terça-feira, 24 de outubro de 2017

Gazeta da BD #83 na Gazeta das Caldas – Os Descobrimentos na Banda Desenhada


Gazeta da BD #83 – na Gazeta das Caldas 20-Outubro-2017

Os Descobrimentos na Banda Desenhada
Cerca de 50 histórias em 70 anos

Ilustração de Tiago da Silva

Penso que foi a Exposição do Mundo Português de 1940, organizada pelo Estado Novo, que despoletou o “vício” das histórias sobre os descobrimentos na banda desenhada portuguesa. Isto porque foi logo em 1946 que começou a aparecer n’O Mosquito a obra de Eduardo Teixeira Coelho, sobre textos de Raul Correia, O Caminho do Oriente, que foi, segundo me parece, a história inicial desta saga bedéfila “descobrimentística”, publicada depois em seis álbuns da editorial Futura em 1983.

Devo acrecentar que a minha selecção de histórias dos Descobrimentos Portugueses na BD, para este texto, inclui algumas histórias paralelas, de aventuras de navegadores portugueses, que se afasta da temática descobridora em si própria, como Porto Bomvento de José Ruy, ou Nau Negra de Fernando Relvas. Aliás a inclusão de uma página desta história, pretende ser também uma pequena homenagem a Relvas, por ser muito provavelmente, a sua última obra.

Seguiram-se mais quase cinquenta histórias sobre o tema, muitas delas dedicadas aos mesmos protagonistas, com o recorde a pertencer ao Infante D. Henrique, com nove histórias biográficas ao longo deste tempo, sendo a última que conheço do italiano Sergio Toppi, Algarve 1460 (sobre a morte do Infante), publicada na revista Selecções BD #8 – 2ª série – em 1999. É uma história graficamente espectacular em 15 páginas, sem comparação com tudo o resto que se publicou.

Mas pelas minhas contas, foi José Ruy quem bateu o recorde de publicações sobre este tema, com mais de dez histórias publicadas, entre as quais Os Lusíadas, de Camões, ou a Peregrinação de Fernão Mendes Pinto – sendo esta primeiro publicada no Cavaleiro Andante em 1957. Isto para além das histórias ficcionais de As Aventuras de Porto Bomvento, de que foram publicados oito álbuns, depois condensadas em dois volumes.

A par com José Ruy, surge-nos Baptista Mendes, também com quase uma dezena de histórias publicadas. Outros autores, desde José Garcês a Fernando Relvas, passando por Vítor Péon, José Pires, Carlos Alberto, Nuno Saraiva, o belga Albert Weinberg, ou o italiano Sergio Toppi, que já referi, produziram histórias, algumas curtas, outras mais longas, sobre a saga dos Descobrimentos.

No entanto, penso que, a par da já referida Exposição do Mundo Português de 1940, o aparecimento d’O Mosquito em 1936, que chegou a atingir tiragens de 30 mil exemplares, teve alguma coisa a ver com o autêntico boom na produção de BD em Portugal, especialmente destinada a pré-adolescentes e adolescentes, começando a abrir as suas páginas aos autores portugueses, que irromperam em força no mercado, com a BD de aventuras, de acentuada influência castelhana, inglesa e americana. Refira-se também que me parece que foi esta revista que inaugurou a famosa frase “continua no próximo número...” no final de cada episódio publicado, em histórias de maior fôlego. E a grande figura d’O Mosquito seria, de facto, Eduardo Teixeira Coelho, tendo sido a sua história O Caminho do Oriente um êxito absoluto. Talvez daí se tenha iniciado a saga das histórias sobre os Descobrimentos, criadas por diversos autores, em que a sua temática seria, em certos casos, repetida quase até à exaustão. Daí existirem diversas histórias de “Vascos da Gama”, “Pedros Álvares Cabral”, “Bartolomeus Dias”, etc...

Mas, como referem Marie Manuelle Silva e Rui Malheiro, no estudo A Banda Desenhada Portuguesa – autores, temas e tendências, publicado em 2006 no Boletin Galego de Literatura: “observamos nas estantes das livrarias generalistas ou nos catálogos das editoras, o denso apelo da história. Será o nosso saudosismo que está na origem desta importante subcategoria narrativo-didáctica? Em parte, talvez. Mas, é no aspecto financeiro que devemos procurar a resposta mais provável. Com efeito, num mundo editorial em permanente crise, a produção histórica representa poucos riscos...”

“(...) No entanto, quatro pontos se destacam nesta sub-categoria da História. A primeira é a façanha dos Descobrimentos. É um momento chave que motiva particularmente os nossos autores. De todos os álbuns queremos destacar o trabalho de José Ruy. Através da personagem que criou – Bomvento e dos dois amigos inseparáveis – o capitão Batávias e o armador Dias Gaia –, assistimos às aventuras marítimas de gerações sucessivas de portugueses anónimos.

E é neste pormenor que reside a originalidade da série proposta por José Ruy. As suas personagens são capazes de praticar feitos heróicos, mas com as virtudes e imperfeições dos homens comuns (...)”

Para conclusão, devo referir que desde a “obra inaugural” do tema, de Eduardo Teixeira Coelho, em 1946, até Nau Negra, de Fernando Relvas, em 2015, decorreram 64 anos e, dividindo as cerca de 50 histórias sobre Descobrimentos publicadas em todos esses anos, temos a módica quantia de duas histórias publicadas por ano – é uma quantidade incrível em relação a todos os outros temas publicados em banda desenhada neste país! Isto sem contar com todas as outras histórias dedicadas à História de Portugal, sem serem os Descobrimentos. É obra, não haja dúvidas, apesar de as coisas não serem assim tão lineares, mas quase.

Tenho que agradecer aos meus amigos José Ruy e Geraldes Lino, a paciência com que me ajudaram a elencar os cerca de 50 títulos de BD sobre este tema. Sem eles não o teria conseguido!

O Caminho do Oriente, de Eduardo Teixeira Coelho

Nau Negra, de Fernando Relvas
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Anexo do post Gazeta da BD #83 na Gazeta das Caldas – Os Descobrimentos na Banda Desenhada – Algarve 1640, a extraordinária obra de Sergio Toppi, (sobre a morte do Infante D. Henrique), publicada na revista Selecções BD #8 – 2ª série – em 1999. 

NO SEGUINTE POST:

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