Diários As Beiras, 1 de Maio de 2010 O COMBATE ILUSTRADO João Miguel Lameiras Chegou às livrarias há poucos meses o livro “O Combate Ilustrado”, obra que, apesar de não ostentar qualquer imagem na capa ocupada por um lettering rosa fluorescente sobre um fundo branco, contém no seu interior centenas de ilustrações de alguns dos maiores nomes da Banda Desenhada e ilustração nacional. Jornal publicado pelo Partido Socialista Revolucionário (PSR), uma das forças políticas que esteve na origem do Bloco de Esquerda, o “Combate” acolheu nas suas páginas um número impressionante de ilustradores e desenhadores que, por militância, ou amizade pelos editores do jornal, encheram as páginas do jornal com imagens e histórias desenhadas.
O livro que motiva este texto, recolhe uma selecção dos trabalhos de ilustração e BD publicados no “Combate”, entre 1986 e 2007, numa escolha coordenada por Jorge Silva, grande responsável pela abertura do “Combate” à ilustração, que assina também a nota de abertura e o arranjo gráfico do livro. E o trabalho de Jorge Silva como ilustrador é uma das agradáveis surpresas deste livro. Indiscutivelmente um dos melhores designers portugueses, Silva foi também um ilustrador extremamente versátil, como o provam os inúmeros trabalhos seus reproduzidos neste “Combate Ilustrado”.
A presença de Jorge Silva como Director de Arte e de João Paulo Cotrim como editor fez com que encontremos nas páginas do “Combate” vários nomes que assumirão grande importância em termos da Banda Desenhada nacional, como Nuno Saraiva (com várias ilustrações e uma deliciosa história sobre as afinidades entre Santana Lopes e Zita Seabra), Fernando Relvas (que criou a Ovelha Negra, a mítica mascote do PSR), Renato Abreu, Richard Câmara, Pedro Burgos, ou João Fazenda, de quem escolhi uma ilustração para acompanhar este texto.
Desconheço se os critérios que presidiram à escolha das ilustrações e Bandas Desenhadas presentes neste “ O Combate Ilustrado” foram apenas estéticos, ou ditados por questões mais pragmáticas, como a dificuldade de acesso a imagens com qualidade suficiente para reprodução, mas uma rápida análise à listagem de todos os ilustradores que publicaram no “Combate” entre 1986 e 2007, reproduzida no fim do livro, permite detectar as ausências neste livro de autores como Alex Gozblau, Filipe Abranches e José Carlos Fernandes.
No caso de José Carlos Fernandes, é mesmo a confirmação de uma relação complicada com o jornal “Combate”, publicação que chegou a vetar uma história sua. Mas deixemos que seja o próprio a contar esta história edificante, que mostra que, por vezes, a censura surge de onde menos se espera: “Ora aqui vai a história da vez em que fui vítima de “implacável censura política”: nos tempos (já lá vão uns 17 ou 18 anos) em que não tinha livros publicados e divulgava as minhas BDs em fanzines e revistas a título “benévolo” (como dizem os franceses), submeti material à LX Comics, que entretanto se extinguiu. O director da LX Comics, que também movia cordelinhos noutras publicações, propôs-me que publicasse antes o material no Combate, orgão informativo do então PSR. Assim aconteceu com uma primeira BD, chamada “Dessert Storm”, que misturava Rodolfo Valentino com a I Guerra do Golfo, mas o mesmo já não aconteceu com a segunda, “O dia em que o capitalismo caiu”. Foi recusada por Francisco Louçã, que não gostou que a dita BD brincasse com a figura de Lenin (esse Santo Homem!), embora a BD satirizasse também o capitalismo e o consumismo.
Espero com esta história pungente poder conquistar um lugar na Galeria dos Mártires da Liberdade de Expressão em Portugal.”
Tendo em conta que há vários autores representados por mais do que uma ilustração, a começar pelo próprio Jorge Silva, não deixa de ser pena as ausências atrás citadas. Não que isso não invalide a oportunidade e o interesse do “Combate Ilustrado”, que nos permite descobrir (ou redescobrir) trabalhos menos conhecidos de grandes nomes da ilustração e BD.
