segunda-feira, 30 de setembro de 2019

PROGRAMA DO 425º ENCONTRO DA TERTÚLIA BD DE LISBOA 01/10/2019


PROGRAMA DO 425º ENCONTRO 

DA TERTÚLIA BD DE LISBOA
01/10/2019
CONVIDADO ESPECIAL 

CARLOS SILVA 




Convidado Especial: Carlos Silva 

Desde 1989 que Carlos Eduardo Silva gosta de histórias, especialmente daquelas que perguntam “E se...?” . Estudou engenharia biológica, é verdade, mas um coração consegue ter muitas paixões. Acreditem neste que vos escreve estas palavras.

Os primeiros contos publicados foi no suplemento da revista LER. Daí saltou para as zines (também as há no mundo dos contos em prosa) e num instante se viu publicado na revista Bang! (distribuída gratuitamente pela Saída de Emergência na FNAC). Entusiasmado por haver quem quisesse ouvir as suas histórias, participou com um conto sobre um espião alemão e uma máquina da invisibilidade na antologia “Lisboa no Ano 2000”, organizada pelo João Barreiros. Atravessou o atlântico em direcção ao país irmão com contos em português em antolgoias como Insonho, Herdeiros de Dagon e Fantástica Literatura Queer - Volume Amarelo.

Escreveu o romance Anjos, com o qual ganhou o prémio Divergência 2015 onde descreve uma Lisboa futurista e ecológica recheada de segredos e antigos poderes desejosos de a corromper (como nos velhos tempos). Para a editorial Divergência, escreveu também contos para a antologia Winepunk e Cyberpunk. Escreveu argumentos sobre tradições e cultura portuguesa com uma curva abrupta para o terror sobrenatural para o realizador Jerónimo Rocha, cujas partes acabaram por se tornar em spots publicitários para o motelX 2016 e 2018.

Nos últimos anos, tem-se também aventurado na banda-desenhada. Já antes tinha feito umas experiências para concorrer ao Amadora BD, mas pode ficar oficialmente registado que começou pela H-Alt, com a talentosa Mosi e o Filipe Duarte. Por um golpe de sorte e contorcionismo do destino, acabou por se ver convidado a colaborar na escrita da biografia em BD do Bordalo Pinheiro. Foi paixão à primeira vista e Carlos Silva sonha agora possuir toda uma pletora de objectos em loiça. Foi através deste projecto que acabou por conhecer o Penim Loureiro e, sabem como é, conversa puxa conversa e estão agora os dois a preparar um álbum de ficção científica com robôs, viagens no tempo, extremistas religiosos e uma rapariga capaz de dar cabo de uma equipa de intervenção armada. Acabou há dias de publicar um conto na Apocryhus.

E como isto não era suficiente e a noite não serve para dormir, Carlos Eduardo Silva decidiu criar a Imaginauta. Uma editora literária dedicada a promover e a publicar bons livros de ficção especulativa, onde cabe a ficção científica, a fantasia, o terror, o weird, o realismo mágico e muito mais. Já publicou tanto originais, como Crazy Equóides e Lisboa Oculta, como clássicos desaparecidos das livrarias portuguesas como o Contos do Rei de Amarelo e o Amadis de Gaula. Em 2020 está a planear fazer um omnibus com os contos já publicados no universo open source do Comandante Serralves e juntar-lhes alguns novos (em prosa e até em BD), portanto autores estejam atentos.

Desde 2017, através da Imaginauta, Carlos Eduardo Silva, organiza o Festival Literário Contacto. Uma porta de entrada para fãs e ainda-não-fãs para a ficção especulativa. Apesar do grande foco na literatura, no Contacto tanto se encontram jogos de tabuleiro, como palestras, como áreas temáticas, como exposições e BD. Se ainda não foram, libertem já na agenda Abril de 2020.

Contactos e página
correio@imaginauta.netcarloseduardosilva1989@gmail.comwww.imaginauta.net

Shock nº 33

Uma espécie de homenagem contra o Estrompa (cheia de ordinarices).
Os críticos disseram:
- “o fanzine de que toda a gente fala... mal!”
- “o regresso menos aguardado do ano!”
- “o fanzine mais chunga do momento!”
Não te esqueças de mencionar que o fanzine custa 5 euros e é impresso em papel duro demais para limpar o cú! ...Se bem que para limpar o cú qualquer merda serve.

