sábado, 31 de agosto de 2019

III CURSO DE BANDA DESENHADA INICIAÇÃO À ARTE SEQUENCIAL 23 SETEMBRO a 7 DE NOVEMBRO

III CURSO DE BANDA DESENHADA 
INICIAÇÃO À ARTE SEQUENCIAL 
23 SETEMBRO a 7 DE NOVEMBRO 


INSCRIÇÕES
26 de Agosto e 20 de Setembro 

Em parceria com a Câmara Municipal de Montijo, e no seguimento da boa recepção e sucesso das duas formações realizadas em 2018, a autora Susana Resende anuncia o novo curso de banda desenhada no Montijo – o 3ª Iniciação à Arte Sequencial –, cujas inscrições gratuitas começaram no dia 26/8.

Os cursos no ano transacto decorreram entre Maio e Julho, tendo a grande adesão registada de início justificado uma 2ª formação subsequente. A iniciativa recebeu a visita especial dos autores Penim Loureiro e Paulo Monteiro, e foi coroada pelas vitória da aluna estreante Patrícia Costa no Concurso de BD (Categoria A+) do Prémio Nacional de Banda Desenhada, promovido pelo 29º Amadora BD, bem como pela mostra colectiva com os trabalhos finais dos alunos, realizada no II Barreiro IlustraBD, que constituiu a estreia em exposições nesta área para a maioria dos artistas.

A nova formação terá lugar entre 23 de Setembro e 7 de Novembro, igualmente com frequência gratuita, e terá conteúdos programáticos revistos e acrescidos, para uma mais completa introdução aos processos da linguagem sequencial, e também propondo um módulo final de atelier criativo, onde os formandos são convidados a produzir uma obra curta autoral, que será posteriormente publicada pelo edil em antologia.

As aulas vão estender-se por mais sessões do que anteriormente, num total de 54h, com duração de 3h cada, em horário pós-laboral e duas vezes por semana (2ª-feira e 5ª-feira), divididas em 10 aulas teóricas e 4 sessões de atelier. O curso volta a ocorrer na Quinta do Pátio d'Água, em espaço cedido para o efeito pela Câmara Municipal de Montijo.


As inscrições decorrem entre 26 de Agosto e 20 de Setembro, estando limitadas a 14 formandos, a partir de 15 anos de idade. As candidaturas devem ser dirigidas para cursobd@mun-montijo.pt ou contactando a formadora através das redes sociais ou blog (susana-resende.blogspot.com)

Para efectuar a inscrição, faculte os seguintes dados: 1) nome completo, 2) idade (até 9/2019), 3) e-mail, 4) telefone, 5) código postal, 6) experiência em BD (se existente) e 7) anexe portfólio gráfico (se existente).






quinta-feira, 29 de agosto de 2019

O ESTRANHO MUNDO DE DANIEL CLOWES Novela Gráfica V-vol. 9 COMO UMA LUVA DE VELUDO FORJADA EM FERRO

O ESTRANHO MUNDO DE DANIEL CLOWES
Novela Gráfica V-vol. 9

COMO UMA LUVA DE VELUDO 
FORJADA EM FERRO

Argumento o Desenhos – Daniel Clowes
Quinta-feira, 29 de Agosto
Por+10,90€


Bdpress #510 – Recorte de imprensa sobre Banda Desenhada - Texto de João Miguel Lameiras sobre banda desenhada no Público

Depois de Marjane Satrapi e Schuiten e Peeters, eis mais um grande nome da BD mundial que regressa ao mercado editorial nacional através da colecção Novela Gráfica V. Desta vez, o nome que confirma a excepcional qualidade desta colheita de 2019 é o norte-americano Daniel Clowes.