(“O Combate Ilustrado: de 1986 a 2007, Vários Autores, Edições Combate, 228 pags, 20.00 €)
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Autores portugueses desenham clone de Wolverine para a MarvelF. Cleto e Pina Nos próximos dias deve chegar às lojas especializadas portuguesas mais uma edição da Marvel com assinatura portuguesa. Trata-se de “X-23”, uma história completa em 36 páginas, escrita por Marjorie Liu, cujo desenho a lápis foi feito por Filipe Andrade e Nuno Plati Alves, que foi também responsável pela arte-final e a cor das pranchas em que participou. A passagem a tinta das restantes esteve a cargo de Jay Jensen e Sandu Florea, tendo este último ainda há pouco tempo desenhado a saga “Batman: R.I.P.”, na qual o Homem-Morcego perdeu a vida.
Ao JN, Filipe Andrade, desenhador de “BRK” (ASA), revelou que foi convidado para a ilustrar durante o Festival de BD de Angoulême, em Janeiro último, devido ao atraso da autora inicialmente escolhida mas também face à boa aceitação que teve o seu primeiro trabalho para a Marvel, uma BD do Homem de Ferro, ainda inédita.
Com prazos muito apertados – teve que desenhar 24 pranchas em 20 dias, com layouts e estudos incluídos – Andrade teve ainda que suprir o desconhecimento que tinha da personagem principal, X-23, aliás Laura Kinney, uma clone de Wolverine, que possui garras retrácteis nas mãos e também nos pés, que apareceu pela primeira vez na série animada “X-Men Evolution”, tendo depois passado para os quadradinhos onde é actualmente um dos membros da X-Force.
Esta história, conta a sua partida da ilha de Utopia, refúgio dos X-Men, na baía de S. Francisco, e o seu regresso provisório às ruas sombrias e degradas de Nova Iorque, um ambiente com o qual o desenhador se afirma à vontade, numa tentativa de encontrar o seu próprio caminho e começar a lutar por si própria, depois de uma vida em que sempre se sentiu usada por aqueles que a rodeavam.
Com uma segunda BD do Homem de Ferro já terminada, Filipe Andrade está agora a trabalhar numa mini-série de 4 ou 5 números, com uma personagem chamada Nomad.
X-23 # 1 vol 2
Writer: Marjorie Liu
Drawings: Nuno Plati, Filipe Andrade
Release Date: 2010-03-17
X-23 throughout his life was used. But when you hit on someone who can control it alone think for the first time will have to fight not for others but for themselves.
Imagem da responsabilidade do Kuentro______________________________________________________________________
A HERANÇA DE BOIS-MAURYYves H. e HermannVITAMINA BDO ano é 1604 e o contexto histórico a guerra pelo poder na Rússia entre o czar Boris Godunov e Grigori Otrepiev, apoiado pelos cossacos polacos, um impostor que se faz passar por herdeiro e que ficou na História como o “falso Dimitri”. Mas a história - para lá da História – é um relato de desejo e vingança.
Vassya, um dos cossacos, dá título ao livro, mas na verdade – como sempre nesta série, aliás, em torno dos descendentes do cavaleiro Aymar de Bois-Maury, protagonista do ciclo inicial As Torres de Bois-Maury, parcialmente editado em Portugal - o protagonismo é vivido no feminino, através de Douniachka, uma mulher à frente do seu tempo por ter (e exercer…) opinião, desejos e vontade própria. Porque se é ela o objecto de desejo - de Vassya, o marido demasiado ausente, de Aymar, o descendente do seu homónimo original, e de Kolya e dos seus zaporogues -, ela também sente e quer. Numa época em que à mulher cabia um papel de subserviência e de pouco mais do que objecto ao serviço dos homens.
E, também por isso, vai ser Douniachka quem está na origem dos desejos de vingança de Kolya e dos seus companheiros quando Aymar os impede de consumarem a sua violação. Num relato em que as personagens se vão cruzando aumentando as animosidades e a tensão.
Por isso, esta é, antes de mais, uma história humana, sim – aspecto reforçado até pelo papel (falsamente) secundário do avô de Douniachka -, embora menos estimulante do que seria desejável, reconheço, porque algo previsível. E também crua - como têm ultimamente sido quase todos os relatos desenhados por um Herrnann desencantado com os seus semelhantes - porque testemunho de onde o ser humano pode chegar quando os (piores) sentimentos se impõem à razão.
