quinta-feira, 29 de abril de 2010

MOURA - EXPOSIÇÃO – CENTENÁRIO DE FERNANDO BENTO (1910-2010)

Não queria deixar de reportar aqui o que se passou em Moura, que não foi o nosso conhecido Salão de BD, mas, em vez dele, uma exposição de homenagem a Fernando Bento, pelo centenário do seu nascimento. E como não pude lá ir, recorri ao Carlos Rico, mentor/organizador do Salão de Moura e organizador desta exposição. Segue-se o material que o Carlos enviou para o Kuentro e aproveito as palavras explicativas dele nos 3 ou 4 emails desses envios.

Nas fotos acima: da esquerda para a direita:
António Valjean (Presidente do GBS)
Luiz Beira (mentor do projecto da exposição "Centenário de Fernando Bento" e que lançou o repto ao Grupo Bedéfilo da Sobreda - GBS, ao Grupo de Intervenção Cultural e Artística de Viseu – GICAV e à Câmara Municipal de Moura para a organizarem)
Vereadora Maria José Silva (responsável pela área da Acção Social, Saúde e Educação da Câmara Municipal de Moura)
Carlos Rico
Arquitecto António Mata (representante do GICAV)

Fotos abaixo: Apresentação da Exposição por Carlos Rico.

Nestas fotos da exposição, é possível verem-se alguns técnicos da equipa de documentários da RTP 2 que estiveram presentes, uma vez que se está a rodar precisamente um documentário sobre a vida de Fernando Bento (para passar lá para o final do ano). Um dos filhos de Fernando Bento, o Pedro Bento, faz parte da equipa (foi ele que propôs à RTP o documentário, que, entretanto, teve luz verde para avançar). A RTP2 deverá também recolher imagens nas exposições na Sobreda, em Viseu e na Amadora onde vai igualmente haver este ano, uma homenagem ao autor.

Quanto ao material do Caderno MouraBD especial dedicado ao Centenário de Fernando Bento, envio duas pranchas: uma a cores e outra a preto e branco: é que a história do "Moby Dick" (em 33 pranchas) foi publicada no Cavaleiro Andante a preto e branco... com excepção de duas pranchas, a terceira e a quarta. Como não quisemos desvirtuar a reedição, publicámos tal qual o CA e as duas pranchas estão com as cores originais. Julgo que ficou muito bem assim, até porque este é daqueles casos em que a cor até nem foi aplicada de maneira muito "berrante".
Quanto à capa, trabalhei-a a partir de uma capa do Cavaleiro Andante onde se anunciava o início da história. Até te envio a capa original do C.A. .



BIOGRAFIA DE FERNANDO BENTO - texto de Carlos Rico:

Fernando Carvalho Trindade Bento nasceu na cidade de Lisboa a 26 de Outubro de 1910. Aos 12 anos publicou os seus primeiros desenhos no jornal “O Desportivo”, uma publicação do Liceu Camões.
Aos 19 anos tirou um curso de desenho por correspondência da École ABC du Dessin.
Na década de 30 trabalhou no teatro de revista fazendo cartazes, cenários e figurinos. Apesar de também ter trabalhado em publicidade e ter-se iniciado na pintura, ganhava a vida como empregado comercial na empresa BP.
No jornal “Os Sports” fez desenhos de ciclistas e no “Diário de Lisboa” de actores.
É em 1938 que se inicia na banda desenhada no suplemento infantil do jornal “República”.
Em 1941 transfere-se para o Pim-Pam-Pum, suplemento de “O Século”.
Entre 1941 e 1951 esteve ligado à revista Diabrete, dirigida por Adolfo Simões Müller. Aí publicou algumas séries cómicas, como por exemplo, “Béquinhas, Beiçudo & Barbaças” e “Diabruras da Prima Zuca”.
Publicou o seu primeiro álbum em 1948: uma adaptação de Adolfo Simões Muller de As mil e uma noites, intitulada “A última história de Xerazade”.
Os seus trabalhos no Diabrete abrangem séries cómicas, mas também desenhou histórias realistas, como as adaptações de obras de Júlio Verne “A ilha misteriosa” e “Matias Sandorf” e de “A Ilha do Tesouro” de Robert-Louis Stevenson.
Adaptou ainda “As Minas de Salomão” de Ridder Haggard, “As mil e uma noites” e as biografias de Luís de Camões, Nuno Álvares Pereira, Serpa Pinto (reeditado em formato de fanzine pelo GICAV, em 1991) e outros vultos da História portuguesa. Publicou também “A Montanha do Fim do Mundo” (reeditado pelo GBS, em 2002).
Em 1952 iniciou a sua participação no Cavaleiro Andante, sucessor do Diabrete, também dirigido por Müller, com um magnífica adaptação de “Beau Geste”, o romanesco clássico sobre a Legião Estrangeira de Percival Cristopher Wren. Este seu trabalho viria a ser publicado na Bélgica em língua flamenga. Muitas outras histórias se seguiram para o Cavaleiro Andante, como “O místério do Tibet” (reeditado pelo GBS no fanzine Cadernos Sobreda BD, em 1991), “O anel da Rainha de Sabá”, de Rider Haggard, “Quentin Durward” de Walter Scott, “A Torre das Sete Luzes”, “Moby Dick” (reeditado pela Câmara de Moura, em 2010) ou “A jóia do vice-rei”. Adaptou algumas aventuras de Sherlock Holmes e os clássicos juvenis do alemão Erich Kästner “Emílio e os detectives” e “Emílio e os três gémeos”. Em 1962, com o fim desta revista, houve uma pausa na actividade de Fernando Bento na banda desenhada
Em 1973, onze anos mais tarde, publicou no jornal “A Capital” uma nova história de banda desenhada, “Um campeão chamado Joaquim Agostinho”.
Fernando Bento ilustrou também vários livros como “O Mistérios dos Cães Desaparecidos”, de Ana Meireles, e manuais escolares de inglês e francês
Em 1993 publicou em álbum, com argumento de Jorge Magalhães, o primeiro volume de “Regresso à ilha do tesouro” de H. A. Calahan. A segunda parte da história ficou com algumas páginas por colorir devido à sua morte e foi publicada na revista “Selecções BD” em 1999-2000. Ficou por realizar a terceira parte da história. A sua última participação na banda desenhada, consistiu em desenhar duas pranchas para uma obra colectiva, “Maria Jornalista”, publicada no “Notícias Magazine” do “Jornal de Notícias” e do “Diário de Noticias” em Janeiro de 1994.
Faleceu em Lisboa no dia 14 de Setembro de 1996.
Fernando Bento está associado às toponímias de Lisboa (desde 1999) e Sobreda (desde 2002). Uma bonita forma de homenagear e perpetuar o nome de um dos grandes autores portugueses de banda desenhada!
Os festivais BD de Lisboa, Amadora, Porto, Sobreda, Viseu e Moura (este último a título póstumo) homenagearam o artista pelo conjunto da sua vasta e importante obra.
Moura, Sobreda e Viseu uniram esforços e celebram o centenário do nascimento de Fernando Bento com esta exposição evocativa.

