também no Brasil), muitas há que ficaram na memória dos que as leram. Eis três exemplos provenientes das tiras diárias, da revista mensal e da escola italiana.

Mickey Mouse in the Death Valley
Floyd Gottfredson, Walt Disney, Win Smith
1930
A primeira BD com a marca de Gottfredson, marcada pela entrada de Clarabelle Cow (Clarabela), Horace Horsecollar (Horácio), Black Pete (João Bafo-de-Onça) e o pérfido advogado Sylvester Shyster (Zé Ratão) e pela temática aventurosa que leva Mickey até ao deserto em busca de um tesouro.

The Mystery of the Double-Cross Ranch
Paul Murry
1951
Mickey e Pateta fazem uma visita ao rancho de Uncle Mortimer, um tio da Minnie, para investigarem quem anda a roubar-lhe as vacas, numa aventura ritmada, que combina um registo western e policial, com humor e drama.

Topolino e la collana Chirikawa
Romano Scarpa, Rodolfo Cimino
1960
A procura de um valioso colar indígena, com estranhos poderes, é o mote de uma das primeiras e mais famosas histórias escritas e desenhadas pelo mestre italiano Romano Scarpa, servida pelo seu traço moderno e dinâmico.

Curiosidades
Em 2008, a tira de 29 de Janeiro, autografada por Walt Disney, foi leiloada por quase 55 mil dólares (38 000 €).

Outros nomes de Mickey

Esteve para se chamar Mortimer, mas por sugestão da mulher de Disney seria baptizado como Mickey Mouse. Mas se este é o nome porque é conhecido na maior parte dos países, outras há que o conhecem de forma diferente:
Topolino (Itália)
Miki Maus (Croácia)
Miki-Hiir (Finlândia, Estónia)
Micky Maus (Alemanha)
Miki Tikus (Indonésia)
Peliukas Mikis (Lituânia)
Myszka Miki (Polónia)
Miki (Espanha, Sérvia, Eslovénia)
Musse Pigg (Turquia)
Miki Fare (Ucrânia)
Chuôt Mickey (Vietname)

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

EXPOSIÇÃO FECO NA BEDETECA DE BEJA E BDPRESS - RECORTES DE IMPRENSA #103 – Texto de Pedro Cleto sobre as novidades da ASA, no JN de 12 de Janeiro 2010

O anúncio da exposição da FECO (FecoPortugal, Associação de Cartoonistas) na Bedeteca de Beja com início no próximo dia 16 (sábado). De seguida um pequeno texto de Pedro Cleto sobre as novidades da ASA a editar este ano. A notícia sobre o 2º volume de “A Menina de Bois-Caïman” deve referir-se à edição encadernada (capa dura), uma vez que o álbum já foi previamente lançado e distribuído com o jornal Público, no dia 9 (quinta-feira passada), na versão brochada (capa mole). Não deixam de ser boas notícias, não só para os fãs da mangá, como para os outros, especialmente no que refere a colecções iniciadas há anos e que a ASA parece ter encontrado agora condições de editar – refiro-me a “Bórgia”, de Jodorowsky e Manara e “Murena”, de Dufaux e Delaby…

A ASA enviou-nos entretanto o preview das capas de “A Menina de Bois-Caïman”2 e de “WarCraft”2, que rematam o recorte.



No próximo dia 16, Sábado, a Bedeteca de Beja abre as portas à Feco - Exposição de Cartoon, Caricatura, Ilustração e Banda Desenhada.

A exposição inaugura às 16h00 na Galeria de Exposições situada no 1º andar da Casa da Cultura de Beja, local onde se encontra instalada a Bedeteca.

Estarão presentes alguns autores. A entrada é livre.

Trata-se da primeira exposição com trabalhos exclusivamente criados pelos membros da FecoPortugal - Associação de Cartoonistas, fundada há apenas um ano, mas já com assinalável actividade (a FecoPortugal tem participando em várias exposições colectivas em Portugal e no estrangeiro, quer como entidade organizadora, quer como participante).

Ainda no mesmo dia, e após a inauguração da exposição, a FecoPortugal realizará a sua primeira Assembleia Geral, na Bedeteca de Beja, para apresentação do relatório e contas e plano de actividades para 2010.

O que é a FecoPortugal?

