quarta-feira, 26 de novembro de 2014

BDpress #444: BRUCE SPRINGSTEEN ESTREIA-SE COMO ARGUMENTISTA DE COMICS

BRUCE SPRINGSTEEN 
PERFILHA UM FORA-DA-LEI

Diário de Notícias, 22 de novembro de 2014

Aos 65 anos, Bruce Springsteen estreia-se como argumentista de banda desenhada.

O trabalho do Boss não foi muito - a história de Outlaw Pete, que lhe era narrada pela mãe durante a sua infância, iá estava contada. E cantada. Mas, agora também se vê.

Por João Gobern

Assaltar um banco, com apenas 6 meses de idade, três deles passados na prisão, uma mão armada e a outra a segurar a fralda, vale como um princípio de enredo a que só dois universos poderão garantir a plenitude – uma canção ou uma banda desenhada.

O tema musical já existia, tomado público há cinco anos, abrindo o álbum Working on a Dream e rendendo ao Boss uma avaliação que se sintetiza numa ideia: a de ter resumido, em oito minutos, o melhor do estilo e do espírito que o compositor Ennio Morricone reservou para os westerns. Agora, numa edição da Simon & Schuster, cumpre-se o segundo desígnio de Outlaw Pete, mais um anti-herói da banda desenhada, pelo traço inquieto e envolvente de Frank Caruso, um consagrado desenhador que passou algum tempo, considerável e teimoso, a teimar convencer Springsteen de que a sua personagem justificava esse salto entre dois universos aparentemente distintos.

Springsteen que, depois do lançamento do disco High Hopes, já este ano, optou por uma pausa nos concertos, não pactua com a inatividade: estreou-se como corealizador e protagonista numa curta-metragem chamada Hunter of Invisible Game e assumiu finalmente o desafio de representar, ao participar num episódio da série Lilyhammer, em que o papel principal cabe a Miami Steve Van Zandt, guitarrista da E-Street Band, seu parceiro de palco e "irmão de sangue".

De volta a Outlaw Pete, o livro: Springsteen aplicou, à sua medida, uma memória de infância. Tomou como base uma história que lhe foi narrada pela mãe, a de "Um miúdo de coração puro" chamado Brave Cowboy Bill, e transformou-a de modo a que Pete enfileire, sem défice, na sua extensa galeria de fantásticos perdedores que, ainda assim, não calham mal no papel de exemplos para a vida real. Pete cresce como delinquente e amadurece como um assassino em combate com a consciência, até que um dia, depois de sonhar com a sua própria morte, opta por renascer, longe das cidades e das famílias em que vincara profundas e negras marcas. Junta-se com uma índia, da tribo Navajo, e divide os seus dias entre a filha, que gosta de deitar sobre o peito, e a necessidade caçar e pescar. Mas, como Springsteen entende não fintar o acerto de contas, um caçador de recompensas aparece na pista do fora-da-lei, acabando ambos por se enfrentar nas margens de um riacho em que Pete paulatinamente pescava...


O guião da banda desenhada corresponde ao texto da canção, admitindo ambos os autores que há pormenores de violência suficientes para que Outlaw Pete não deva ser considerado um livro infantil ou não se recomende, pelo menos, sem o apoio didático de pais e/ou educadores. No programa Daily Show, de Jon Stewart, Springsteen e Caruso admitiram a hipótese de este primeiro passo ganhar continuidade num futuro próximo. Se optarem por novas escalas dentro da obra cantada do rocker, a caminhada pode tornar-se tão longa quanto rica. Basta pensarmos em personagens ou situações como as da trapezista de circo Mary, Queen of Arkansas (de Greetings from Asbury Park, NJ), do casal que rompe a monotonia e a degradação fazendo-se à estrada sem limite de velocidade em Thunder Road (de Born to Run) ou do simbólico cemitério de uma civilização automóvel, e não só, em Cadillac Ranch (de The River).

Springsteen pode até debruçar-se de novo sobre uma personagem definitiva da literatura americana, Tom Joad, entregue à vida e às lembranças por John Steinbeck (As Vinhas da Ira), filtrado pelo realizador John Ford e pelo ator Henry Fonda. Faça o que fizer, a certeza continuará a dançar diante dos olhos de todos: Bruce Springsteen merecerá sempre um lugar de destaque entre os grandes retratistas de uma América em que os sumarentos ideais, os valores e os sonhos surgem temperados pelos agrestes sabores da realidade, com crises, desagregação social, corrupção e outras chagas, pelo óculo incauto do homem comum. Por agora, Outlaw Pete vale como objeto de coleção e como lenda a reter. Sendo letra de cantiga, dispensa tradução. E, como convém à figura central, lê-se de um tiro.

