domingo, 30 de junho de 2013

COM O ZÉ DAS PAPAS (de Bordallo Pinheiro) 26 – DE REGRESSO ÀS CALDEIRADAS

Festival da Caldeirada de Setúbal, Junho 2013

O "Zé das Papas", de Raphael Bordallo Pinheiro

COM O ZÉ DAS PAPAS 26
DE REGRESSO ÀS CALDEIRADAS
Gazeta das Caldas,  de Juno de 2013

Embora a "aldeia" já seja glo­bal nada como utilizar os pro­dutos locais na época própria.

Por isso as caldeiradas, tal como as vejo, ainda são pratos de verão, com o tomate bem maduro, carnudo e sumarento e o que prefiro é o chamado coração de boi.

No resto do ano, na culinária portuguesa e na sua ausência, o tomate era substituído pelo pimentão doce, vulgo colorau. Hoje o problema do tomate já não releva, dados os métodos de conservação e transforma­ção disponíveis.

Por ser a época própria, volto ao tema das caldeiradas, que glosei na minha quarta "elaboração" para a Gazeta.

Há, na literatura gastronó­mica nacional, um livro da Colares Editora, da autoria de Carlos Consiglieri e Marília Abel que trata primorosamente o tema, incluindo-o noutro, mais geral, o dos comeres do mar da palha.

"Em tempos, não muito lon­gínquos, era obrigatório dividi-las em dois grupos distintos: as caldeiradas confeccionadas nas embarcações e as que eram feitas em terra, nos mais díspares locais, em demonstração de quanto as populações tinham o "mar" no seu imaginário, e como este as afectava directa ou indirectamente.

A grande diferença é que uma era toda preparada a bordo, com os amanhos feitos em água salgada, com excepção (como é evidente) da água doce com que se cozinhava, se porventu­ra esta fosse utilizada. Outras há que eram cozinhadas nos "sucos" dos produtos e ingre­dientes utilizados. Na fase de preparação, nas caldeiradas feitas a bordo, as batatas, as cebolas, o tomate, o alho e os cheiros eram lavados (bem lavadinhos) em água do mar, baldeada quando necessário para bordo". Os marítimos do Tejo iam à Ribeira Nova adquirir as tripas grossas (dos pei­xes), chamadas "caralhotes", desprezadas pelas varinas. Juntamente com o bucho, o fígado, as guelras da corvina e patarroxa confeccionavam [...] aproveitando tudo. Ao bucho retiravam o sangue pisado e lavavam-no na água do mar. O tamboril ia sem pele e sem dentes, cortando-lhe a cabeça aos pedaços.

Mas, as caldeiradas toma­ram diversos sabores e gostos, conforme as zonas do Mar da Palha, havendo de uma só espécie de peixe: enguias, fataças ou sabogas. Há opinião de que quanto mais variedade de peixe tiver mais saborosa fica, contudo, os fragateiros sabiam que ao longo do ano nem todos os peixes estavam disponíveis no rio, assim como os bivalves que, por vezes, entravam nas caldeiradas. A sardinha surge neste prato como um recurso. Para as de água salgada, outros pormenores se identificam nas caldeiradas dos embarcadiços como os alhos pisados e não cortados, a salsa muito pica­da, a pimenta exclusivamente preta e sempre azeite – só azeite. Também as técnicas de combinação ou de confecção – disposição dos ingredientes –, os tempos de cozedura e a forma de a fazer: umas em lume brando, até iniciar a fervura, para depois se deixar cozer em lume bem forte; outras com os produtos postos, à medida da fervura.

