terça-feira, 31 de dezembro de 2013

E... UM BOM ANO DE 2014 PARA TODA A GENTE (SE NOS DEIXAREM, CLARO)!!!

Ops!!! 
Parece que o fogo-de-artifício não estava em condições...
tretas norte-coreanas compradas em saldos, é o que dá!!!

E... mais uma vez com... 
NO PRESÉPIO 
de José Pinto Carneiro (arg) e Álvaro (des)


À VENDA 
NA LIVRARIA PEDRNOCHARCO PUBLICAÇÕES
AQUI!!!

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CATÁLOGO DA MOSTRA “60 ANOS DA HISTÓRIA DE PORTUGAL EM CROMOS” OFERECIDO EM FORMATO ePDF PELA BNP


CATÁLOGO DA MOSTRA 
“60 ANOS DA 'HISTÓRIA DE PORTUGAL' EM CROMOS” 
OFERECIDO EM FORMATO ePDF PELA BNP

Comece o novo ano com um ebook! A Biblioteca Nacional de Portugal oferece-lhe o Catálogo da Mostra "60 anos da História de Portugal em cromos", realizada de 3 a 31 de Outubro passado e organizada por Leonardo De Sá e José Manuel Mimoso. O Catálogo é em formato ePDF, e está disponível online AQUI até ao próximo dia 7 jan.


Capa do Catálogo da Mostra "60 anos da História de Portugal em cromos"
autores: João Manuel Mimoso; Leonardo De Sá
editor: BNP
ano de publicação: 2013
ISBN: test9789725655030
nº de páginas: 106
formato: ePDF

Catálogo da mostra patente na Biblioteca Nacional de Portugal (BNP), entre 3 e 31 de outubro de 2013, que assinala os 60 anos da primeira edição da História de Portugal em cromos (outubro de 1953): uma coleção de 203 cromos vendidos em envelopes-surpresa, que teve edições sucessivas até 1973.Para além da reprodução dos originais da capa da caderneta, de alguns cromos, de várias edições das cadernetas, dos respetivos envelopes-surpresa, e ainda de publicações que reproduziram ilustrações da coleção, o catálogo conta ainda com dois textos enquadradores, um sobre os 60 anos da História de Portugal em cromos, da autoria de João Manuel Mimoso, e outro sobre o ilustrador da mesma, Carlos Alberto Santos, da autoria de Leonardo De Sá. Sublinhe-se que a História de Portugal em cromos, hoje com um estatuto mítico nas memórias dos que a colecionaram durante os 20 anos em que foi vendida, constituiu o maior êxito da Agência Portuguesa de Revistas, conhecida editora no campo do cromo.

O formato ebook da mui nobre instituição “requer a prévia instalação do leitor Adobe Digital Editions (ADE) disponibilizado gratuitamente pela Adobe”.

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segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

JOBAT NO LOULETANO (138-139) ) – A LENDA DO REI RODRIGO por Jorge Magalhães – NA PISTA DE UM SONHO por José Batista


O Louletano, 2 | Junho | 2008

A morte do rei Rodrigo 
Mistério ou Lenda? (2)
Por Jorge Magalhães

Corria o mês de Julho do ano 711 e essa fatídica bata­lha – que Alexandre Herculano vigorosamente descreve no seu grandioso romance "Eurico, o Presbítero" – iria ficar na História como o último capítulo do reino visigodo da Península Ibérica, abrindo caminho a uma nova civili­zação hispânica, caldeada pela herança cristã e pela cultura muçulmana. Importante foi também o contributo dos judeus, residentes em grande número na Península mas perseguidos pelos cristãos, e da população mais humilde, sujeita à fome, às epidemias e à tirania dos poderosos, para esse rápido triunfo do Crescente islâmico.

Parece provável que Rodrigo tenha morrido na batalha, que correu mal desde o início, pois alguns dos seus aliados, antigos partidários de Vitiza, não hesitaram, no momento cul­minante, em abandonar as fileiras, deixando completamente desprotegidos os flancos do exército visigótico.

Mas a esmagadora derrota não significou o fim da re­sistência cristã, encabeçada por Pelágio, lugar-tenente de Rodrigo, que se refugiou com os últimos sobreviventes nos inexpugnáveis montes Cantábricos.

E foi certamente esse espírito heróico de resistência que perpetuou a lenda de Rodrigo, que teria escapado, como no mito sebastiânico de Alcácer-Quibir, ao funesto desenlace do combate para se ir esconder num sítio ermo, junto da costa (o Sítio da Nazaré, segundo a tradição), de onde partiu, tempos depois, para continuar a luta contra os infiéis... embora, como D. Sebastião, nunca mais tenha sido visto.

Com base nestes factos contraditórios e puramente lendá­rios, eu e o Augusto Trigo resolvemos construir uma versão diferente do trágico fim do rei Rodrigo, acrescentando alguns elementos fantásticos a uma história de contornos nebulosos que ainda hoje suscita controversos comentários – versão essa que foi publicada no Jornal do Exército, entre Abril e Novembro de 1985, e mais tarde reeditada, a cores, no 1° volume da colecção "Lendas de Portugal em Banda Desenhada", das Edições Asa.