A FecoPortugal - Associação de Caricaturistas, é uma instituição sem fins lucrativos cuja finalidade é promover a arte da Caricatura, Cartoon, Banda Desenhada, Ilustração, Cinema de Animação e expressões plásticas afins; pugnar pelo reconhecimento, dignidade, prestígio e justa remuneração profissional dos seus autores; defender os interesses, direitos e prerrogativas dos seus membros; promover e reforçar a solidariedade entre os seus membros; e fomentar o intercâmbio com organismos congéneres nacionais e estrangeiros...
Sem se subordinar, naturalmente, a quaisquer ideologias políticas, religiosas ou outras...

Chama-se FECO, porque se constitui como o "braço" português da FECO - FEderation of Cartoonists Organizations, que abrange três dezenas de países abarcando um total de dois mil desenhadores.

Para mais informações visite fecoportugal.blogspot.com

De 16 a 31 de Janeiro, na Galeria de Exposições Temporárias (Casa da Cultura, 1º andar).
De 2ª a 6ª feira, das 9h00 às 12h30, e das 14h00 às 23h00.
Sábados das 14h00 às 20h00.

Bedeteca de Beja
Edifício da Casa da Cultura
Rua Luís de Camões
7800-508 Beja
PORTUGAL

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“JORNAL DE NOTÍCIAS” DE 12/01/2010.

NOVA COLECÇÃO DE CORTO MALTESE SAI NESTE ANO

Banda desenhada

A ASA prevê lançar durante este ano os primeiros tomos de "Dragon Ball", de Akira Toryiama (no primeiro semestre); "Yu-Gi-Oh", de Kazuki, e "AstroBoy" e "A princesa e o cavaleiro", ambos criações de Osamu Tezuka, "pai" da manga moderno. Neste mês, sai "Mú", nova colecção de Corto
Maltese.

Conforme revelou Maria José Pereira, responsável pelo departamento de BD da ASA, estas edições seguirão o modelo original "tankobon", a preto e branco, com cerca de 200 páginas por volume e sentido de leitura japonês, ou seja, do fim para o princípio e da direita para a esquerda, e permitirão finalmente descobrir em Português títulos relevantes de um género que chegou ao Ocidente há cerca de 20 anos e que detém quotas de mercado na ordem dos40 % na França, Espanha, Alemanha ou Estados Unidos.

Mas não só de manga viverá o catálogo de BD da editora. "Mú", de Corto Maltese, a grande criação de Hugo Pratt, surgirá a cores, com novas introduções e num formato ligeiramente inferior ao habitual.

A ASA propõe-se concluir neste ano pelo menos quatro das séries que tem em curso: "Passageiros do vento", de Bourgeon (neste mês); "Bórgia", de Jodorowsky e Manara (com dois tomos neste ano); "A teoria do grão de areia", de Schuiten e Peeters, e "Murena", de Dufaux e Delaby, e continuar com alguns títulos do seu catálogo, como Lucky Luke ou Dilbert.

F. CLETO E PINA



sábado, 9 de janeiro de 2010

BDPRESS - RECORTES DE IMPRENSA #102 – Loja TINTIN na Avenida de Roma, em Lisboa.

Jornal Público – Fugas, Sábado 9 Janeiro 2010

TINTIN NA AVENIDA DE ROMA

Faz amanhã – domingo – 81 anos que o intrépido Tintin surgiu pela primeira vez, de partida para O País dos Sovietes, nas páginas de um suplemento de um jornal belga. Luís J. Santos (texto) e Shamila Mussá (fotos) foram celebrar o aniversário do herói de Hergé à novíssima casa portuguesa do corajoso repórter, o Espaço Tintin, em Lisboa, onde se interligam café e loja.



Tintin pode nunca ter escrito uma notícia mas, prestes a celebrar 81 anos – este domingo – continua sempre a ser notícia. A 12 de Janeiro de 1929 este ícone mundial nascia, por obra e graça do mestre Hergé na páginas do Le Petit Vingtieme (um suplemento para jovens do jornal belga Le Vingtieme Siecle). Passaram-se oito décadas, viveram-se 24 aventuras e Tintin está aí para as curvas: não só se aguarda pela chegada ao mercado editorial português da sua obra completa revista e retraduzida (pela Edições Asa), como os fãs já anseiam (embora só tenha data de estreia marcada para finais de 2011) pela adaptação cinematográfica assinada por Steven Spielberg. E isto tudo na exacta altura em que o corajoso repórter arranjou casa própria oficial em Lisboa, o Espaço Tintin, com direito a café-Iounge e loja, onde habita, de várias formas, a galeria de inesquecíveis personagens que o acompanharam em tanta aventura: do espevitado cão Milou ao irascível capitão Haddock, do distraído professor Tournesol (ou Girassol) aos impagáveis Dupond e Dupont, da diva Castafiore ao mui luso comerciante Oliveira da Figueira.