Fica, mais uma vez, como principal atractivo o extraordinário trabalho gráfico de Hermann, com um traço realista assente em soberbas cores directas, num notável jogo de luzes e sombras, em especial nas cenas noctumas ou ao entardecer, e numa planificação sóbria mas muito eficiente.•
F. Cleto e Pina______________________________________________________________________
alentejo popular 1 de Abril de 2010através da banda desenhadaCoordenação de Armando CorrêaSUA EXCELÊNCIA, O HERÓI-BD O Cavaleiro BrancoA 7 de Outubro de 1953, na edição belga da revista «Tintin», estreou-se um novo herói-BD: o Cavaleiro Branco (aliás, Jehan de Dardemont). Era o início de uma bela série que hoje comporta onze álbuns. O primeiro tomo tem apenas o título do próprio herói, com guião de Raymond Macherot e grafismo de Fred Funcken. Seis destas narrativas foram publicadas em revistas portuguesas, mas nenhuma foi editada entre nós em formato álbum.
A partir da segunda aventura, «Le Nectar Magique», Macherot deixou a sua participação na parceria com Funcken, tendo sido substituido, para sempre, por Liliane, que viria a casar com Fred.
Toda a acção se desenrola na Idade Média, na França do século XIII, recheada de querelas, ambições e corrupções. É neste agitado e por vezes cruel cenário, que se centralizará a acção do misterioso e justiceiro Cavaleiro Branco.
A partir de 1987, Didier Convard, assume o cargo de argumentista desta série, em estreita colaboração com o casal Funcken.
Aguardemos que esta série que é, embora ficcionada, um correcto retrato da Idade Média, surja em álbuns portugueses, para gáudio dos nostálgicos e deslumbramento para as gerações mais novas.
alentejo popular 8 de Abril de 2010através da Banda DesenhadaCoordenação de Armando CorrêaMAGNIFICAMENTE, ELES SÃO... Os FunckenNa sequência da nossa crónica sobre o herói-BD O Cavaleiro Branco, e para não perder a embalagem, cá vos relatamos hoje aspectos dos seus autores de excepção, os Funcken (Liliane e Fred).
Belgas de nacionalidade, Fred nasceu a 5 de Outubro de 1921 e Liliane 17 de Julho de 1927. Fred teve uma vida (adolescência e juventude) atribulada (esteve, inclusive, preso e deportado pelos nazis alemães), sempre procurando acertar com a sua carreira. Cedo, já «garatujava bonecos»... Foi depois de liberto que ele renunciou à hipotética carreira de músico... Ora estava ele como decorador dos famosos armazéns bruxelenses «L'Innovation», quando deparou com uma jovem funcionária da mesma empresa, Liliane. Foi um mútuo amor à primeira vista. E, pouco tempo depois, estavam casados.
Desde então, na vida e na carreira, sempre unidos, apaixonados, cúmplice e parceiros. Nunca se sabe, na obra, onde acaba um e começa o outro. São dois num só! Este é um emotivo e nobre exemplo bem raro, quando não, até agora, único.
Na obra, são terríveis e exigentes pesquisadores, o que já lhes valeu algumas frustrações, quando lhes vedaram determinadas consultas históricas. Mesmo assim, há belas e invejáveis vitórias conseguidas nessa carreira em comum, como por exemplo o serem especialistas em uniformes e costumes, donde uma notável obra em diversos volumes. Com eles, o voluntarioso rigor histórico.
Depois, há o currículo de séries de aventuras como O Cavaleiro Branco, Capitan, Doe Silver, Harald - o Viquingue, Jack Diamond, Napoleão ou o tomo único «Cemitério das Baleias».
Nas histórias curtas, tiveram a gentileza de abordar Portugal, como em D. Sebastião, publicada em «Mundo de Aventuras», n.o 326 (a 3 de Janeiro de 1980), em seis pranchas.
Até este momento, ao que saibamos, o exemplar casal Funcken continua vivo e activo. Ainda bem!
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