terça-feira, 31 de julho de 2012

BDpress #360: PASTISHES – BLAKE E MORTIMER VIRADOS DO AVESSO – EURICO DE BARROS NO DN



QUOCIENTE DE INTELIGÊNCIA
Ano 1. Numero 46. Sábado, 21 de julho de 2012 
'Q:' é um caderno cultural semanalmente publicado aos sábados com o 'Diário de Noticias'. Os títulos, pós-títulos, legendas, notas de rodapé e destaques dos textos publicados são da exclusiva responsabilidade da Redação do DN. Em 2012 recebeu o prémio de excelência do European Newspaper Award. 
Edição: Pedro Tadeu, Nuno Galopim e Ricardo Simões Ferreira 

BLAKE E MORTIMER DO AVESSO

A magistral dupla criada por Edgar P. Jacobs é homenageada numa nova série humorista que é capaz de deixar os puristas irritados, mas sem razão. As Aventuras de Philip e Francis, que vai no segundo volume - e com um terceiro a caminho -, tem qualidade para subir ao panteão dos grandes parodiadores da Nona Arte. Uma leitura muito recomendada para quem procura algumas valentes (e inteligentes) gargalhadas. Pág. 9.

Mais histórias na História das personagens de Tinti

Depois do sucesso do primeiro volume, lançado há um ano e que vendeu 250 mil exemplares, as revistas francesas Le Point e Historia voltaram a associar-se para publicar o volume dois de Les Personnages de Tintin Dans L’Histoie. O primeiro álbum analisava as dez principais personagens do universo de Tintin em tantos outros álbuns, e os acontecimentos que os inspiraram. Este segundo álbum foca uma série de personagens secundárias emblemáticas de Tintin (incluindo o "nosso" Oliveira da Figueira) noutra série de álbuns assinados por Hergé e os momentos históricos com que estão relacionadas, desde a era dos gangsters em Chicago ate à conquista do espaço, passando pela Guerra Fria e pela revolução cubana. Todos os textos são, mais uma vez, assinados por historiadores, por especialistas em história, em banda desenhada e em Tintin e na obra de Hergé.

Vários Autores 
'Les Personnages de Tintin Dans L'Histoire, Vol. 2' 
Le Point/Historia 
PVP 10,90 euros

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BLAKE E MORTIMER VIRADOS DO AVESSO 
Por Eurico de Barros 

A banda desenhada está cheia de 'pastiches', que costumam ser uma forma de homenagem entre autores. Blake e Mortimer, as magistrais criações de Edgar E Jacobs, são alvo da paródia de Nicolas Barral e Pierre Veys em dois álbuns de as 'As Aventuras de Philip e Francis' 

Se, como se costuma dizer, a paródia é a forma suprema da homenagem, então o desenhador Nicolas Barral e o argumentista Pierre Veys, autores da série de banda desenhada (BD) As Aventuras de Philip e Francis, que parodia as aventuras dos "monstros sagrados" Blake e Mortimer, criação de Edgar P. Jacobs (retomada por outras equipas após a morte deste, em 1987), podem desde já subir ao panteão dos grandes parodiadores da Nona Arte. Os dois álbuns de Philip e Francis publicados até agora, Ameaças ao Império e A Armadilha Maquiavélica, trazem em epígrafe a seguinte nota dos autores: "as personagens Philip e Francis inspiram-se muito livremente em Philip Mortimer e Francis Blake, os inesquecíveis heróis criados pelo genial Edgar P. Jacobs, a quem muito respeitosamente dedicamos este álbum."

E da leitura dos dois álbuns deduzimos que, longe de serem dois pobres toscos, Barral e Veys são uma dupla talentosa e profundos conhecedores e apreciadores da genial obra de um dos maiores autores da história da BD, contemporâneo, amigo e colaborador de Hergé, e expoente da "linha clara", estando totalmente familiarizados com o universo, o estilo, a estética, a identidade, os ambientes, a ideologia e os códigos narrativos das aventuras de' Blake e Mortimer, com a personalidade e o traço de Edgar P. Jacobs, e com as características e a psicologia dos dois heróis de clássicos como A Marca Amarela, O Enigma da Atlântida ou S.O.S. Meteoros. Só assim eles poderiam tê-los virado do avesso e passado ao fino crivo da paródia com tanta pertinência e competência, tanto sentido de humor (entre burlesco e nonsense) e prazer.

Os puristas poderão ranger os dentes, bufar, esbracejar e alegar sacrilégio, porque não têm razão. Seria legítimo fazerem-no se a paródia não fosse conseguida. Mas é-o, total, desopilante e jubilatoriamente, quer em Ameaças ao Império quer em A Armadilha Maquiavélica. (Esta dupla de autores é também responsável por outro pastiche de muita qualidade, Baker Street, em que a "vitima" é Sherlock Holmes, e cuja conceito e tipo de humor transportaram para As Aventuras de Philip e Francis).