Pela evidente relação entre acontecimentos separados por vários séculos mas que tiveram uma origem comum, esta história é uma espécie de prólogo de "A Luz do Oriente", desenhada também por Augusto Trigo e que os leitores deste jornal já conhecem.

Capas dos volumes 1 e 2 de Lendas de Portugal em Banda Desenhada (edições ASA)

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O Louletano, 16 | Junho | 2008

NA PISTA DE UM SONHO – 1
por: José Batista

Estamos em 1958, mais concretamente a meio da sua segunda metade. Quase no fim da metade anterior, um terramoto sem prece­dentes varrera o país de alto a baixo, tocando quase todas as faixas etárias da população portuguesa. E o detonador desse inesperado abalo telúrico foi Humberto Delgado, o "General sem medo", como a partir daí ficou conhecido. Uma simples frase, por si proferida, – "Demito-o, obviamente!" – como nos garante sua filha, Iva Delgado, rectificando a sequência das palavras proferidas por seu pai no Café Chave de Ouro, na noite de 10 de Maio, desse ano – restituiu ao povo português a esperança de uma pacífica mudança no caduco Estado Velho que há décadas nos desgovernava. O letárgico pesadelo de trinta e dois anos parecia ter os dias contados. Ledo engano, como a história contemporânea nos recorda. Quantas desilusões de lá até hoje? Mas o terramoto, esse, constatei-o pessoalmente no Liceu Camões, foi real!

Mas falemos de Augusto Trigo, a personagem principal desta "peça"; o acima narrado é apenas o cenário temporal que a emoldu­ra, em que ela transcorre. Como nos textos anteriores referimos, o futuro autor de BD continua na Fábrica de Fermentos Holandeses como ilustrador, e, simultaneamente, como caracterizador e cenarista na Sociedade Recreativa Cruz Quebradence, sendo esta última colaboração exercida como pura carolice, isto é, de borla, como a muitos artistas acontece!

No ano seguinte, 1959, Augusto Trigo iria à inspecção militar, cujo serviço nessa altura tinha a duração de 18 meses, na metrópole, o qual teria lugar no ano seguinte, 1960. Para qualquer jovem com emprego estável, como era o seu caso, esse interregno de ano e meio colidia com qualquer plano de estabilidade em termos meramente profissionais. Sabendo disso, um seu irmão residente na Guiné sugeriu-lhe que fizesse a inspecção nessa província, como então se chamavam as colónias portuguesas, pois que o tempo de serviço militar era, aí, de apenas três meses.

Sozinho, com a família mais chegada na Guiné, e com imensas saudades de sua mãe e irmãos – isto para não falar na diminuta extensão de tempo que aí lhe era exigida em comparação com a da metrópole – a ideia de aí cumprir o serviço militar achou guarida na mente do jovem Trigo. Comunicada à empresa de fermentos e licores, – e ao grupo de colegas dessa mesma empresa, que, na sociedade recreativa, eram sócios ou dirigentes –, a sua decisão de partir para a Guiné, tomou corpo, entre eles, a intenção de publicamente o homenagearem num final de espectáculo que na altura estava em cena. Essa manifestação de amizade e apreço pela sua desinteressada colaboração, caiu fundo no coração do amigo que os ia deixar, rumo à sua terra natal.

A despedida não fez parte do espectáculo, mas foi, antes e acima de tudo, uma genuína manifestação de carinho e simpatia. Foi de facto uma despedida em cheio, tal como o foi quando deixou a Casa Pia, no final da última refeição que partilhou com os colegas internos que o viram partir. Pode dizer-se que, por onde passou, Augusto Trigo nunca deixou portas fechadas.

Embarcou para a Guiné, – cuja viagem durou oito dias –, em Outubro de 1958, no cargueiro Ana Mafalda e, pela primeira vez em 13 anos, celebraria o Natal juntamente com a mãe e os irmãos. Porém, só 21 anos depois regressaria à metrópole para perseguir o sonho que desde miúdo o perseguia: as histórias aos quadradüihos!

Mas isso já será outra história! »»

Ilustração (Antula), de Augusto Trigo retratando um trecho da paisagem Guineense – Logró – feita na Guiné em 1979

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(continua)

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domingo, 29 de dezembro de 2013