NOTA: esta do "título póstumo" referindo-se ao Salão de Moura, não vamos levar muito a sério, OK?

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sexta-feira, 23 de abril de 2010

BDpress #125 – TEXTOS DE PERDO CLETO NO JORNAL DE NOTÍCIAS DE 14 E 17 DE ABRIL E EXPOSIÇÃO COMEMORATIVA DO CENTENÁRIO DE FERNANDO BENTO

Depois de duas semanas loucas, com preparação (profissional) de materiais para a 80ª Feira do Livro, que este ano se realiza de 29 de Abril a 16 de Maio, voltamos com os recortes de imprensa e o Convite da Câmara Municipal de Moura para a Exposição do Centenário de Fernando Bento (1910/1996). Esta Exposição estará também na Sobreda de Caparica (Almada), de 25 a 27 de Junho e em Viseu, na primeira quinzena de Outubro. Uma maneira expedita de os “três salões de BD” que pareciam acabados, darem algum sinal de vida.

Jornal de Notícias, 14 de Abril de 2010

QUADRADINHOS VALEM MILHARES

Revistas de banda desenhada que fizeram as delícias de gerações são procuradas pelos coleccionadores

F.Cleto e Pina

Se em Portugal não há edições que atinjam o milhão e meio de dólares pagos há dias pela Action Comics #1 onde nasceu o Super-Homem, colecções de títulos marcantes como o 'Papagaio', o 'Mosquito', ou o 'Cavaleiro Andante' podem render alguns milhares de euros.
Para fazer uma estimativa desses valores, o JN contactou alguns dos principais livreiros do sector, que desde logo salvaguardam as devidas (e enormes) distâncias existentes entre o meio nacional e o norte-americano, a todos os níveis.

O que não quer dizer que alguns títulos não façam os interessados perder a cabeça em negócios que podem chegar às dezenas de milhares de euros. Por isso, um coleccionador, além de ter sempre disponíveis "uns trocos no bolso", tem de ser dotado de grande paciência num negócio em que não há cotações fixas, pois estão dependentes do estado de conservação das peças, da oferta e da procura.

Assim, por exemplo, uma colecção completa do "Papagaio" (722 números), bastante difícil de se encontrar, pode valer uns 5 mil euros, revelou José Manuel Vilela, da Livraria do Duque, em Lisboa. No entanto, como esta revista, dirigida por Adolfo Simões Müller, foi a primeira a publicar em todo o Mundo as aventuras de Tintin a cores, os números em que o repórter aparece na capa, muitas vezes desenhado por autores nacionais, ou com o colorido criado em Portugal e nunca mais utilizado, têm grande procura por parte de belgas e franceses, podendo ser transaccionados por 20 ou 30 euros cada um, acrescenta Alberto Gonçalves, da Timtimportimtim, no Porto.

DIFÍCEIS DE ARRANJAR

Nos últimos anos, são também bastante valorizados, por pessoas que vêm de fora da BD, de áreas como o design ou a pintura, as revistas que incluem histórias aos quadradinhos criadas por artistas agora conceituados como Júlio Resende, Stuart Carvalhais ou Júlio Gil. Aliás, vendem-se mais números soltos para completar colecções ou substituir edições em pior estado do que colecções completas, cada vez mais difíceis de aparecer, refere a livraria Chaminé da Mota, no Porto, onde há muitas listas de espera.

Outras revistas das décadas de 30, 40 e 50 do século passado, a época de ouro das publicações infanto-juvenis em Portugal, atingem também valores considerados interessantes: é o caso do "Diabrete" (887 números) e do "Cavaleiro Andante" (556), transaccionados por três mil euros, ou do "Camarada" (194) por metade do valor. "O Mundo de Aventuras", espalhado por quatro décadas, cinco séries e mais de 2 mil números é difícil de cotar.

FÃS DE VÁRIAS GERAÇÕES

Mais valorizada é a mítica revista "Mosquito" (1412 edições), que fez as delícias dos miúdos nas décadas de 30 e 40, cujas cerca de 50 colecções existentes no país, na estimativa de José Vilela, podem valer até 7500 euros. Mas, segundo José Oliveira, do site BDPortugal, que lista metade dos 60 mil títulos de BD editados desde sempre no nosso país, estas colecções têm vindo a perder valor, porque muitos coleccionadores procuram os títulos que leram na infância e juventude e a geração do "Mosquito", por exemplo, tem hoje para cima de 70 anos…

Por isso, compreende-se que na livraria portuense Paraíso dos Livros as colecções mais procuradas actualmente sejam as do "Tintin" (728 números, cujo valor pode chegar aos 1500 euros) e do "Jornal do Cuto" (174 números, 500 euros), pois são datadas dos anos 70, tendo sido lidas pela geração que conta hoje 40 anos.

Valores semelhantes aos citados encontram-se com alguma facilidade na Internet, em sites especializados, ou então algo inflacionados em sites de leilões, onde com regularidade surgem números soltos destas e de outras publicações. E numa época em que as revistas praticamente desapareceram, substituídas pelos álbuns, os valores atingidos por estes estão longe de ser tão atractivos. Mesmo assim, há títulos da Meribérica/Liber (das séries Blueberry ou Valérian), dos anos 80, que já ultrapassam os 100 euros, e as poucas edições dos "Álbuns do Camarada", dos anos 60, estão cotadas próximas dos 300 euros, pertencendo a uma delas - Clorofila e os Quebra-Ossos - o recorde de venda: 575 euros.



Texto para a revista NS de 17 de Abril de 2010

HÁ 75 ANOS VOAVA O PAPAGAIO

F. Cleto e Pina


Amanhã, passam 75 anos sobre o lançamento de O Papagaio, revista que, juntamente com o Mosquito, Mundo de Aventuras, Diabrete, ou Cavaleiro Andante, formou e fez sonhar muitas gerações portuguesas ao longo de décadas.

Foi a 18 de Abril de 1935 que O Papagaio abriu pela primeira vez, se não as suas asas, pelo menos as suas páginas às mãos e olhos ávidos dos miúdos a quem a revista se destinava, como se lia por baixo do seu cabeçalho, ao lado do qual também estava o preço – elevado para a época - de 1$00. No interior desse número inaugural – como durante o resto da sua vida, onde nunca ocupou mais de um terço das páginas - a banda desenhada – então chamada histórias aos quadradinhos pois o francesismo só entraria em uso décadas depois – era pouca, limitada a uma prancha de Tom (Thomaz de Melo, um dos responsáveis pela capa e pelo grafismo atraente da novel publicação), intitulada “Sabichão em calças pardas”, e meia prancha de Stuart Carvalhais, com os seus Quim e Manecas. Nas suas páginas, a preto e branco, uma ou várias cores, a prioridade era dada a contos, curiosidades, passatempos e concursos, tudo com um forte pendor didáctico e formativo, algo perfeitamente normal na época.

