quinta-feira, 29 de março de 2012

2º CONCURSO INTERNACIONAL DE BANDA DESENHADA* AVENIDA MARGINAL “Sede de Criar!”



2º CONCURSO INTERNACIONAL DE BANDA DESENHADA* 
AVENIDA MARGINAL “Sede de Criar!”

* Histórias aos Quadradinhos, Histórias em Quadrinhos, Comics, Fumetti, Tebeos...

1. INTRODUÇÃO

O Concurso Internacional de BD Avenida Marginal, agora na sua segunda edição, é uma iniciativa que fomenta a criatividade e o intercâmbio cultural.

É dirigido a todos os cidadãos portugueses interessados pela arte da Banda Desenhada (HQ) e este ano, também a todos os cidadãos brasileiros e dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP).

Pretende-se que o grande sucesso obtido na primeira edição do concurso em 2009, especialmente a nível da qualidade dos trabalhos, alargue as suas fronteiras geográficas e culturais, abrangendo os países irmãos de língua portuguesa.

O atual contexto em que se procura a convergência linguística entre os vários países através do acordo ortográfico, bem como um cada vez maior fluxo de informação e conteúdos culturais, legitima a abertura do concurso à internacionalização.

Todos os trabalhos redigidos em português serão aceites, mesmo os que ainda não façam uso das novas regras.

O tema desta edição é livre, de forma a estimular a criatividade no ato de contar uma história.

Encoraja-se o recurso ao desenho e/ou outras técnicas de expressão artística analógica ou digital (ex.: fotografia, pintura, etc.).

Os concorrentes são desafiados a contar uma história, um momento, um pensamento, um conceito ou uma tradição, recorrendo a uma única prancha (página).

Os trabalhos selecionados farão parte de uma exposição coletiva que irá ter lugar a partir do dia 16 de Junho de 2012, na Fundação Marquês de Pombal (Palácio dos Aciprestes), em Linda-a-Velha, concelho de Oeiras.

2. OBJETIVOS DO CONCURSO

a) Dinamizar a cultura da BD (HQ) no panorama nacional.
b) Promover a expressão artística.
c) Divulgar autores de BD (HQ) nacionais e internacionais.
d) Promover o intercâmbio artístico-cultural entre Portugal, o Brasil e os PALOP.
e) Fortalecer hábitos de leitura, em particular de BD (HQ).


3. DESTINATÁRIOS

a) Autores de nacionalidade portuguesa.
b) Autores de nacionalidade brasileira e nacionais de países africanos lusófonos (Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe).

4. ESCALÕES ETÁRIOS

a) Ao primeiro escalão poderão concorrer todos os autores maiores de idade (com idade igual ou superior a 18 anos).
b) Ao segundo escalão poderão concorrer todos os autores com idades compreendidas entre os 10 anos (inclusive) e os 17 anos.

5. ENTREGA DO TRABALHO

a) Os trabalhos deverão ser remetidos para bd.avenidamarginal@sapo.pt

b) Os trabalhos deverão ser enviados até ao dia 29 de Abril de 2012.

6. PRÉMIOS

a) PRÉMIOS PRIMEIRO ESCALÃO/ AUTOR DE BD (HQ)

Os Prémios Autor de BD serão atribuídos aos autores selecionados pelo júri entre todos os participantes nacionais e internacionais com idade igual ou superior a 18 anos.

1) O primeiro Prémio Autor BD, o segundo Prémio Autor BD e o terceiro Prémio Autor BD, no primeiro escalão (maiores de 18 anos), serão oferecidos pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias de Lisboa sobre a forma de desconto de 100%, 75% e 50% nas propinas de um dos seus cursos de especialização tecnológica (CET), licenciatura ou mestrado na área técnico-artística.

2) Os vencedores no escalão de adultos serão publicados no galardoado Fanzine Venham+5, editado pela Bedeteca de Beja.

b) PRÉMIO SEGUNDO ESCALÃO/ JOVEM AUTOR DE BD (HQ)

O Prémio Jovem Autor BD será atribuído ao autor selecionado pelo júri entre os participantes nacionais e internacionais com idades compreendidas entre os 10 e os 17 anos.

O vencedor do escalão jovens autores receberá a coleção de fanzines da Bedeteca de Beja.

c) PRÉMIO PARTICIPAÇÃO

Os trabalhos selecionados (em ambos os escalões) participarão numa exposição coletiva na Fundação Marquês de Pombal.

Observações:
1. Se o júri assim o entender poderá atribuir Menções Honrosas.
2. O júri reserva-se ao direito de não atribuir prémio, se entender que os trabalhos não são qualificáveis.
3. São aceites trabalhos individuais e coletivos desde que respeitem os escalões etários.
4. Conta a idade do autor na data em que envia o trabalho a concurso.