Gazeta da BD #18 Na Gazeta das Caldas – As Aventuras de DogMendonça e PizzaBoy


GAZETA DA BD #18
NA GAZETA DAS CALDAS

Gazeta das Caldas, 27 de Dezembro de 2013

AS AVENTURAS DE DOGMENDONÇA E PIZZABOY
Jorge Machado-Dias, Director do BDjornal


Como escrevemos no “BDjornal” #29, a propósito de As Aventuras de DogMendonça e PizzaBoy, parece que a banda desenhada portuguesa, de repente, redescobriu a função de “puro entretenimento” (característica inicial deste meio de expressão), aliando um argumento de pura fantasia com um desenho de grande qualidade numa narração bem construída, com um ritmo de “cortar a respiração”. É verdade que já havíamos tido um começo deste tipo de ficções bem conseguidas quando, em 2006, no “BDjornal” #13, se iniciou a publicação de BRK, com argumento de Filipe Pina e desenhos de Filipe Andrade, publicação que durou no “BDjornal” até 2008, tendo sido depois recolhida em álbum pela Asa em 2009 – ano em que foi também publicada (pela Asa) uma outra obra com estas característias, Asteroïd Fighters, de Rui Lacas. Temos, já agora, que referenciar aqui também outra obra, na mesma linha, posterior a DogMendonça e PizzaBoy, o excelente O Baile, com argumento de Nuno Duarte e desenhos de Joana Afonso, publicado pela Kingpin Books em 2012 – que já referenciámos nestas crónicas.

Esta série de As (Incríveis, Extraordinárias e Fantásticas) Aventuras de DogMedonça e PizzaBoy, publicadas pela editora Tinta da China, começam quando Filipe Melo, um compositor português, professor de música e pianista de jazz, depois de uma incursão pelo cinema, começa a escrever a história mirabolante que lhe deu origem: um distribuidor de pizzas, Eurico Catatau, que não se dá muito bem com aquele emprego, vê-se perante o roubo da sua motorizada (instrumento essencial do seu trabalho), chegando à conclusão que tal roubo foi efectuado por uma... gárgula. Sim, aquelas esculturas fantasmagóricas de monstros que adornam as cornijas, para escoar as águas da chuva, nas catedrais medievais. É então aconselhado a contratar um “detective do oculto”, de seu nome João Vicente “Dog” Mendonça, um lobishomem investigador do paranormal, que tem como assistente uma menina de cerca de dez anos, que fuma que nem uma chaminé, mas que oculta no seu corpo um demónio com cerca de dois mil anos de idade e que dá pelo nome de Pazuul. A Gárgula, ou apenas a cabeça dela, será o contraponto cómico das histórias.

Assim, depois de no primeiro volume da saga, As Incríveis Aventuras de DogMendonça e PizzaBoy (2010), terem salvo o mundo de uma ameaça nazi, surgida no subsolo de Lisboa, com a reencarnação de Hitler, ele próprio, coadjuvado por uma série de demónios do sub-mundo, e de, em As Extraordinárias Aventuras de Dog-Mendonça e PizzaBoy II – Apocalipse (2011), terem evitado o Apocalipse com uma ajuda “desinteressada” da Senhora de Fátima, neste último volume, As Fantásticas Aventuras de DogMendonça e PizzaBoy III – Requiem (2013) vêem-se a braços com um inimigo vindo do passado que evocará recordações dolorosas para o próprio DogMendonça.

Esta última história termina (como as outras) em Lisboa, desta vez frente à Assembleia da República, quase completamente destruida pelos acontecimentos e depois, num epílogo comovente, assistimos ao funeral de DogMendonça, após quase 120 anos de vida...

Acescentamos que, como diz Pedro Cleto no seu blogue (asleiturasdopedro.blogspot. com), são histórias “onde se cruzam referências cinematográficas, literárias e dos próprios quadradinhos, em especial das décadas de 80 e 90, e onde nada nem ninguém é poupado (nalguns casos literalmente), de Hitler ao papa, passando pelo primeiro-ministro português, soube conquistar um público pouco habituado a encontrar na BD nacional propostas simultaneamente populares e de qualidade”.

Filipe Melo conheceu o desenhador argentino Juan Cavia num festival de cinema na Argentina, este conhecia Santiago Villa, o colorista destas histórias, e estava encontrada a equipa base desta realização.

Os dois primeiro livros vão já na 5ª e 3ª edições, respectivamente e a editora norte-americana Dark Horse, para além de ter editado o primeiro volume da série, encomendou aos autores quatro histórias curtas, publicadas na revista “Dark Horse Presents” #4 a #7 (2011) e reunidas depois num “one-shot” com o título The Untold Tales of DogMendonça and PizzaBoy, ainda inédita em português.


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sábado, 28 de dezembro de 2013

BDpress #395 – UM POLVO COM SEIS TENTÁCULOS


in Diário Digital, 27 de Dezembro 2013

UM POLVO COM SEIS TENTÁCULOS

Ao longo do ano, a Polvo editou obras fundamentais de qualquer biblioteca de BD. Aqui sugerimos seis, entre elas «O amor infinito que te tenho», de Paulo Monteiro, o livro de BD portuguesa mais traduzido no estrangeiro, «Morro da Favela», de André Diniz, e «Han Solo», de Rui Lacas, vencedor de vários prémios em Portugal em 2013.