Publicação católica, semanal, com saída às quintas-feiras, propriedade da Renascença, tinha como director um dos maiores nomes que o jornalismo infanto-juvenil português conheceu, Adolfo Simões Müller (ver texto).

A revista viria a durar 722 números, com altos e baixos, como é incontornável, e dela ficou como principal imagem de marca ter servido de modelo a muitos dos títulos infanto-juvenis lançados nos anos seguintes e o ter publicado – como estreia fora da francofonia e pela primeira vez a cores em todo o mundo – as aventuras de um certo Tintin (ver texto à parte). Hergé, o seu autor, no entanto, seria um dos poucos autores estrangeiros publicados em O Papagaio, juntamente com Jacobsson, Urátegui, Gordillo, Walter Booth e poucos mais, uma vez que a aposta principal de Müller foi sempre para os autores nacionais, alguns dos quais começaram ainda adolescentes nas suas páginas. Foi o caso de José Ruy, hoje um veterano, especialista em temas históricos, e o autor português com mais álbuns editados, que lá publicou as suas primeiras histórias aos quadradinhos quando contava apenas 14 anos, curiosamente todas no domínio da ficção.

Outros nomes nacionais que desempenharam um papel significativo no sucesso de O Papagaio, para além do já citado Tom, foram José de Lemos (responsável por toda a parte gráfica, após a saída daquele), Arcindo Moreira, Meco ou Rodrigues Neves. Mas, afirmam João Paiva Boléo e Carlos Bandeiras Pinheiro em “A Banda Desenhada Portuguesa 1914-1945” (Fundação Calouste Gulbenkian, 1997), deve-se aos irmãos Sérgio Luiz e Guy Manuel, precocemente desaparecidos, “a mais imorredoira criação de O Papagaio”, o Boneco Rebelde, protagonista de quatro aventuras.

Como casos peculiares há que citar ainda José Viana, o actor e humorista, autor de diversas bandas desenhadas de crítica de costumes, e Júlio Resende, hoje pintor de renome, então animador das festas e das emissões radiofónicas e criador do “emblemático Fagundes Arrepiado” que, escrevem Boléo e Pinheiro, revelava “um humor subtil e desconcertante, inteligente e invulgar, com uma originalidade que lhe vem de uma ironia natural”, e que também engrossaram, com engenho e mérito, o número de colaboradores da publicação. Por ela passariam ainda, embora de forma breve, nomes depois consagrados da 9ª arte nacional como Artur Correia, Vítor Péon ou José Garcês.

Com o modelo consolidado, apoiado também em separatas com banda desenhada ou construções de armar, concursos variados, no incentivo à correspondência por parte dos leitores e num programa radiofónico que alcançou grande sucesso, Simões Müller sairia no número 302, para dirigir o novo “concorrente” Diabrete, sendo o cargo de director assumido sucessivamente por Artur Bivar, José Rosa Ferreira e Laurinda Borges Magalhães.

Se, consensualmente, os primeiros cinco anos foram os melhores, os últimos foram de natural declínio, provocado também pelo aparecimento de novas propostas de uma concorrência forte (Mosquito e Diabrete), tendo O Papagaio, enquanto publicação autónoma, calado a sua voz a 10 de Fevereiro de 1949, 14 anos mais tarde, no nº 722. Teria ainda uma segunda vida, como secção da revista Flama, durante 96 números, até 9 de Fevereiro de 1951, mas já sem grande relevância.

“No período final”, escreve António Dias de Deus em “Os Comics em Portugal – uma história da banda desenhada” (Livros Cotovia, 1997) O Papagaio “era um semanário que (…) chegava pontualmente a casa dos paizinhos assinantes, que pretendiam uma sólida formação moral para os seus rebentos. Às escondidas os miúdos iam ler “O Mosquito” emprestado…”

Eram sinais d(e nov)os tempos que O Papagaio tinha ajudado a preparar.


Legenda desta ilustração encontrada num site sobre Hergé: 16 avril 1936 : Exemplaire d'O Papagaio, premier tintin dans une langue étrangère: le portugais. Tntin en Amérique : Tim Tim na America.

TIM-TIM REPÓRTER D’O PAPAGAIO

F. Cleto e Pina

Se a publicação de Tintin, a criação máxima de Hergé, ficou como o grande feito de O Papagaio, os seus leitores tiveram que esperar quase um ano, até ao nº 49, de 19 de Março de 1936, para o herói ser anunciado na revista, como seu repórter na “América do Norte, país civilizadíssimo, donde nos chegam as maiores invenções e belas afirmações de espírito artístico” mas que é também “infelizmente, um território onde o banditismo impera, no qual indivíduos da pior espécie e de todas as nacionalidades estabeleceram de há muito arraiais”. A Milu, seu companheiro de sempre, a revista trocava o nome e o sexo, anunciando-o(a) como “a cadelinha Pom-Pom” porque, explica José Azevedo e Menezes em “O Papagaio – Um estudo do que foi uma grande revista infantil portuguesa” (2ª edição, do autor, 2007), citando Dias de Deus: “nO Papagaio já havia uma Milu, Maria de Lurdes Norberto, que recitava e cantava aos microfones das emissões infantis; Simões Müller entendeu que não ficaria bem dar o nome de uma menina conhecida a uma cadela”… Dois números depois, em novo anúncio, já na capa, o seu nome passava a Rom-Rom mas o sexo trocado manter-se-ia até ao fim da revista. Também o Capitão Haddock e o professor Tournesol foram rebaptizados, passando, respectivamente, a Capitão Rosa e Professor Pintadinho…

Finalmente, no nº 53, logo na capa, com cores vivas (e hoje exageradas) começavam as “Aventuras de Tim-Tim na América do Norte”, pela primeira vez em policromia em todo o mundo. Sinal de outros tempos, o respeito pelos originais de Hergé era pouco ou mesmo nenhum, sendo normal as pranchas serem retalhadas e remontadas, em função do espaço disponível ou a ocupar. Artur Correia, autor português de BD, ainda em actividade, numa entrevista publicada no Mundo de Aventuras 248 (5ª série, de 1978) lembra que nO Papagaio “alargava juntamente com um talentoso moço chamado Soares, os desenhos das histórias do Tim-Tim para virem publicados na página central. Nós é que fazíamos os acrescentos para transformar uma página única numa dupla”...