7. EXPOSIÇÃO COLETIVA/ PUBLICAÇÃO NO SITE

a) A organização responsabiliza-se pela divulgação da exposição.
b) A organização responsabiliza-se pela seleção e impressão dos trabalhos que farão parte da exposição coletiva.
c) Todos os trabalhos selecionados serão publicados no site oficial do concurso numa edição virtual.

8. SOBRE O TRABALHO

a) O tema é livre.
b) Cada trabalho deve ser constituído por uma única prancha em formato A4 ou A3.
c) Cada concorrente pode entregar mais do que um trabalho.
d) Os concorrentes deverão indicar o nome, a idade, a nacionalidade, o seu contato e morada de residência no corpo do e-mail, anexando o trabalho à mensagem.
e) O trabalho deverá obrigatoriamente incluir, em anexo, a cópia de documento de identificação (Bilhete de Identidade, Cédula Pessoal ou Passaporte).
f) Nos projetos coletivos os concorrentes deverão enviar as informações e documentos de todas as pessoas envolvidas no mesmo e-mail.
h) Serão excluídas pranchas que contenham erros ortográficos.
i) O júri aceita trabalhos inéditos e trabalhos publicados.

9. IMPOSIÇÕES E ACONSELHAMENTOS TÉCNICOS

a) O ficheiro deverá ser enviado em formato JPEG (*.JPG; *.JPE) ou PDF.
b) O ficheiro (em formato JPEG ou PDF) poderá ser comprimido em ficheiro .RAR ou .ZIP.
c) Aconselha-se que o ficheiro tenha 300 DPI’s de resolução.
d) A prancha poderá ter o número de vinhetas que o autor desejar.
e) O trabalho poderá ser realizado a cores ou a preto e branco.
f) O trabalho (prancha) deverá ter a dimensão de um A4 ou de um A3.
g) No caso de trabalhos produzidos analogicamente dever-se-á digitalizar o mesmo, tendo em atenção que se deve optar pela resolução de 300 DPI's na digitalização (scanner).

10. CRITÉRIOS DE APRECIAÇÃO

a) Criatividade; b) Expressão plástica; c) Qualidade gráfica; d)Originalidade; e) Narrativa

11. JÚRI DO CONCURSO

A seleção será realizada por um júri constituído pelos seguintes elementos:
Paulo Monteiro – Diretor do Festival Internacional de BD de Beja e da Bedeteca de Beja.
Susa Monteiro – Autora de Banda Desenhada e corresponsável da Bedeteca de Beja.
Geraldes Lino – Editor de Banda Desenhada, dinamizador da Tertúlia de BD de Lisboa, blogger dowww.divulgandobd.blogspot.com
Maristela Garcia – Responsável pela Gibiteca de Curitiba, Brasil.

12. FASES DE SELEÇÃO E RESULTADO DO CONCURSO

a) Todos os trabalhos submetidos a concurso serão avaliados pelo Júri.
b) Os resultados do concurso serão publicados no dia 15 de Maio no sítio oficial da web do concurso (www.concursobdavenidamarginal.blogspot.com), onde figurarão os nomes dos concorrentes vencedores e respetiva nacionalidade.
c) Caberá ao júri preencher as possíveis lacunas deste regulamento.
d) Das decisões do júri não haverá recurso.
e) Todos os concorrentes assumirão o compromisso de conhecer e cumprir o presente regulamento, bem como de acatar as decisões da entidade promotora responsável pelo planeamento, coordenação e direção do concurso e do júri.

13. ORGANIZAÇÃO DO CONCURSO

Flávia Carvalho – Professora no Instituto Superior de Artes, Design e Marketing de Lisboa.
Marco Silva – Professor no Instituto Superior de Beja. Integra a equipa multidisciplinar do Laboratório de Arte e Comunicação Multimédia (www.lab-acm.org).
Paulo Fino – Investigador na área da poética e da estética cinemática e audiovisual.

MAIS INFORMAÇÕES
bd.avenidamarginal@sapo.pt
www.concursobdavenidamarginal.blogspot.com
www.facebook.com/avenidamarginal


_________________________________



quarta-feira, 28 de março de 2012

BDpress #331: IRMÃOS METRALHA – 60 ANOS DE ASSALTOS FALHADOS – Pedro Cleto no JN



Esta estava esquecida em arquivo desde o final do ano passado, mas é imperdível.

Jornal de Notícias, 22 Novembro 2011

60 ANOS DE ASSALTOS FALHADOS
IRMÃOS METRALHA ESTREARAM-SE NOS QUADRADINHOS EM 1951

F. Cleto e Pina

Há 60 anos, os irmãos Metralha aproveitaram um rombo na caixa forte do tio Patinhas para encherem baldes com dinheiro. Era o primeiro de muitos assaltos, quase todos falhados, desta família de vilões.