Bruce Springsteen e Frank Caruso

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terça-feira, 25 de novembro de 2014

SERÁ LANÇADA NO PRÓXIMO SÁBADO O #1 DA REVISTA DO CLUBE TEX PORTUGAL


SERÁ LANÇADO NO PRÓXIMO SÁBADO 
O #1 DA REVISTA 
DO CLUBE TEX PORTUGAL

Criado em Agosto de 2013, o Clube Tex Portugal é o primeiro clube português dedicado exclusivamente a um herói de banda desenhada e o primeiro autorizado oficialmente pela Sergio Bonelli Editore em todo o mundo. Destinado aos fãs e colecionadores de Tex Willer, residentes em Portugal, tem como objetivos divulgar esta personagem mítica dos fumetti italianos, criada por Gianluigi Bonelli e Aurelio Galleppini, e promover o convívio entre os seus admiradores.


Nesse sentido, a criação da revista do Clube Tex Portugal representa um passo importante e um instrumento privilegiado que permite divulgar, aprofundar e sobretudo homenagear um grande herói e uma grande série que, década após década, tem sabido ultrapassar com êxito todas as vicissitudes do mercado e todas as exigências dos leitores, batendo recordes de venda e multiplicando as suas publicações. 

De periodicidade anual, a revista será publicada em formato 21 x 27,5 cm e terá 32 páginas, impressas a cores em papel couchê, versando a temática da série e do western, contando neste primeiro número com artigos assinados por Carlos Moreira, José Carlos Francisco, Júlio Schneider, Sérgio Madeira de Sousa, Pedro Cleto, Jorge Magalhães, Paulo Guanaes, Mário João Marques e Jorge Machado-Dias, também responsável pelo grafismo e paginação. Tendo contado com o apoio, desde a primeira hora, da Sergio Bonelli Editore e da editora brasileira Mythos (responsável pelas edições brasileiras de Tex), a revista conta ainda com desenhos exclusivos de autores de Tex, nomeadamente Andrea Venturi (que assina a capa), Maurizio Dotti e Stefano Biglia, o que representa um feito ao alcance de muito poucas publicações, inclusivé em Itália, o que vem comprovar a importância e a curiosidade que a revista está a colher. 


A revista será apresentada e distribuída no próximo dia 29 Novembro, durante um jantar convívio organizado pelo Clube Tex Portugal, sendo exclusiva para os sócios, que terão direito a um exemplar gratuito, podendo ainda adquirir apenas mais um, se assim o desejarem. A venda de um segundo exemplar não tem qualquer fim comercial ou lucrativo, antes ajudará o Clube nos seus objeCtivos de promoção e divulgação da série, nomeadamente na vinda de autores de Tex Willer a Portugal e na eventual alteração da periodicidade da revista, passando esta a semestral já em 2015.

Texto de José Carlos Francisco

ALGUMAS PÁGINAS:

 

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domingo, 16 de novembro de 2014

GAZETA DA BD #34 (NA GAZETA DAS CALDAS) – Desenhadores Portugueses nos Comics Americanos (2) – NUNO “PLATI” ALVES


GAZETA DA BD #34 (NA GAZETA DAS CALDAS)
Desenhadores Portugueses nos Comics Americanos (2) – NUNO “PLATI” ALVES 

Gazeta das Caldas, 14 de Novembro de 2014
Jorge Machado-Dias

Nuno “Plati” Alves nasceu em Lisboa a 15 de Setembro de 1975 e desde cedo se interessou pela banda desenhada e, por influência de Vasco Granja, também por cinema de animação.

Ainda na escola primária, fugia das aulas para fazer pequenas bandas desenhadas, juntamente com um amigo. No secundário, Nuno usava um blusão que ostentava o nome do então futebolista francês Platini, e os colegas começaram a chamar-lhe "Plati", alcunha que ele passou a usar como pseudónimo.

Mais tarde dá-se o encontro com com diversos heróis da BD: Tintin, Blake e Mortimer, Tio Patinhas (o "Uncle Scrooge" de Carl Barks), Astérix, Michel Vaillant, Ric Hochet, Tarzan (de Joe Kubert), Capitão América, Conan, entre outros. Começando depois a reparar mais nos autores, em que destaca Hermann, Bilal, Moebius, e imagina como seu futuro ideal ser desenhador de BD.

Essa ideia leva-o a ingressar na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, para o curso de Design de Comunicação, mas depressa se desiludiu, o que o leva a abandonar as Belas Artes. Em contrapartida, tenta desenvolver o seu trabalho no desenho animado, e com essa finalidade entra para o Estúdio de Animação Neurones (já extinto), onde teve formação em "storyboard".