Nascido em Chicago em 1961, Clowes cresceu no meio de uma família ecléctica, que incluía um avô professor de História Medieval; um pai carpinteiro e construtor de móveis; um irmão hippie; um padrasto, dono de uma oficina de automóveis e corredor de stock cars, que morreu num acidente de carros quando Clowes tinha apenas cinco anos; e uma mãe, dona de casa, que se viu obrigada a tomar conta da oficina, após a morte do seu segundo marido.

Leitor de comics desde a infância, com gosto e jeito para o desenho, o jovem Daniel decidiu seguir uma carreira artística, tendo-se matriculado no Pratt Institute em Brooklyn, Nova Iorque, quando acabou o liceu em 1979. Foi no Pratt que conheceu e se tornou amigo do desenhador Rick Altergott, com quem criou a pequena editora independente Look Mood Comics. É aí que Clowes se vai estrear como autor de BD, no nº 1 da revista Psycho Comics, em 1981. Os seus primeiros trabalhos profissionais para a revista Cracked ajudaram-no a ganhar experiência e a tornar-se conhecido, abrindo-lhe caminho para editoras com outro peso, como a Fantagraphics, de Garry Groth e Kim Thompson, que se tornaria a editora de Clowes, depois de este enviar a Groth a primeira história que fez com a personagem Lloyd Llewellyn. Após a estreia no nº 13 da revista Lave and Rockets, dos irmãos Hernandez, a Fantagraphics publicou entre 1986 e 1987 os seis números da revista Lloyd Llewellyn, a que se seguiu em 1988 The All-New Lloyd Llewellyn, a revista que encerra a história da personagem.

É no ano seguinte que a Fantagraphics começa a publicar o título fundamental da carreira de Clowes, a revista Eightball, que com diferentes formatos e periodicidades, entre 1989 e 2004, serviu para pré- publicar em capítulos alguns dos mais importantes trabalhos do autor de Chicago, como Ghost World/Mundo Fantasma, a sua obra de estreia em Portugal, adaptada ao cinema em 2001 por Terry Zwigoff, e que lançou a carreira de uma Scarlett Johansson adolescente, e este Como Uma Luva de Veludo Forjada em Ferro, cujos dez capítulos saíram nos primeiros dez números da Eightball, tendo sido posteriormente recolhidos em livro em 1993.

Se os títulos de Clowes têm sido frequentemente adaptados ao cinema, como aconteceu com Ghost World, Art School Confidential e Wilson e deverá acontecer com Patience, a sua mais recente novela gráfica, isso não sucedeu com Como Uma Luva de Veludo Forjada em Ferro, cujo universo está bastante próximo do de cineastas como David Lynch e David Cronenberg. Mas se isso não aconteceu até agora, é pouco provável que numa Hollywood cada vez mais infantilizada e refém do politicamente correcto haja espaço para uma história tão perturbadora e surreal como a que Clowes criou. Uma história com personagens tão estranhas como um bruxo que dá consultas na casa de banho de um cinema de filmes pornográficos; um homem com crustáceos enfiados nos globos oculares para limpar uma infecção; um culto religioso liderado por um aspirante a Charles Manson; um peludo cão (ou será cadela) sem quaisquer orifícios, que se alimenta de injecções de água; uma adolescente que fuma cachimbo; ou uma rapariga sem braços e pernas, fruto de uma noite de amor entre a mãe e uma criatura aquática de forma humana. Personagens surreais e delirantes, que Clay Loudermilk, o protagonista de Como Uma Luva de Veludo Forjada em Ferro encontra na sua viagem em busca dos produtores de um filme pornográfico, em que lhe pareceu reconhecer a sua esposa, desaparecida alguns anos antes.

Com esta simples premissa como ponto de partida, Daniel Clowes pegou em dois ou três sonhos seus e da ex-mulher, para construir um road movie cerebral, que elimina qualquer fronteira entre o pesadelo e a realidade.

Estranho, divertido e inquietante, Como Uma Luva de Veludo Forjada em Ferro é um dos mais importantes e perturbadores livros de um dos maiores nomes dos comics alternativos americanos.

