terça-feira, 30 de dezembro de 2014

BDpress #451: ESTADOS UNIDOS CHAMAM CRIADORES PORTUGUESES – DANIEL HENRIQUES E FILIPE ANDRADE EM PLENO NOS COMICS

Jornal de Notícias, 27/12/14 

ESTADOS UNIDOS 
CHAMAM CRIADORES PORTUGUESES

Tendência cresce nos comics americanos. Daniel Henriques e Filipe Andrade são os mais recentes casos 

F. Cleto e Pina

Nos últimos anos, tem sido recorrente autores lusos desenharem para o competitivo mercado americano. Agora, no passo seguinte, encontramo-los associados a projetos de maior destaque, como "Green Arrow" ou "Rocket Raccoon "

É o que acontece a Daniel Henriques, atualmente a fazer a arte final da revista regular "Green Arrow" (Arqueiro Verde), cujas vendas foram puxadas pelo êxito da série televisiva "Arrow", de que acaba de estrear a terceira temporada em Portugal.

A entrada de Daniel Henriques no mercado profissional de comics aconteceu "depois de o arte-finalista Danny Miki ter visto no Facebook uns trabalhos" seus, ao que se seguiu "um convite para ingressar no estúdio Crime Lab Syndicate", onde continua. Começou "por trabalhos para a Marvel Comics, depois, para a Image e, posteriormente, através do Jonathan Glapion, para a DC Comics", onde já está há cerca de dois anos. Trabalhou inicialmente na "Batgirl"; depois, em "Bírds of' Prey" e em "Green Lantern New Guardians".

No mês passado, foi lançada nos EUA a revista "Green Arrow" #36, onde fez a arte final "em conjunto com o Jonathan Glapion" e trabalharão neste título até indicação em contrário.

A atual popularidade deste super-herói, uma espécie de Robin Hood dos tempos modernos, por via dos bons resultados da adaptação televisiva, dá aos autores que trabalham na banda desenhada uma outra projeção, como Daniel Henriques comprovou na recente Comic Con Portugal, onde vendeu alguns originais e todos os "prints" que tinha com Green Arrow.

Já Filipe Andrade conta com mais alguns anos de experiência nesta área e trabalhos para a Marvel Comics em Iron Man, X-Men, Avengers ou uma adaptação de John Carter of Mars.

Agora, está a desenhar "dois números de "Rocket Raccoon", o 7 e o 8. Rocket Raccoon é o guaxinim antropomórfico caçador de recompensas que integra os Guardiões da Galáxia, supergrupo disfuncional que o filme de êxito deste verão guindou para os tops de vendas de comics norte-americanos.

"É de ficar sem fôlego"

Filipe Andrade afirma que este foi dos livros que teve "mais prazer em desenhar", tendo ajudado "o escritor, Skotie Young, a ser também artista, pois o livro está cheio de cenas boas para um desenhador". Na sua conta do Twitter, Young, após receber as primeiras páginas do desenhador português, escreveu: "Tenho a certeza de que é o melhor olhar comic que já vi na vida! É de ficar sem fôlego"!

O facto de o "Raccoon ser uma personagem meio fora, porque está sempre mal disposto e tem uma acidez de diálogo pouco comum em comics de super-heróis", também motivou Filipe Andrade, que reforça a importância de "trabalhar numa BD que teve a visibilidade que teve pelo excelente filme: só traz boas perspetivas". E termina, confessando "um outro lado, mais pessoal", pois o irmão "trabalhou na pós-produção do filme e, assim, esta tornou-se uma semi-parceria familiar".•

Rocket Racmon - É desenhado por Filipe Andrade
Green Arrow - Da autoria de Daniel Henriques

Daniel Henriques

Filipe Andrade

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segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

JOBAT NO LOULETANO — MEMÓRIAS DA BANDA DESENHADA (175-176) — JESUS BLASCO — CUTO — HERÓI DE UMA GERAÇÃO (12) por Jorge Magalhães + VICTOR PÉON E A MEMÓRIA DOS SONHOS (1)


O Louletano, 20 | Julho | 2009


Em 1953, a revista Boy encerrou definitivamente um longo ciclo de 13 anos com "Herencia Diabólica", história que ficou incompleta e da qual se conhecem apenas uma dezena de páginas. Mas Cuto transformara-se numa sombra de si mesmo.