E é, naturalmente, muito graças ao comércio que o Espaço Tintin, que já veio dar um novo brilho à Avenida de Roma (no mesmo edifício onde outrora existiu um conhecido café, o Trevi), nasceu e continua a crescer e a ter novidades para apresentar.

Erigida graças a Paulo Ferreira Almeida, representante oficial da marca Tintin em Portugal, obviamente fã da personagem ("mas não um daqueles fanáticos que sabe tudo", sublinha), a nova casa do herói de Hergé começou por ser apenas um acolhedor café, aberto em Maio passado no rés-do-chão deste edifício marcado por sinais "tintinófilos" por todo o lado. Em Dezembro, chegou a vez de inaugurar a loja na cave; e em breve, deverá ter um lounge (havia também a possibilidade de restaurante, mas nada ainda concreto). Paulo, que começou por coleccionar os Tintin, como meio mundo, acabou por fazer evoluir a colecção para uma homenagem viva entre quatro paredes, por onde, aliás, se encontram até alguns itens da sua colecção particular.

Entra-se para a parte do café e já temos Tintin a receber-nos. o espaço, marcado pela transparência das suas paredes-vidro e por tons quentes, impera um grande painel de BD com sinais e balões de diálogo alusivos, obviamente, ao herói da casa. Mas não há lugar a excessos Tintin por aqui, até porque o próprio também primava pela discrição. Há lugar, isso sim, a outros detalhes de bom gosto: as mesas e cadeiras bem escolhidas e aprumadas, um miniespaço lounge com sofás e mesa de inspiração marroquina, uma espécie de caixa de vidro a separar áreas ou uma zona mais elevada, um "palco" com vista para a rua. Na decoração, o destaque vai ainda para uma série de litografias de pranchas originais de Hergé. O café é a sala de estar do Espaço e, para além de todo os básicos que se desejem (incluindo pratos do dia, saladas, etc.), ressalte-se que propõe cervejas (obviamente) belgas. Uma das grandes vantagens deste novo poiso é que não só está aberto grande parte do dia (abre cedinho e só fecha pelas 23h ou, se for fim-de-semana, à 1h) como abre ao domingo (excepto, por agora, a loja). A sala há-de ainda ganhar uma nova atracção, quando for disponibilizada a parte superior, que abre em mezanino e permite vistas amplas. Outros eventos virão para trazer mais animação, entre tertúlias e concertos.

Mas o "real" mundo de Tintin mostra-se em todo o seu esplendor no underground. Descendo umas escadinhas, entra-se na loja - que, embora pequena, não defraudará nenhum admirador de Tintin.

Com uma decoração alusiva a um dos álbuns, O Lótus Azul ("o meu preferido", admite Paulo Almeida), expõe itens e "memorabilia" de todo o género, incluindo a colecção de vestuário com a marca oficial (t-shirts são para todos mas as outras peças são exclusivas para os pequenos grandes fãs até aos 16 anos). À escolha do freguês, há postais e pins, agendas, bolsas, lápis ou porta-chaves, figuras em PVC mas também peça "escultóricas", não faltando bonequinhos do Tintin, do Milou ou dos gémeos Dupont e Dupond.

Entre as peças mais apelativas, um belo teatro de fantoches, exemplares do foguetão com que o herói foi à Lua (em Rumo à Lua e em Explorando a Lua), uma peça de porcelana com Tintin e o seu fiel cão dentro de um pote (tal como se vê na capa d' OLótus Azul) ou miniaturas de belos exemplares de carros antigos usados em diversas aventuras pelo jovem repórter: o carro de corrida d' Os Charutos do Faraó, clássicos Ford, Jaguar ou Land Rovers, limusinas, táxis, etc. etc. - não há veículo utilizado por Tintin ou surgido nas pranchas que não tenha sido já reproduzido.

E depois há Tintin a passear com Milou, Tintin mini, médio e maxi, Tintin em camelo... E, refira-se, há merchandising para todas as carteiras, desde os económicos (os postais e pins andam pelos € 1,25/€ 1,50; as agendas há-as de € 3,50 a € 6,00) até exemplares destinados a verdadeiros coleccionadores, casos do grande e lendário foguetão lunar (pelos 085; há um pequeno por € 44,50) ou de uma recriação "escultórica" de Tintin no Tibete (€ 430,00).