«Três Sombras», de Cyril Pedrosa


«Joaquim vive despreocupadamente no seu mundo, juntamente com os seus pais. Mas, uma noite, com o sono a demorar, apercebem-se de umas sombras que parecem estar à espera de algo, na colina em frente à casa. Surgem sob a forma de três cavaleiros e desvanecem-se assim que alguém se aproxima.
Estas “coisas” estão ali por Joaquim.
Terá o seu pai razão ao querer afrontar o inevitável? A partir daqui inicia-se uma viagem singular, perigosa e comovente...
Uma obra terna e poética, premiada no Festival Internacional de Banda Desenhada de Angoulême (França)»

«Duas Luas», de André Diniz (argumento) e Pablo Mayer (desenhos)


«NILO, proprietário do Bar do Lourenço (de onde virá o nome?), está interessado em vendê-lo para se poder dedicar mais à sua amada Natali e à filha que está para nascer, fruto do amor de ambos. Mas as coisas não são assim tão lineares e enquanto a venda não se concretiza Nilo terá de enfrentar e resolver uma série de questões, tentando manter sempre a sua integridade imaculada. Bandidos, estranhos sonhos, insónias, mortes, clientes metediços e uma velha prostituta (iniciada na profissão pelo pai de Nilo), são alguns dos ingredientes desta intrigante história saída directamente da imaginação do prolífico André Diniz e habilmente desenhada pelo virtuoso Pablo Mayer»

«O Amor Infinito que te Tenho e Outras Histórias», de Paulo Monteiro


«Este é o primeiro livro de banda desenhada de Paulo Monteiro. Reúne um conjunto de histórias curtas efectuadas entre 2005 e 2010 e mostra de forma clara e concisa o percurso de maturação de um autor que vive intensamente as histórias que conta e desenha».

«Morro da Favela», escrito e desenhado por André Diniz, fotos de Maurício Hora


«”Morro da Favela”, escrito e desenhado por André Diniz, retrata as memórias do fotógrafo Maurício Hora, gerado e criado no Morro da Providência (Rio de Janeiro), também conhecido como Morro da Favela, a primeira favela brasileira, nascida em 1897.
É uma narrativa necessária para se entender o dia a dia das favelas do Rio através do ponto de vista de um morador, que procurou na fotografia a sua identidade e acabou por realizar um registo que entrou para a história da cultura carioca.
Esta obra confirma André Diniz como um dos mais interessantes autores da prolífica produção recente do Brasil.
Para a edição portuguesa o texto do livro foi revisto e acrescentado e foram convidados vários autores brasileiros de banda desenhada para darem a sua visão sobre o Morro da Favela. São eles: José Aguiar, Will, Marcelo Costa, Pablo Mayer, Magno Costa, Ricardo Manhaes e Laudo Ferreira»

«Ar Puro e Água Fresca», de Pero


«Filho de caçador, Joshua vê-se brutalmente órfão após o ataque à casa familiar por um grupo de índios. Terá então de aprender a sobreviver sozinho e a tornar-se adulto no ambiente vasto e rude das Montanhas Rochosas de meados do século XIX.
Nesta história, o autor coloca o seu traço elegante ao serviço de uma fábula inteiramente muda que conta a natureza selvagem dos grandes espaços e a natureza não menos frustrada dos homens.
Este é um western iniciático, trágico, com toques de humor, um romance que alia uma radicalidade gráfica e de argumento, que se mantém de uma extraordinária fluidez de fio a pavio, pois Pero escolheu o silêncio para deixar exprimir a força das ilustrações»

«Hän Solo», de Rui Lacas


«Ao abrigo do Programa Erasmus, Hän, um holandês, ruma a Lisboa para estudar. Depressa se ambienta às novas rotinas, acabando por arranjar casa, namorada(s) e trabalho, o que o leva a permanecer. Ficamos a conhecer, em flashes, a história pessoal de Hän (dádiva de Deus, em alemão) e as suas relações com personagens que surgem e desaparecem.
Mas nem tudo são rosas na vida deste fotógrafo freelancer, que ama o desenho e a pintura. Uma doença do foro mental aflige-o e circunstâncias várias acabam por levá-lo a Madrid, onde conhece um curioso grupo e acaba por ganhar um novo nome.
Nesta obra Lacas demonstra todo o seu amor por Lisboa, reproduz fielmente uma certa boémia do Bairro Alto e mostra estar atento ao momento de crise e tensão que atravessamos, retratando as manifestações recentemente ocorridas na capital espanhola, na qual nos conduz igualmente numa pequena visita guiada».

TODOS ESTES LIVROS (E MAIS ALGUNS) ESTÃO À VENDA 
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sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

BDpress #394 - MORREU O AUTOR DE BANDA DESENHADA JOSÉ ORTIZ – por José Carlos Francisco no Tex Willer Blog



MORREU JOSÉ ORTIZ 


JOSÉ ORTIZ MOYA (1932-2013)
Por José Carlos Francisco
(em Tex Willer Blog)

José Ortiz Moya, histórico desenhador (que dizia ser catalão e não espanhol), nascido em Cartagena (no antigo Reino de Múrcia) a 1 de Setembro de 1932, faleceu com 81 anos nesta última segunda-feira, 23 de Dezembro de 2013, em Valência.