João Reboredo
joaoreboredo@gmail.com


Dois tipos de Caldeirada "à fragateiro"

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sábado, 29 de junho de 2013

BDpress #376: ESTREIA DO SUPER-HOMEM VALE 130 MIL EUROS - F. Cleto e Pina no Jornal de Notícias

Descoberta de exemplar da revista Action Comics #1
ESTREIA DO SUPER-HOMEM
VALE 130 MIL EUROS
F. Cleto e Pina no Jornal de Notícias

Um exemplar da revista Action Comics, com a estreia do Super-Homem, foi leiloada através do site ComicConnect, tendo sido vendida por 175.000 dólares (cerca de 130 mil euros). Este valor, apesar de bastante interessante, fica longe do recorde obtido por um outro exemplar desta publicação, em perfeito estado de conservação, que rendeu ao seu possuidor 1,6 milhões de euros há cerca de dois anos, tornando-a na mais cara revista de histórias aos quadradinhos de sempre.

O que torna mais significativa esta venda, é a rocambolesca história que está por detrás dela.

Tudo começou quando David Gonzalez, um empreiteiro norte-americano comprou por 7 600 € um terreno com uma pequena casa com o intuito de a restaurar. Quando começou a deitar abaixo as paredes interiores, descobriu que como isolamento tinha sido utilizado papel, encontrando no seu interior o tal exemplar da Action Comics #1, publicado há exactamente 75 anos, de que se supõe só existirem actualmente cerca de 100 dos 250 mil exemplares originais.

Uma breve pesquisa levou-o a pensar que poderia estar milionário, tendo entregue a publicação com a primeira história do Super-Homem, criado por Jerry Siegel e Joe Shuster, para o leilão que terminou esta semana.

A revista, considerada por muitos a mais importante da história dos comics norte-americanos, poderia mesmo ter atingido um valor próximo dos 190 mil euros, se um parente de Gonzalez não lhe tivesse feito um rasgão na contracapa, acidentalmente. Isso levou a que tivesse uma classificação de apenas 1,5 segundo o Certified Guaranty Company (CGC), uma tabela que varia de 1 a 10, utilizada para avaliar o estado de conservação e a raridade de publicações e também de moedas e notas. O exemplar vendido em 2011 teve uma classificação de 9,0.


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ENTRETANTO
O AGUARDADO FILME "HOMEM DE AÇO"
QUE RELANÇA A HISTÓRIA DO SUPER-HOMEM
estreou em Portugal na passada quinta-feira, 27 de Junho
Texto do Diário de Notícias

Esta adaptação da personagem da DC Comics, criada por Jerry Siegel e Joe Schuster, agora pela mão de Zack Snyder ("300", "Sucker Punch") teve uma resposta, na sua maioria, positiva.

Classificado como uma tentativa de modernizar e mostrar um lado mais maduro de Clark Kent, Andrew Pulver, crítico do jornal britânico "The Guardian" aponta-lhe falta de humor. O jovem Clark Kent luta interiormente para aceitar a sua verdadeira identidade e os poderes que lhe foram concedidos. Quando o vilão da história aparece com sede de vingança, o General Zod (Michael Shannon), Clark tem que salvar a Terra e tornar-se um símbolo de esperança para a Humanidade.

O filme conta no elenco com os actores Henry Cavill, Amy Adams, Kevin Costner, Michael Shannon, Laurence Fishburne e Diane Lane.


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sexta-feira, 28 de junho de 2013

NOVOS LIVROS NA LIVRARIA PEDRANOCHARCO ONLINE

NOVOS LIVROS NA LIVRARIA

O BAILE


Livro vencedor da 1ª edição dos Prémios Profissionais de BD 2013

1967. Incumbido de investigar relatos macabros sobre uma horda de pescadores mortos que voltam para apavorar uma pequena vila costeira, o Inspector Rui Brás, da PIDE, é enviado para impor a sanidade e o silêncio recomendáveis, a meses de uma importante visita papal.

Acometido por medos e dúvidas quanto ao rumo da sua própria carreira, Rui descobre que os relatos sobre a vila são bem reais e o horror bem palpável. Dividido entre um padre deslocado e resignado, e uma mulher desequilibrada acusada de invocar os mortos, o inspector acaba por entrar num “baile” de actos e consequências nefastas que poderá arrastar toda a vila para um desenlace trágico. 