Quando Jesús Blasco, em 1971, resolveu ressuscitá-lo, por influên­cia de Roussado Pinto — que lançara, entretanto, o Jornal do Cuto, em jeito de homenagem nostálgica ao célebre herói luso-espanhol e ao seu criador —, os tempos também já não eram os mesmos.

Segundo Blasco afirmou na altura, "Cuto esteve apenas adormecido alguns anos, mas acompanhou o processo natural e mental do seu autor". No entanto, apesar de todo esse desejo de renovação, a tentativa de dar novamente vida ao mito de Cuto foi uma experiência inconclusiva.

"Crime Mundial Inc", a aventura que o Jornal do Cuto começou a publicar no n° 94, de 1 de Maio de 1973, assinalando o segundo fôlego do seu juvenil patrono, é uma história marcada por várias e atribuladas fases, interrompendo-se tempos antes da morte de Jesús Blasco, em 1995. Divul­gada também em Espanha na revista Chitos (uma espécie de sucedâneo de Chicos), foi concluída por Adriano Blasco, fale­cido em 2000, e publicada na íntegra nos n°s 95 e 96 (Maio e Julho de 2001) do Boletim do Clube Portu­guês de Banda Desenhada.

Rica em efeitos gráfi­cos, retoma algumas ideias mestras do criador de Cuto, como a associação de criminosos instalada num local secreto, desta vez sob a capa de uma espécie de sindicato do banditismo internacional, dirigido por um estranho homúnculo de aparência assexuada, com o solene cognome de Supremo Poder.

Numa ideia de certo modo oportuna, Blasco transferiu a acção para um contexto que conhecia bem (por ter trabalhado durante muitos anos para revistas inglesas), pontuando o enredo com alguns apontamentos curiosos, como os cabelos compridos, as camisas floridas e as calças boca de sino, à moda dos "hippies".

Cuto sofre nova transformação, continuando a assumir a postura de um jovem moderno e descontraído, cujos hábitos se sintonizam com os ares da época. No seu quarto está pendurado um poster de Jimi Hendrix e todo o cenário espelha os símbolos da cultura "pop" e da juventude rebelde dos anos 70.

Sempre ágil, arguto e destemido, Cuto mostra-se tão convincente no seu novo papel que quase esquecemos a sua verdadeira identidade, confundindo-o com um súbdito de Sua Majestade britânica. Mas, apesar dos esforços de Jesús Blasco e da sua evidente preocupação de realismo, essa metamorfose acaba por parecer deslocada, tanto no espaço como no tempo. O que prova que cada herói tem a sua época e o seu público.

O Jornal do Cuto publicou ainda duas histórias curtas, '"Pesadelo" e "S.O.S. Petróleo", ambas inéditas, e algumas páginas humorísticas, tentando prolongar um mito que já não era acalentado pelos leitores. Cuto não iria sobreviver ao seu criador, destino inexorável que tem atingido muitos dos maiores heróis da Banda Desenhada.


  

   

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O Louletano, 03 | Agosto | 2009


Estávamos em Outubro, no já longínquo ano de 1950. A Agência Portuguesa de Revistas (APR), editora da revista juvenil "O Mundo de Aventuras" (MdA), ainda funcionava na Rua do Arsenal, em Lisboa, pois só em Janeiro de 1954 se deslocaria para a Rua Saraiva de Carvalho, em Campo de Ourique, local onde a empresa e a revista finariam os seus dias três décadas depois.

Na tentativa de evitar a morte prematura do MdA – a menina dos olhos do seu sócio, António Joaquim Dias –, Mário de Aguiar, director geral da APR, chamou dois profissionais competentíssimos nessa área, Roussado Pinto e Vítor Péon, e deu-lhes carta branca, no campo da edição, para susterem a queda livre em que a revista se en­contrava, um ano antes, alguns números depois do seu lançamento.

Uma das primeiras medidas tomadas foi a mudança do formato tablóide para o de A4, o tamanho da revista "O Mosquito", que se publicava na altura, vítima mortal do MdA, dois anos depois, devido à pujança que esses dois profissionais imprimiram à nova revista aos quadradinhos da APR.

A colaboração entre ambos – Roussado Pinto, escritor, e Vítor Péon, ilustrador –, vinha de longe, das revistas "O Pluto" e "O Pa­pagaio", de entre outras, cimentando uma complementaridade que emergiria nas páginas por eles concebidas e publicadas nas várias revistas que a APR editaria, até 1954, época em que os dois saíram para a "Fomento de Publicações".