Modificações que também se faziam sentir ao nível dos textos, a começar logo com “Tim-Tim na América”: na fase final da história, os operários ausentes da fábrica onde o herói sofre um atentado, em greve (proibida no nosso país) no original, tinham saído para almoço… Seguir-se-ia “Tim-Tim no Oriente” (Os Charutos do Faraó, publicado do #115 ao #161), no qual o vendedor de banha da cobra Oliveira de Figueira, o único figurante luso de relevo criado por Hergé, era apresentado como… espanhol! Depois, viriam as “Novas Aventuras de Tim-Tim” (“O Lótus Azul”, #166-#205) e a aventura africana do “repórter que nunca escreveu uma linha”, que o levou a pisar solo (colonial) português em “Tim-Tim em Angola” (“Tintin no Congo”, #209-#244). Já em “O Mistério da Orelha Quebrada” (#247-#298), o general Alcazar é rebaptizado de Manduca, para não ser associado ao episódio, então recente, do cerco do Alcazar de Toledo durante a Guerra Civil espanhola. No episódio seguinte, “A Ilha Negra” (#301-#359), o adversário do herói deixou de ser o Dr. Müller (para não ser entendido como piada ao então já ex-director da revista), transformando-se num banal Dr. Silva, e em “Tim-Tim no deserto” (“O caranguejo das tenazes de ouro”, #366-#426), Haddock, que no original se sentia mal depois de beber um copo de água (por não ser de uísque) nas páginas de O Papagaio, sente-se mal mas melhora depois de beber a água! A aventura seguinte (“A Estrela Misteriosa”, #435-#540) é publicada sem título e a presença de Tintin na revista portuguesa terminaria com “O Segredo da Licorne” (#617-#679).

Para além disso, Tintin surgiu em muitas capas de O Papagaio (cujas revistas correspondentes são hoje avidamente disputadas pelos coleccionadores), em desenhos originais ou feitos por autores portugueses, como boneco articulado de montar e mesmo noutras histórias, como é o caso da primeira aventura do “Boneco Rebelde”, de Sérgio Luiz e Guy Manuel, em que contracena com o protagonista nas páginas iniciais, e como despoletador da acção em “Na pista de Tim-Tim”, de Diniz de Oliveira e Rodrigues Neves.

Pelo meio, ficaram também as tentativas goradas de Simões Müller de o levar consigo para o “Diabrete” (o que só conseguiu após o fim de O Papagaio), onde teve de se contentar com “Trovão e Relâmpago” (aliás “Quick et Flupke”), inicialmente publicados sem conhecimento de Hergé, e o facto de parte dos direitos de Tintin terem sido pagos em géneros, mais exactamente em latas de sardinhas, enviados para a Alemanha onde estava preso o irmão do desenhador belga.

ADOLFO SIMÕES MÜLLER, UM HOMEM DOS (SETENTA E) SETE INSTRUMENTOS

F. Cleto e Pina

Lisboeta, nascido a 18 de Agosto de 1909 – o centenário passou de forma discreta há menos de um ano… - Adolfo Simões Müller, depois de ter frequentado o curso de medicina, foi jornalista, pedagogo, dramaturgo, produtor de programas radiofónicos e director do gabinete de estudos da Emissora Nacional. E também tradutor, adaptador, poeta e prosador, autor de mais de sete dezenas de obras infanto-juvenis (como Caixinha de Brinquedos e O Feiticeiro da Cabana Azul, galardoadas com o Prémio Nacional de Literatura Infantil em 1937 e 1942, respectivamente), folhetins radiofónicos, inúmeras adaptações de clássicos da literatura, romanceador de biografias de figuras de referência da nossa História, assim como de vultos da Humanidade. Para além disso, foi também argumentista de BD, colaborando com muitos dos autores que passaram pelas revistas que dirigiu, merecendo lugar de destaque as suas parcerias com Fernando Bento. Também por isso, é um dos nomes fundamentais do jornalismo infanto-juvenil em Portugal das décadas de 1930 a 1970, onde deixou marcas profundas como director de O Papagaio (1935), onde estreou Tintin, Diabrete (1941), Cavaleiro Andante (1952), Falcão (1958), Foguetão (1961), onde publicou Tintin au Tibet na versão original francesa, com a tradução em rodapé (!) e apresentou Astérix pela primeira vez (a preto e branco) aos leitores portugueses, ou Zorro (1962).

Recebeu o Grande Prémio da Literatura Infantil da Fundação Calouste Gulbenkian pelo conjunto da sua obra, em 1982 e viria a falecer a 17 de Abril de 1989 tendo, um ano depois, a Editorial Verbo instituído um prémio com o seu nome, para homenagear a sua memória e estimular a revelação de novos autores.


Adolfo Simões Müller (1909/1989)
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Pranchas de Fernando Bento
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NO DIA MUNDIAL DO LIVRO !!!
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terça-feira, 13 de abril de 2010

BDpress #124 – DOSE DUPLA DE ARMANDO CORRÊA NO ALENTEJO POPULAR, COM MAIS DUAS PRANCHAS DE “O ÚLTIMO COMBATE” DE VASSALO DE MIRANDA.

O Luíz Beira (aka Armando Corrêa) enviou-me uma série de fotocópias de páginas com as suas colaborações, tanto para o Alentejo Popular, como para o Diário do Alentejo, para me mostrar que não escreve só sobre livros de BD francófonos, mas também sobre os portugueses que lhe chegarem às mãos. OK! Fica aqui a ressalva e como há nas ditas fotocópias matéria com interesse, de vez em quando vou aqui enfiando algumas, mesmo com datas bastante atrasadas. Aliás as páginas que posto hoje são de 18 e de 25 de Março, sendo que a primeira delas, onde fala de Alix, coincide (mais ou menos) com a saída do primeiro álbum da colecção ALIX do Público/ASA.


Alentejo Popular - 18 de Março de 2010

através da banda desenhada

Coordenação de Armando Corrêa


SUA EXCELÊNCIA O HERÓI-BD: ALIX

A 16 de Setembro de 1948, na revista belga «Tintin», surgiu a primeira prancha do herói-série Alix, a obra máxima e por excelência de mestre Jacques Martin (25/09/1921-21/01/2010).

Muita Banda Desenhada realista tem sido criada localizando-se nos tempos do Império Romano, mas a série Alix é talvez a mais popular de entre todas, contando agora com 28 álbuns, havendo alguns, extras mas alusivos, a que poderemos chamar de «edições satélites». Os 19 primeiros foram publicados em português pelas Edições 70. Depois, foi a Asa que ganhou os direitos, tendo publicado já, sem a devida ordem cronológica (!!!) quatro álbuns. Ainda no nosso idioma, nove narrativas foram publicadas na extinta edição portuguesa da revista «Tintin».

Na edição original, os 18 primeiros tomos, bem como o 20.°, são de autoria total de Jacques Martin. No 19°, no grafismo, houve a colaboração de Jean Pleyers. Depois, seguiram-se quatro, com o traço do jovem suíço Rafael Morales, tendo a série continuado com o traço de Christophe Simon (três álbuns) e, o que foi o mais recentemente editado, “La Cité Engloutie”, tem o grafismo de Feny.

Alix é um jovem gaulês que se torna cidadão romano por adopção e, logo a partir da segunda aventura, torna-se seu companheiro permanente o jovem príncipe egípcio Enak. Há quem insinue que, de um modo subtil, há uma ligação sentimental entre ambos... Martin nunca negou nem confirmou esta hipótese. Em 2007, a Bélgica editou um selo onde figuram Alex e Enak. Há poucos anos atrás, a RTP 1 passou nas manhãs de sábados ou domingos a série “Alix”, em Cinema de Animação, cremos que sob produção inglesa, mas não conseguimos detectar os seus responsáveis...