Dois anos depois de “A Fórmula da Felicidade” (nomeado para 6 Prémios Amadora BD), NUNO DUARTE (Produções Fictícias) regressa com mais uma história repleta de emoção e surpresas, desenhada e colorida com o estilo inconfundível de JOANA AFONSO (vencedora do concurso Amadora BD 2011), o novo prodígio da BD portuguesa. 

Edição Kingpin Books. 
48 Páginas, cor, 26 x 18,3cm - € 12,00

Na Livraria Pedranocharco online (usados) com 23% de desconto: € 10,00

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MORRO DA FAVELA
de André Diniz


Edição/reimpressão: 2013
Páginas: 128 – formato 23 x 26,50 cm – a P&B
Editor: Edições Polvo
Preço € 16,85

Morro da Favela, escrito e desenhado por André Diniz, retrata as memórias do fotógrafo Maurício Hora, gerado e criado no Morro da Providência (Rio de Janeiro), também conhecido como Morro da Favela, a primeira favela brasileira, nascida em 1897.

É uma narrativa necessária para se entender o dia a dia das favelas do Rio através do ponto de vista de um morador, que procurou na fotografia a sua identidade e acabou por realizar um registo que entrou para a história da cultura carioca.

Esta obra confirma André Diniz como um dos mais interessantes autores da prolífica produção recente do Brasil.

OS AUTORES

André Diniz, 37 anos, é argumentista e desenhador de Banda Desenhada e autor e ilustrador de livros infanto-juvenis, tendo publicado, entre 2000 e 2012, 25 títulos, com os quais obteve 16 Prémios, designadamente para melhor roteirista, melhor graphic novel, melhor edição de quadrinhos, melhor site de quadrinhos, entre outros. Em 2012 ganhou o conceituado prémio HQ M/X, como melhor roteirista nacional e melhor edição especial nacional, através de Morro da Favela.

Maurício Hora é fotógrafo autodidacta. Nascido e criado no Morro da Providência (Rio de Janeiro), já expôs o seu trabalho no Centro Cultural José Bonifácio e no FotoRio. Em 2005, foi director de fotografia do projecto Favelité, que levou o cenário da favela para o Metropolitano de Paris e em 2009 foi convidado pelo fotógrafo francês JR para exporem juntos as suas fotografias sobre a Providência na Casa França Brasil.

O autor esteve recentemente em Portugal para a exposição O morro da favela e outras histórias, patente na Bedeteca de Beja, entre 12 de Janeiro e 28 Fevereiro 2013

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TRÊS SOMBRAS
de Cyril Pedrosa


Edição/reimpressão: 2012
Editor: Edições Polvo, Outubro 2012
268 págs. – Formato 16,50 x 23 cm
Preço € 18,00

O pequeno Joachim vive despreocupadamente e protegido do mundo pelos seus pais. Numa noite em que o sono não chega, observa sombras de três cavaleiros na colina oposta à sua casa. Estas visões, pressentimento de perda, estão lá só para ele. Louis, o seu pai, contraria-o e afronta o inevitável. Uma narrativa num cenário desestruturado desenhado com traços em espiral, em estilo escolar, a lapiseira e carvão. 
Um livro de banda desenhada, com 270 páginas, do autor francês Cyril Pedrosa, de 39 anos, autor de ‘Portugal’ (2012 LeYa ASA). ‘Três Sombras’ será apresentado no festival Amadora BD que contará com a presença do autor e uma exposição da sua obra. 
Prémio BD Angoulême - Les Essentiels 2008 
’Trois Ombres’ est un livre admirable. Un conte qui fascine, qui happe dès les premières pages.” 
BD Gest


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KASSUMAI
David Campos


Chili Com Carne
Kassumai (saudação Felupe)
uma palavra para designar: Liberdade, Paz e Felicidade...
3 companheiros, 6 meses numa O.N.G., 30 e muitas etnias, 1 nova grande família, milhões de sorrisos, muitas tabancas e estradinhas de areia...
116 págs. – formato 23 x 16,5 cm – impressas a castanho escuro, capa em cartolina com badanas
Preço: € 10,00