João Miguel Lameiras


Daniel Clowes, foto e... o ilustrador visto por ele próprio e por Friedman

Daniel Gillespie Clowes (Chicago, 14 de abril de 1961) é um autor de banda desenhada norte-americano. Também realizou ilustrações para um grande número de revistas, como The New Yorker, Details, Esquire e Village Art, entre outras; cartazes para o cinema (entre eles o do filme de Todd Solondz Happiness; e inclusive desenhos animados (o vídeoclip de "I don't wanna grow up" de The Ramones).

Clowes estudou desenho e outras artes plásticas no Pratt Institute do Brooklyn, Nova York. Ao terminar os seus estudos tentou infrutiferamente conseguir trabalho como ilustrador em Nova York. Entre 1985 e 1989 colaborou com textos e desenhos para a revista Cracked, onde desenvolveu sobretudo uma secção intitulada "The Uggly Family". Em 1985 estreou se nas histórias em banda desenhada publicando em Love & Rockets, a revista dos "Hernandez Bros" (Gilbert e Jaime Hernández), uma história protagonizada pela personagem Lloyd Llewellyn. Posteriormente publicou-se uma série de seis comic-books a preto e branco consagrados à personagem, bem como um especial, The All-New Lloyd Llewellyn Special (1988).

Em 1989 é publicado o primeiro número de um novo comic-book realizado por Clowes, Eightball. Além de várias historias curtas autoconclusivas, Clowes desenvolveu nesta publicação vários relatos de maior extensão: a surrealista e sinistra Como uma luva de veludo moldada em ferro ("Like A Velvet Glove Cast In Iron", nos números 1-10); Ghost World (números 11-18), que foi levada ao cinema por Terry Zwigoff; e David Boring (19-21). Todos estes títulos foram posteriormente publicados como romances gráficos. Clowes aproveitou para se estrear no mundo do cinema, adaptando os seus próprios argumentos de BD para o cinema (é o caso do filme Ghost World, pelo qual recebeu uma indicação para os Óscares). Também colaborou nos anos 90 com a Coca-Cola ao ceder os seus desenhos para promover a frustrada OK Soda, um refrigerante cujo púbico alvo era a Geração X.

As últimas edições de Eightball são os números 22 ("Ice Haven", 2001) e 23 ("The Death-Ray", 2004), concebidos como narrativas independentes e publicados a cores e em formato de grande tamanho. Para a primeira delas, inventou o termo "comic-strip novel" para evitar o de graphic novel, então em voga.

OBRAS

Revistas em Banda Desenhada
Lloyd Llewelyn #1- #6 e um especial. O último número publicou-se em dezembro de 1988
Eightball #1- #23. O número 23 publicou-se em junho de 2004.

Colectâneas

Like a Velvet Glove Cast in Iron (Eightball #1- #10)
Tradução em português brasileiro: Como uma luva de veludo moldada em ferro. Ed.Conrad, 2003.
Orgy Bound
Lout Rampage 9
Ghost World (Eightball #11- #18) – Tradução em português brasileiro: Mundo fantasma. Gal Editora, 2013.
Caricature – Colectânea de várias historietas curtas aparecidas em Eightball e outra publicada na Esquire.
David Boring (Eightball #19- #21) – Tradução em português brasileiro: David Boring. Ed. Nemo, 2019.
Twentieth Century Eightball. Colectânea de várias histórias curtas publicadas na Eightball.
Ice Haven. Edição corrigida e ampliada da história aparecida no número 22 de Eightball













quinta-feira, 22 de agosto de 2019

COLECÇÃO NOVELA GRÁFICA V com o jornal Público VOLUME 8 DIAS SOMBRIOS


COLECÇÃO NOVELA GRÁFICA V

com o jornal Público
VOLUME 8
DIAS SOMBRIOS


UM MERGULHO NO PASSADO
Novela Gráfica V - Vol. 8 
Dias Sombrios 
Argumento - Lluís Ferrer Ferrer (a partir do seu próprio romance) 
Desenho - Juan Escandell 
Quinta-feira, 22 de Agosto 
Por+10,90€ 