Philip é inteligente mas infantil e desastrado, e tem um problema de peso. Francis ainda vive com a mãe, tem fantasias heroicas e é um mulherengo inveterado. Olrik é um vilão ridículo e muito pouco eficaz, cujos incompetentíssimos capangas são a vergonha do mundo do crime, e todos evoluem por uma Inglaterra semelhante às dos verdadeiros Blake e Mortimer, mas cujos tiques, idiossincrasias, atmosferas e manias nacionais são igualmente parodiadas sem dó nem piedade e voltadas de pernas para o ar sem qualquer cerimónia. 

Ameaças ao Império
por Pierre Veys e Nicolas Barral.
Gradiva, 13,63 euros 


A Armadilha Maquiavelica
por Pierre Veys e Nicolas Barral
ASA, 13,95 euros 














No primeiro álbum, Ameaças ao Império, Philip e Francis enfrentam uma tão súbita quanto estranha e inexplicável revolta do mundo feminino, que, de tão chocante, abala a ordem e os fundamentos da sociedade inglesa. E no segundo volume, A Armadilha Maquiavélica, os dois amigos veem-se transportados para uma Inglaterra paralela (por exemplo, a Marks & Spencer virou Spencer & Marks) onde travam conhecimento com os seus duplos e na qual Olrik é o primeiro-ministro e vai casar-se com a rainha, e Winston Churchill é um super-herói (com uniforme, identidade secreta e tudo) que combate o malvado coronel. 

Além de brincarem com a série original, muitos dos gags, das piadas visuais, das piscadelas de olho e das cotoveladas que encontramos nas duas histórias de Philip e Francis remetem para o cinema, desde os filmes de Brigitte Bardot aos de Louis de Funés (1), passando pelos clássicos franceses dos anos 30 e 40 e até pelas fitas de artes marciais. E o elemento de ficção científica, fulcral em quase todas as aventuras de Blake e Mortimer, encontra-se também presente e ativo nas de Philip e Francis, embora num registo cómico consistente e bem loufoque. Está já anunciado um terceiro tomo desta paródia "oficial" (porque autorizada pela editora e pelos detentores dos direitos das aventuras dos dois heróis de Edgar P. Jacobs). O título promete, desde já: La Marque Jaune Contre Godzilla


(1) Louis de Funés (1914-1983) - grande ator cómico francês de origem espanhola, protagonista de filmes como A Grande Paródia (1966), O Pequeno Banhista (1968) ou As Aventuras do Rabi Jacob (1973).


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segunda-feira, 30 de julho de 2012

JOBAT NO LOULETANO – 9ª ARTE – MEMÓRIAS DA BANDA DESENHADA (LX e LXI) –JOSÉ PIRES, DESDE MUITO NOVO, O INTERESSE PELA BD (4), por Jobat + MORREU E.T. COELHO...


Ilustração de Eduardo Teixeira Coelho


9ª ARTE
MEMÓRIAS DA BANDA DESENHADA
(LX - LXI)

O Louletano, 24  Maio 2005 

JOSÉ PIRES: DESDE MUITO NOVO
O INTERESSE PELA BD – 4 

Sente-se muito bem na sua condição de alentejano - detalhe que faz sempre questão de vincar, aqui ou no estrangeiro - não se chateia com as anedotas que se contam sobre os alentejanos (acha mesmo que elas são estúpidas apenas para os não alentejanos as perceberem) e adora a cozinha, a paisagem, os costumes e as gentes do Alentejo.

E completamente isento de peneiras e não sofre de narcisismo de nenhuma espécie, tendo-lhe custado imenso ter sido homenageado (é de opinião de quem não publicou pelo menos mil pranchas não merece homenagem nenhuma - ele só publicou trezentas) na 15" Jornada Internacional de Banda Desenhada - Sobreda BD 96, no dia 16 de Março de 1996 no qual foi agraciado com o troféu Sobredão.

Entre as várias pranchas originais expostas, José Pires apresen­tou uma história de duas páginas feita especialmente para este fes­tival, baseada num tema sobre Timor, O Massacre de Santa Cruz.

Ultimamente, de parceria com Jorge Magalhães, tem editado vários franzines, como o Fandaventuras, o Fandwestern e A Má­quina do Tempo, reeditando histórias de antigos heróis, algumas delas nunca antes publicadas em Portugal.

Com vista a publicação futura, está elaborando uma história Nos Tempos de Viriato e uma série de BD para adultos destinada ao mercado franco-belga.