Mais tarde parte para Londres, onde faz um curso rápido de Animação. Volta a Lisboa, onde começa a trabalhar como ilustrador em jornais (Expresso, Diário Económico, Jornal de Notícias) e revistas (Visão, Volta ao Mundo, Elle, Activa, Cosmopolitan) e para um diversificado tipo de clientes, entre os quais as firmas Mazda, Lisbon Fashion Week, Omni, Impala... Em 2007 dá-se o “salto” mais importante na sua actividade: o trabalho para a editora norte-americana Marvel.


Numa entrevista, Nuno “Plati”, respondendo a uma pergunta do entrevistador afirma que “(...) para se chegar à Marvel há várias maneiras. Podes apresentar o teu trabalho a editores indo a convenções, podes conseguir o contacto de algum editor e enviar-lhe um e-mail com um link para o teu trabalho, ou simplesmente ter uma presença forte na net em termos de portefólio, ou teres algum trabalho publicado que se destaque e que faça com que o editor te contacte a ti. Mas geralmente o processo mais habitual será apresentar o trabalho pessoalmente a um editor numa convenção, como mencionei anteriormente.

Cheguei ao mercado Americano através da internet, mais especificamente aquando do boom do MySpace e dos blogs de arte. Por volta de 2005, o talent scout da Marvel C.B Cebulski viu o meu trabalho, tanto no myspace como no meu blog e gostou, e na mesma altura, ou pouco depois, o Argumentista Ivan Brandon, também demonstrou interesse no meu trabalho e a bola começou a rolar a partir daí.

Comecei a colaborar com a Marvel em 2007, 2008, e desde então tenho trabalhado esporadicamente com eles ao longo dos anos. No meu caso foi através da net e do meu portfolio online que comecei o contacto com Editores Marvel (...)”.

Após o contacto com o editor e argumentista americano Chester B. Cebulski, da Marvel, começa a colaborar em revistas de comics americanas, designadamente "Anthology 24 Seven" da Image Comics, em seguida na série Avengers Fairy Tales 2, participou no Iron Man Titanium, com o episódio Deadly Commute.

Em 2012 desenvolveu para a Marvel a mini-série “Marvel Universe: Ultimate Spiderman”.

Recorrendo ainda à entrevista referida acima: “(...) Estou a trabalhar actualmente para a Marvel, na mini série Alpha: Big Time.


Por uma série de factores, os prazos relativamente apertados, tendo em conta que estou encarregue de tudo no que diz respeito à ilustração, cores inclusive, as temáticas, que apesar de não fugirem às normas dum comic mainstream da Marvel, têm a particularidade de ser bastante mais intimistas, fazendo com que as cenas de “vida real” sejam mais comuns do que as de acção, o que implica o desenho de todo o tipo de cenários, desde escolas, a cenas de rua, a cenas em laboratórios, a cenas no interior de casa, etc. É de longe o meu maior desafio até agora, mas são 100 páginas em mais menos 5, 6 meses o que me fez necessariamente crescer bastante (...)”.

A opinião de Nuno “Plati” sobre a BD em Portugal e o seu rumo actual?

“ (...) Não sei, sinceramente não sei qual é o panorama. Alguns amigos meus publicam regularmente em Portugal, mas isso sempre aconteceu. Honestamente, não me parece que haja muita qualidade de top, tipo Espanha, França ou Itália. Acho que temos pessoal de valor a publicar lá fora, mas sinceramente é estranho que eu conheça pessoalmente tão bem essas mesmas pessoas e que não cheguem a ser uma mão cheia praticamente. Não creio que haja muito publico, nem muito interesse por BD em Portugal, e em termos de desenhadores de top, porque de argumentistas não posso falar, também não temos muitos (...)”.
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As bases deste texto foram buscadas no blogue de Geraldes Lino Divulgando Banda Desenhada, aquando Nuno “Plati” foi Convidado Especial da Tertúlia BD de Lisboa: http://divulgandobd.blogspot.pt/2010/09/nuno-plati-alves-sintese-biografica-do.html

E na entrevista ao site Virtual Illusion: http://virtual-illusion.blogspot.pt/2013/10/entrevista-com-nuno-plati-ilustrador-da.html
  

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sexta-feira, 14 de novembro de 2014

COMUNICADO DE IMPRENSA AMADORA BD 2014 – BALANÇOS E RESULTADOS... 30.340 VISITANTES???? (com texto crítico)

COMUNICADO DE IMPRENSA 
AMADORA BD 2014
BALANÇOS E RESULTADOS... 