A estreia ocorreu na história “Terror of the Beagles Boys”, publicada na revista Walt Disney's Comics And Stories #134, datada de Novembro de 1951, embora ela já estivesse desenhada desde Maio desse ano, como obrigavam os prazos de trabalho então em vigor. A sua ascensão a co-protagonistas só aconteceria em Março do ano seguinte, em “Only a Poor Old Man”, incluída no número de estreia da revista “Uncle $croodge”. Portugal descobriu os irmãos Metralha através da revista brasileira Pato Donald #59, de 23 de Dezembro de 1952, onde a história foi intitulada “O Vil Metal E Os Vilões”.

O seu criador foi Carl Barks (1901-2000), o mais famoso desenhador dos patos Disney que, com certeza sem o saber, introduzia um trio de personagens que se tornariam indispensáveis nas aventuras do Tio Patinhas.

Se na altura da estreia ainda não envergavam o tradicional uniforme de camisola laranja e calças azuis, com os números de presidiário estampados, substituídos na época pelo seu nome - Beagles Boys - os irmãos Metralha já possuíam os característicos bonés e as máscaras negras em volta dos olhos. Aliás, com excepção dos “Duck Tales”, em que receberam nomes começados por B, os Metralha foram sempre distinguidos pelo seu número prisional, feito de variações dos algarismos 1, 6 e 7.

Nessa sua primeira aparição - das muitas que haveriam de fazer daí em diante para atormentarem o pato mais rico do mundo - eram só três mas, ao longo dos anos, muitos outros familiares foram sendo criados: irmãos e irmãs, primos e primas, um avô amnésico, netos e netas, o Azarado, o Supersenvível, o Intelectual e até um gato.

Mais tarde, nos anos 90, quando o norte-americano Don Rosa tentou definir, em “A Saga do Tio Patinhas” (“The Life and Times of Scrooge McDuck”), uma cronologia da família Pato, baseada nas pistas deixadas nas suas histórias por Barks, antecipou no tempo a inimizade entre assaltantes e assaltado, situando as suas origens no final do século XVIII, quando Patinhas enfrentou os pais e o avô dos actuais bandidos.

A história de estreia, assentava nas preocupações do milionário para proteger o seu largo pecúlio, auxiliado por um pouco motivado Pato Donald, decorrendo toda a trama, bem condimentada pelo habitual humor de Barks, em torno dos choques constantes entre os dois, até ao inesperado e divertido final.

Dessa vez, aparentemente, os irmãos Metralha saíram a ganhar, recolhendo em baldes e carrinhos de mão algum do dinheiro que jorrava por um rombo na caixa-forte, provocado pelos excessos de quem devia zelar pela segurança. No entanto, isso raramente voltou a acontecer ao longo dos anos pois, apesar dos mais mirabolantes planos, dos mais inesperados acasos ou das ideias mais loucas ou audaciosas, o dinheiro do tio Patinhas e a famosa moedinha nº1 nunca mudaram de mãos por muito tempo, terminando quase sempre os vilões em fuga ou atrás das grades, cumprindo a sua sina de personagens secundárias, mais desastrados e conflituosos do que malvados, o que contribuiu para a sua popularidade apesar de estarem do lado errado da lei.

(Caixa)
Os Irmãos Metralha mundo fora
Alemão: Die Panzerknacker
Croata: Braća Buldozi
Dinamarquês: Bjørne-banden
Espanhol: Los Golfos Apandadores
Finlandês: Karhukopla
Francês: Les Rapetou
Holandês: Zware Jongens
Inglês: The Beagle Boys
Italiano: Bassotti
Norueguês: B-gjengen
Sueco: Björnligan
Turco: Karabela Çetesi






____________________________________________________

Ver também no blogue de Pedro Cleto, As Leituras do Pedro

____________________________________________________


terça-feira, 27 de março de 2012

BDpress #330: A MAFALDA, DE QUINO, FEZ OU NÃO 50 ANOS?



DN 16 de Março de 2012

QUINO 'ESTRAGA' ANIVERSARIO DA MAFALDA

Mafalda fez 50 anos ... ou talvez não.

