segunda-feira, 10 de junho de 2019

BDpress #498 - DARWIN Vol 2 – A ORIGEM DAS ESPÉCIES No rasto de uma teoria

BDpress #498 - Recorte de imprensa sobre BD - Revista semanário Expresso, 08-06-2019


DARWIN Vol 2 – A ORIGEM DAS ESPÉCIES 
No rasto de uma teoria 

No primeiro volume de "Darwin", um trabalho de BD sobre a vida e obra do autor de "A Origem das Espécies", Christian Clot, o autor do texto, concentrou todo o foco da narrativa num período muito concreto da vida do cientista: os dois anos (1831-1832) que vão da conclusão dos estudos em Cambridge à chegada do "Beagle" ao extremo sul do continente americano. A bem dizer, foi neste intervalo que Charles, o rapaz de 22 anos, cheio de dúvidas e de uma curiosidade devoradora, se tomou Darwin, o homem que muitos anos mais tarde provocaria uma das maiores revoluções científicas de todos os tempos. Depois de analisadas em pormenor as contingências e os acasos que o colocaram num navio hidrográfico com a missão de dar a volta ao mundo, bem como as relações de poder a bordo, o livro terminava no momento em que o jovem naturalista ao analisar os espécimes recolhidos nas mais variadas latitudes, começava a pôr em causa a visão do mundo que a sua formação religiosa lhe dera.

A estrutura do segundo volume, agora publicado, é igualmente inteligente. Em junho de 1858, dois amigos de Darwin visitam-no na sua casa campestre, para o avisar da publicação iminente de um ensaio de Alfred Russel Wallace que defende, em traços gerais, uma teoria da evolução muito semelhante àquela em que ele trabalha há mais de duas décadas, desde o regresso a Inglaterra do "Beagle" (após uma viagem que acabou por durar cinco anos). Na verdade, Wallace não avança com o conceito de "seleção natural" nem apresenta uma ínfima parte dos espécimes e fósseis que Darwin recolheu, mas, se for o primeiro a publicar, ficará com os créditos para si.

Quase sempre muito fiel à verdade documental, Clot suspende o rigor histórico para abrir uma porta à ficção, ao imaginar um motivo para a relutância do cientista em publicar o trabalho de uma vida.

Voltamos então à viagem do "Beagle", mais concretamente ao momento em que o navio, comandado por Robert FitzRoy, volta à Terra do Fogo, em 1834, para verificar que os índios aí deixados anos antes, depois de convertidos à civilização em Inglaterra, haviam regressado ao seu estado natural e selvagem.

O falhanço faz com que o comandante mergulhe na depressão, quase pondo em risco todo o projeto, mas a circum navegação prossegue, com os principais momentos devidamente assinalados: da descoberta de fósseis de seres marinhos nos cumes dos Andes às teorias sobre a formação dos atóis, que implicavam um tempo geológico muito mas extenso do que o sugerido pela Bíblia para a criação do mundo, passando pelo exemplo clássico das variações nas características das tartarugas e tentilhões do arquipélago das Galápagos, dependentes das condições específicas de cada ilha.

Christian Clot toma algumas liberdades na forma como descreve as tensões e conflitos entre Darwin e FitzRoy, fazendo até com que cheguem a vias de facto (numa cena de pancadaria um pouco forçada),
mas não deixa de contar o essencial, sempre com uma notável agilidade nos diálogos e justeza no modo de problematizar tanto as mudanças de paradigma instauradas por "A Origem das Espécies" como as violentas reações que provocou.

O trabalho gráfico, de Fabio Bono, é apenas competente, sem grandes audácias nem rasgos de originalidade (se excluirmos o facto de Darwin envelhecer uns bons 30 anos de uma cena em 1858 para outra passada em 1860). Tal como no primeiro volume, o dossiê historico final é excelente.

José Mário Silva

DARWIN – 2. A ORIGEM DAS ESPÉCIES
Christian Clot e Fabio Bono
Gradiva, 2019, trad. de Maria de Fátima Carmo, 56 págs. € 16,50
Banda Desenhada





CHRISTIAN CLOT 


Christian Clot dirige expedições de exploração científica em ambientes extremos no nosso planeta. A sua constante interrogação sobre a capacidade do ser humano em se adaptar ao seu ambiente, rapidamente ligou as suas expedições ao trabalho cientifico. Comunica através de conferências, livros e filmes, pelos quais recebeu vários prémios. Desde sempre fascinado por banda desenhada, é autor de vários livros.

FABIO BONO 


Fabio Bono (n. Sanremo,ltália; 1971) estudou na Escola de Banda Desenhada de Milão. Em 1993, é-lhe atribuído um prémio no Salão internacional de Humor de Bordighera. Desde 1994, trabalha para numerosas editoras italianas e estrangeiras, como Corrierino dei Piccolli, Warner Bros, Stratelibri, Chaosium e Éditions Piemme.

Com o argumentista Gino Udina, cria duas bandas desenhadas no ano 2000, The Kingdom e Tao. Entre 2004 e 2007 cria com a sua mulher Marzia oito livros ilustrados infantis de uma série intitulada Nonno Gidio. No mercado francês, em 2009 desenha Confessions d'un Templier para as edições Soleil, que já teve direito a 3 tomos. A série Cathares, iniciada em 2011 para a editora Glénat, concluiu no 3º tomo.

Para a série Explora da Glénat desenhou os dois álbuns dedicados a Darwin e os dois dedicados a Marco Polo.



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