O desenhador José Ortiz, um dos grandes nomes da banda desenhada ibérica e vencedor recentemente do “Premio Haxtur al autor que amamos“, prémio integrado no XXXVII Salon Internacional del Comic del Principado de Asturias e que mostra bem a consideração e estima que o decano desenhador tinha por parte dos seus admiradores, faleceu em Valência aos 81 anos de idade devido a um problema cardíaco. Ortiz, criador de personagens icónicos como Hombre, Burton, Cyb e também desenhador de Tex Willer, cujas edições continuam a ser publicadas em diversos idiomas através da Sergio Bonelli Editore, sentiu-se indisposto na semana passada e foi internado no Hospital Universitário e Politécnico La Fe de Valência, onde veio a falecer nesta última segunda-feira.

A propósito do falecimento de José Ortiz, Gianfranco Manfredi já confidenciou: “Acabei de tomar conhecimento somente agora desta triste notícia. “Não sou espanhol, sou catalão”, estas foram as palavras que me disse José Ortiz, quando o conheci, ao apresentar-se. Mágico Vento começou com ele. O seu traço forte parecia-me perfeito para o número 1. Desenhava com uma velocidade vertiginosa. Terminava um álbum em três meses. Sem ele não seríamos capazes de ser pontuais nos quiosques. Devo-lhe muito. Um grande.“

Resumir a carreira de um autor como José Ortiz em poucas linhas é uma tarefa praticamente impossível; de facto para se poder estudar como merece uma trajectória como a sua, requeria-se um livro, mas vamos tentar.

José Ortiz Moya nasceu em Cartagena em 1932. Irmão do também desenhador Leopoldo Ortiz, começou muito cedo a descobrir a sua vocação e ganhou um concurso de desenho realizado para a revista de banda desenhada Chicos em 1951. Nesse mesmo ano começou a trabalhar com a editora Maga, casa para a qual realizaria o grosso da sua produção durante a década de 50: séries como El Espia, Dan Barry el Terremoto ou Pantera Negra. Em 1958 realizou para as Ediciones Toray, Sigur El Vikingo, série que se converteu no maior êxito do início da sua carreira. O início dos anos sessenta marcou também o final da época dourada do tebeo (como os castelhanos chamam às revistas de banda desenhada) popular, o que motivaria que toda uma série de autores voltasse a sua produção para o exterior através de agências. Assim, Ortiz começaria a produzir material através da Bardon Art, principalmente para o mercado britânico.


1973 marcou um dos grandes pontos de inflexão da carreira de José Ortiz, ao começar a sua colaboração com a editora norte-americana Warren. A chegada à Warren do trabalho de toda uma frota de desenhadores “espanhóis” serviu para dar uma difusão internacional ao trabalho de autores/ilustradores como Luis Bermejo, Esteban Maroto, Leopoldo Sánchez ou José Ortiz. Estima-se que Ortiz realizou 119 histórias para a Warren, o que o converteu no desenhador mais profícuo da editora. Revistas como Eerie, Creepy, 1984, Rook ou Vampirella viram aparecer os seus trabalhos – entre eles destaca-se com um brilho próprio Los cuatro jinetes del Apocalipsis; obra que nos serve como exemplo do trabalho de José Ortiz para a Warren, pelo esplendor da sua técnica, vigor narrativo e o seu pessoal e espectacular estilo de “entintar” – aqui pode-se destacar a célebre técnica de “lâmina de barbear”, marca da casa também de outros grandes desenhadores como Dino Battaglia.


A etapa Warren do trabalho de Ortiz durou praticamente até 1981. Simultaneamente realizou também uma série de histórias com argumentos de Josep Toutain, que reproduziam a História de diversas lendas do “Faroeste” norte-americano, que se recompilaram em dois “tomos” sob a epígrafe Grandes mitos del Oeste, e que nos servem para realçar o grande carinho que Ortiz sempre teve pelo género western. A essa etapa pertencem também El pequeño Salvaje, história que contava com argumento próprio, os seus episódios da série El Cuervo e o seu trabalho com Tarzan – em que se destaca o vigor e a vitalidade que Ortiz deu à personagem.



1981 marcou o que é seguramente o ponto chave da carreira de Ortiz: O regresso ao mercado autóctone para realizar uma obra mais pessoal, coincidente com o início da sua colaboração com Antonio Segura (1947-2012). A primeira criação da dupla Segura-Ortiz foi Hombre, uma série de ficção científica próxima e pós apocalíptica que rompeu barreiras na sua época, pelo seu tom lúgubre e desencantado e pelo incrível grafismo de Ortiz, tanto na primeira etapa a preto e branco, como na posterior, colorida.


A assinatura Segura-Ortiz passou a partir de então a ser habitual nas revistas de banda desenhada de vários países durante os anos oitenta e na primeira metade dos anos noventa. Em 1983 embarcaram num projecto editorial próprio que publicou as revistas Metropol, Mocambo e K.O.Comics; Ives foi a série que criaram para a revista Metropol, uma história do género “noir”. No ano seguinte criaram essa obra-mestra denominada Las mil caras de Jack el Destripador, praticamente ao mesmo tempo rebaptizavam Ives como Morgan, uma “nova” série de 23 episódios, todos eles realizados a preto e branco.