Profissional credenciado na área da BD, damos seguida­mente a palavra ao autor, cujas considerações, fruto da sua larga experiência, serão sem dúvida úteis aos possíveis can­didatos a uma arte tão cativante, mas tão árdua, como o são as histórias aos quadradinhos. José Batista

JOSÉ PIRES E A BD

Deixem que me apresente. O meu nome completo é José Augusto Direitinho Pires e sou alentejano, de Elvas 10/10/1935. Faço BD desde que me conheço e, neste campo, consegui obter algum conso­lador sucesso.

O meu curriculum vitae já foi várias vezes publicado, pelo que penso não valha a pena repeti-lo. Não tenho nenhum balofo auto convencimento ou orgulho especial no que já fiz, mas também não me envergonho do meu passado nem sinto que tenha algo a renegar.

Tenho alguma recon­fortante tranquilida­de naquilo que sou e no que fiz, e embora não me considere génio algum, tenho a convicção, perdo­em-me a imodéstia, de me situar a uma distância mais ou menos equivalente da de ser uma com­pleta nulidade. Portanto, as mi­nhas preocupações concentram-se muito mais naquilo que vou ainda fazer embora as minhas perspectivas no futuro não sejam já muito amplas, pois a hora em que vou ter de encerrar a carreira não vem muito longe. Mas enquanto dura, vida doçura!

Assim, em vez de falar de mim e do que já fiz ou pretendo fazer, gostaria de enviar algumas palavras de incentivo a todos aqueles que também desejam enveredar pela carreira da BD. E também alguns conselhos, permitam-me o desplante, pois já me sobra alguma experiência e isso pode ter utilidade a quem tem mais tempo de actividade pela frente do que aquele que ainda me resta. Em primeiro lugar, nunca se esqueçam que BD é uma forma de linguagem para contar qualquer coisa por imagens. Paradas. Se tivessem movi­mento, estaría­mos a falar de ci­nema. Também não confundam BD com ilustra­ção, pois são lin­guagens diferen­tes. Na ilustração não se pretende contar história al­guma mas sim vi­sualizar um con­ceito, fazendo dele uma síntese figu­rada, tudo numa única imagem. Ora a BD não é nada disso.

 Osvaldo Macedo de Sousa, Carlos Almeida (GICAV), José Pires, José Garcez

José Pires, Luís Diferr, José Ruy e João Amaral (foto no almoço do 80º aniversário de José Ruy)

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O Louletano, 7 a 13 de Junho 2005 

MORREU E.T. COELHO 

No passado dia 1 faleceu em Florença o decano e mestre da ilustração e BD portuguesas, Eduardo Teixeira Coelho. Nada fazia esperar tal desenlace, mas a morte de sua esposa – Gilda Teixeira Coelho poucos meses antes, deve ter abalado o coração daquele bom gigante de 83 anos.

Conheci-os a ambos, em Florença, nos anos oitenta. Foi graças à intercessão de Gilda que ETC, tímido como todos o reconheciam, acedeu a encontrar-se com o patrício que de tão longe o fora visitar. Poucos ilustradores influenciaram como ele, nas décadas de 40/50, os candidatos a desenhadores de BD que se maravilhavam coma sua obra publicada no bissemanario "O Mosquito". A banda desenhada portuguesa, embora moribunda, está de luto com o seu desaparecimento. Aqueles milhares – que, como eu – conheceram e acompanharam a publicação das suas magníficas iliustrações, sentem a sua perda de um modo muito especial, como se fora um chegado familiar, tal a lembrança em nós impressa nos melhores anos da nossa meninice, semana após sema­na, nos qua­se 10 anos em que a sua produção foi mais no­tória e inten­sa, nas pági­nas desse jornal.

Com o fim de "O Mosquito", em Feverei­ro de 1953, não foi fácil em Portugal a sua vida como ilustrador. Após colaborar com algumas editoras inglesas, o grosso da sua obra internacional foi publicada em França, através do jornal "Vaillant". Há bastantes anos radicado em Itália, aí desenvolveu um notório trabalho de pesquisa referente a trajos, navios, armas e armaduras, da época medieval e renascença.

Embora acostumados que estávamos, à sua ausência nesse país, a inesperada partida de ETC certamente chocará os muitos admira­dores da sua obra, Todavia, a sua arte, aquela que embalou as melhores ilusões da nossa longínqua infância, continuará perene, perpetuando a sua recordação através da graciosidade e beleza das suas ilustrações.

Após a publicação da presente série de José Pires (O “Perro Negro”), daremos à estampa um trabalho do grande mestre agora desaparecido.