Naturalmente, é de esperar que o que está em exposição e venda e vá renovando e ampliando, até porque há muitas outras peças disponíveis (jogo , mochilas, tapetes de rato, loiças, etc. etc. no site da loja poderá admirar o extenso portfólio).

Antes de surgir o "Fim" nesta incursão ao mundo luso de Tintin, é obrigatório um passeio pelo corredor das casas de banho: as paredes mostram uma exposição de capa das aventuras de Tintin, parte da colecção pessoal de Paulo Almeida.

Espaço Tintin
Av. de Roma nº 39A
1700-341 Lisboa
Tel.: 217993139
www.lojatintin.com
tintin@lojatintin.com
Horários: A loja abre de 2ª. a sábado das 10h30 às 19h30.
O café abre de 2ª. a 5ª. Das 8h30 às 23h, à 6ª. e sábado das 8h30 à 1h; ao domingo das 14h00 às 19h00.

Tintin também come e bebe
O serviço de café propõe sempre um prato do dia (€ 4.90) e não faltam pastelaria, saladas (há até uma salada baptizada em honra do velho marinheiro Haddock), tostas. sanduíches. quiches ou sopas. Nas bebidas. além de cocktails ou variações de caipirinha. há cervejas belgas (casos das Dubbel ou Artois. € 3,00).
Os preços sobem ligeiramente à noite (por exemplo: o café passa de € 0.75 para € 1,10; a imperial sobe de € 1,40 para € 1,60).

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

BDPRESS - RECORTES DE IMPRENSA #101 – Textos de Pedro Cleto no Jornal de Notícias.

São três textos de Pedro Cleto (que também assina F. Cleto e Pina) no Jornal de Notícias, de 28 de Dezembro, de 2 e de 8 de Janeiro. O primeiro é uma viagem pelo que se editou em BD no Portugal de 2009, o segundo sobre a importância cada vez maior das AUTORAS de BD neste país e o terceiro – que, por ser notícia de um evento lá a decorrer – apresentamos em primeiro lugar.

Aí vai:

Texto para a secção Viva+ de 8 de Janeiro de 2010

JAP XPRESS LEVA CULTURA JAPONESA À BAIXA DO PORTO

F. Cleto e Pina

Decorre de hoje até domingo o Jap Xpress, em diversas lojas das ruas do Bonjardim e do Bolhão, na baixa portuense, entre as quais a Central Comics (especializada em BD) e a Press Play (jogos), que organizam o evento.

A cultura nipónica estará em destaque através da comida, música, oficinas de Iniciação aos Kanji (escrita japonesa) ou a projecção do filme “Evangelion 1.01”. Haverá concursos de ilustração e dança Shin Chan e um torneio de videojogos.

No sábado, com a presença de Gothic Lolitas e Maid e Butler Caffé e da banda rock Trabalhadores do Comércio, será lançado o fanzine "All Girlz' Banzai" (16h), com mangas de Joana Lafuente e Selma Pimentel, e terá lugar o concurso de Cosplay (16h30), em que os participantes se vestem e imitam as suas personagens de manga ou anime preferidas.



Texto para a secção Cultura de 28 de Dezembro de 2009

PORTUGAL AOS QUADRADINHOS

F. Cleto e Pina

Tal como as celebridades da música ou do cinema, também os heróis de papel por vezes escolhem Portugal como destino, no caso para viverem emocionantes histórias aos quadradinhos. Shania Rivkas, aliás Lady S., é o caso mais recente.

Foi em “Salade Portugaise” (Dupuis), lançado há mês e meio, que a jovem estoniana, que trabalha como intérprete no Parlamento Europeu, e às ordens da CIA, sob o nome de código Lady S., chegou a Lisboa para seguir uma pista que a podia levar a reencontrar o pai, que julgava morto, ao mesmo tempo que contribuía para desmantelar um atentado terrorista da Al Qaeda. Escrito por Jean Van Hamme e desenhado por Philippe Aymond, tem na capa a protagonista em trajos menores, tendo por fundo uma boa perspectiva da cidade e do castelo de S. Jorge, e no interior uma atribulada refeição à sombra da ponte 25 de Abril, uma animada perseguição pelas ruas lisboetas com um eléctrico envolvido e um aparatoso acidente automóvel nos arredores de Sesimbra.