Os autores que colaboram são:

Derradé, Estrompa, José Lopes, Jesualdo, Carlos Alberto, Mário Campos, Varandas, Nina.




sábado, 28 de setembro de 2019

NOVO LIVRO DE ÁLVARO - CONVERSAS COM OS PUTOS... E COM OS PROFESSORES DELES (VOL. 3) – EDIÇÃO INSÓNIA

NOVO LIVRO DE ÁLVARO 
CONVERSAS COM OS PUTOS... 
E COM OS PROFESSORES DELES 
(VOL. 3)
EDIÇÃO INSÓNIA



Sinopse:

Ser professor em Portugal é mais ou menos como ser árbitro de futebol.
Um tipo anda por ali a tentar controlar vinte e tal pirralhos injustiçados enquanto é mimado por todos os lados com uma variedade de insultos que se vão ramificando pela sua árvore genealógica acima, sem ter o direito de poder passar-se da cabeça, bater em alguém ou sequer responder ao mesmo nível.
Quer-se dizer... pode responder ao mesmo nível.  E até bater em alguém. Pode...
Só que depois é brindado com um processo disciplinar assinado por alguma indignada sumidade da Educação que provavelmente passa os Domingos, rodeada de gente pouco escolarizada ou bem instalado no camarote de algum criminoso, num estádio a insultar árbitros.

Neste terceiro livro da série Conversas com os Putos temos acesso a algumas coisas que o stôres dizem fora das aulas.
Há de tudo. Desde burros ignorantes com as palas bem fechadas para se protegerem daquilo que não compreendem, a profissionais competentes já meio avariados da psique.
Não é à primeira vista que se distinguem uns dos outros.
O resultado do seu trabalho só é perceptível anos mais tarde. Está bem à vista na programação televisiva, nos resultados das eleições e no número de licenciados que emigram.


Autor: Álvaro
Ano: 2019
Editor: Insónia
Preto e branco. 17 x 24 cm. 80 páginas Brochado.
Preço: 11 euros

Encomendas: insonia.edicoes@gmail.com

Podem usar à vontade as imagens neste post:
https://insoniaedicoes.blogspot.com/2019/09/conversas-com-os-putos-e-com-os.html








quinta-feira, 26 de setembro de 2019

NOVELA GRÁFICA V (13º e último volume) CAFÉ BUDAPESTE de ALFONSO ZAPICO

NOVELA GRÁFICA V 
(13º e último volume) 
CAFÉ BUDAPESTE 

de ALFONSO ZAPICO

(Com este volume, que fecha a colecção Novela Gráfica V, houve a oferta de um outro volume – ALICE NUM MUNDO REAL, de Isabel Franc e Susana Martín – Editado e distribuído em 30 de Outubro de 2016, no Dia Mundial da Prevenção contra o Cancro de Mama, pela Levoir em conjunto com o jornal Público.)


BDpress #517 Recorte de imprensa do jornal Público de 21/09/2019

BUDAPESTE EM JERUSALÉM
Col. Novela Gráfica V
Café Budapeste, vol. 13
Argumento e Desenhos – Alfonso Zapico
Quinta-feira, 26 de Setembro
Por + 10,90€ 

Na próxima quinta-feira chega ao fim a quinta série da colecção Novela Gráfica, com Café Budapeste, de Alfonso Zapico. Um fecho em beleza, com o regresso do autor de Gente de Dublin que, depois da biografia em BD do escritor James Joyce, retorna a esta colecção com uma história de ficção ancorada na criação do Estado de Israel e nas raízes do conflito israelo palestiniano.

Primeiro trabalho de Zapico publicado directamente no mercado espanhol, Café Budapeste acompanha o destino de Yechezkel Damjanich, um jovem violinista judeu que, juntamente com a sua mãe, uma sobrevivente do Holocausto, abandona uma Budapeste devastada pela II Guerra Mundial para ir viver para Jerusalém, onde vive o seu tio Yossef. Fugindo da miséria, ambos chegam à Palestina num momento político convulsivo, pouco antes de os ingleses deixarem a região. O tio Yosef dirige o Café Budapeste, um lugar pitoresco perto da Cidade Velha, onde judeus, árabes e ocidentais coexistem ... Um oásis efémero de harmonia, onde as notas do violino de Yechezkel vão dar lugar ao estrondo dos obuses de Davidka, bombas árabes, ódio e destruição.

Neste ambiente de intolerância e violência a paixão de Yechezkel por Yaiza, uma jovem de origem árabe, enfrenta ainda maiores desafios. Mas isso não os impedirá de procurarem a felicidade, numa cidade em guerra, onde o Café Budapeste é um dos últimos espaços de paz e tolerância.