Mafalda recebeu ontem mensagens de parabéns pelo seu 50.º aniversário em blogues e jornais de todo o mundo. A festa parecia estar acorrer bem, até que o criador desta famosa personagem de banda desenhada decidiu fazer um esclarecimento que rebentou todos os balões. Afinal, de acordo com Quino, Mafalda não fez anos. "O dia da sua primeira publicação foi a 29 de setembro de 1964 na revista Primera Plana. Qualquer outro cálculo de aniversário é incorreto", escreveu o artista argentino no seu site Mas então, porquê as felicitações? A confusão está ligada a uma carta de apresentação, assinada por "Mafalda" e publicada em 1968 pelo semanário argentino Siete Dias, na qual a personagem afirma ter nascido a 15 de março de 1962. O problema é que a missiva foi escrita pelo secretário de redacção do jornal e não por Quino. A festa fica então adiada para 2014.

QUINO

Joaquin Lavado, Quino, é um artista argentino, filho de imigrantes espanhóis, que nasceu na província de Mendoza em 1932. Dedicou-se a Mafalda entre 1964 e em 1973, urna personagem muito importante para a sua carreira, mas que o deixava "extenuado". Em Portugal, o primeiro livro de Mafalda foi publicado em 1970.e a obra completa está reunida em O Mundo de Mafalda (2000). Em 1976, Quino foi viver para Milão com a mulher. Celebrou os seus 50 anos de carreira em 2004.

“ Na vida real, eu nasci a 15 de março de 1962. O meu papá é corretor de seguros e em casa entretém-se a tratar das plantas. A minha mãe é dona de casa. Conheceram-se quando estavam juntos a estudar na faculdade, mas depois ela desistiu para cuidar melhor de mim"

MAFALDA
Carta publicada no semanario argentino 'Siete Dias•. Em 1968

Filipe
O melhor amigo de Mafalda é o mais velho do grupo e, apesar de ser bom aluno, não frequenta a escola com grande entusiasmo. É muito preocupado e está apaixonado por Muriel, uma vizinha com quem não tem coragem de falar. Foi o primeiro amigo que Quino criou para Mafalda.

Manelito
Pode até não gostar muito da escola, mas, ao contrário de Mafalda, Manelito aprecia sopa, Filho de um comerciante, o seu objetivo de vida é ter uma cadeia de supermercados e ser tão rico como John Rockefeller. Detesta os Beatles tal como Quino, o seu criador, é filho de espanhóis.

Susanita
O único desejo de Susanita é casar-se com um homem rico e ter muitos filhos. Fútil e coscuvilheira, adora falar sobre a vida dos outros. Detesta ver pessoas pobres e, por isso, defende que estas deveriam esconder-se. Ainda assim, Susanita não se considera uma pessoa preconceituosa.

Liberdade
É uma menina pequenina, mas muito inteligente e crítica em relação ao mundo. Filha de pais de esquerda, está sempre a falar da revolução e costuma conversar com Mafalda sobre política. Liberdade, filha de uma tradutora de francês, gosta de cultura e vive num pequeno apartamento.

Pais
Raquel e o pai de Mafalda (de nome desconhecido) conheceram-se quando ainda andavam na faculdade. Ela, sempre preocupada, usa óculos por causa da miopia e deixou a universidade para cuidar filha. Ele é um trabalhador da classe média e enerva-se com as perguntas da filha.

Guilherme
Fã de Brigitte Bardot, Guilherme fala com uma linguagem infantil e chama "velha" à irmã, Mafalda.
Esperto, "Gui" é retratado como uma criança que começa a perceber o mundo e vai aprendendo a falar.
Gosta de sopa, algo que enoja a irmã, mas não de mortadela.

Miguelito
É filho único e a sua mãe nunca aparece, à exceção da sua voz autoritária, que de vez em quando aparece num balão.
Miguelito é utópico e inocente, mas por vezes explosivo.
Vive num mundo só dele e está sempre cheio de boas intenções. Gosta de filosofar e de rebuçados.


Quino

Quino e a estátua da Mafalda



___________________________________________________

Imagens da responsabilidade do Kuentro

___________________________________________________

segunda-feira, 26 de março de 2012

JOBAT NO LOULETANO – 9ª ARTE - MEMÓRIAS DA BANDA DESENHADA (XXXI e XXXII) –O IMPÉRIO EDITORIAL DA AGÊNCIA PORTUGUESA DE REVISTAS 1.9 e 1.10



9ª ARTE
MEMÓRIAS DA BANDA DESENHADA 
(XXXI - XXXII)


O Louletano, 26 de Outubro a 2 de Novembro 2004

O Império editorial da Agência Portuguesa de Revistas – 1.9

Em meados da segunda metade de 1954, altura do meu ingresso como colaborador da APR, Mário de Aguiar (MdA) e António Joaquim Dias (AJD) - o cérebro e os músculos dessa empresa -rondariam ambos entre os 40-45 anos.