Pelas mesmas (?) ruas do Bairro Alto pass(e)ou também Michel Vaillant, em 1984, em “O Homem de Lisboa”, que combina espionagem industrial com a participação de Steve Warson e Julie Wood no Rali de Portugal, a que as estradas nacionais – e os pouco cívicos espectadores - servem de pano de fundo. As primeiras pranchas mostram o par enamorado em passeio turístico pela Praça do Comércio, o Elevador de Santa Justa ou a Torre de Belém. E, mais uma vez, os típicos eléctricos lisboetas. E tal como em Lady S., os protagonistas utilizam um avião da TAP. Clichés turísticos que se nalguns casos não passam disso, noutros são parte integrante destas histórias de autores estrangeiros.

Treze anos antes em “5 filles dans la course”, traduzido como “Rali em Portugal”, Michel e Steve já tinham corrido nas estradas portuguesas, com este último a fazer equipa com a lusa Cândida Maria de Jesus.

Também Monsieur Jean, o trintão celibatário imaginado por Dupuy e Berbérian, esteve na capital em “Le voyage à Lisbonne” (1992), em busca de inspiração para escrever um romance. Foi igualmente a Portugal, mais concretamente aos Açores, que Jacobs enviou Blake e Mortimer em “O Enigma da Atlântida” (1957), para os dois aventureiros descobrirem no subsolo da ilha de São Miguel os descendentes dos habitantes daquele continente mítico. E em “O segredo de Coimbra” (1991), a cidade dos estudantes do século XVIII foi escolhida pelo belga Étienne Schréder como local de acção para uma narrativa sobre um príncipe prisioneiro e a construção de uma ponte sobre o rio Mondego, tendo por base o uso de anamorfoses.

Mas se podemos considerar de certa forma normal que heróis europeus nos visitem, será mais surpreendente saber que Hellboy, o demónio saído dos infernos que combate nazis, fantasmas e monstros, esteve em território nacional em 1992, como conta “In The Chapel of Moloch" (2008), que tem início nas ruas estreitas de Tavira e utilizou como inspiração a capela de S. Sebastião. E no mesmo registo de terror, registo habitual nos fumetti (BD italiana) populares da Sergio Bonelli Editore, Dampyr, um caçador de vampiros, em “Lo Sposo della Vampira” (2006), esteve em Trás-os-Montes, “na localidade de Riba Preta” inspirada em diversas aldeias reais visitadas pelo argumentista Mauro Boselli. Desenhada por Alessandro Bocci, aborda a lenda do Castelo de Monforte da Estrela, supostamente assombrado por uma vampira, e no final o protagonista é salvo in extremis por um pastor luso, Vitorino Rocha.

Mais natural, é o aparecimento de pormenores da cidade do Porto nas páginas do diário ilustrado do norte-americano James Kochalka, cultor da autobiografia em BD, a propósito da sua passagem pelo Salão de BD portuense, em 1999.

(caixa)

O país na BD moderna portuguesa

Para além das óbvias utilizações de Portugal como cenário, em bandas desenhadas de temática histórica ou sobre cidades e vilas nacionais, estas geralmente com atrocínio autárquico, são várias as criações da moderna BD portuguesa que têm (re)visitado, de forma inspirada, o nosso país.

BRK, tomo 1
Filipe Andrade e Filipe Pina
ASA
História urbana, protagonizada por David, um adolescente que acaba envolvido com uma organização terrorista, decorre maioritariamente em Almada e fica marcada pelos atentados contra o McDonalds da Praça da Liberdade, no Porto, e o Cristo-Rei.

As aventuras de Filipe Seems
Nuno Artur Silva e António Jorge Gonçalves
ASA
Recentemente reeditadas numa caixa com os três álbuns, as aventuras de Filipe Seems, investigador privado num futuro indefinido, decorrem numa Lisboa retro-futurista, semi-submersa e percorrida por gôndolas, que evoca múltiplos imaginários.

O Menino Triste – A Essência
João Mascarenhas
Qual Albatroz
Embora maioritariamente ambientada na “sereníssima” Veneza, é na sua Coimbra (natal?) que o Menino Triste começa este percurso iniciático que cruza amizades, sociedades secretas, dúvidas existenciais e… muita(s) Arte(s).

Obrigada, Patrão
Rui Lacas
ASA
Com a paisagem serena da Zambujeira como fundo, esta é a história opressiva de um drama rural, que versa sobre as prepotências dos senhores das terras e a destruição dos sonhos de infância.



Jornal de Notícias, 2 de Janeiro de 2010

BD PORTUGUESA NO FEMININO

Pedro Cleto

Nas duas últimas décadas, a banda desenhada viu despontar muitos talentos femininos. O JN apresenta-lhe algumas das portuguesas que optaram pela BD como forma de expressão e que poderão marcar os próximos anos.