A série “Alix”, bem dinâmica e movimentada, está muitíssimo bem documentada nos mais diversos aspectos (usos, costumes, arquitectura, etc.) da época, pelo que se demarca como uma obra didáctica de alto valor.


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alentejo popular - 25 de Março de 2010

através da banda desenhada

Coordenação de Armando Corrêa


BREVE ENTREVISTA COM O ARTISTA BRASILEIRO LEO

O seu nome artístico, Leo, é consequência das iniciais do seu nome real, Luís Eduardo Oliveira. Nasceu no Rio de Janeiro a 1 de Janeiro de 1944. No Brasil, formou-se em Engenharia Mecânica. Em 1971, escapa-se da ditadura militar e foi viver para o Chile e depois para a Argentina. Regressa clandestinamente ao seu Brasil, onde inicia a carreira de ilustrador e de banda desenhista. Em 1981, instalou-se em Paris, onde a sua carreira despontou verdadeiramente. Com frequência passa por Lisboa, na idas e vindas ao Funchal, donde é sua esposa, que aí tem familiares. Em 2000, foi o homenageado estrangeiro no salão «Sobreda-BD» desse ano, tendo recebido o Troféu Sobredão.
Com vasta obra, entre histórias soltas e séries, destacam-se: “Gandhi, o Peregrino da Paz” (com guião de Benoit Marchon), as séries “Trent” e “Kenya” (com guiões de Rodolphe), a série ”Dexter LondoID” (onde é argumentista, com o traço do jovem espanhol Sergio Garcia) e, como artista absoluto, uma belíssima série de ficção científica (ou melhor, futurista) com os ciclos “Aldebaran”, “Betelgeuse” e “Antare”. Veio ainda a série “Terres Lointaines”, em colaboração com lear. Impunha-se pois uma breve entrevista para esta página. E aí está ela:

Brasileiro de origem, hoje és um notável artista- BD da Europa. Curioso, não é? No teu íntimo, sentes-te dividido por dois continentes ou isso não te aflige no campo da tua carreira?
O facto de eu ter nascido num continente e ter construído a minha vida actual num outro não é motivo da aflição. Ao contrário, isto dá-me uma agradável sensação de ser um cidadão do mundo. Eu não gosto muito de fronteiras.

Depois de uma muito apreciável incursão tua por um “western canadiano”, com guiões do Rodolphe para a série “Trent”, apostaste na ficção futurista com outras maravilhosas séries. Porquê esta opção?
A ficção futurista sempre foi o meu terreno de predilecção. Ela permite uma liberdade de criação. “Trent”, que eu tive o prazer de desenhar, reflectia mais o universo do Rodolphe.

A BD humorística nunca te seduziu?
Não, eu não me sinto à vontade na BD humorística. Eu acho que fazer humor requer um tipo de talento bem específico que eu não tenho.

Em Portugal, foste homenageado ao vivo no salão “SobredaBD/ 2000”. Que guardas, emotivamente, de tal homenagem ?
A lembrança que eu guardo do salão “Sobreda-BD/2000” é a de momentos muito agradáveis em companhia de pessoas muito simpáticas e de grandes qualidades humanas. Sem falar da vossa maravilhosa fartura de comidas e dos vinhos!...

Como vês o actual panorama da BD, sobretudo quando há uma invasão de mangás e quando algumas vozes negativas vaticinam que a BD é uma Arte em vias de extinção?
Eu acho que a BD se porta muito bem. Como prova, ela pouco ou nada foi afectada pela famosa crise económica. Quanto à invasão dos mangás, ela existe, mas a BD europeia é, a meu ver, de muito melhor qualidade em termos de argumento e de desenho, e ela é perfeitamente capaz de resistir.

Que sonhos, a breve tempo, programas para a tua carreira?
Meu sonho, é continuar a criar minhas BD por muitos e muitos anos! Aliás estou neste momento a iniciar uma nova série, que pretendo levar em paralelo com “Antares”. Chama-se “Les Rescapés”, e contará a história de um grupo de sobreviventes do desastre que destruiu a nave Tycho Brahe, quando ela se dirigia a Aldebaran. Eles caem num planeta desconhecido e inexplorado e deverão lutar pela sobrevivência. E não será fácil, porque para além de animais estranhos e amea adores, o planeta é habitado por uma miríade de povos extraterrestres que ali tombaram através dos séculos.



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sexta-feira, 9 de abril de 2010

ENCONTROS DE EDIÇÃO INDEPENDENTE E EXPOSIÇÃO DE EUGÉNIO SILVA NO BARREIRO

ENCONTROS DE EDIÇÃO INDEPENDENTE - amanhã, 10 DE ABRIL

PROGRAMA
- Fanzines: continuação da aventura por Daniel Seabra Lopes
- Exibição de excerto sobre fanzines da série de tv Ver BD (de Pedro Moura)
- Conferência de imprensa sobre a comemoração dos 10 anos da MMMNNNRRRG
- Feira de Fanzines
Alguns títulos disponíveis nesta sessão: vários da Chili Com Carne, Imprensa Canalha, MMMNNNRRRG e Opuntia Books, zines do Rodolfo, Latrina do Chifrudo, Alçapão - zine de arquitectura dura, Cospe Aqui, Reject'zine, King Cat entre vários títulos estrangeiros vindos de França, Itália, Sérvia, Brasil, Bélgica, EUA, Inglaterra, Suécia e Noruega.

Novidades:
Heron Rules de Massimiliano Bomba pela Opuntia Books
Meteoro imprevisível de David Campos e Nuno Marques, pela Paracetamol
Subir a Montanha de Marta Monteiro, editado pela Café Royal Books (Inglaterra)
Tenho de ver isso de Silvia Rodrigues

organização: Chili Com Carne com o apoio do Centro Mário Dionísio


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EXPOSIÇÃO DE EUGÉNIO SILVA NO BARREIRO
Uma referência no mundo da ilustração



No dia 17 de Abril, pelas 16h00, inaugura, na Galeria Municipal de Arte, a Exposição de Eugénio Silva com Aguarelas, Ilustração, Banda Desenhada e Teatro. A mostra está patente até 29 de Maio.

Eugénio Silva em 2004 foi distinguido pela Câmara Municipal do Barreiro pelo seu percurso artístico com a atribuição da medalha “Barreiro Reconhecido”.

Eugénio Silva nasceu no Barreiro em 1937 e estudou na Escola Industrial e Comercial Alfredo da Silva, tendo posteriormente ingressado na Escola de Artes Decorativas António Arroio. Nesta escola, de 1950 a 1954, frequentou e concluiu o curso de Desenhador-Gravador Litógrafo, tendo como mestres Abel Manta, no Desenho, Pedro Jorge Pinto, na Aguarela, e Rodrigues Alves, na Banda Desenhada.

A sua vida profissional iniciou-se como desenhador profissional na “Litografia Amorim” passando depois para a extinta CUF em 1957, como desenhador de carpetes.
Em 1965 passou ainda pelas agências de publicidade “Forma” e “Espiral Publicis” tornando-se free lancer a partir de 1968, que mantém até hoje.