M.d.A era de estatura média, entroncado, rosto quadrangular, face enérgica, vincada; cabeleira farta, ondulada, e uns olhos miúdos, escuros, de águia. Supervisava todo o trabalho de edição, sobre o qual opinava, demonstrando acertado sentido comercial. Pese embora o seu inato bom senso para publicações de êxito, a plêiade de colaboradores de que se rodeou, coadjuvava, de forma positiva, a sua audaciosa visão como editor.

Pelo que me foi dado observar, era adepto de duas modalidades desportivas - boxe e futebol - e de teatro amador, no qual creio, nunca participou. Foi sócio e protector da Sociedade Recreativa Rodrigues Cordeiro e do Grupo Dramático e Escolar Os Combatentes, colabo-rando comigo, neste último, aquando da minha direcção antes e depois de Abril de 1974.

Sócio ferrenho do Benfica, quando este clube perdia, iniciávamos um período de defeso em que era difícil esperar a sua concordância fosse qual fosse o assunto tratado. Ficava azedo e pirrónico, porém de modo algum agressivo ou descortez. Ao inverso, era afável, cordato, disponível e acessível. Por vezes, irritado, quando alguma área de serviço, ou vida estritamente pessoal não quadrava com os seus desejos, mostrava-se áspero e contundente, quase intratavel. E, caso curioso: não propriamente com os quadros menores da empresa, mas, bastas vezes, com o pacífico sócio que lhe coube em sorte! A ambos a morte ceifou por problemas cardíacos.

AJD talvez tenha sido vitíma da incontinência verbal e exagero gestual do seu enérgico sócio; MdA. vítima exactamento de si mesmo, cuja "máquina" se exaurio com as incontroláveis explosões a que quase diariamente se entregava.

Porém, se a empresa foi fruto do seu - por vezes excessivo - dinamismo, não deve ignorar-se de modo algum aqueles que ao longo dos anos foram o suporte que materializou as suas ousadas utopias, tornando-as palpáveis, credíveis, algumas belas e, na sua maioria, economicamente rentáveis. A frase publicitária que nos anos sessenta a empresa utilizava - um milhão de publicações por mês - era de facto verídica. Não havia espaço no campo editorial para que outra editora lançasse qualquer publicação similar às suas. O mercado estava saturado.

António Dias era a calma em pessoa. De fino trato, educado, serena linguagem e porte, parecia um aristocata deslocado no tempo e no espaço. Alto, ligeiramente pr'ó seco, sempre impecávelmente vestido, rosto oval, olhar cândido, cabelo liso, com ligeira ondulação, movimentava-se com leveza e elegância. Dirigia com acurada vigilância e profissionalismo toda a área de expedição e distribuição. Era paciente e disponível quando abordado para se lhe solicitar uma opinião. Tinha pelo "Mundo de Aventuras" um especial ca¬rinho, do qual era o primeiro a folhear, depois de impresso.

Segundo ouvi, teve um começo de vida difícil. Ainda jovem, foi vendedor de leite, porta a porta, de bilha na mão, pois longe estava ainda o tempo em que se venderia engarrafado. Curioso - quem o não é aos 18-19 anos? - gostava imenso de o ouvir, pois tinha uma palavra que usava como bengala, vezes sem conta, ainda que a frase o permitisse ou não. Aquele advébio de modo - automaticamente - devia soar-lhe bem, e como o pronunciava, correctamente silabada para que a sonoridade do termo lentamente se evolasse como fumo de perfumada cigarrilha.

A descida da empresa ao abismo, iniciou-se com a separação de ambos, perto do final da década de sessenta.

Em meados de 1955 José Atunes, meu antigo colega da António Arroio, passou a fazer parte dos quadros privativos da empresa, como desenhador. Creio ter sido ele quem tomou a seu cargo "O Mundo de Aventuras" aquando dos meus compromissos militares, entre Janeiro de 1956 e Junho de 1957.

Legendas das fotografias:
Mário de Aguiar – Director-Geral da APR
António Dias Sócio-gerente da APR

____________________________________________________

O Louletano, 3 a 8 de Novembro 2004

O Império editorial da Agência Portuguesa de Revistas – 1.10

O período que decorre entre outubro de 1954 e Dezembro de 55 foi para mim uma contínua surpresa, qual um mundo novo que se desvendava perante os meus olhos. As publicações de H.Q. sempre me tinham cativado. Assim, o estar no local onde se originavam, respondia às interrogações que desde miúdo acalentara: Quem as fazia? Como? Onde?

Nesse tempo, o ambiente na redacção era deveras interessante, alegre, de sádia camaradagem, onde os personalismos não sobressaíam nem se impunham. Carlos Alberto (C.A.), que ingressava na APR no inicio de 55, veio confirmar, ao vivo, a imensa admiração que de há muito por ele sentia, a qual começou aquando da publicação, no "Camarada", da sua primeira BD "O Escudo do Sarraceno", a qual saiu incompleta por entretanto essa revista da Mocidade Portuguesa ter imterrompido a sua publicação.