Se o leitor for de uma geração que cresceu com as revistas da colecção Falcão, título mítico das décadas de 60, 70 e 80 do século XX, que publicou séries como o famoso Major Alvega. Dias Sombrios, o oitavo volume da colecção Novela Gráfica de 2019 vai despertar em si uma certa nostalgia, pois esta história, que começa com um combate aéreo, tanto em termos gráficos como de narração, evoca precisamente essas leituras. Mas a forma como a história viaja entre diferentes períodos temporais, através de flashbacks e flashforwards, e a amoralidade das principais personagens (não me parece que lhes possamos chamar heróis) que não hesitam em matar inocentes, seja por amor, seja por vingança, mostra que estamos bem longe dos maniqueísmos das histórias da revista Falcão

Dias Sombrios nasceu como um romance, publicado originalmente em 2015, inspirado num acontecimento real, ocorrido em 10 de janeiro de 1944, durante uma batalha aérea sobre a ilha de Ibiza, em que um avião britânico Bristol Beaufighter derrubou uma aeronave alemão Junkers Ju 88, que finalmente caiu na costa ao norte de Portinatx. Partindo deste facto real, noticiado na imprensa da época, o escritor Lluís Ferrer Ferrer construiu uma história de ficção. Mas como grande coleccionador e especialista em banda desenhada, com livros publicados sobre o tema, decidiu, anos mais tarde, convidar o desenhador veterano Juan Escandell para a adaptar à banda desenhada nesta novela gráfica. 

Um dos nomes mais relevantes da escola da editora Bruguera, editora espanhola cuja história foi evocada no livro O Inverno do Desenhador, de Paco Roca, publicado na colecção de 2016, Juan Escandell cumpre este ano 60 anos de carreira. É este nome incontornável da BD espanhola do século XX que este livro dá a descobrir aos leitores. 

João Miguel Lameiras 
Bdpress #509 – Texto de João Miguel Lameiras sobre banda desenhada no Público 


Lluís Ferrer Ferrer (Ibiza, 1971)

Chegou à cena literária em 2008, com a publicação em catalão da primeira parte de uma trilogia de
caracter histórico, que posteriormente seria traduzida em castelhano e compilada num volume integral intitulado El Hondero (2013). Em 2015, publica o romance de guerra/costumes Días Oscuros. A Apache Libros foi a responsável pelo seu salto para o panorama nacional espanhol com a publicação do monumental ensaio 100 Comics!!! (2016), que recolhe os seus artigos publicados na imprensa. A paixão de Ferrer pela banda desenhada vem de longe, e não é em vão que é proprietário de uma colecção que hoje em dia ronda os 20.000 títulos.


Juan Escandell (Ibiza 1937)

Lendário desenhador-ilustrador de banda desenhada ligado à escola da Bruguera, de cujo longo trajecto profissional vale a pena destacar o seu trabalho com Víctor Mora em Capitán Trueno e Aventura en El Fondo del Mar; a série de criação própria Sargento Fúria (com Cassarel); Antares para o mercado francês (saga que publicou ininterruptamente durante catorze anos); ou a adaptação de He-Man and the Masters of the Universe para a Alemanha. Para além de ter trabalhado para a Disney e para editoras de diversos países através de agências, Escandell realizou dezasseis adaptações para a colecção Joyas Literarias Juveniles. O seu traço e o seu estilo são reconhecíveis em quase todas as publicações da idade de ouro da banda desenhada espanhola.