Iniciou-se na Banda Desenhada ainda como estudante da António Arroio. Autor de texto e desenho, tem mais de uma dezena de obras, onde se incluem colaborações em publicações no estrangeiro. Desde 1966 que realiza exposições em Portugal e Espanha.
Além de Aguarelista e autor de Banda desenhada, colaborou como ilustrador em livros didácticos, romances juvenis de autores de renome como Emílio Salgari, Enid Blyton ou Alfred Hitchcok, jogos infantis, mapas e outros.

Começou no teatro como actor, cenógrafo e figurinista no grupo de teatro da SIRB “Os Penicheiros”. Fez parte também do TAB – Teatro de Amadores do Barreiro, no Clube 22 de Novembro. Há duas décadas ingressou no ARTEVIVA – Companhia de Teatro do Barreiro, onde ainda se encontra.

Em 2004 foi distinguido pela Câmara Municipal do Barreiro pelo seu percurso artístico com a atribuição da medalha “Barreiro Reconhecido”.




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ATENÇÃO: ONTEM ESQUECI-ME DE PUBLICAR AS FOTOS NO POST SOBRE A TERTÚLIA BD DE LISBOA. MAS JÁ LÁ ESTÃO!!! OK?
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quinta-feira, 8 de abril de 2010

TERTÚLIA BD DE LISBOA – ANO XXIV – 309º ENCONTRO – 7 DE ABRIL 2010-04-07

Após dois meses de ausência lá fui a mais uma Tertúlia, agora a ter de percorrer cerca de 200 Km (da Malveira da Serra eram só cerca de 70) – ida e volta, claro.

Foi um falhanço de dois meses mas… de três Encontros da Tertúlia!? Bem, a explicação é que em Março, para além da Tertúlia normal de 2 de Março, realizou-se um Encontro Especial em 9 de Março porque estavam em Portugal os autores argentinos do celebrado livro “As Incríveis Aventuras de MendonçaDog e Pizzaboy”, Juan Cavia, Santiago Villa, Martins Tejada (autores respectivamente do desenho, cor e adaptação) e que, em conjunto com Filipe Melo, o autor do texto, andaram a promover esta produção luso argentina. Daí a oportunidade para Geraldes Lino realizar um Encontro especial onde esteve aquela malta toda e onde, ao que parece se venderam alguns livros.

Quanto ao Encontro deste mês de Abril, o Convidado Especial foi João Vasco Leal. A QualAlbatroz promoveu o Ecozine Celacanto #2 – sobre o LOBO (não tivemos direito a oferta do dito, portanto népia de capa deste Celacanto) e o Grupo Entropia distribuiu um folheto “Agarremos a Madeira” (senão ela afunda-se, digo eu…) que reproduzimos abaixo.

Ficam aqui os materiais impressos distribuídos por Geraldes Lino (não houve Tertúlia BDzine este mês), o Comic Jam realizado – um dia destes hei-de escrever sobre esta coisa do Comic Jam… – e mais umas fotos deste Encontro e um pequeno vídeo via You Tube.











PARA VEREM O VÍDEO CLIQUEM AQUI!

A prancha do Comic Jam, com desenhos de João Vasco Leal – FIL - André Oliveira - João Ataíde - Miguel Gabriel e Joana Afonso:


Podem ser vistas mais pranchas no blog de Geraldes Lino, Divulgando BD.
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domingo, 4 de abril de 2010

BDpress #123 – Mais um texto de Pedro Cleto: COMO A BD VIVE A RELIGIÃO

Para não tornar demasiado longo o post de ontem, deixei para hoje (até porque é mais apropriado ao “santo” dia…) o texto que se segue. As ilustrações são da responsabilidade do Kuentro, até porque o texto foi sacado directamente do Jornal de Notícias online e ainda não me chegou a página digitalizada como habitualmente acontece.

Jornal de Notícias, 2 Abril 2010

COMO A BD VIVE A RELIGIÃO

F. Cleto e Pina

Abordagens em histórias aos quadradinhos são as mais variadas, desde a pura ficção à ilustração da Bíblia.

Criada à imagem e semelhança dos autores que nela trabalham e do meio em que estão inseridos, a banda desenhada, naturalmente, tem abordado de forma recorrente questões religiosas. E fá-lo dos mais variados prismas, da pura ficção à ilustração da Bíblia.

Neste último caso está "The Book of Genesis Illustrated", de Crumb, pai da BD underground, que prometia polémica mas se revelou uma leitura fiel do primeiro livro da Bíblia, ilustrado com muita mestria. Também no final de 2009, surgiu "Yeshuah - Assim em cima, assim embaixo", dos brasileiros Laudo e Omar Viñole, primeiro de uma trilogia sobre um Cristo muito humano.



São dois exemplos recentes de uma linhagem já com algumas décadas, a que, como sinal dos tempos, se podem juntar "The Manga Bible", criada pelo britânico Siku, ou "The Manga Bible Story-japanese: Comic Book Style Bible", do japonês Masakazu Higuchi.
A outro nível, Charles Schulz, um luterano convicto, muitas vezes pôs os Peanuts a citar versículos bíblicos (o que originou o livro "The Gospel According to Peanuts"), e Maurício de Sousa ilustrou "Passagens Bíblicas com a Turma da Mônica".






Num contexto histórico, encontra-se a biografia de "Don Bosco", feita em 1949 por Jijé, desenhador de Spirou e Jerry Spring, "A aparição de Fátima", do mestre português Eduardo Teixeira Coelho, ou "Avec Jean-Paul II", de Bar, Koch e Lehideux. "El Increible HomoPater", uma BD, polémica, do artista plástico colombiano Rodolfo Leon, dava também o protagonismo a João Paulo II, mas como um super-herói regressado dos mortos para combater o mal, treinado por Batman e Super-Homem…


Outros papas inspiraram autores de BD, em registos (mais ou menos) ficcionados. É o caso de "Bórgia", um retrato virulento e licencioso do papado de Alexandre VI, a série "Escorpião", que conta as aventuras de um caçador de relíquias sagradas, em busca da verdadeira cruz onde o apóstolo Pedro foi crucificado, para desmascarar intrigas papais, ou o mais clássico "Vasco", de Chaillet, sobre as lutas pelo poder - secular e religioso - na Itália do século XIV.


As teorias da conspiração, na sequência do êxito do "Código Da Vinci", têm inspirado muitas obras, mas antes do livro de Dan Brown já havia histórias aos quadradinhos com esta temática, como "Le Triangle Secret", escrito por Didier Convard, baseado no pressuposto que Jesus teria um gémeo que ocupou o seu lugar após a crucificação.
Já "O Decálogo", escrito por Frank Giroud, versa sobre uns eventuais 10 mandamentos deixados por Maomé, cuja divulgação poderia mudar a história das religiões muçulmana, cristã e judaica. "Revelações", de Paul Jenkins e Humberto Ramos, é um policial que decorre em pleno Vaticano, num confronto entre fé e razão, e no mesmo registo, surge "O terceiro Testamento", de Dorison e Alice, que narra uma longa investigação de um inquisidor caído em desgraça.