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MESINHA DE CABECEIRA #25


Capa de Dr. Uránio 
BDs de Marcos Farrajota e Davi Bartex 
Design: Joana Pires 
Edição MMMNNNRRRG 
40págs. – formato A5, capa a cores 
Preço € 4,00

Este novo Mesinha de Cabeceira, que ainda recentmente comemorou 20 anos de existência, faz uma continução da fórmula do número anterior, desta vez com Farrajota a duplicar as páginas para contar histórias sobre apartamentos e instituições públicas de Lisboa, ou melhor sobre os seus abandonos e decadências.

Este é segundo capítulo do “Desobediência é um artigo de colecção”, trabalho de Farrajota desenvolvido numa residência artística na Finlândia. O convidado Bartex é francês, tendo residido em Lisboa durante algum tempos nos príncipios do milénio tendo feito esta BD que andou perdida uns 10 anos. Bartex é conhecido pelos seus encantadores e monstruosos trabalhos de animação de rua – e também andou nas míticas tournês de barco feita dos Mano Negra pelas costas africanas e sul-americanas.



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CRU
Revista Rasca e Vadia
CRU... A REVISTA DA BOLINHA VERMELHA
CULTURA PELINTRA PARA LEITORES SOFISTICADOS

Nº 49 - ESPECIAL ÓDIO

Casa de nomes como Esgar Acelerado, Rui Ricardo, Eduardo de Portugal, Helen Gossip, Emerenciano Osga, Mário Moura, Randy Alvey ou Cunha Rêgo, entre muitos outros, a CRU, Revista Rasca e Vadia, foi o fanzine mais representativo do no-design e do do it yourself português durante a década de 1990. Com tiragens que não ultrapassavam os 100 exempla­res, a CRU é hoje um valioso objecto de colecção, que agora se (re)introduz a uma plateia mais vasta. No limbo desde 1999, a CRU regressou aos escaparates em 2012, mais Rasca e Vadia de que nunca, com antigos e novos colaboradores. A edição de 2013, n.° 49, alarga o seu número de colaboradores para a meia centena, entre ilustração, banda-desenhada, contos, poesia, entrevistas e discos.

PARTICIPAM NESTA EDIÇÃO:
Daniela Alves, Isabel Lhano, Laro Vilas Boas, Marcos Farrajota, Amílcar Macieira, Álvaro Silveira, Anoik, Rios Albertino, Zita Carícias, Bruno Debrum, Julieta dos Prazeres, Horácio Frutuoso, Rosa Feijão, A. Sugadita, Helena Rocio Janeiro, Astromanso, Clemente Migalha, Rita Mendes, Alice in Goreland, Zbigniev Koniek, Afonso Ferreira, Sebastião Peixoto, Sandra Gavinhos, Jeremy Eaton, Zé Burnay, Paulo Gasconha, Wasted Rita, Rudolfo, Iriemoteo Suspiro, Jefferey Zaun, Rui Vitorino Santos, Rosário Pinheiro, Bárbara Fonte, Esgar Acelerado, Lord Mantraste, Susana Carvalhinhos, Leonor Zamith, Joana Ray, Cátia Vidinhas, Valter Hugo Mãe, Tiago Lourenço, Lara Luís, Valquiria Aragão, Balbina Bagina, Francisco Ribeiro, João Oliveira, Emerenciano Osga, Madame Lydia, Tiago Araújo e Heymikel.

INCLUI:
Crurreio, Banda Desenhada, Ilustração, Filmes Que o Tempo Esqueceu, Cancioneiro Popular, Contos, Tijuana Bibles, Quentin Tarantino, Crónicas, Os Cartoon Jumbles de Jeremy Eaton, Poesia, Pornografia, The Dirty Coal Train, ódiário, Entrevistas, Cantinho Sentimental, The Maharajas, Discos, Horóscopo.