Segura (1947-2012) e Ortiz (1932-2013)

Através de Selecciones Ilustradas, a agência de Josep Toutain, criaram em 1987 Burton & Cyb, série cómica e cósmica sobre as andanças de dois enganadores inter-galácticos que beneficiavam de uma cor luminosa e de toda a arte de desenhar de Ortiz na hora de criar e recriar mundos e seres alienígenas com inegável graça. Entretanto a revista Gran Aventurero ofereceu-lhes em 1990 a oportunidade de produzir Juan el Largo, obra composta por dois álbuns e que recuperou o espírito da aventura clássica mediante as andanças de um peculiar grupo de piratas nos mares das Caraíbas. Além do seu trabalho com Segura, Ortiz continuou a trabalhar, através da agência Norma, numa série de histórias para o estrangeiro: como episódios de Rogue Trooper ou Judge Dredd para a editora 2000ad britânica ou episódios para a editora norte-americana Eclipse.

O êxito internacional dos trabalhos da dupla Segura-Ortiz, unido à crise do mercado “espanhol”, fez com que a partir de 1990 produzissem o seu trabalho directamente para a indústria italiana. Desse modo criaram Ozono para a revista L’Eternauta, uma série do género “noir” com um alto conteúdo de denúncia ecológica, e But O’Brien, livro de cabeceira sobre um ex-boxeador metido a guarda-costas, publicado na revista italiana Torpedo. Chegamos então a 1993, ano em que se iniciou a relação de Ortiz com a Sergio Bonelli Editore. Como o próprio Sergio reconheceu, a ideia de convidar José Ortiz para realizar um dos seus Tex Gigantes já estava congeminando desde há vários anos, até que finalmente o conseguiu convencer. A partir desse momento José começou a trabalhar quase em exclusivo para a Sergio Bonelli Editore, realizando uma história em quatro partes, de Ken Parker e vários episódios de Mágico Vento, além de todo o seu trabalho em Tex, não esquecendo a história do detective do pesadelo realizada em 2012 para o Dylan Dog Color Fest nº 8...


Pode ler-se o resto do texto AQUI

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quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

ÀS QUINTAS FALAMOS DO CNBDI NO KUENTRO (26) – AMIGOS DO CNBDI (19) por José Ruy


ÀS QUINTAS FALAMOS DO CNBDI 
NO KUENTRO (26) 

AMIGOS DO CNBDI (19)
por José Ruy

Vou evocar a segunda sessão «Às Quintas Falamos de BD», no ano de 2012, e que focou as «Construções de Armar», tão populares até finais do século XX. Quase todos os jornais infantis da época inseriam nas suas páginas ou em separata, planificações de casas, veículos de terra e ar e figuras para serem coladas em cartolina e depois de recortados os módulos, armadas com cola sobre uma base.


Um dos trampolins de O Mosquito para se elevar ao patamar que alcançou, foi também sem dúvida (quanto a mim) as construções de armar. Houve vários autores a colaborarem n’O Mosquito, o próprio Tiotónio, mas quem se evidenciou com grande destaque foi o António Velez, irmão do Manuel Velez, que litografava as cores do jornal até me passar o testemunho ao partir para a África, em 1947.

Sempre dediquei uma boa amizade ao António Velez, pelo convívio permanente na redação/oficina/tertúlia de O Mosquito. Uns anos antes tinha ido à sua propriedade na Rinchoa, acompanhado de outro amigo, o Dâmaso Afonso, pois este pretendia fazer-lhe uma entrevista para o suplemento «Cuco» que dirigia num jornal regional.

António Velez (foto de Dâmaso Afonso)

Essa entrevista fora gravada em fita magnética com um pequeno gravador de grande alcance e que o Dâmaso colocou na sua algibeira superior do casaco. O som não era da melhor qualidade, pois a intenção era apenas de servir para depois passar a escrito o que havia sido falado. Tanto o Dâmaso como eu tirámos bastantes fotografias aos seus pequenos inventos, desde um hovercraft que chegou a movimentar-se a meio metro do chão, à adaptação de automóveis de um só lugar, para a serventia ao longo da propriedade. Também a curiosidade da sua própria casa que havia dezenas de anos construíra peça por peça, em madeira, talvez a sua melhor e mais ousada «construção» de armar.

António Velez no seu carro eléctrico (foto de Dâmaso Afonso)

De posse desse material e em colaboração com o Dâmaso Afonso preparei um PowerPoint de modo a podermos fazer uma justa homenagem a esse maior autor de construções de armar. Na sessão esteve também presente o primeiro impressor da célebre máquina de impressão de O Mosquito, o Manuel da Luz, filho do Manuel da Luz, e que mora na Amadora. 

Na minha opinião a grande qualidade do Velez foi a técnica como realizou as planificações que eram impressas no papel fino dos jornais. Portanto era indicado aos seus construtores colarem as folhas em cartolina. Estas eram adquiridas nas papelarias, para trabalhos manuais, com uma gramagem praticamente estandardizada. Então o Velez calculava rigorosamente as medidas do desenho das peças contando com a espessura que estas viriam a ter depois de coladas na cartolina.