Alternando de forma hábil a realidade histórica – e as questões políticas e geoestratégicas inerentes a um dos momentos mais importantes da história do século XX, a formação do Estado de Israel, cujas consequências ainda hoje se fazem sentir na região – com os dramas pessoais de Yechezkel e da sua família, Zapico constrói uma história cativante, que é um hino à tolerância e à paz entre os homens, independentemente da etnia ou credo.

João Miguel Lameiras

Alfonso Zapico (Blimea, San Martín del Rey Aurelio – Astúrias, 1981) é um autor de banda desenhada, que trabalha principalmente para o mercado franco-belga. Em 2012, a sua novela gráfica Gente de Dublin foi premiada com o National Comic Award. Este título foi publicado na colecção Novela Gráfica IV (Levoir/Público), em 2018.

Depois de estudar ilustração e design na escola de artes plásticas de Oviedo, os seus primeiros trabalhos profissionais apareceram em França: A guerra do professor Bertenev (Editions Paquet, 2006), BD passada na Guerra da Crimeia e pela qual recebeu um Prémio no FestiBD Ville de Moulins em 2007 e o volume coletivo Un jour de mai.

Em 2008, publicou o Café Budapest, que aborda o conflito israelo-árabe sendo foi publicado em Espanha pela Astiberri e na Polónia (Timof). Em junho de 2008, alcançaria o Prémio Haxtur para o melhor argumento de BD. Além da banda desenhada, Zapico realiza trabalhos gráficos para diversas editoras. Também colabora com o jornal La Nueva España e outros jornais regionais, tendo publicado iguamente bandas desenhadas na revista asturiana El Gomeru.

Desde outubro de 2008, começou a colaborar com o semanário Les Noticies com uma tira intitulada Les pites de Grau, que substitui o espaço ocupado anteriormente pela autora asturiana Ruma Barbero.

Desde agosto de 2008, recebeu uma bolsa concedida pelo Festival International de la Bande Dessinée d'Angoulême, que lhe permitirá residir na sua famosa Maison des auteurs até 2011. O projecto premiado pelo júri, intitulado Dublinés, é uma biografia do escritor irlandês James Joyce .

Em 2009, participou de outro volume coletivo com os cartunistas Daniel Acuña , Fernando Baldón, Toni Carbós, Carlos Sofía Espinosa, Javier Fernández, Bernardo Muñoz, Javier NB e Rubén e com um roteiro de Javier Cosnava: Um homem bom, sobre a vida diária dos oficiais da SS nos arredores de um campo de concentração.

Em 2010, ganhou o Prémio Josep Toutain de Revelação do Autor, no Barcelona Comic Show pela Guerra do Professor Bertenev , publicado na Espanha por Dolmen. Em seu próximo trabalho, uma biografia de James Joyce intitulada Dublinés , ele recebeu a bolsa Alhóndiga Komik , que lhe permitiu residir por um ano na La Maison des auteurs em Angoulême (França).
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terça-feira, 24 de setembro de 2019

REPORTAGEM DO 424º ENCONTRO DA TERTÚLIA BD DE LISBOA de 3 de Setembro 2019

REPORTAGEM DO 424º ENCONTRO 
DA TERTÚLIA BD DE LISBOA

de 3 de Setembro 2019
NA CASA DO ALENTEJO
CONVIDADO ESPECIAL

PEDRO ALVES MARTINS 

(Um bocadinho fora do prazo, devido a um internamento de oito dias em Sta. Maria...) 

VER AQUI O PROGRAMA (publicado no Kuentro2 em 01/09/2019): https://kuentro.blogspot.com/2019/09/424-encontro-da-tertulia-bd-de-lisboa-3.html



TERTULIANOS PRESENTES:
1. Álvaro
2. Ana Margarida
3. António Policarpo
4. Beatriz Blodau
5. Carlos Gonçalves
6. Carlos Moreno
7. Catarina Farinha
8. Diogo Duarte
9. Diogo Farinha
10. Dolores Oliveira
11. Domingas Gonçalves
12. Filipe Duarte
13. Gabriel Martins
14. Inês Fetchónaz
15. Inês Garcia
16. Joana Duarte
17. João Vidigal
18. José de Freitas
19. José Lucas
20. Luís Graça
21. Luís Veiga
22. Margarida Matias
23. Margarida Simões
24. Nuno Duarte
25. Paula Farinha
26. Paulo Farinha
27. Pedro Alves Martins
28. Pedro Bouça
29. Quico Nogueira
30. Rita Alfaiate
31. Rita Morais
32. Rui Domingues
33. Simões dos Santos
34. Tiago Cruz
35. Victor Costa


Comic Jam esgalhado na Tertúlia BD de Lisboa
de 3 de Setembro deste ano. 