O Amadora BD resolveu este ano enviar informações através de uma Assessoria de Imprensa, o que acho muito louvável. Contudo isso não impediu que a divulgação do programa se realizasse quase em cima da hora da inauguração. Agora recebi, como todos os “divulgadores” devem ter recebido, o comunicado final – Balanços e Resultados. Destaco os 30. 340 visitantes, o que, tal como deixei aqui escrito à pouco tempo, seria sempre à volta dos 30.000 (como quase sempre nos últimos 10 anos), à mistura entre bilhetes comprados e crianças das escolas do Concelho amadorense (e não só)!!!

Quando é que o Festival da Amadora começa a divulgar a verdade nos números, PUBLICANDO OS RESULTADOS DAS ENTRADAS COM BILHETES COMPRADOS? Depois até podem acrescentar quantas crianças das escolas visitaram o Festival, mas o importante são as Entradas Pagas, para percebermos qual é a relevância do mercado português de Banda Desenhada. Pela nossa experiência, durante a semana as vendas de livros são irrelevantes - o mercado dos livros (a parte mais importante do Festival) só funciona - a sério - aos fins-de-semana, quando entram os visitantes com ingressos pagos, portanto...

Deixo aqui, para comparação, parte do comunicado oficial de Festival de Lucca (Itália), realizado entre 31 de Outubro e 3 de Novembro deste ano – durante 4 dias, portanto – onde se referem apenas as entradas pagas (240.000 bilhetes). Espero que entendam alguma coisa do italiano:

QUANTA GENTE A LUCCA! TROPPA?

Leggi l'articolo completo su: Quanta gente a Lucca! Troppa? | afnews.info

Il comunicato ufficiale della manifestazione attesta il bel numero di 240.000 biglietti venduti e di circa 400.000 persone in città (non nella fiera, naturalmente). Considerando che la manifestazione che pare avere più numeri al mondo dovrebbe essere la giapponese Comiket (550.000 ingressi, grosso modo), sembra che la grande crisi economica che stiamo attraversando stimoli la spensierata gita fumettistica. Evidentemente se ne sente il bisogno. Però… La mitica San Diego ComicCon (130.000 ingressi) ha sofferto proprio per eccesso di visitatori, costringendo la città a ragionare su strutture diverse oppure a rinunciare del tutto alla manifestazione.

O texto completo pode ser lido aqui: Quanta gente a Lucca! Troppa? | afnews.info


Já agora, o Festival de Angoulême caiu este ano para cerca de 220.000 ingressos pagos e o Saló Del Comic de Barcelona subiu para cerca de 130.000. Prefigura-se portanto a subida do Festival de Lucca para o primeiro lugar do ranking dos Festivais mais visitados da Europa.

Lucca Comis and Games 2014

Angoulême 2014

San Diego Comic Con 2014

Comiket Tokyo 2014

AmadoraBD 2014

Portanto se o Amadora BD tivesse mesmo 30.340 entradas pagas (e não teve!!!), seria sempre um festivalzinho comparado com os "congéneres" europeus. Porquê? Como diz algures o José Hartvig de Freitas (ex-Devir), vamos ver o que se vai passar com o Comic Con Portugal, no final deste mês, para podermos tirar algumas ilações.

Aqui fica o Comunicado de Imprensa do Amadora BD 2014:

AmadoraBD 2014 com 30.340 visitantes

O AmadoraBD 2014 – 25.º Festival Internacional de Banda Desenhada, organizado pela Câmara Municipal da Amadora, teve 30.340 visitantes, verificando-se um acréscimo de cerca de 400 visitantes em relação ao ano anterior. Este acréscimo deu-se tanto em termos de público em geral, como em número de alunos integrados em visitas escolares.

Nesta edição comemorativa dos 25 anos, que decorreu de 24 de Outubro a 9 de Novembro, o AmadoraBD apresentou 16 exposições no Fórum Luís de Camões e 9 em diversos locais da Amadora e de Lisboa, num total de 25 exposições. Houve mais de 22 lançamentos e apresentações de álbuns e estiveram presentes 70 autores portugueses e estrangeiros entre apresentações, lançamentos, debates, sessões de autógrafos e exposições.

Registou-se ainda a satisfação generalizada por parte dos editores e livreiros presentes no renovado espaço comercial do AmadoraBD, resultado de um elevado número de novidades editoriais e de um acréscimo na procura de edições por parte dos visitantes.