Dono de um elegante, quente e fascinante traço, e de um desenho airoso, equilibrado, expontâneo e belo, é, sem sombra de dúvida, um dos quatro grandes ilustradores que Portugal teve na segunda metade do século passado: Eduardo Teixeira Coelho, Vítor Péon, Fernando Bento e ele próprio. Deixo ao critério do leitor que igualmente os conheça e aprecie, o cuidado de os ordenar como melhor o entender. Eu próprio, ainda que C.A. o não suspeite, sou credor do muito que aprendi a seu lado, ao longo dos anos, nas instalações da APR, e fora dela.

A presença de C.A. contrastava com a de Filipe Figueiredo (FF). Enquanto o primeiro, tímido quanto baste, passava despercebido no seu espaço - quase unidade indivisível/silenciosa, com o estirador - FF, demasiado extrovertido, por vezes rude, era a perfeita antítese do homem que, pouco antes ilustrara um dos maiores êxitos editoriais da APR: A "História de Portugal", em cromos coleccionáveis. A técnica e garciosidade expressas nas suas ilustrações, revelam um artista incomum no panorama das publicações infantis editadas na altura.

Com o fim de "O Mosquito", um ano antes - Fev./53 - desaparecera o suporte através do qual a arte de ET Coelho semanalmente chegava junto aos seus muitos fãs. Embora nessa altura "O Mundo de Aventuras" (M.A.) atravessasse um período de notória estagnação, a presença de C.A. revelou-se um valioso suporte tanto no campo da BD, como nas ilustrações e capas, que para essa revista exectou, bem assim como para outras publicações da APR.

É lógico que o lançamento do M.A. em Agosto de 49, teve alguma influência na extinção do velho "Mosquito", mas quiçá menor que a do "Cavaleiro Andante", com maior número de páginas e de histórias - que não maioritariamente em qualidade - e mais cor. Porém, nenhum dos dois semanários acupou o seu lugar no coração dos milhares de leirores que, por mais uma geração, incentivou o gosto pela boa leitura e pela arte e beleza das ilustrações, o qual se constata pela imperecível e saudosa recordação que deixou.

Tal como já acontecera com Vítor Péon, foi também José David (JD), - reputado técnico em artes gráficas, na altura responsável pela selecção de cor e retoque, na Bertrand - quem primeiro reconheceu as potencialidades artísticas do jovem C.A., também ele funcionário nessa empresa. Anos mais tarde, JD, convidará CA a colaborar no seu atelier, de onde sairá a história "João dos Mares", com desenhos seus, mas com a indicação de autor de Augusto Barbosa, a qual aparece como a primeira história portuguesa impressa nesse semanário, logo a partir do número um.

Foi ainda o mesmo JD, já então sócio da Fotogravura Nacional, empresa onde as colecções de cromos e as capas em quadricromia da plateia, colecção cinema e livros, eram impressas, quem, a pedido de Mário de Aguiar, prescindiu da colaboração de CA em favor da sua permanênca nas instalações da APR.

Legenda da ilustração:
Capa do álbum de cromos "História de Portugal". Desenho de Carlos Alberto


__________________________________________________

ULISSES (XXVIII e XXIX)
Texto e desenhos de Jobat



______________________________________________

Para quem queira ver as imagens em formato maior: 
Clicar em cima da imagem com o botão da direita do rato e  fazer 
"Abrir imagem num novo separador".

______________________________________________

sábado, 24 de março de 2012

ANDRÉ OLIVEIRA EM ENTREVISTA COM FILIPE PINA, ARGUMENTISTA DE BANDA DESENHADA E CO-FUNDADOR DA SEED STUDIOS, FALA-NOS SOBRE ‘UNDER SIEGE’


ENTREVISTA COM FILIPE PINA, ARGUMENTISTA DE BANDA DESENHADA E CO-FUNDADOR DA SEED STUDIOS, FALA-NOS SOBRE ‘UNDER SIEGE’

Conduzida por André Oliveira

Filipe Pina é um nome conhecido e respeitado no panorama bedéfilo nacional há já alguns anos, sobretudo pelo álbum “BRK” (ASA, 2009), pela participação em “City Stories Lodz” (2010) ou até pela curta “Analepse”, publicada no fanzine Venham +5 e premiada em 2009 com o Prémio de Melhor Curta pelos VII Troféus Central Comics.

Um autor que vem conquistando terreno no que ao argumento diz respeito no nosso país e cujas colaborações têm sempre, ou quase sempre, um elemento comum: o desenhador Filipe Andrade.

