sábado, 25 de março de 2017

BDpress #475 – A FEALDADE DE FABIANO GORILA de Marcello Quintanilha – na Revista E do Expresso

BDpress #475
Criado em Janeiro de 2004 como fanzine impresso até ao #15, de Março 2005

Revista E do Expresso
11 Março 2017


A FEALDADE DE FABIANO GORILA
Marcello Quintanilha
Polvo, 2017, 112 págs. €10,90

A aposta forte da editora Polvo na sua colecção “Romance Gráfico Brasilelro” tem possibilitado aos leitores portugueses

várias gratas descobertas. Marcello Quintanilha (n. 1971 em Niterói) não será a menor delas. Nos seus trabalhos mais recentes. este autor criou um estilo lmediatamente reconhecível, alicerçado numa hábil conjugação entre texto e imagem, como se pode comprovar em algumas das histórias graficamente exemplares de "Hinário Nacional" (2016), no realismo crú de

"Tungsténio" (2014), ou nessa obra-prima que é "Talco de Vidro" (2015), um mergulho nos abismos psicológicos de uma mulher roída pela inveja. Enquanto esperamos pelos novos caminhos que o talento de Quintanilha decerto desbravará, vale a pena espreitar as suas origens. "Fealdade de Fabiano Gorila", o seu primeiro romance gráfico, de 1999, é uma elegante aproximação ao caos social que se seguiu ao suicídio do Presidente Getúlio Vargas em 1954, entrevisto como pano de fundo para a história de um impasse: o de Acirzinho, rapaz que joga na equipa de futebol da sua fábrica, enquanto sonha com a possibilidade de treinar à expcriência no Fluminense. A oferta de outro clube secundário, mas disposto a contratá-lo de imediato - lança-o num dilema que espelha as indecisões do próprio país, entre o pragmatismo que implica abdicar dos sonhos de grandeza e o risco de uma ilusão com tudo para dar em nada. Menos interessantes são as duas narrativas breves que completam o volume. "Granadllha" entra nos meandros das favelas para contar uma tragédia quase silenciosa, como costumam ser as tragedias dos excluídos pela sociedade ou pelo preconceito. E "Três Minutos de Linhas" paira em torno de Dona Céia, uma costureira, focando a atenção nas pequenas coisas do quotidiano, como uma súbita chuvada, a forma como "se estica bem, o pano pra poder passar pela agulha", ou a melancolia que inscrevemos ao morrer, nas pessoas que gostaram de nós.

José Mário Silva



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