Na verdade, durante décadas a 9ª arte foi considerada tarefa de homens, possivelmente devido à prevalência dos géneros cómico e aventura, destinadas a um público - masculino - juvenil e à especificidade do labor quase eremítico.

Nos anos 60 do século passado, o movimento undeground nos Estados Unidos - e depois o Maio de 68 na Europa - modificaram um pouco esta situação, tendo o surgimento de temáticas mais intimistas e de romances desenhados provocado uma (quase) revolução a partir dos anos 1990, ao nível autoral e (da adesão) das leitoras. Isto no Ocidente, pois no Japão, a profusão de temáticas e públicos-alvo já tinha dado lugar relevante às mulheres na produção de manga.

Em Portugal, em que houve algumas percursoras (ver caixa), os anos 90 também fizeram despontar diversas autoras, muitas delas com ligações ao design ou à arquitectura, visível no tratamento gráfico dado a temáticas em voga como a autobiografia ou a crónica quotidiana, que publicavam em edições independentes ou, pontualmente, em álbuns a solo, que são a memória palpável do talento de Ana Cortesão, Vera Tavares, Ângela Gouveia, Maria João Worm ou Alice Geirinhas.

Em anos recentes, muitas daquelas que se expressam (também) em BD, têm como principal referência gráfica (e temática.) os manga japoneses, como Catarina Sarmento (com o webcomic "Children of the night"), Ana Freitas (que desenhou o "primeiro manga português".) ou Catarina Guerreiro, Sara Martins, Telma e Tânia Guita (editoras do "Luminus Box"), elegem a Internet para divulgarem a sua arte, participam (e muitas vezes ganham) concursos de BD, nacionais e estrangeiros. A exemplo da geração que as precedeu, estão confinadas à auto-edição ou à publicação em fanzines ou (mini-)álbuns independentes, geralmente colectivos, nem sempre (só) em Portugal.

Outros nomes (recorrentes) são Andreia Rechena (que se auto-edita em "Reject") e que com Sónia Oliveira, Inês Casais, Ana Biscaia, Selma Pimentel ou Joana Lafuente, tem marcado presença no "All-Girlz" (publicação só com autoras, cujo tomo Banzai, será lançada no próximo dia 9, na Central Comics, no Porto). As duas últimas estão já noutro patamar, pois Joana Lafuente aplica as cores na versão em BD dos mediáticos "Transformers" para a editora norte-americana IDW, e Selma Pimentel tem em curso diversos projectos para o estrangeiro.

No atelier Toupeira, origem do Festival de BD de Beja e do fanzine "Venham +5", despontaram Maria João Careto e Susa Monteiro, autora do recente "A Carga" e um dos mais promissores talentos da 9ª arte nacional. Teresa Câmara Pestana, com mais anos de militância nos quadradinhos e influências underground, divulga a sua arte - e a daqueles que com ela comungam ideais e preferências estéticas - no "Gambuzine", tendo também editado a solo, "Postais de Viagem".

Quantas destas criadoras conseguirão afirmar-se, num mercado limitado como o nosso ou no (grande) mercado global que as novas tecnologias aproximam, só o tempo permitirá dizer. Para já, cabe-nos desfrutar o seu talento e criatividade.

(Caixa)

As percursoras

É ponto pacífico apontar Amélia Pae da Vida (1900-1997) como a primeira desenhadora portuguesa de BD, nos anos 20 do século passado. Depois dela, sucederam-se entre diversas outras, Raquel Roque Gameiro, Guida Ottolini, Bixa (Maria Antónia Cabral) ou Maria Alice Andrade Santos, em especial em títulos como "Lusitas", "Menina e Moça" ou "Fagulha", lançadas a partir de 1943 pela Mocidade Portuguesa Feminina.

A abertura proporcionada pelo 25 de Abril, possibilitou novas abordagens também nos quadradinhos, destacando-se então Isabel Lobinho, hoje pintora, adaptando Mário Henrique Leiria ou em produção própria de cariz erótico, e também Catherine Labey (de origem francesa mas há muito radicada em Portugal), que criou quadradinhos de ficção e adaptou temas infantis, populares ou históricos, ainda no activo nas áreas da tradução, legendagem ou aplicação da cor.


Na foto: Casey Coller e Joana Lafuente - imagem da responsabilidade do Kuentro.
 
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