quarta-feira, 21 de agosto de 2019

PEDRO MOURA ABRIU NA MADRAGOA UMA NOVA LOJA DE BANDA DESENHADA - TINTA NOS NERVOS



PEDRO MOURA ABRIU NA MADRAGOA 
UMA NOVA LOJA DE BANDA DESENHADA 
TINTA NOS NERVOS 

Bdpress #508 – Texto de José Marmeleira sobre banda desenhada no Público – 20 de Agosto de 2019 

BANDA DESENHADA

Uma livraria-galeria em que a arte do desenho é uma experiência


Descobrir com prazer, sem pedir desculpa, os trânsitos do desenho nas obras e entre as obras: eis o lema da Tinta nos Nervos, o novo espaço de Lisboa onde cabem a arte, a banda desenhada e a ilustração. Numa constelação de livros, álbuns, fanzines e exposições.

José Marmeleira

20 de Agosto de 2019

Em Lisboa, à Madragoa, nasceu recentemente a livraria-galeria Tinta nos Nervos, um espaço novo. Perguntará o leitor: novo? O que oferece à cidade que esta antes não tinha? Uma pista: em simultâneo, publicações de manga, fanzines, obras do artista (plástico) William Kentridge (artista plástico sul-africano mais conhecido pelas suas gravuras, desenhos e filmes de animação), livros da Planeta Tangerina, álbuns de banda desenhada francesa. Mais uma achega: uma confluência livre, com o prazer da descoberta, das artes do desenho. Na cafetaria da Tinta nos Nervos, o crítico e académico Pedro Moura, um dos fundadores, concorda: “Este é um projecto assinado por pessoas com percursos diferentes mas com um interesse genuíno por disciplinas que, por sua vez, se unem pelo desenho.”


Uma livraria especializada avessa a especializações, eis um lema que não lhe ficaria mal. Com Pedro Moura estão Ana Ruivo, Vanessa Alfaro, Luiz Azeredo, Anabela Almeida e Frederico Duarte, seis personalidades sensíveis a uma realidade que se vai manifestando. “Conhecemos muitos praticantes do desenho que cultivam várias disciplinas, mas isso nem sempre foi ou é reconhecido”, reflecte. “Ora, sentimos que há uma maior apetência em ver esses diálogos, afinidades, intervalos, ponto de contacto. Não diria que estejamos a colmatar falhas, mas a colocar no mesmo local uma oferta que existe separadamente.” O académico recorda que existem, no país, outras livrarias de banda desenhada, de ilustração para a infância, de artes gráficas. “Nesse contexto, queremos que a [Tinta nos Nervos] seja um ponto de convergência, um lugar onde uma área possa alimentar a outra.”

A influência de exemplos internacionais não é despicienda, mas o projecto não nasce, em termos locais, num vácuo histórico: “A experiência que queremos replicar não é muito diferente da que conhecemos de outros espaços galerísticos de outros países, ou mesmo de livrarias, onde esse tipo de cruzamento é corrente e reconhecido. Mas ainda há espaços, entre nós, onde algumas dessas experiências vão acontecendo.” Pedro Moura dá o exemplo, em Lisboa, da galeria Passevite, e no Porto, da Dama Aflita e da Mundo Fantasma. E no contexto da arte contemporânea, menciona o caso da Quadrum, que apresentou, ao lado de outras obras, em edição fac-similada, Le lait de la voie lactée, uma banda desenhada do desenhador português Manuel Zimbro. “O facto de se ter mostrado nesse contexto uma obra que até então permanecia inédita pode indiciar já uma abertura a esse diálogo. Não por acaso, vamos organizar um evento dedicado ao livro.” Ou seja, a Tinta nos Nervos quer tirar da obscuridade esses trânsitos, materializados em obras (livros ou não), o que significa falar sobre eles.


A natureza híbrida e plural da livraria-galeria também se exprime nas exposições: “Começámos com uma colectiva que ilustra o trabalho que queremos fazer no futuro. Com artistas internacionais e nacionais, mais consagrados ou emergentes. Mais ligados às galerias e aos museus ou aos circuitos independentes. Não haverá divisões.”