Da esquerda para a direita: Dâmaso Afonso, Alberto Teixeira Coelho (que não sabíamos quem era e foi identificado por José Ruy) a ouvir atentamente o que dizia o irmão Eduardo Teixeira Coelho. Atrás, em pé, José Ruy e José Garcês. Em primeiro plano, Baptista Mendes. Esta foto, obtida na velha Fábrica da Cultura, durante o XI Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora’2000, pode considerar-se histórica, uma vez que foi a última vez que ETC esteve no Festival da Amadora e em Portugal – viria a falecer em Florença em Maio de 2005. Refira-se que esta foi também a última edição do FIBDA na Fábrica da Cultura, passando no ano seguinte para a Escola Intercultural da Amadora. Foto Arquivo Pedranocharco.

Pedro Massano, José Ruy e Eduardo Teixeira Coelho. 
Festival de BD da Amadora de 2000, 
durante o lançamento do livro A Arte de Bem Navegar, de Teixeira Coelho, 
no Monumento aos Descobrimentos, em Belém.

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PERRO NEGRO
Benoit Despas (arg), José Pires (des)


 


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domingo, 29 de julho de 2012

HÄN SOLO DE RUI LACAS JÁ ESTÁ NA LIVRARIA PEDRANOCHARCO ONLINE – COM OFERTA DE DOIS LIVROS – PROMOÇÃO DE VERÃO


HÄN SOLO
DE RUI LACAS 
JÁ ESTÁ NA LIVRARIA PEDRANOCHARCO ONLINE
COM OFERTA DE DOIS LIVROS
COMO PROMOÇÃO DE VERÃO

Já está na livraria Pedranocharco online, o novo livro de Rui Lacas, Hän Solo, lançado no recente Festival de Beja. Iniciamos também uma promoção de verão: pela compra de qualquer livro, oferecemos a BDVoyeur #2 e Portefólio, de José Abrantes. 
Comprem livros!!! 



O LIVRO 

Ao abrigo do Programa Erasmus, Hän, um holandês, ruma a Lisboa para estudar. Depressa se ambienta às novas rotinas, acabando por arranjar casa, namorada(s) e trabalho, o que o leva a permanecer. Ficamos a conhecer, em flashes, a história pessoal de Hän (dádiva de Deus, em alemão) e as suas relações com personagens que surgem e desaparecem. Mas nem tudo são rosas na vida deste fotógrafo freelancer, que ama o desenho e a pintura. Uma doença do foro mental aflige-o e circunstâncias várias acabam por levá-lo a Madrid, onde conhece um curioso grupo e acaba por ganhar um novo nome.

Nesta obra Lacas demonstra todo o seu amor por Lisboa, reproduz fielmente uma certa boémia do Bairro Alto e mostra estar atento ao momento de crise e tensão que atravessamos, retratando as manifestações recentemente ocorridas na capital espanhola, na qual nos conduz igualmente numa pequena visita guiada.

FICHA TÉCNICA

Hän Solo. Fora de colecção; 24 x 17 cm; capa em bicromia, com badanas; 64 pág. impressas a 2 cores; Junho 2012; PVP: € 10,50

O AUTOR

Rui Lacas (1974, Lisboa).
Começou a fazer Banda Desenhada, em 1989, em publicações como "Banda" (onde se estreou), "Shock", "Comic Cala-te" (que co-editou), "Café no Park", "Bd & Roll", "Azul BD Três", "Boom", "Mesinha de Cabeceira", "Vertigens", entre outras. Depois, colaborou nas revistas "Selecções BD" e "Rua Sésamo".
Sob argumento de Jorge Magalhães, desenhou "Maldita Cocaína" (1994), baseada na peça homónima de Filipe La Féria. Em colaboração com o argumentista Pedro Baptista-Bastos desenhou "A Cauda do Tigre"(1998).
E, pela primeira vez como autor completo em livro, realizou "A Filha do Caranguejo" (segundo o autor, o seu livro preferido, 2001), "Que é feito do meu Natal" (2002), "Obrigado Patrão" (com edição originalmente em francês e edição portuguesa em 2008), "Asteroid Fighters" tomo 1 (2009), "A Ermida" (2011), "Hän Solo" (2012) e "Asteroid Fighters" tomo 2 (2012).


Contracapa, capa e badanas


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sábado, 28 de julho de 2012

BANDA POÉTICA – INÊS RAMOS LANÇA O PRIMEIRO FANZINE CABO-VERDIANO DE POESIA E BANDA DESENHADA


BANDA POÉTICA 
DESIGNER PORTUGUESA LANÇA PRIMEIRO FANZINE CABO-VERDIANO COM POESIA E BANDA DESENHADA

O fanzine “Banda Poética” foi apresentado por Abraão Vicente, no Palácio da Cultura Ildo Lobo com a presença da editora (Inês Ramos), dos autores (Anilton Levy, Álvaro Cardoso, António Lopes Teixeira, Sai Rodrigues, Flor Porto e Heguinil Mendes) e do artista plástica Bento Oliveira.