Relembrando os vencedores dos Prémios Nacionais de Banda Desenhada que, em 2015, farão parte do alinhamento programático do Festival: o Melhor Álbum Português foi atribuído a Zona de Desconforto (Chili com Carne), de Amanda Baeza, André Coelho, Cristina Casnellie, Daniel Lopes, David Campos, Francisco Sousa Lobo, José Smith Vargas, Júlia Tovar, Ondina Pires e Tiago Baptista, com coordenação de Marcos Farrajota, o Prémio de Melhor Argumento para Álbum Português foi para André Oliveira, com Hawk (Kingpin Books), e Pedro Massano recebeu o Prémio de Melhor Desenho para Álbum Português, com A Batalha 14 de Agosto de 1385 (Gradiva). Safe Place, de André Pereira e Paula Almeida (Kingpin Books) foi considerado o Melhor Álbum de Autor Português em Língua Estrangeira e As Serpentes de Água, de Tony Sandoval (Kingpin Books) o Melhor Álbum de Autor Estrangeiro. No Presépio, de José Pinto Carneiro e Álvaro (Insónia/Álvaro Santos) arrebatou o Prémio de Melhor Álbum de Tiras Humorísticas. Em termos de Melhor Ilustração de Livro Infantil, a vencedora foi Vera Tavares, com Lôá Perdida no Paraíso (Tinta da China), o Prémio Fanzine foi para Espaço Marginal, de Marco Silva (Instituto Politécnico de Beja), e Maus, de Art Spiegelman (Bertrand Editora) foi vencedor do Prémio Clássicos da 9.ª Arte. Houve ainda o Troféu de Honra, atribuído a Carlos Baptista Mendes.

Em termos de continuidade, a exposição “25 Anos, 25 Autores, 25 Cartazes”, relativa aos cartazes que fazem parte das 25 edições do AmadoraBD, pode ainda ser visitada na Fnac Chiado, até 14 de Janeiro, estando depois em modo itenerante pelas lojas Fnac de todo o país. Esta exposição pode ser ainda visitada na recém inaugurada Bedeteca da Amadora, na Biblioteca Municipal Fernando Piteira Santos, bem como a exposição “O Resto da Revista – o que (quase) fica de fora das histórias da banda desenhada”, comissariada por Mário Moura, que permanece neste novo espaço até 31 de Março. A Bedeteca pode ser visitada de terça a sábado das 10h às 18h.

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quinta-feira, 13 de novembro de 2014

BDpress #443 – LOGICOMIX – UMA TRAGÉDIA ESPIRITUAL



UMA TRAGÉDIA ESPIRITUAL

"Logicomix" narra com rigor episódios essenciais da História das Ideias no século XX, sob a forma de uma novela gráfica extraordinária.

Expresso, ATUAL, 1 de novembro de 21014 

Texto José Mário Silva

De tempos, a tempos há livros que se destacam da torrente editorial pela originalidade, pelo arrojo, pela capacidade de surpreender mesmo quem julgaria já ter visto tudo. "Logicornix" é um desses raros livros que nos trocam completamente as voltas. Na verdade, o projeto de contar um período áureo da história das ideias - a busca dos fundamentos da Matemática, entre as últimas décadas do século XIX e a II Guerra Mundial - sob a forma de uma novela gráfica, sem abdicar do mais absoluto rigor científico, pode parece abstruso de início, mas depressa agarra o leitor pelos colarinhos (seja ele iniciado nas temáticas ou completamente leigo), levando-o até ao fim desta notável aventura intelectual num estado de espanto e maravilhamento.

O mérito pertence por inteiro aos quatro autores do livro: Apostolos Doxiadis, matemático, romancista, e estudioso das relações da matemática com a narrativa, que criou o conceito e escreveu o texto; Christos Papadimitriou, investigador em Ciência Computacional, cocriador da história; Alecos Papadatos, ilustrador; e Annie Di Donna, responsável pelo trabalho cromático. No fundo, eles quiseram fazer o que "99,9% das novelas gráficas são": uma "história" bem contada, com "heróis em busca de grandes objetivos". Heróis que neste caso descem do Olimpo erudito onde costumam pairar' e exibem as suas descobertas ao comum dos mortais, numa linguagem que torna compreensíveis as ideias mais complexas e os combates em torno delas, sem nunca as simplificar em excesso. Da galeria fazem, parte muitos nomes - Whitehead, Frege, Cantor, Hilbert, Wittgenstein, Gödel -, mas há um protagonista que se destaca: Bertrand Russell, um "centauro", metade matemático metade filósofo. É ele que narra a "tragédia espiritual" da procura de um caminho sólido para a Verdade, com base numa certeza absoluta (certeza que o teorema da incompletude, de Gödel, veio comprometer de vez). E fá-lo durante uma palestra numa universidade americana no dia em que o Reino Unido declara guerra à Alemanha, a 4 de setembro de 1939, intervenção que serve de fio condutor à narrativa.