No ano de 1950, o MdA atingiu, na minha opinião, o seu apogeu, aquele que o caracterizou, publicando-se mais de uma década com pequenas mudanças de figurino, revivescendo nos seus últimos anos mercê da apurada capacidade e saber de Jorge Magalhães, a quem esta coluna tanto deve. Creio estar ainda por fazer a historiografia dessa publicação, na profundidade e especificidade que como grande revista de BD, tal como "O Mosquito", merece. Mas voltemos a 1950 e ao MdA.

Em Outubro desse ano, no dia 19, a dupla daria início à publicação no "Mundo deAventuras", n° 62, da mais emblemática personagem de BD por eles criada, aquela que mais fundo calou na preferência dos leitores dessa revista, e não só. Referimo-nos, concreta e espe­cificamente, à série "Tomahawk" Tom, que hoje temos a honra e o prazer de iniciar, como preito de homenagem a esses dois grandes vultos da BD portuguesa: Roussado Pinto e Vítor Péon. Fui amigo, colaborador e colega de ambos, quase duas décadas depois, porém é sobre o segundo, como ilustrador, que mais pormenorizadamente me debruçarei nestes textos.

Os meus jovens 14 anos – na altura ainda a estudar na António Arroio, Escola de Artes Decorativas que funcionava na Av. Almirante Barroso, à Estefânia –, ficaram surpresos com a extraordinária originalidade do início da série, ao "nascimento" invulgar da perso­nagem, algo que nunca vi em qualquer outra, a atestar plenamente a criatividade ímpar dos seus autores. Chamo, por isso, a especial atenção dos leitores para a página que hoje publicamos. »»



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sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

NOTÍCIAS TEXIANAS – PAOLO ELEUTERI SERPIERI DARÁ INÍCIO (EM 2015) A UMA NOVA COLECÇÃO DE TEX WILLER!


Damos hoje início a uma nova rubrica no Kuentro: Notícias Texianas. Isto porque dada a pedalada que já vamos tendo (desde o BDjornal #4, de 2005) sobre as edições da Sergio Bonelli Editore, sobretudo com a personagem de Tex Willer, nos pareceu interessante abrir esta nova rubrica temática. Iremos, sempre que for de interesse para o mundo editorial da Banda Desenhada, reproduzir notícias (seja de blogues, seja de outros meios - sempre com a indicação da origem) que digam respeito às edições bonellianas, com especial incidência na personagem “motora” daquele editor italiano – ou na sua vertente brasileira, a Mythos Editora, a única deste universo que é distribuída regularmente nas bancas portuguesas. 

Iniciamos a rubrica com a notícia dada pelo nosso amigo e colaborador do BDjornal de longa data, José Carlos Francisco, no seu Tex Willer Blog, em 10 de Novembro passado, de que Paolo Eleuteri Serpieri irá desenhar Tex Willer:

PAOLO ELEUTERI SERPIERI 
DARÁ INÍCIO (EM 2015) 
A UMA NOVA COLECÇÃO DE TEX!


Por José Carlos Francisco em http://texwillerblog.com/wordpress/?p=56148

O álbum de Tex com a história de Paolo Eleuteri Serpieri será publicado, na Itália, em Fevereiro e terá o que poderemos chamar de “formato francês”: capa cartonada, papel de alta qualidade e a cores, com o tamanho 24x31cm, contendo 48 páginas, 38 das quais da história em si (as restantes serão ocupadas por páginas redaccionais entre as quais um prefácio de Mauro Boselli), ou seja, uma verdadeira edição de luxo que dará azo a uma nova colecção com periodicidade anual e na qual serão dadas aos autores seleccionados total liberdade gráfica.

Da história sabemos que é violenta mas também romântica. Será uma aventura de um Tex jovem, ocorrida antes da Guerra Civil, mais precisamente em 1850 (e não 1813 como constava neste mesmo texto inicial) e narrará uma história que no ponto de vista da continuidade provavelmente nunca teria acontecido. É uma lenda, um mito sobre Tex, mas que será muito precisa do ponto de vista histórico no que diz respeito a armas e vestuário. O jovem Tex usará uma Colt Walker de 1847 e na história comparecerão os Comanches e os Kiowas.