Quem quisesse armar a construção utilizando o papel da publicação, não daria certo. Daí o seu grande êxito. Todas davam certo com as dobras e não havia qualquer dificuldade nas montagens.

A maioria dessas construções foi dedicada às casas regionais portuguesas, do Minho ao Algarve incluindo os arquipélagos, numa pesquisa séria e aturada, que o levou a pedir autorização ao arquiteto Raul Lino para utilizar algumas das suas criações.

O Carlos Gonçalves guardou uma completa coleção destas peças, tendo conservado algumas armadas. Depois de O Mosquito ter acabado, o Velez comprou uma máquina de Offset de pequeno formato e imprimia já em cartolina as construções, com grande saída, até por parte do Ministério da Educação, para trabalhos manuais nas escolas.

No debate que se seguiu à projeção do videograma com a voz do Velez, (o único registo existente) o José Garcês falou da sua experiência, nos anos 80, de ter feito também uma coleção das casas portuguesas nos mesmos moldes do Velez, editada pelas edições ASA, e monumentos como os Jerónimos, A Batalha e a Torre de Belém. Embora eu tenha levantado a questão do desconto da espessura da base, não consegui apurar se o Garcês também tem em atenção esse pormenor.

Mas em agosto de 2012, fez ele o desenho da construção de armar da «Sé da Guarda» editada pela «Agência para a Promoção da Guarda», e como não acompanhou o desenvolvimento do processo gráfico depois que entregou os desenhos, a entidade em questão achando que valorizava a obra, resolveu imprimir as nove folhas em cartolina fibrosa com meio milímetro de espessura, de tal ordem que ninguém consegue montar a construção, não só pela dificuldade em recortar peças muito pequenas, como merlões, mas porque a espessura não condiz com o desenho original. Os perímetros ficam acrescidos e não acertam.

É o inconveniente de deixar um trabalho entregue ao critério de pessoas menos qualificadas, por isso eu acompanho todos os meus trabalhos até à fase final, tanto na impressão dos livros como no caso da colocação de pinturas, quando estas são aplicadas em paredes.

Naturalmente que olhando para os títulos de algumas destas sessões do CNBDI, pessoas há que se têm questionado sobre, por exemplo, «o que é que as construções de armar têm a ver com Banda Desenhada». Esquecem-se de que as construções sempre estiveram intimamente ligadas aos jornais infantis, e estes são o maior e mais poderoso veículo da divulgação da Banda Desenhada. Mas voltarei a dissertar sobre esta questão, quando da próxima sessão do mês de Abril de 2012, que foi dedicada à «Guerra Colonial».

(continua)

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terça-feira, 24 de dezembro de 2013

BOAS FESTAS A TODOS OS LEITORES E AMIGOS... NO PRESÉPIO!!!

O Sol Invictus

BOAS FESTAS 
A TODOS OS LEITORES E AMIGOS... 

NO PRESÉPIO!!!

Nada melhor para desejar Boas Festas aos nossos amigos e leitores do que mais umas pranchas de NO PRÉSEPIO, de José Pinto Carneiro (argumento) e Álvaro (desenhos).

DIVIRTAM-SE!!!



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segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

JOBAT NO LOULETANO (136-137) – AUGUSTO TRIGO (FINAL) + A MORTE DO REI RODRIGO – MISTÉRIO OU LENDA? Por Jorge Magalhães



JOBAT NO LOULETANO (136-137)

O Louletano, 19 | Maio | 2008

O MENINO QUE RABISCAVA PAREDES – Final
por José Batista

A tarefa artística de Augusto Trigo na Fábrica de Fer­mentos Holandeses era bastante diversificada, pois abrangia desde rótulos para bebidas que essa unidade industrial também produzia – entre outros os Licores Mala Posta, com grandes anúncios luminosos sobre as águas furtadas nos prédios do Rossio, nessa época – a pinturas publicitando produtos para a panificação, inclusive de vários tipos de pão que utilizavam os fermentos dessa empresa.

Porém, o bichinho das histórias aos quadradinhos, como na altura se chamava a BD de hoje, já há muito fizera ninho no mundo interior do jovem artista da fábrica dos fermentos. Nas suas instalações, mormente no gabinete que lhe coube em sorte, as vinhetas ou esboços de futuras ilustrações coa­bitavam, paredes meias, com os rótulos e cartazes alusivos a produtos da empresa. Não às escâncaras, como é óbvio, mas com a conivente vigilância de colegas que o avisavam quando alguma inoportuna presença se aproximava. Aí, publicado numa revista de caça e pesca, "Diana", editada nesse tempo, encontrou num conto do Dr. João Maria Bravo o tema da primeira BD que faria, "O visitante Maldito".