Particularmente conseguida é a forma como Russell vai cruzando, no seu discurso, o percurso pessoal com as questões teóricas que o atormentaram durante décadas. Tão depressa assistimos aos terrores e epifanias infantis na mansão dos avós, com quem foi viver depois de ficar órfão aos quatro anos, como ao desabrochar da sua inteligência, a partir da descoberta dos axiomas geométricos de Euclides. Se numa página assistimos a sofisticados duelos verbais nos salões de Paris ou Viena, noutra são-nos dados vislumbres, nem sempre lisonjeiros, da sua vida particular. O que se obtém é o retrato poliédrico de um homem consumido pelo gigantismo da missão intelectual a que se propôs e marcado por um sentimento de derrota, ignorando que o falhanço muitas vezes abre portas para vitórias futuras. O sonho de Leibniz ("encontrar o método lógico perfeito de resolver todos os problemas, da Lógica à Vida Humana") estilhaçou-se mas das ruínas' surgiram novas abordagens conceptuais, como as de Turing, que permitiram a invenção do computador e da informática, colocando instrumentos da razão ao alcance de todos.

Sem grande surpresa numa obra em que são referidos sistemas autorreferenciais, um dos temas de "Logicomix" é a criação de "Logicomix". Ou seja, os quatro autores do livro também são personagens e mostram-nos o outro lado das pranchas belíssimas: as discussões sobre o rumo a dar à história, os impasses, as discordâncias, as dúvidas (Papadimitriou, por exemplo, torce o nariz à relação várias vezes sugerida entre lógica e loucura). No final, vão todos assistir a um ensaio do último ato da "Oresteia" e não haveria melhor forma de fechar o arco narrativo. Porque a tragédia de Ésquilo, ao consagrar o triunfo da razão, estabelece uma ''analogia perfeita" com a "busca épica da verdade" de Russell e companhia.

Bertrand Russell

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LOGICOMIX

Apostolos Doxiadis e Christos H, Papadimitriou (ilustrações de Alecos Papadatos e Annie Di Donna)
Gradiva, 2014, trad. de Nicolás F, Lori, 
351 págs., €16,00




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quarta-feira, 12 de novembro de 2014

BDpress #442: ENTREVISTA COM JOE STATON NO AMADORA BD: “A REPUTAÇAO DO BATMAN VAI CONSEGUIR RESISTIR AO EBOLA”

A sua personagem favorita é Helena Wayne, filha de Batman e da Cat Woman, que saiu
da sua caneta. Joe Staton desenhou o Batman nos anos 80 e 90. Tem 66 anos e vive há
décadas no mundo dos super-heróis. Veio ao Amadora BD e fez um Batman para o DN.

ENTREVISTA COM JOE STATON NO AMADORA BD:
“A REPUTAÇAO DO BATMAN VAI CONSEGUIR RESISTIR AO EBOLA”

Diário de Notícias, 1 de novembro de 2014

Por Marina Almeida

Joe Staton e a mulher, Hillarie, chegaram a Lisboa manhã cedo, na quinta-feira, depois de atravessarem o Atlântico. Um regresso, depois de uma estada longínqua nos anos 60."Deve andar por aí uma cidade muito diferente." Deve. Mas não houve tempo de a conhecer logo. Ao início da tarde, entravam no Fórum Luís de Camões, na Amadora BD, e os estranhos éramos nós. Joe, sorridente, está sempre em casa por onde quer que vá, ali ainda mais. Afinal desenhou alguns dos super-heróis mais conhecidos em todo o mundo, Foi recebido pela exposição dos 75 anos do Batman - ao qual deu vida nos anos 80 e 90. No piso de baixo, lá estava o Surfista Prateado e outra vez uma página sua. O mundo dos super-heróis é a vida deste norte-americano de 66 anos, rugas de riso franco e olhar adocicado. No final da conversa tirou da pasta o bloco A3 e um saco de plástico com lápis e canetas de diferentes espessuras. Começou por dar a forma à cabeça do homem-morcego a lápis, em traços suaves, como se desenhasse cabelos. Mal se reconheceu a cabeça e as orelhas, passou para a caneta, em traços precisos, seguros. E um Batman nasceu em poucos minutos. Hillarie, cúmplice, tirava fotografias. "Temos montes de brinquedos [dos super-heróis], quase todos no escritório dele", confidencia ela. Ontem iriam começar a redescoberta da cidade. Joe leva o bloco e é bem capaz de a desenhar. "Onde é que se come bom peixe?"