Fio da Navalha, a exposição inaugural do espaço, que se despedirá das paredes da galeria a 30 de Agosto, sustenta essa máxima: podem ali ser contemplados desenhos inéditos de Pedro Proença (Lubango, 1962), trabalhos de Ema Gaspar (Almada, 1993), autora de banda desenhada e ilustração, fotografias manipuladas de José Cardoso (Fafe, 1984) e filmes de animação de William Kentridge (Joanesburgo, 1955), que no ano passado foi objecto de uma grande exposição no Museu Reina Sofía, em Madrid. “Interessou-nos abrir com a diversidade, daí a o cariz colectivo, mas as próximas exposições serão, na sua maioria, individuais de longa duração, interrompidas por outras mais curtas, associadas a lançamentos editoriais”, explica Pedro Moura.


Livraria-galeria, a Tinta nos Nervos inscreve-se numa história prévia, numa tradição. “Temos essa consciência. Recordo a actividade da Buchholz, da Galeria 111, da Livraria Barata e, agora mais recentemente, da Abysmo. Não se trata de uma experiência inédita”, enfatiza o responsável, “mas, e apesar de num aparente contraciclo, dado que há muitas livrarias a fechar, tentamos ser um espaço independente com uma oferta especializada”.

Definir um público-modelo será talvez precipitado, mas a abertura que está na base do projecto e a convicção de que existem leitores tão interessados numa obra de banda desenhada como num livro de artista deixam antever um horizonte promissor. Entretanto, entra na galeria um grupo de turistas, que, depois de observar as prateleiras, onde se encontram livros em pop-up e outros objectos, e os desenhos expostos, vai fazendo perguntas – ocasião oportuna para trazer à conversa o tema da localização. “Quando pensámos no projecto, esta zona não estava assim. Há um processo de gentrificação. Não apenas por causa do turismo e dos efeitos do Airbnb. A Embaixada de França e a sua mediateca estão aqui e abriu recentemente a Galeria Acervo. Isso reflecte-se positivamente na presença de um público estrangeiro que fica surpreendido. Tem um poder de compra diferente, mas nem sempre entra”, ressalva Pedro Moura.


Públicos à parte, uma das finalidades da Tinta nos Nervos é proporcionar o prazer de descobrir coisas, de perceber, sem desculpas, diálogos e influências, mesmo reconhecendo a existência de categorias e formas que delimitam, quando não separam. “Temos aqui autores que vivem em fronteiras muito porosas entre o livro de artista e o álbum ilustrado, livros que podem ser lidos por uma criança e apreciados por um adulto. Há aqui objectos que mostram, por si mesmos, os territórios que pretendemos explorar, mas também gostamos de pôr lado a lado, em diálogo, coisas diferentes.”


Pedimos a Pedro Moura que sugira livros representativos do espírito Tinta nos Nervos. Serão todos mas, após a nossa insistência, aponta para colecção Les Cahiers Dessinées, onde se incluem, entre outros, Courbet, Buzelli, Ungerer, mostra os objectos produzidos por Fábio Zimbres, autor brasileiro de banda desenhada, abre o maravilhoso livro L'année de la comète, de Clément Vuillier, folheia o álbum de banda desenhada Xibalba, de Simon Roussin, menciona os fanzines, feitos em risografia, da artista Ana Humana. Todas são experiências de um desenho que se expande, se desdobra, em histórias, cores, referências, imaginários. Com tinta nos nervos.


PODE VER-SE TAMBÉM EM:

https://www.facebook.com/TintanosNervos/
https://tintanosnervos.com/Livraria
https://hucilluc.blog/a-conversa-com-pedro-vieira-de-moura-o-projeto-tinta-nos-nervos/

TINTA NOS NERVOS
Endereço: Rua da Esperança 39, 1200-655 Lisboa
Telefone: 21 395 1179





 
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