Inserido num meio em tudo estranho ao que até aí estava habituado, as vinhetas projectavam-no no ambiente onde se sentia realizado, onde os seus sonhos se corporizavam, tomavam forma: a ilustração! Algures no tempo, a meta da sua aspiração seria alcançada e o sonho que acalentava se concretizaria: ilustrar BD. Vários jornais de quadradinhos coexistiam nos finais dos anos 50 – "O Mosquito", "O Diabrete", "O Camarada", "O Papagaio", entre outros – os quais editavam bastantes ori­ginais Portugue­ses. Pena foi que não tivesse tido, nessa época, al­guém conheci­do no meio que o apresentasse na redacção de uma dessas pu­blicações. Se tal tivesse aconte­cido, quantos originais seus não teriam enri­quecido as pági­nas das revistas juvenis desse tempo? Páginas que os leitores, ávidos de peri­pécias aventu­rosas – mesmo em histórias de continuidade – coleccionavam como tesouros inestimáveis.

Ilustração de Augusto Trigo retratando uma cena típica de costumes locais, feita na Guiné em 1965.

É um facto que Augusto Trigo só em 1980, aos 42 anos, publicou o seu primeiro trabalho de BD, mas também não o é menos de que desde logo se firmou como um dos valores genuinamente válidos que ultimamente animaram o panorama artístico desse género em Portugal. Quase se diria o último de alguns grandes nomes desse género – que alguns classificam de clássico – pelo estilo rico e simultaneamente belo que ca­racteriza os seus desenhos.

Usufruindo de um horário benevolente - saída às 17 horas - com meio sábado livre, Augusto Trigo começou a frequentar, na Cruz Quebrada, a "Sociedade Cruz Quebradence", lo­cal onde os seus dotes de cenarista foram solicitados para os espectáculos amadores de revista que essa sociedade recreativa levava à cena. Esse trabalho não era um género virgem para o jovem artista, pois que nas peças teatrais da Casa Pia esse serviço já era, na altura, por ele executado. Do elenco dessa revista constavam vários colegas seus da fábrica de fermentos, e esse grupo de amigos resolveu, pela longa distância entre a sociedade e a casa onde ele se hospedara, remunerá-lo de uma forma assaz singular: jantaria cada noite na casa de um deles, para que o tempo perdido nos transportes fosse utilizado na feitura dos cenários.

Porém não se ficou por aí a sua co­laboração com as artes cénicas na dita sociedade e em futuros espectáculos. Necessitados de um maquilhador, ei-lo disponível de pincéis e corantes em ris­te, pincelando rostos em lugar de telas, caracterizando as personagens que nas récitas amadoras intervinham.

Onde se prova que um artista não deixa de o ser por o suporte onde actua ser vasto e diversificado. ■

Vinheta da série incompleta "Turu-Bã", ilus­trada por Augusto Trigo na Guiné, em 1965.

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O Louletano, 26 | Maio | 2008

A MORTE DO REI RODRIGO – MISTÉRIO OU LENDA? – 1
Por Jorge Magalhães


As lendas e os contos populares, com o seu cariz alegórico e poético, são uma das expressões mais genuínas das nossas raízes étnicas, sociais e culturais. Tradições multisseculares, costumes primitivos, sentimentos imbuídos de profunda fé religiosa, feitos de nobreza e de bravura, relatos fantásticos entrelaçados com factos pitorescos, trágicas e românticas histórias de amor – tudo isso perpassa nas lendas portuguesas, caldeadas pelo folclore e pelo imaginário popular, que as transmitiram de geração em geração até aos nossos dias.

É difícil destrinçar os factos verdadeiros da fábula e das crenças que se enraizaram na alma colectiva, dando às lendas e aos contos tradicionais uma feição simbólica, que associa, com frequência, o contexto histórico a uma herança espiritual profundamente pagã, estendendo sobre "a nudez crua da verdade", como diria Eça de Queirós, "o manto diáfano da fantasia".

A história de Rodrigo, o último rei visigodo de Espanha, descende desse filão. Rezam as crónicas que os derradeiros anos desta monarquia semi-bárbara foram conturbados por rebeliões internas como a dos bascos e por uma ameaça ainda maior: o crescente poderio muçulmano no norte de África, onde algumas possessões cristãs, governadas por adeptos de Vitiza – o anterior soberano, destituído por Rodrigo num golpe de força –, prepara­vam também a sua queda.

Se Rodrigo se apaixonou ou não por Florinda, a bela filha do conde Julião, governador da praça-forte de Septum (a actual Ceuta), e se esse amor rejeitado esteve na origem das suas desavenças com o conde, são factos que pertencem mais ao domínio lendário que ao histórico. Mas muitas fontes admitem que Julião se aliou ao vali Musa Ibn Nusayr e a dois caudilhos berbe­res, Tarik e Tarif, planeando com eles a invasão da Península Ibéri­ca pelo estreito que, a partir dessa data, ficou conhe­cido pelo nome de Gibraltar (do árabe Djebel-Ta-rik, "a montanha de Tarik").

Enfraqueci­do pelas lutas fratricidas e pela deserção de muitos dos seus súbditos, amedrontados pela onda avas­saladora que atravessara o mar, Rodrigo reuniu precipitadamente as suas últimas hostes, decidido a travar combate com os in­vasores nas margens do rio Guadalete, perto de Cádis...


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LUZ DO ORIENTE
Jorge Magalhães (arg.) e Augusto Trigo (des.)



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