Os autores convidados à força a participarem foram:

1. Pedro Alves Martins
2. Rita Alfaiate
3. Inês Fetchónaz
4. Inês Garcia
5. Margarida Matias
6. Álvaro 





domingo, 22 de setembro de 2019

NOVELA GRÁFICA V Vol. 12 NEVE NOS BOLSOS de Kim


NOVELA GRÁFICA V
Vol. 12 
NEVE NOS BOLSOS 
de Kim (Joaquim Aubert Puigarnau)

UM ESPANHOL NA ALEMANHA

Novela Gráfica V – vol. 12
NEVE NOS BOLSOS
Argumento e ilustrações de Kim
Quinta-feira, 19 de Setembro
Por+10,90€

Kim regressa à colecção Novela Gráfica como autor completo com Neve nos Bolsos, um relato autobiográfico da sua ida para a Alemanha e das vivências de outros espanhóis que emigraram com o mesmo objectivo, ganhar a vida.

Foi em Outubro de 1963 que o jovem Joaquim Aubert Puigarnau, ainda não conhecido como Kim, deixa os seus estudos em Belas Artes e aproveita o ano que tem até começar o serviço militar, para ganhar a vida na Alemanha. Através dos seus olhos e das suas memórias, vamos descobrir a vida desses expatriados da Espanha franquista.

Como o próprio Kim referiu numa entrevista: "Esta novela gráfica surgiu devido a uma série de coincidências. Primeiro, porque tinha menos trabalho na revista El Jueves e muitas horas livres enquanto esperava que o Antonio Altarriba acabasse o argumento de A Asa Quebrada. Segundo, porque numa visita a Angoulême conversei com um rapaz alemão e contei-lhe essa viagem, que praticamente não tinha contado a ninguém. Quando ele me disse que na Alemanha já quase ninguém se recorda desses milhares de espanhóis que emigraram, percebi que tinha de contar essa história."

Um processo quase catártico, que lhe permitiu recuperar um período importante da vida de Kim e da história de Espanha: "Recordar esse ano que estive na Alemanha foi uma espécie de terapia para mim. Comecei a escrever a história na segunda pessoa, como se não fosse eu o protagonista.

Mas quando mostrei umas quantas páginas a Altarriba e ele me disse que se notava que o protagonista era eu e me perguntou porque não escrevia na primeira pessoa, decidi fazê-lo."

"Não tenho uma memória alegre desse tempo. Foi um ano bastante duro, como se pode ver no livro. Ainda assim, tive a sorte de privar com um grupo de gente jovem que tentava aproveitar a vida: ríamos, fazíamos festas..."

João Miguel Lameiras

BDpress #516 – artigo de João Miguel Lameiras, publicado no jornal Público

DA INTRODUÇÃO 

VEM PARA A ALEMANHA JOAQUÍN! 

Quem não se lembra do famoso filme do Lazaga? Em pleno landismo, aquele filme resumia numa frase o caminho que tiveram de tomar centenas de milhares de espanhóis nos anos 60. Os Planos de Desenvolvimento, vendidos pelo regime franquista como a quinta essência do futuro para o espanholito comum, não conseguiam esconder a realidade de uma indústria empobrecida que não podia empregar todo um povo a quem restou só uma opção: a emigração. Mais de um milhão de pessoas saíram de Espanha com destino à Europa e à América Latina, e a outros países entre os quais se destacava no imaginário popular a organizada Alemanha. Um país visto como rico, riquíssimo, onde a forte indústria permitia alimentar os cães com salsichas.

De Frankfurt, talvez.

Após a assinatura do acordo entre Espanha e a Alemanha em 1960, iniciou-se um processo denominado "emigração assistida", no qual o estado exercia a sua tutela paternalista com aqueles que decidiam deixar as suas famílias à procura de riqueza nos todo poderosos marcos alemães, tentando vender um fracasso como êxito e, também, evitando que a emigração fosse um escape para os perseguidos por Franco. Era uma via seguida sobretudo pelos homens, jovens, muitos recém-casados, que acudiam ao Instituto Espanhol de Emigração para obter o visto, passaporte e uma licença de trabalho que lhes permitiria chegar, como proclamava o regime, com um contrato debaixo do braço. O franquismo soube vender a emigração como uma vitória da sua política exterior, perfeitamente pensada para gerar retorno de riqueza, mas a realidade era bem diferente. Essa emigração organizada era apenas a ponte do icebergue de outra, clandestina, que talvez duplicasse, ou mesmo triplicasse, os números oficiais, num fluxo descontrolado que o regime sabia estar relacionado com mais situações que a procura de um trabalho. Os espanhóis e as espanholas emigravam fugindo à fome, procurando trabalho, mas também em busca de uma liberdade desconhecida.