De uma amizade que remonta à adolescência nasceu uma equipa de sucesso nos vários projectos em que participa e que promete continuar a trazer qualidade às obras “made in Portugal”.

Mas Pina não é apenas argumentista de BD, é também co-fundador e produtor na Seed Studios, uma empresa nacional focada no desenvolvimento de videojogos. E foi exactamente acerca de um jogo, “Under Siege”, o primeiro português para PS3, que lhe lançámos algumas perguntas e quisemos saber mais…

 
Qual o balanço que fazes até à data acerca da aceitação ao jogo “Under Siege”? Correspondeu às espectativas?

A nível pessoal é muito gratificante conseguir chegar ao ponto que chegámos principalmente porque aprendemos a fazer tudo pelos nossos próprios meios. Foram 3 anos de trabalho com o Under Siege mais todo o processo de aprendizagem que foi a criação da nossa empresa Seed Studios Lda.

As expectativas colocámos há muito tempo atrás bastante em baixo para não termos decepções, é preciso compreender que antes de existir a Seed Studios em 2006 e posteriormente o Toy Shop, Under Siege e outros jogos, falhámos várias vezes com projectos que não viram a luz do dia.

No entanto tudo valeu a pena porque a aceitação do Under Siege foi muito boa, existem milhares de jogadores de PlayStation3 que gostaram muito de jogar o nosso jogo.

Também ganhámos vários prémios em Portugal e concorremos pela primeira vez no IGF 2012 lá fora, algo que seria impensável há uns poucos anos atrás.

Sendo tu argumentista de BD, achas que isso foi determinante para a criação de um jogo com uma componente narrativa tão rica a nível criativo? Fala-nos um pouco desse universo.

É importante realçar que o universo Under Siege foi imaginado pelo Bruno Ribeiro que foi designer neste projecto, as minhas responsabilidades como produtor foram as de garantir que conseguíamos idealizar este universo em videojogo.

Não deixa de ser determinante o facto de eu, o Bruno e o Jeff (Director Artístico) consumirmos BD regularmente, o que foi muito importante no desenvolvimento artístico com o resto da equipa. Eventualmente a BD acaba por ser, juntamente com o cinema e a literatura, uma fonte de inspiração.

Já a um nível mais pessoal e criativo, eu tive várias funções dentro da nossa equipa que me permitiram expressar e criar dentro das restrições impostas pelas regras em que vive o Under Siege, nomeadamente na criação dos níveis e montagem das sequências de história escritas pelo Bruno.

Já com a BD do Under Siege o caso foi diferente, estive mais à vontade para escrever e criar o prólogo daquela história com o que acabaria por se tornar a introdução a este universo através de quatro personagens e da sua pequena viagem pelas montanhas geladas onde decorre depois posteriormente a história do jogo.

O Filipe Andrade, com quem colaboras regularmente, esteve envolvido no projecto e na BD promocional. Como classificas o papel dele em todo o processo?

O papel do Andrade na BD foi fundamental, não só para nós como também para ele. No nosso caso era extremamente importante darmos o trabalho a alguém em que confiássemos a 100%, capaz de fazer o que queríamos e como eu já tinha trabalhado antes com o Andrade foi bastante fácil a decisão.

Estabelecemos também logo de início a regra de que cada página poderia levar alterações para ficar melhor e em último caso ser redesenhada o que acabou por acontecer algumas vezes.

E no caso dele foi ainda mais importante pois esta foi a primeira vez que ele teve um trabalho pago à página.

É importante também mencionar o trabalho fantástico do Pedro Pitéu que coloriu as 24 páginas e, tal como o Andrade, fez e refez algumas pranchas até ficarem com a qualidade final.

Este jogo enche mais as medidas aos apaixonados dos videojogos, da BD ou a ambos? Esse balanço influenciará as futuras edições do projecto (se é que estão contempladas)?

Este videojogo é claramente dirigido aos entusiastas de videojogos, a Banda Desenhada do Under Siege apenas surgiu como forma criativa de apelar aos fãs de BD e ao mesmo tempo satisfazer a nossa vontade colectiva de ter uma Banda Desenhada baseada numa das nossas criações.

Quanto a existirem futuras edições do jogo irá apenas depender das vendas.

Já para a BD, houve uma altura que houve bastante interesse de uma editora internacional de publicar três volumes de 64 páginas, mas infelizmente teríamos de ser nós a investir, coisa que não foi possível.


E a Seed Studios? O que devemos esperar da produtora no futuro?


Mais videojogos! A seguir ao Under Siege lançámos um pequeno jogo para iPhone chamado R3 em Novembro de 2011 e, neste momento, estamos até ao final de Fevereiro a tentar fechar um outro negócio que não posso ainda revelar.

Queres deixar alguma mensagem a quem só agora conheceu a existência de “Under Siege”?