A sessão de lançamento teve um programa de leitura dos poemas incluídos no fanzine. Exposição dos originais das ilustrações e da Banda Desenhada do fanzine.


 Inês Ramos e os autores


A designer gráfica portuguesa Inês Ramos, fã da banda desenhada, chegou a Cabo Verde há dois anos, para um trabalho na sua área, e acabou por ficar, fascinada com o talento e o mercado cultural do país.

Em novembro de 2011, começou a organizar, todos os sábados, no Centro Cultural do Palácio Ildo Lobo, na capital cabo-verdiana, uma feira de poesia e banda desenhada, percebendo, desde logo, "que havia muito talento perdido".

"Vários jovens vieram ter comigo para me mostrar desenhos e poemas. Senti que havia muito talento", disse à agência Lusa Inês Ramos, uma "freelancer" natural de Lisboa, onde nasceu há 46 anos.

Daí a criar um "fanzine" foi um pulo. Um "fanzine", explicou, "significa uma revista periódica, publicada geralmente por jovens amadores sobre temas como a banda desenhada, cinema, música ou ficção científica".

A palavra "fanzine" vem do inglês, sendo a abreviatura de "fanatic magazine", razão pela qual se torna uma publicação editada por um fã.

Inês Ramos juntou seis jovens - um desenhador, quatro poetas e um poeta/desenhador - e, em apenas mês e meio, surgiu o "fanzine" "Banda Poética", no qual se inclui uma banda desenhada e dezenas de poemas que, "caso contrário, iriam acabar nas gavetas".

Desta forma, o mercado pode abrir-se para os jovens, acrescentou Inês Ramos, sublinhando que o "fanzine", ora dado à estampa - 500 exemplares de 30 páginas cuja tiragem foi financiada pelo Ministério da Cultura cabo-verdiana -, é "aperiódico", isto é, "sairá quando sair".

"Senti que havia uma dificuldade para estes jovens editarem, e que havia muito talento perdido. Achei que um 'fanzine' é fácil de fazer, porque é artesanal - pode ser feito até em fotocópias -, e que era possível reunir esses jovens. Havia apenas uma única exigência: que os desenhos tivessem a ver com poesia e a poesia com desenho ou banda desenhada", explicou.

"Fizeram coisas fantásticas - fizeram poemas acrósticos com a palavra banda desenhada, fizeram bandas desenhadas com um poeta, fizeram desenhos com B.Leza [um dos maiores nomes da 'morna'], e com Eugénio Tavares [considerado o maior poeta de Cabo Verde]. Foi muito emocionante e bonito", acrescentou.

Cinco homens e uma mulher, entre os 22 e os 29 anos, escreveram poesia, Álvaro Cardoso (23 anos), Anilton Levy (22), Flor Porto (29), António Lopes Teixeira (25), desenharam, e Heguinil Mendes (24), fez as duas coisas, ao apresentar um poema e uma banda desenhada sobre a vida de um poeta.

"Tenho contactos em Portugal, no Brasil e noutros países africanos, e convidaram-nos já para participar no Festival Internacional de Banda Desenhada na Argélia. Vamos concorrer ao melhor fanzine. Vamos ver", disse à Lusa Inês Ramos que, por razões profissionais, deixa Cabo Verde no final deste mês, prometendo voltar "em breve".

Autora do blogue de poesia "Porosidade Etérea", Inês Ramos foi frequentadora habitual, entre 2007 e 2010 (até à ida para Cabo Verde), da Tertúlia de Banda Desenhada, fundada e organizada por Geraldes Lino e que, há cerca de três décadas, reúne dezenas de participantes num restaurante do Parque Mayer, em Lisboa, nas primeiras terças-feiras de cada mês.

E pronto, contamos com a “porosidade etérea” da Inês no próximo Encontro da TBD, em 7 de Agosto...

Cidade da Praia

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quinta-feira, 26 de julho de 2012

BDpress #359: CORTO MALTESE EVOCADO POR PEDRO CLETO NO JN E EXPOSIÇÃO CORTO MALTESE: VIAGEM À AVENTURA – EM ÉVORA – NOTICIADA NO DIÁRIO DE NOTÍCIAS



Jornal de Notícias, Terça-Feira 24/7/12 

LONGA VIAGEM DE 45 ANOS PELO MUNDO 

CORTO MALTESE, O MAIS FAMOSO ANTI-HERÓI DA BD, CRIADO POR HUGO PRATT, SURGIU EM JULHO DE 1967 

F. Cleto e Pina 

Três acontecimentos separados por mais de meio século balizam o percurso de um dos mais emblemáticos (anti-) heróis que a banda desenhada já conheceu, Corto Maltese. A personagem celebra 45 anos neste mês.