Mas sem papéis, a realidade era bem distinta: os emigrantes chegavam à Alemanha para cair numa exploração ainda maior da que sofriam os compatriotas "legais", e principalmente ficavam indefesos face às lucrativas redes de tráfico de mão-de-obra. A história real era muito diferente do retrato embelezado e de sorriso forçado que se emitia nos noticiários.

Kim foi um desses jovens, que partiu à procura de oportunidades e se encontrou sem papéis numa Alemanha tão paradoxalmente acolhedora como hostil.

E, como bom contador de histórias que é, relata com lucidez a sua experiência, deixando que o tempo filtre as emoções e sejam as recordações a falar. Desse jovem que ao chegar à fronteira alemã se encontrou com uma palavra no seu passaporte que lhe abriu a porta do país, mas que lhe fechou a do trabalho. Um turista involuntário, que decide converter-se em testemunha daqueles que, como ele, não tiveram a sorte de ir com um contrato de trabalho na mão.

A história, com minúsculas, da emigração espanhola na Alemanha, vista não através dos olhos do desenhador, mas sim da sua memória. Uma memória que já não entende a raiva que sentiu à época, mas que devolve as recordações depois de a passar pelo crivo do juízo da reflexão, possivelmente reescrita involuntariamente para deixar para trás o pior, mas com a sinceridade como estandarte.

Assim, a vinheta converte-se num pequeno teatro de sombras do passado por onde desfilam outras histórias, as de homens e mulheres que deixaram o seu país por medo, por fome, por justiça ou liberdade.

Com a mesma extrema generosidade que teve o Altarriba ao converter-se no alter ego invisível do guionista em A Arte de Voar e em A Asa Quebrada, Kim coloca-se à parte para ceder os seus desenhos aos que nunca puderam falar; à mulher que teve de fugir de abusos ocultados, ao homem que era agredido por causa de uma sexualidade perseguida, aos que fugiram de um futuro a que nos queriam submeter. Pouco a pouco, esses relatos não só contam a história não escrita dos emigrantes espanhóis na Alemanha, como no seu conjunto, compõem um retrato perfeito da Espanha que não podia ser dita, aquela de que não se podia falar.

Da verdadeira.

Álvaro Pons

Joaquim Aubert Puigarnau (Barcelona, 1941), mais conhecido como pseudónimo Kim, é um autor de banda desenhada catalão.

Formado em Belas Artes e interessado em pintura, cedo se viu embrenhado na banda desenhada e ilustração para publicações do underground de Barcelona. As suas primeiras vinhetas foram publicadas na revista musical Vibraciones, dirigida por Àngel Casas. Em 1977, começou a desenhar para a revista satírica El Jueves, e coube-lhe logo uma personagem que ninguém queria desenhar, "um rosto". Então ele fez a primeira página de Martínez el Facha, que se tornou a única personagem que apareceu ininterruptamente nas páginas desta revista desde a primeira edição até 2015. As suas sátiras contra a ultra-direita espanhola mais extrema e reaccionária ocorrerão através dos infortúnios Martinez, seu amigo Adolfito, e filho do primeiro, que sempre prende o cabelo.

As histórias em BD de Martínez el Facha foram compiladas em mais de vinte álbuns. Kim também colaborou em revistas como Por Favor, Mata Ratos, Rambla, El Víbora e Makoki.

Em 1995, foi premiado com o Grand Prix da Comic Fair de Barcelona e em 2007, com o International Humor Award Gat Perich. Em abril de 2010, recebeu o Prémio Nacional de BD (Còmic), concedido pela CoNCA , pela obra El arte de volar, em conjunto com Antonio Altarriba. No mesmo ano também recebeu o Notary of Humor Award na Universidade de Alicante.

2019 : Quarenta maneiras de cartão, Dibbuks, Madrid.
2018 : Neve nos bolsos, Norma, Barcelona.
2016 : A asa quebrada, argumento de Antonio Altarriba, Norma, Barcelona.
2012 : A arte de voar, argumento de Antonio Altarriba, EDT, Barcelona.


















 
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