Suplemento a cores de 4 páginas: "Almanaque XXX do Tio Putinhas", de Walt Esgar.

O MELHOR DA CULTURA RASCA E VADIA NUMA PUBLICAÇÃO ÚNICA!

16,50 x 23 cm – 68 páginas – € 5,00



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quinta-feira, 27 de junho de 2013

ÀS QUINTAS FALAMOS DO CNBDI NO KUENTRO (13) — AS EXPOSIÇÕES (7) — BDs DE ABRIL e o texto AMIGOS DO CNBDI (10) de José Ruy


ÀS QUINTAS FALAMOS DO CNBDI (13)
AS EXPOSIÇÕES (7)
BDs DE ABRIL
NOS 30 ANOS DO 25 DE ABRIL

O CATÁLOGO


  
  
  
  
  
  

  
  
 e etc...

Foi também editado o nº 1 do Boletim do CNBDI


Comissários
João Miguel Lameiras João Paulo Paiva Boléo

Coordenação Editorial
CNBDI - Cristina Gouveia

Produção
CMA/CNBDI

Apoio
Centro de Documentação do 25 de Abril da Universidade de Coimbra

Textos e Selecção Documental
João Miguel Lameiras João Paulo Paiva Boléo

Produção Gráfica
Estrelas de Papel, Lda.

Capa
Sobre Ilustração de Urs Landis, publicada no dossier Recherche do jornal Record, 1975 Paris

Sugestão de Catalogação: BDs de Abril, Amadora 2004

BDs de Abril: exposição 22 de Abril a 1 6 de Julho de 2004 / Centro Nacional de Banda Desenhada e Imagem; [Introd.] Joaduim Moreira Raposo [pref.] Maria João Bual Salvado- 1a ed. - Amadora: Câmara Municipal. CNBDI, 2004. - 48 p.: II. ; 27 cm. ISBN: 972-8284-34-9

Comissão Executiva

Cristina Gouveia (coordenação), Nelson Dona, Eduardo Conceição, José Eduardo Ferreira, Lígia Macedo e Rosário Teixeira

Cenografia
Sandra Magalhães

Agradecimentos
Anne Clement Boaventura Sousa Santos João Ramalho Santos Jorge Zentner José Carlos Fernandes Natércia Coimbra e a todos os autores que cederam material para a exposição

ALGUMAS FOTOS 








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AMIGOS DO CNBDI - 10
José Ruy

Ainda sobre o polémico (quanto a mim) «Parque BD Maurício de Sousa» na Amadora, posso tecer mais algumas considerações. A minha opinião é que esta arte narrativa (Banda Desenhada ou Histórias em Quadrinhos) não está circunscrita a fronteiras estanques, é internacional e praticamente entendida em qualquer língua, quase sem precisar da clássica tradução das legendas. Por isso fico satisfeito por a «Mônica» e a sua «Turma» terem presença na Amadora. Também gostei que o meu trabalho fosse bem recebido no Brasil, tanto no Rio de Janeiro em 1989 como em Belém do Pará, na Amazónia, em 2009 no grande Hangar dos Congressos ombreando com Maurício de Sousa. Mas uma coisa é ser-se convidado e outra é tomar o lugar que por direito devia ser ocupado pelos nacionais.

No entanto mantenho a esperança de que o meu amigo Maurício de Sousa tenha um gesto nobre, peculiar dos grandes homens (não homens grandes) e quando receber esse espaço emblemático onde funcionou durante tantos anos (os melhores?) o Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora, convide para um dos «seus» pavilhões, as personagens também emblemáticas de «Zé Pacóvio & Grilinho» do nosso Tiotónio.

Será uma honra para os amadorenses e para todos os fans da BD do resto do país, assistir a esse generoso gesto que os da terra não fizeram, por desconhecimento ou distração.

E a propósito dessas desconsiderações caseiras, não resisto a contar em primeira mão um episódio passado comigo e que revela bem a classe de quem cai de paraquedas neste mundo das Histórias em Quadrinhos.