Novembro de 1913: no oceano Pacifico, um catamaran encontra à deriva um bote com um jovem casal e, depois, uma jangada com um branco amarrado.

1943: um italiano de 16 anos é repatriado para Itália, após dois anos num campo de concentração nazi*. Julho de 1967: a revista italiana "Sgt. Kirk" número 1 estreia "Una balata del mare salato", longo romance desenhado que viria a contar 163 pranchas a preto e branco e rompia com muitos cânones estabelecidos para o género. 


Mas, afinal, o que une estes três acontecimentos? O repatriado chamava-se Hugo Pratt e, apesar de jovem, tinha já uma longa vivência em vários países, que, depois de anos dedicados aos quadradinhos, já homem maduro, lhe serviu de inspiração, para escrever e ilustrar a BD citada, na qual o branco à deriva na jangada, que tinha por nome Corto Maltese, seria apenas personagem secundária de um relato protagonizado pelo oceano.

Oceano que cruzaria várias vezes, percorrendo meio mundo na esteira do seu alter-ego, da Veneza natal de Pratt a terras sul-americanas, da soalheira Etiópia às místicas terras celtas, das

Imensidões geladas da Sibéria à mítica Atlântida. Nessas andanças, ao lado ou em oposição ao pérfido Rasputine, em desafiador equilíbrio com o guerreiro/filósofo Cush, conheceu belas e misteriosas mulheres, aliou-se ao IRA e a outros revolucionários, foi iniciado nos mistérios das artes marciais brasileiras, do Talmude e da Tora judaicos, vivenciou o tango argentino, descobriu descendentes de civilizações perdidas, presenciou atentados, roubos e atos menos Iícitos, filosofou sobre a vida e a morte...

Marinheiro errante, perseguidor de utopias, defensor das causas (que considera) justas, louco ou corajoso, irresponsável ou aventureiro, anarquista, libertário, romântico, com uma enorme sede de liberdade e seguro de ser o seu único senhor, Corto, cidadão do mundo embora natural de Malta, filho de mãe cigana e de pai marinheiro, protagonizou centenas de pranchas em quase duas dezenas de livros tendo ficado por narrar o seu desaparecimento, nos anos 30, na guerra civil espanhola.

Alter-ego do seu criador, partiu com Pratt em1995, quando ele rumou ao paraíso dos grandes criadores. Talvez por isso, os anúncios de um eventual regresso por outras mãos, até hoje, nunca se concretizaram.

(*) NOTA DO KUENTRO: Há aqui qualquer confusão, uma vez que Pratt nunca esteve preso num campo de concentração nazi. Hugo Pratt esteve na Etiópia entre 1937 e 1942, esteve preso sim, mas no campo de prisioneiros civis de Dirédoua, depois da vitória dos aliados sobre os italianos e regressou a Itália em Dezembro de 1942. A única vez que foi preso pelos alemães, mas apenas por 18 dias, foi no Outono de 1944, na cadeia de Santa Maria Maggiore, porque as SS o tomaram por um espião sul-africano. (Ver a biografia do autor em De L'Autre Côté de Corto, por Dominique Petitfaux, Edições Casterman, 1996. Ou em Hugo Pratt – O Desejo de Ser Inútil, longa entrevista com Dominique Petitfaux, Edições Relógio D’Àgua, 2005).

REEDIÇÕES E EDIÇÃO ESPECIAL NO EFEMÉRIDE. 

Estreado entre nós na revista “Tintin”, em 1975, Corto foi mal-amado por muitos leitores, que habituados ao classicismo da BD franco-belga, consideraram a obra prima de Pratt "mal desenhada".

Sucessivamente editadas em álbum pela Bertrand e as Edições 70 (preto e branco) e pela Meribérica/Líber (com introduções ilustradas por aguarelas de Pratt e assistentes), as aventuras de Corto Maltese estão a ser reeditadas pela Asa, numa edição em que os locais de passagem de Corto são revistados pelo escritor Marco Steiner e o fotógrafo Marco D'Anna. O aniversário que agora passa fica marcado por "Corto Maltese no Século XXI", quarta edição do fanzine "Efeméride", de Geraldes Lino, em cujas páginas dezenas de criadores gráficos nacionais, quase todos clonando o traço de Pratt, evocam, homenageiam e parodiam o marinheiro errante.

  
  
 Pranchas de JAS e Carlos Páscoa no fanzine Efeméride nº5 - CORTO MALTESE NO SÉCULO XXI

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Diário de Notícias, terça-feira 24 de Julho de 2012

ÉVORA OFERECE UMA VIAGEM AO MUNDO DE CORTO MALTESE 

De 25 de Julho até ao dia 2 de dezembro, o Fórum Eugénio de Almeida recebe 51 obras originais de Hugo Pratt. 