O Batman é um herói inspirado nos morcegos. No mundo atual, em que a epidemia de ébola domina a atualidade e assusta [os morcegos são o reservatório natural do vírus], teme pela fama deste super-herói?

[risos] Certo... Temos de acreditar em todas as possibilidades da ciência nos seus caminhos mas, sim, eu acho que ele vai conseguir dar conta do recado e resistir. [risos]

Será uma inspiração para novas aventuras?

Tenho a certeza de que alguém está a pensar nisso, tentar trazer tudo para a banda desenhada (BD) de uma maneira ou de outra.

Contínua a desenhar o Batman?

Não, já não faço livros de BD. Estou a fazer tiras de Dick Tracy para os jornais há três anos.

Quando desenhou o Batman?

Nos anos 80 e 90.

E acha que ele está diferente?

Sim, ele está diferente agora mas o Batman está sempre a mudar. Há tantas versões diferentes do Batman, conseguimos sempre encontrar alguma de que gostamos. Numa ocasião fiz uma exposição dos meus desenhos e descobrimos pelo menos seis versões diferentes do Batman feitas por mim. Completamente diferentes, mas continuava a Ser o Batman.

Ainda assim é um desafio para um criativo? Tem margem para inovar?

A minha margem para o Batman foi grande. Fiz livros que eram baseados no Batman animado, muito divertido, outros sobre uma campanha para banir minas terrestres na Croácia creio [Death of Innocents, the horror of landmines; 1996], e foi dark e assustador.

O Joe criou a Helena Wayne [filha do Batman e da Catwoman]...

... sou cocriador, sim...

...como é criar uma nova personagem no mundo da BD?

É muito divertido porque geralmente encontras algum ponto da história em que podes usar uma nova personagem. Com Helena Wayne, a Caçadora, estávamos a fazer Sociedade de Justiça [Justice Society no original, grupo de heróis da editora DC] e tínhamos a Power Girl. Achámos que ela precisava de outra mulher para falar. Houve então um processo em que todos contribuíram e decidimos que a Caçadora ia ser a filha de Batman e da Catwoman.

Não há na BD muitas super-heroínas. É um mundo de homens…

A BD é um clube de rapazes. Mesmo nos criadores só recentemente chegaram as mulheres. Uma personagem da Marvel é a Capitã Marvel, cujo primeiro nome é Carol, que tem uma enorme legião de fãs. Por alguma razão, de repente ela tornou-se muito popular. A Marvel tem também a Rapariga Esquilo [Squirrel Girl] que tem todos os poderes de um esquilo.

Mas a DC Comics não...

A DC tem a Supermulher e nos Teen Titans, um grupo de teenagers, a equipa desenvolveu várias personagens femininas, como a Starfire e a Raven.

Há uma "guerra" entre as duas grandes editoras, a Marvel e a DC?

[risos] Bem, isso não me afeta agora porque não estou a trabalhar para nenhuma delas, estou com o Chicago Tribune. Mas, sim, trabalhei para ambas. É comum os criadores saltarem entre as duas e lá fora há sempre a tentação de ver qual é a série mais bem sucedida, a personagem mais popular, o filme que vende mais, Batman é sempre um dos mais populares.

Como é estar com o Dick Tracy no jornal depois de anos com os livros de super-heróis?
Acompanha a atualidade?


Sai uma tira por dia todos os dias e está sindicated em vários jornais internacionais, não sei se em Portugal... O meu guionista Mike Curtis está muitos meses à frente na história mas há coisas das notícias que acabam por entrar, fazemos ajustes nas personagens. Eu desenho várias tiras por dia, elas vão saindo e no fim há uma história... se tivermos sorte!

Os humanos influenciam os super-heróis? Está sempre à procura de novos super-heróis na rua?

Claro! Sim, tem de haver muita caricatura, muito retrato. Temos de ver como é que as pessoas agem para os super-heróis estarem relacionados com as pessoas normais. Caso contrário não há ninguém para salvar...

E os políticos?

Temos bons políticos, por vezes políticos corruptos, homens de negócios por detrás desses políticos corruptos, Bruce Wayne [alter ego de Batman] foi senador, teve o seu quê de político. O Dick Tracy tem relações com políticos e juízes.

Os super-heróis estão sempre à frente do tempo?

Os super-heróis refletem o seu tempo mas há alguns mecanismos de narrativa. O Batman e o Dick Tracy tentam sempre estar à frente do tempo, de facto. Estamos a celebrar os 75 anos do Batman e nunca sabemos o que vai sair dali.

Quando desenhava o Batman alguma vez desejou que ele tivesse superpoderes em vez de ideias e esquemas?