Serpieri pediu desculpas, mas justificou o contexto para tomar certas liberdades, inclusive na indumentária de Tex: “É uma história que eu tinha em mente há muito tempo e que inclusive tinha proposto a Sergio [Bonelli] mas sobre a qual ele tinha sempre rejeitado. Eu fiz um trabalho de pesquisa e de documentação muito apurado. Tex é muito mais jovem, tem cabelos longos, parecendo essencialmente um trapper, com a casaca em pele, mas inconfundivelmente amarela. O álbum sairá em Fevereiro e agradeço à Sergio Bonelli Editore pela grande liberdade artística dada nesta minha história“.


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Paolo Eleuteri Serpieri (Veneza, Itália, 29 de Fevereiro de 1944) é um autor de banda desenhada e ilustrador italiano, conhecido pelo alto nível de detalhes nos seus trabalhos retratando as formas humanas, particularmente imagens eróticas de mulheres. É mais conhecido pelo seu trabalho na série erótica de ficção científica Druuna.

Serpieri mudou-se para Roma quando jovem para estudar pintura e arquitectura na Fine Art Academy em Roma com Renato Guttuso e iniciou a sua carreira como pintor em 1966, mas em 1975 ele transferiu o seu foco para os fumetto ao assumir um cargo na revista italiana Lanciostory. Um grande fã do Velho Oeste americano, com o escritor Raffaele Ambrosio, Serpieri foi co-autor de L'Histoire du Far-West, uma série sobre a história do Velho Oeste que foi publicada nas revistas Lancio Story e Skorpio. Alguns dos títulos foram L'Indiana Bianca E L'Uomo di Medicina. A partir de 1980 Serpieri trabalhou em colecções como Découvrir la Bible, assim como em pequenas histórias para revistas como como L'Eternauta, Il Fumetto e Orient-Express.

Westerns de Serpieri

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quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

ÁS QUINTAS FALAMOS DO CNBDI NO KUENTRO: JOSÉ RUY – A ARTE E O OFÍCIO DA BD


Mais um regresso, aqui no Kuentro: o Às Quintas Falamos do CNBDI no Kuentro. E que melhor regresso poderia ser, senão evocando a Exposição Comemorativa dos 70 anos de Actividade de José Ruy, integrada na programação do AmadoraBD 2014 e que esteve patente no CNBDI?




JOSÉ RUY – A ARTE E O OFÍCIO DA BD
EXPOSIÇÃO COMEMORATIVA DOS 70 ANOS 
DE ACTIVIDADE DE JOSÉ RUY

José Ruy (1930), é um dos autores portugue­ses com mais abra publicada na área da ban­da desenhada e da ilustração. Começou em O Papagaio, em 1944 e, desde então, poucos foram os jornais, revistas e fanzines em que não colaborou. Tem mais de meia centena de álbuns publicados, alguns em outras línguas. Os livros que ilustrou contam-se na ordem das largas dezenas e foram mais de duas mil as capas que produziu no período em que dirigiu a sala de desenho das Publicações Europa-América.

Com um percurso de vida bastante singular, José Ruy não é apenos um autor, desenhador e argumentista de banda desenhada. A sua formação no curso de desenhador litógrafo na então Escola de Artes Decorativas António Arroio, dar-lhe-ia ferramentas e competên­cias na área das artes gráficos, que lhe pro­porcionariam um conhecimento suplementar no processo de reprodução mecânica da sua arte. Um saber fazer que se revelaria funda­mental nas diversas etapas do seu trabalho e, mais recentemente, no tratamento digital das suas pranchas e ilustrações.

A exposição A Arte e o Ofício da BD, comemorotiva dos 70 anos de atividade profissio­nal de José Ruy, é uma abordogem breve e sucinta da sua grande obra, uma obra artís­tica é certo, mas onde a banda desenhada é também sentida e entendida como um ofí­cio na dupla aceção do palavra, o de mes­ter, exercido com mestria, mas também a de sacerdócio, a BD militantemente trabalhada, promovida e divulgada.

A obra de José Ruy resulta assim da combinação e do cruzamento de saberes vários apresentados nesta mostra em quatro dimensões essenciais, a saber: enquanto autor, nas vertentes de dese­nhador e argumentista, como gráfico, profundo conhecedor de todos os processos desde o lito­gráfico ao digital, também como editor onde se salienta o experiência de O Mosquito e, certa­mente, não em último lugar, o incansável divul­gador, animador de tertúlias, debates, sessões em escolas, centros culturais, museus e biblio­tecas, em todo o país e também no estrangeiro.

Reportagem fotográfica realizada por Dâmaso Afonso no CNBDI, em 25/10/2014:






  

 

  



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