Helena Tecedeiro 

O nome não engana – "Corto Maltese: Viagem à Aventura" é uma exposição com um objetivo claro: “Refletir sobre o tema dos lugares e das distâncias". A explicação é de Stefano Cecchetto, o comissário da mostra que pode ser vista a partir de amanhã e até 2 de dezembro no Fórum Eugénio de Almeida, em Évora.

A cidade alentejana recebe assim 51 obras de Hugo Pratt, o autor italiano que com a sua personagem.



Corto Maltese criou uma espécie de alter ego. Um marinheiro errante, filho de uma cigana espanhola e de um marinheiro britânico, que percorre o mundo nas primeiras décadas do seculo XX. Um anti-herói, criado por Pratt em 1967, que se cruza nas suas aventuras com personagens históricas como Ernest Hemingway ou Rasputine. Afinal, uma personagem à medida de Pratt, que aos dez anos se mudou de Itália para a Etiópia, acompanhando o pai na invasão daquele território pela Itália. Mais tarde viajou por todo o mundo.

Depois de ter recebido obras de Chagall, Vieira da Silva, Picasso, Paula Rego ou Bordalo Pinheiro, o Fórum Eugénio de Almeida quer agora com esta exposição sobre Corto Maltese ''dar a conhecer a relevância literária que a obra de Pratt representa no panorama da banda desenhada", explica Maria do Céu Ramos. Uma "literatura desenhada", nas palavras do próprio Pratt, que a secretária-geral da Fundação recorda em declarações ao DN.

Por um euro (preço da entrada) é possível ver diariamente, das 09.30 as 19.00, aguarelas, tintas da China e guaches da autoria de Hugo Pratt, obras através das quais o visitante segue as aventuras de Corto Maltese e dos seus companheiros. "As personagens de Hugo Pratt reportam-nos para uma visão do mundo que é o contrário da globalização", explica Maria do Céu Ramos. Para a secretária-geral da Fundação Eugénio de Almeida "as suas histórias falam de um mundo de relações e relacionamentos entre pessoas, um mundo autêntico que vale a pena redescobrir". Um escape à austeridade reinante, em pleno Alentejo.

Ficha da exposição 

Titulo: “Corto Maltese: Viagem à Aventura'" 
Proveniência: Fundação Hugo Pratt, Veneza 
51 obras- aguarelas, tinta da China e guache 
Curadores: Stefano Cecchetto e Cristina Taverna 
25 de julho a 2 de dezembro de 2012 
Diariamente das 09.30 as 19.00 
Custo de entrada:1,00€


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quarta-feira, 25 de julho de 2012

THOR AS IDADES DO TROVÃO – AMANHÃ NOVO LANÇAMENTO COM O JORNAL PÚBLICO NA COLECÇÃO HERÓIS DA MARVEL



THOR AS IDADES DO TROVÃO
AMANHÃ NOVO LANÇAMENTO
COM O JORNAL PÚBLICO
NA COLECÇÃO HERÓIS DA MARVEL

Para ser sincero, devo dizer que o único super-herói dos comics americanos que me entusiasma é Batman! Daí que a descoberta em 2005, por via de um livro editado pela Devir, Loki, com argumento de Robert Rodi e desenhos de Esad Ribic, me deixou espantado e, por que não entusiasmado, com a possibilidade de uma personagem caçada na mitologia, se ter tornado um herói dos comics. Se bem que a criação de heróis com super-poderes tem, toda ela, muito a ver com a mitologia. 


Daí que seja este o único livro desta colecção lançada pelo jornal Público, que vou comprar, além do inevitável Homem Aranha – Integral Frank Miller, este por motivos puramente da História da BD.

Lamentável é a trapalhada com o título: na apresentação da colecção surgiu Thor – As Idades do Trono e não o correcto, mas entretanto agora corrigido, Thor – As Idades do Trovão (Ages of Thunder). 

Capa inicial da colecção do Público (à direita), sacado do blogue "Leituras de BD"
  

THOR NA MITOLIGIA

Na mitologia nórdica – germânica, viking ou escandinava –, que evoluiu a partir da mitologia indo-europeia, Thor (do nórdico antigo: Þórr) é o deus que empunha o martelo Mjolnir, estando associado aos trovões, relâmpagos, tempestades, árvores de carvalho, força, proteção da humanidade e também a cura e fertilidade. A divindade era conhecida pela mitologia germânica como Þunor (em inglês antigo) ou Donar (em alto-alemão antigo), decorrente da palavra da língua protogermânica Þunraz (que significa "trovão").