Claro! O Under Siege é o primeiro videojogo para PlayStation3 criado em Portugal. É um jogo de estratégia em tempo real para 1 ou 4 jogadores e está à venda na PlayStation Store por 9.99€

A Banda Desenhada está já à venda e vem incluída no livro “A Arte de Under Siege” publicado pela Asa e à venda nas livrarias, Fnac e no site online da Asa.

Para mais informações sobre o Under Siege visitem-nos na página oficial. Se quiserem uma opinião mais isenta leiam a análise do Eurogamer.

Para falarem connosco directamente podem sempre dar um salto àquela rede social.

Como nota final, continuem a acompanhar as novidades da Seed Studios no portal desta produtora portuguesa de videojogos.

André Oliveira
___________________________________________________

Ler também em As Leituras do Pedro, a opinião de Pedro Cleto sobre Under Siege

Esta Entrevista pode ser lida também no blogue da Ave Rara
___________________________________________________

 Filipe Andrade e Filipe Pina




O jogo Under Giege deu também origem a uma banda desenhada, com argumento de Filipe Pina e desenhos de Filipe Andrade (Edição Seed Studios) e a um livro com A Arte de Under Siege (Edição Asa).


Ver o vídeo promocional - clicar em cima da imagem em baixo:



____________________________________________________________


Imagens da responsabilidade do Kuentro


____________________________________________________________

sexta-feira, 23 de março de 2012

BDpress #329: SCOTT PILGRIM EM PORTUGUÊS – J.M.Lameiras no Diário As Beiras


SCOTT PILGRIM EM PORTUGUÊS

Diário As Beiras, 26 Fevereiro 2012

João Miguel Lameiras

Num mercado como o português, em que é bastante frequente as editoras deixarem cair as séries por falta de vendas, é sempre de louvar quando uma editora consegue publicar uma série, ou coleção, na íntegra. Por isso, a Booksmile está de parabéns pela forma como tratou a série “Scott Pilgrim”, título com que se estreou na edição de Banda Desenhada.

Criada pelo canadiano Bryan Lee O’Malley para a editora independente norte-americana Oni Press, que publicou os seis volumes entre 2004 e 2010, “Scott Pligrim” é uma divertida série juvenil, que relata as aventuras pessoais e sentimentais de Scott Pilgrim, um jovem adulto que tem uma Banda Rock e que se apaixona por uma misteriosa rapariga, Ramona Flowers e que, para a conquistar vai ter que enfrentar os seus 7 maléficos ex-namorados. Ou seja, no fundo, “Scott Pilgrim” é uma comédia romântica, mas tratada como um jogo de computador, em que cada antigo namorado de Ramona que Scott tem que vencer, constitui um nível a ultrapassar.

Esta inesperada e divertida fusão de referências Pop, da BD à música, ao cinema e aos jogos de computador, constitui uma das razões do sucesso da série, que tão bem soube captar o “zeitgeist” (espírito do tempo) da juventude ocidental do início do século XXI, num registo gráfico estilizado, de grande sensibilidade e eficácia, que faz uma curiosa fusão entre o mangá japonês e os comics americanos. Se o formato dos livros segue o dos mais populares mangás (livros de pequeno formato, com mais de 100 páginas a preto e branco por volume) o traço de O’Malley vai buscar elementos narrativos e gráficos (como os grandes olhos) ao mangá, mas o seu traço, extremamente sintético e caricatural, tem uma personalidade muito própria.

O sucesso comercial da série de Bryan Lee O’Malley cedo levou a que fosse adaptada aos jogos de computador (o que tem lógica, pois os jogos de computador são uma das influências mais evidentes de “Scott Pilgrim”) e ao cinema, num divertidíssimo filme de Edgar Wright que, embora tendo tudo para se tornar um filme de culto, infelizmente, não teve o sucesso comercial merecido.

O mesmo parece ter acontecido com a edição portuguesa, que rapidamente passou de uma tiragem inicial de 5.000 exemplares, nos dois primeiros números, para 1.500 exemplares nos restantes, com o inevitável aumento de preço de capa que uma tiragem menor implica. Também por isso, é de louvar a persistência da editora, que apesar das vendas abaixo das expectativas, nunca deixou cair a série, que, com a edição do sexto e último volume em finais de 2011, aí está disponível na íntegra para quem a quiser ler em português. Uma leitura muito divertida e altamente aconselhável.

(“Scott Pilgrim”, de Bryan Lee O’Malley, Booksmile, 6 volumes, 8,50 € a 10,99 € por volume)






Bryan Lee O'Malley

___________________________________________________

Imagens da responsabilidade do Kuentro

___________________________________________________


 
Locations of visitors to this page