[risos] A atração do Batman é ele não ser superpoderoso, ele é um tipo bem treinado e focado, treinou o corpo, treinou a mente. Acho que qualquer pessoa que se concentre e esteja em boa forma física pode fazer o que o Batman faz. Não podemos aspirar a ser o Super-Homem, não podemos aspirar a ser o Homem-Aranha mas podemos aspirar a ser o Batman.

Foi também um dos desenhadores de outros heróis como o Super-Homem, do Surfista Prateado...

...sim faço isto há mais de 40 anos...

É fácil mudar de heróis no caderno?

É muito complicado porque fazemos aproximações diferentes. Fiz muitos livros de grupo, como a Sociedade de Justiça, é uma legião de super-heróis todos juntos. É divertido tentar descobrir como fazer quando eles são muito diferentes. Chamo-lhe changing brain [mudar o cérebro].

Como chegou ao mundo da BD?

Bem vistas as coisas, sempre fiz isto. Estudei mas tudo começou quando era muito pequeno e descobri o [Dick] Tracy nas tiras dos jornais. Aprendi a ler com a revista Superboy Comics. Seguia os comics e ao lê-los ainda não pensava nas pessoas que faziam os desenhos. Quando percebi isso foquei-me e comecei a trabalhar nesse sentido.

Quando nasceu o Batman, o Joe já tinha nove anos…

Tinha? Deixe- me fazer as contas. Sim, o Batman apareceu em 39, eu nasci em 1948, exato, nove anos. Claro que o Dick Tracy já andava por aí há pelo menos 20... [risos]

Cresceu com eles e agora está de volta ao início, o DickTracy. Entretanto fez o Scooby Doo...

Ele foi criado nos anos 60 por Hanna-Barbera mas cheguei ao Scooby nos anos 90 e fiz dez anos de Scobby. Também podemos sempre aspirar a ser o Scooby. Ele sabe que as coisas importantes da vida são estar com os amigos e comer snacks Scooby [risos].

E se tivesse de escolher só um?

Isso é difícil. Adoro o Tracy, adoro o Batman mas acho que se tivesse de escolher, seria Helena Wayne, a Caçadora; tenho uma ligação muito forte a ela. Sim, ela é a minha favorita


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segunda-feira, 10 de novembro de 2014

ÚLTIMAS FOTOS DO AMADORA BD 2014


ÚLTIMAS FOTOS DO AMADORA BD 2014

Apresento, de seguida, as últimas fotos que fiz este ano no Amadora BD. Não foram a mesma catrefada delas que realizei em anos anteriores, nada que se pareça, porque apenas lá fui nos 3 sábados, por pouco tempo e sem qualquer apelação, pelas tristes exposições exibidas este ano. Nada que tenha a ver com a questão de me ter sido impedida a inscrição nos stands comerciais, mas pelo facto de estar um bocado farto daquele Festival que, diga-se de passagem, já não aquece nem arrefece os entusiastas da BD. Mesmo que venha a ser propalado o habitual número artificial de 30.000 visitantes, como tem sido nos últimos 10 anos, com alunos das escolas da Amadora e bilhetes vendidos, tudo à molhada... O antigo FIBDA que, segundo os números que correm por aí, teve este ano um orçamento de € 510.000 (semelhante ao do ano passado, ao que parece), está a decair nitidamente, embora o número de exposições tenha baixado apenas ligeiramente desde o ano passado, de 17 para 15 exposições este ano – sendo que as exposições dos concursos e do ano editorial (ou mesmo a dos Autógrafos Desenhados, deste ano), sejam quase a custo zero. Mais grave nisto tudo é que foi inaugurada também a Bedeteca da Biblioteca Municipal da Amadora, retirando ao CNBDI o protagonismo destas coisas e, ao que tudo parece indicar, indicia-se mesmo para breve o fim deste Centro... Haverá muito mais a dizer sobre estas manobras, do actual director da Biblioteca Municipal da Amadora, que já o foi do próprio Festival e principal incentivador do nascimento do CNBDI, mas isso fica para outra ocasião, quando eu tiver em mãos todos os dados. Falarei desta Bedeteca em momento oportuno.

Sem querer para já adiantar-me muito mais na crítica (haverá, como sempre, gente meio imbecil a dizer “lá está o gajo a dizer mal do Festival...”), devo frisar que, o único aspecto positivo deste ano foi, de facto, o espaço comercial ter sido desenhado – finalmente – como sempre afirmei que deveria ser feito, só que... eu não estive lá para curtir a coisa! Mas também não vou afirmar que nunca mais lá estarei, porque ainda posso vir a ter sede...































Peço desculpas pela parca reportagem, mas este ano não estava mesmo com pachorra nenhuma para aquilo...

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