Com um outro nível de leitura, surgem "Dieu en personne", um ensaio em BD sobre a divindade, da autoria de Mathieu, que começa com o regresso de Deus à Terra que criou, para ver o seu estado, terminando num mega-processo contra Ele, e "Pourquoi j'ai tué Pierre", em que Oliver Ka, com o desenhador Alfred, aborda de forma pudica e sensível, num registo autobiográfico, um tema que infelizmente faz a actualidade: a pedofilia na Igreja Católica.


A existência de tantas abordagens justifica uma exposição todos os anos na catedral de Angoulême, durante o mais importante festival europeu de BD.
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Já agora, completando um pouco o ramalhete, Pedro Cleto não fala deste último livrinho (não foi lá muito divulgado), que, a bem dizer nem é banda desenhada mas sim vários cartoons de Piem, editado em 2004 pelas Edições 70 e legendado por este vosso servidor...
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E para terminar por hoje, falta acrescentar um importantíssimo dado da conjuntura internacional: ontem, dia 3 de Abril, foi O DIA INTERNACIONAL DA GUERRA DE ALMOFADAS. O que é que eles inventarão mais?


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sábado, 3 de abril de 2010

BDpress #122 – Pedro Cleto no Jornal de Notícias: AS AVENTURAS DE ZÉ LEITÃO. CREPÚSCULO EM BD. NOVO MÁXIMO EM LEILÃO DO #1 DE SUPERMAN.

Três textos de Pedro Cleto a merecerem a atenção dos bedéfilos interessados: Sobre o novo livro de Pedro Leitão, banda desenhada para crianças, uma vertente da BD feita em Portugal com um tremendo défice de autores e que explicará o cada vez mais acentuado declínio do número de leitores de BD neste país – quando não se forma público, é isso que acontece e tenho-o escrito várias vezes. Portanto é de saudar a persistência (bem sucedida, ao que parece), de Pedro Leitão com AS AVENTURAS DE ZÉ LEITÃO E MARIA CAVALINHO, de que saiu agora o 5º livro. Note-se, já agora, que Pedro Leitão encara a actividade de criar livros de BD para crianças com grande profissionalismo, uma vez que, depois de saírem os livros, ele arranca para visitas às escolas por todo o país, em acções de divulgação junto dos potenciais leitores.

Depois Pedro Cleto escreve sobre a adaptação de CREPÚSCULO para BD por Young Kim e sobre um novo recorde na venda da revista ACTION COMICS #1 (de 1938), onde se deu a estreia do Superman.


Imagens cedidas por Pedro Leitão.

Jornal de Notícias, suplemento In de 27 de Março de 2010

AS AVENTURAS DE ZÉ LEITÃO E MARIA CAVALINHO #5 – OS ARTISTAS DA ALMOFADINHA VERDE

Pedro Leitão (texto e desenho)
Gailivro

Este é um caso raro na banda desenhada portuguesa: uma série com continuidade, que vai sendo desenvolvida – de forma coerente e sustentada – álbum após álbum. E este já é o quinto. Mérito do autor, que tem apresentado trabalho, mérito da editora, que tem apostado nele, e mérito dos leitores, que foram conquistados e garantem as (indispensáveis) vendas para sustentar o projecto.

De cariz infanto-juvenil, área tão importante, pela sua característica formativa – tout-court e de leitores de BD – e tão pouco (e mal) explorada nos tempos que correm no nosso país, no que aos quadradinhos diz respeito, este álbum narra mais uma aventura da família composta pelo porco Zé Leitão, a égua Maria Cavalinho, e o seu filho (porco, também) Filipe Cavalinho Leitão, que tem como tema de fundo, explorado de forma breve e livre, a pintura e as exposições de arte, que contribuem para o aprofundar dos laços dos protagonistas.

Ancoradas sempre na realidade, estas histórias surpreendem especialmente pela forma como, no seu desenvolvimento, o autor consegue interligar o real com o imaginário (bem infantil), de uma forma tão inesperada quanto natural, de forma que a acção continua a decorrer como se nada de espectacular tivesse acontecido. Veja-se, neste livro, como uma viagem de carro tão depressa se transforma num passeio aéreo a bordo de uma prancha de surf, sem que ninguém se pareça aperceber quão invulgar é tal facto!

Para essa boa interligação, contribui também o desenho, simples como o público-alvo obriga, de cores não muito vivas mas agradáveis, e suficientemente dinâmico e expressivo para complementar a narrativa e dotá-la dos ritmos certos.

F. Cleto e Pina
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Imagem da responsabilidade do Kuentro.

Jornal de Notícias 30 Março 2010

"CREPÚSCULO" CHEGA À BANDA DESENHADA

F. C. Pina

Depois dos livros - que venderam cerca de 85 milhões de exemplares em mais de 50 países - e do filme, com Robert Pattinson e Kristen Stewart, a saga "Crepúsculo" tem também uma versão em quadradinhos, cuja edição nacional chegará às livrarias no próximo dia 20.

Lançada nos Estados Unidos da América, no passado dia 16, pela Ien Press, com uma tiragem de 350 mil exemplares, "Crepúsculo - A novela gráfica" é da autoria da sul-coreana Young Kim, podendo, por isso, ser designado como manwha, nome dado à banda desenhada coreana, próxima do estilo japonês, actualmente o preferido pelos leitores mais jovens.

Trata-se da primeira obra desta autora, que, até agora, apenas tinha ilustrado capas e trabalhado em animação, que se baseou na história de amor entre a jovem Bella e o vampiro Edward Cullen, originalmente escrita por Stephenie Meyer.

A escritora, que supervisionou, de perto, a adaptação, em especial ao nível dos diálogos e da escolha das cenas a incluir, comentou que "Young Kim fez um óptimo trabalho ao transformar as palavras que escrevi em belas imagens ".

Este volume, com 224 páginas a preto e branco, é o primeiro dos dois tomos previstos, mas a data de lançamento do segundo ainda não é conhecida.
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Imagem da responsabilidade do Kuentro.

Jornal de Notícias 31 de Março de 2010

SUPER-HOMEM PULVERIZA RECORDE
REVISTA DE ESTREIA DO SUPER-HOMEM VENDIDA POR 1,5 MILHÕES


F. Cleto e Pina

Um exemplar da revista Action Comics #1, com a estreia do Super-Homem, foi vendida nos Estados Unidos por um milhão e meio de dólares, pulverizando o anterior recorde que assim durou pouco mais de um mês.