Depois da importante exposição do trabalho de Eduardo Teixeira Coelho em 1998 no Festival da Amadora, haviam projetado, à minha revelia, fazer no ano seguinte uma exposição minha. Não concordei pois poderia parecer querer igualar-me ao nível do grande Mestre e decidi que isso só aconteceria alguns anos depois, se viesse a acontecer. Entretanto calhou ao Augusto Trigo expor os seus trabalhos de Quadrinhos e pinturas. Estipulara-se que o autor exposto faria parte do júri para atribuir os prémios dos concursos juvenis da modalidade e dos livros lançados nesse ano no Festival. O Augusto Trigo não gosta de ser jurado e pediu-me que tomasse o seu lugar. Embora também não me agradasse ter de decidir sobre a obra de alguém, não podia negar o pedido a um colega e amigo. Acedi, até porque nesse ano não tinha nenhuma obra minha a concurso. Fazia parte da «equipa» de trabalho, entre outros, um elemento com quem havia tropeçado negativamente uns anos antes, sem o conhecer de lado nenhum e que pondo-se em bicos de pés para se destacar, resolveu usar processos nada ortodoxos nem dignos, o que me levou a denunciar o facto, tornando-o, e a outro seu parceiro, personagens num livro meu publicado na altura. Como nunca os tinha visto resolvi dar-lhes a estatura moral demonstrada, e desenhei-os como «anões» e peço publicamente desculpa às pessoas com este problema, de os envolver na «brincadeira».

No nosso trabalho como júri fomos eliminando as obras que por comparação se iam tornando menos boas e no final da escolha ficámos com dois títulos. Nessa fase, o júri por norma vai justificando o seu voto a favor ou contra, explicando os seus motivos e esse elemento de que falo, referindo-se a um dos livros, disse que votava contra e explicou que não o tinha visto nem lido (era de BD) mas que «deveria ser igual aos outros que o autor tinha feito antes».

Calculo a expressão facial de quem me lê, e podem calcular a minha na altura. «O que o berço dá a tumba leva» ou «Quem torto nasce tarde ou nunca se endireita» são dois sábios ditados populares que se aplicam a este caso. O «rapazito» não crescera nem melhorara as suas manobras. Uma apreciação cabalar que esses dois haviam escrito em 1996 sobre trabalho meu e denegrindo as editoras onde publico insinuando que deixassem de o fazer, resolveram recentemente voltar a publicá-la como coisa atual servindo-se abusivamente de um site da Bedeteca de Lisboa (antes de esta se extinguir) como se eu não tivesse publicado mais nada desde então, ignorando os 10 novos títulos. Ditam uma opinião, fazem dela lei e tornam-se os ditadores dos criticastros. Não precisam ver nem ler para votarem contra, porque para eles é tudo igual.

Desde essa altura resolvi não entrar em mais nenhum júri. Fiquei vacinado.

Naturalmente que esta «história» daria para ser contada pormenorizadamente em longas linhas de escrita, e sabem que nunca afirmo nada sem ter em mão documentação fidedigna para provar. Pode ser que um dia calhe.

As Histórias em Quadrinhos vivem de vilões e de heróis, de honestos e desonestos em confronto. O Dr. Varatojo, meu amigo de muitos anos, dizia que o que mais apreciava nos desenhos, era a identificação das personagens, em que o mau se nota à légua e o bom se distingue dos demais.

Nestes casos prefiro os que abertamente mostram o seu cinismo, pois a cara não engana e posso encará-los e enfrentá-los sem necessidade de lhes retirar a máscara.

Por isto que vos conto mostro a minha apreensão pelo aparecimento de certos paraquedistas a pousar no campo das decisões e a decidir sem conhecimentos de base, fazendo da asneira um pedestal para colocar sob o que mais lhes convirá na altura elevar.

Mas estes escritos são sobre o CNBDI e espero que este baluarte não seja atingido por tal praga.

E como sobre isso há ainda alguma coisa para contar, vamos conversando.

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