É o filho de Odin (o deus supremo de Asgard – o Céu) e de Jord (a deusa de Midgard – a Terra). Durante o Ragnarök (a grande batalha que ditará a morte – e posterior renascimento – dos deuses em Asgard), Thor matará e será morto pela gigantesca serpente Jörmungandr.

Sendo que a mitologia nórdica tem as suas raízes na indo-europeia, tal como a grega e quase todas as outras mitologias pré-cristãs dos povos europeus, Thor foi indentificado com Zeus o rei do Olimpo dos gregos (acumulando este também as mesmas funções do Odin nórdico), porque ambos são filhos da Mãe-Terra, comandante das chuvas, dos raios e trovões, são protetores do mundo e dos homens, cujo símbolo era o carvalho, representando o tronco da família. Os animais de ambos os deuses eram o carneiro, o bode e a águia. Thor era sempre apresentado com o seu martelo e Zeus com o seu ceptro de raios. Thor matou a serpente Jormungand e Zeus, o dragão Tifon. O historiador romano Tácito identificou Thor com Hércules, por causa de seu aspecto, força, arma e função de protector do mundo.

Os anglo-saxões deram o nome de Thor ao quinto dia da semana, Thursday, ou "Thor's day" (quinta-feira); o mesmo aconteceu entre os escandinavos que chamaram à quinta-feira "Torsdag”. E também no idioma alemão em que a quinta-feira se designa "Donnerstag" (donner = trovão; tag = dia). 

Batalha de Thor contra o Jötnar (1872) pintura a óleo de Mårten Eskil

NOS COMICS 

Thor Odinson, personagem da Marvel, baseado na mitologia que esboçámos acima, foi criado por Stan Lee, Larry Lieber e Jack Kirby, com a colaboração de Joe Sinnot. A sua primeira aparição deu-se na revista Journey into Mystery #83, publicada nos EUA em 1962. 


Na sua juventude, Thor Odinson tinha um comportamento arrogante e impulsivo e, numa das suas aventuras, cometeu uma grave falta. Perseguindo um pássaro de pedra que causava muita destruição, acabou por invadir o reino dos Gigantes de Gelo, violando o tratado estabelecido por Odin. Para punir o filho e lhe ensinar a virtude que lhe faltava, este disse:

"Tu és o filho favorito de Odin! Além de valente e nobre, a tua alma é imaculada! Mas és incompleto! Falta-te a humildade! Para a conseguires deverás conhecer a fraqueza e sentir a dor! Para isso, vais deixar o Reino de Asgard, terás de despir a tua aparência divina e viverás no exílio em Midgard! Na Terra, aprenderás que ninguém pode ser verdadeiramente forte se, na realidade não for humilde! Por alguns tempos não serás o Deus do Trovão! Despojar-te-ei também da tua memória! Agora, vai! Espera-te uma nova vida!".

Assim nasceu o Doutor Donald Blake (será a sua personalidade secreta, facto comum a muitos dos super-heróis da Marvel), com as memórias de uma vida humana, sem saber quem era na verdade. Sendo um talentoso médico, porém manco de uma perna, Thor foi assim, pouco a pouco, aprendendo a lição da humildade até que o seu destino se cumpriu.

Na Marvel Comics, Thor é portanto um herói que transita entre Asgard (o céu, ou o reino dos deuses) e Midgard (a terra, ou o reino dos mortais) e mantém a sua imagem divina de deus do trovão. Mas o imaginário de Thor nos comics é influenciado por representações surgidas durante o século XIX, especialmente das óperas alemãs, afastando-se da iconografia medieval. A sua armadura recorda o equipamento romano e o seu capacete com asas é influenciado pelas fantasias do século dezanove: os vikings nunca utilizaram capacetes com cornos ou asas, nem sequer existe qualquer referência a isso sobre Thor nas fontes literárias medievais. 


Depois, Thor Odinson foi mesmo um dos fundadores da equipa dos Vingadores, ao lado do Homem de Ferro, Homem-Formiga, Vespa e Hulk. Na sua última saga, o Ragnarök (ver acima) é finalmente desencadeado por Loki e outros inimigos de Asgard.

Em 2011 estreou o filme Thor, dirigido por Kenneth Branagh, em que o Deus do Trovão é interpretado pelo actor australiano Chris Hemsworth, Odin por Anthony Hopkins, Jane Foster por Natalie Portman e Loki por Tom Hiddleston . A produção foi iniciada um ano antes, na sequência de Homem de Ferro 2, na qual a S.H.I.E.L.D. (organização fictícia do universo Marvel) encontra o Mjolnir numa cratera no Novo México. Hemsworth repetiu o papel no filme Os Vingadores, em 2012. Estando previsto um novo filme intitulado Thor: The Dark World que será a sequência de Thor para 2013.



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