A venda foi efectuada pelo site de leilões ComicConnect, que em meados de Fevereiro vendera já um outro exemplar da mesma revista por um milhão de dólares, o que constituía na altura recorde absoluto para este tipo de publicações em banda desenhada. Dias depois, a Detective Comics #27, com a estreia de Batman, suplantava aquele valor em 75 mil dólares. A diferença é que o exemplar agora leiloado está classificado com nota 8,5 (mais 0,5 do que o exemplar anterior) pelo Certified Guaranty Company (CGC), uma tabela utilizada igualmente para moedas e notas, cuja escala varia de 0 a 10 segundo a raridade e o estado de conservação da peça.

O montante agora despendido por um coleccionador anónimo – exagerado para muitos – é justificado pelo facto de ela assinalar a estreia absoluta do Super-Homem e de estarem referenciados menos de 100 exemplares desta publicação, a maior parte deles em fraco estado de conservação - ao contrário do agora vendido, que tem a capa impecável e cujas páginas mantêm praticamente intacta a cor branca original, não tendo amarelecido com o tempo, devido a ter estado “perdido” no meio de uma pilha de revistas durante quase 50 anos, até ao final da década de 1980. Depois disso foi vendida por diversas vezes, sempre por valores crescentes, tendo estado na posse de um coleccionador durante os últimos 17 anos.

Datada de Junho de 1938 (o que na prática significa que começou a circular nos EUA dois meses antes), a publicação ostenta na capa o preço de 10 cêntimos de dólar, e tem 64 páginas, parte delas a cores, das quais as 13 primeiras com a história de estreia do Super-Homem, uma criação de Jerry Siegel e Joe Shuster.

Esta nova venda atesta o interesse crescente dos coleccionadores pelas revistas da chamada Era de Ouro dos Comics, que abarca o período que vai desde 1938 até meados da década de 1950, que por isso se têm valorizado imenso. Aliás, ainda na semana passada um exemplar da Flash Comics #1, classificado como 9,6 pelo CGC, encontrou comprador por 450 mil dólares.

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sexta-feira, 2 de abril de 2010

BDpress #121 – Carlos Pessoa, no Público, L.A.M. na Visão e Pedro Cleto no Jornal de Notícias (onde fala também da morte de Dick Giordano)...

... escrevem sobre o desaparecimento de José Antunes.


PÚBLICO, 29 Março 2010

MORREU O AUTOR DE BANDA DESENHADA JOSÉ ANTUNES

Carlos Pessoa

José Antunes, autor português de BD, morreu no sábado de manhã, em Lisboa, na sequência de uma insuficiência respiratória. O funeral foi ontem no cemitério de Benfica.
José Antunes, de seu nome completo José Gomes Antunes, nasceu em Lisboa, a 25 de Maio de 1937. Fez estudos secundários na Escola António Arroio e estreou-se com cartoons na revista Flama, em 1955. As suas primeiras bandas desenhadas apareceram nas revistas Mundo de Aventuras e Camarada (2.ª série). Em 1968 desenhou uma história (Maître Biber) para a revista Tintin (edição belga).
As suas ilustrações tornaram-se presença assídua nas capas das revistas Colecção Salgari, Pisca-Pisca e outras. Foi durante vários anos director artístico do Círculo de Leitores.
A sua mais recente incursão na BD foi na obra colectiva Salúquia. A Lenda de Moura em Banda Desenhada, editada no ano passado pela Câmara Municipal de Moura.
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Jornal de Notícias, 29 de Março de 2010

BD PERDEU JOSÉ ANTUNES E DICK GIORDANNO

Pedro Cleto

O autor português de banda desenhada José Antunes morreu anteontem, sábado. Natural de Lisboa, nasceu a 25 de Maio de 1937, estudou desenho na Escola António Arroio e publicou os primeiros trabalhos na revista "Flama", em 1955.

Nos anos seguintes, executou diversas histórias aos quadradinhos para o "Mundo de Aventuras" e o "Camarada", com heróis de sua criação, como Toni Tormenta, ou biografias de figuras históricas, como Luís de Camões, Marco Pólo ou Geraldo, o sem pavor, e, em 1968, publicou "Maître Biber", no "Tintin" belga.

Autor de diversas colecções de cromos para a Agência Portuguesa de Revistas, desenhou capas e/ou cartoons para "Sempre Fixe", "Cara Alegre", "Pisca-Pisca" ou "Diário de Notícias" e foi publicista, maquetista e director artístico do Círculo de Leitores.

Uma versão de "A lenda de Moura" em banda desenhada, no álbum colectivo "Salúquia", em 2009, foi o último trabalho em BD.


Também anteontem, vítima de leucemia, morreu Dick Giordanno, nascido em Nova Iorque, EUA, a 20 de Julho de 1932.

Após estagiar no estúdio de Jerry Iger, em 1953, entrou como freelancer para a Charlton Comics, onde chegou a editor administrativo e promoveu super-heróis como o Questão, Capitão Átomo e Besouro Azul. Na década de 60, foi para a DC Comics com o argumentista Denny O'Neil, com quem, na década seguinte, revolucionou heróis como Batman, Lanterna Verde ou Arqueiro Verde. Nos anos 80, criou o logótipo de Batman no qual as letras evocam um morcego, terminando o percurso na DC Comics como vice-presidente e director editorial, tendo sido responsável pela edição de "Watchmen" ou "Dark Night Returns".
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VISÃO, 1 de Abril 2010

Obituário

José Antunes (1937-2010)

LUTO NA FÁBRICA DE SONHOS


Houve um tempo, entre as décadas de 1940 e 1960,em que a banda desenhada – então chamada «histórias aos quadradinhos» - era, para os adolescentes, uma das poucas portas abertas para o grande espaço à evasão. Jornalinhos inesquecíveis como OMosquito, o Diabrete, o Mundo de Aventuras ou o Cavaleiro Andante revelavam nas suas páginas de papel amarelado o talento de grandes autores tanto europeus como americanos e ofereciam espaço à criatividade (por vezes francamente promissora) de alguns jovens portugueses seduzidos pelo fascínio de Hall Foster, Alex Raymond, Milton Caniffou José Luis Salinas. De entres estes iriam a destacar-se, por exemplo, Fernando Bento, Eduardo Teixeira Coelho, Vítor Péon, José Ruy, José Garcês e José Antunes. Falecido no passado dia 27, com 72 anos, na mesma cidade de Lisboa onde nascera, este último não chegou talvez a ser tão conhecido como alguns dos outros citados, mas isso terá sido apenas porque a sua obra foi menos caudalosa. Porém, os leitores do Mundo de Aventuras de há mais de 50 anos lembram-se decerto do traço desenvolto e do bom ritmo narrativo da história de Geraldo Sem Pavor ou das aventuras de João Tormenta, inspiradas pelo traço de Frank Robins. José Antunes foi também cartunista da Flama e espalhou o seu talento pela 2.a série do Camarada (anos 50-6o) e pelo Jornal do Exército. A sua foi obra mais recente foi a Lenda da Moura Salúquia, publicada no álbum de autoria colectiva dedicado pela CM de Moura às lendas de mouras encantadas, de que, como sempre, foi também autor do guião. Todas as bandeiras no mundo das aventuras estão a meia haste. L.A.M.

Caricatura de Cristiano Salgado.
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