domingo, 22 de setembro de 2019

NOVELA GRÁFICA V Vol. 12 NEVE NOS BOLSOS de Kim


NOVELA GRÁFICA V
Vol. 12 
NEVE NOS BOLSOS 
de Kim (Joaquim Aubert Puigarnau)

UM ESPANHOL NA ALEMANHA

Novela Gráfica V – vol. 12
NEVE NOS BOLSOS
Argumento e ilustrações de Kim
Quinta-feira, 19 de Setembro
Por+10,90€

Kim regressa à colecção Novela Gráfica como autor completo com Neve nos Bolsos, um relato autobiográfico da sua ida para a Alemanha e das vivências de outros espanhóis que emigraram com o mesmo objectivo, ganhar a vida.

Foi em Outubro de 1963 que o jovem Joaquim Aubert Puigarnau, ainda não conhecido como Kim, deixa os seus estudos em Belas Artes e aproveita o ano que tem até começar o serviço militar, para ganhar a vida na Alemanha. Através dos seus olhos e das suas memórias, vamos descobrir a vida desses expatriados da Espanha franquista.

Como o próprio Kim referiu numa entrevista: "Esta novela gráfica surgiu devido a uma série de coincidências. Primeiro, porque tinha menos trabalho na revista El Jueves e muitas horas livres enquanto esperava que o Antonio Altarriba acabasse o argumento de A Asa Quebrada. Segundo, porque numa visita a Angoulême conversei com um rapaz alemão e contei-lhe essa viagem, que praticamente não tinha contado a ninguém. Quando ele me disse que na Alemanha já quase ninguém se recorda desses milhares de espanhóis que emigraram, percebi que tinha de contar essa história."

Um processo quase catártico, que lhe permitiu recuperar um período importante da vida de Kim e da história de Espanha: "Recordar esse ano que estive na Alemanha foi uma espécie de terapia para mim. Comecei a escrever a história na segunda pessoa, como se não fosse eu o protagonista.

Mas quando mostrei umas quantas páginas a Altarriba e ele me disse que se notava que o protagonista era eu e me perguntou porque não escrevia na primeira pessoa, decidi fazê-lo."

"Não tenho uma memória alegre desse tempo. Foi um ano bastante duro, como se pode ver no livro. Ainda assim, tive a sorte de privar com um grupo de gente jovem que tentava aproveitar a vida: ríamos, fazíamos festas..."

João Miguel Lameiras

BDpress #516 – artigo de João Miguel Lameiras, publicado no jornal Público

DA INTRODUÇÃO 

VEM PARA A ALEMANHA JOAQUÍN! 

Quem não se lembra do famoso filme do Lazaga? Em pleno landismo, aquele filme resumia numa frase o caminho que tiveram de tomar centenas de milhares de espanhóis nos anos 60. Os Planos de Desenvolvimento, vendidos pelo regime franquista como a quinta essência do futuro para o espanholito comum, não conseguiam esconder a realidade de uma indústria empobrecida que não podia empregar todo um povo a quem restou só uma opção: a emigração. Mais de um milhão de pessoas saíram de Espanha com destino à Europa e à América Latina, e a outros países entre os quais se destacava no imaginário popular a organizada Alemanha. Um país visto como rico, riquíssimo, onde a forte indústria permitia alimentar os cães com salsichas.

De Frankfurt, talvez.

Após a assinatura do acordo entre Espanha e a Alemanha em 1960, iniciou-se um processo denominado "emigração assistida", no qual o estado exercia a sua tutela paternalista com aqueles que decidiam deixar as suas famílias à procura de riqueza nos todo poderosos marcos alemães, tentando vender um fracasso como êxito e, também, evitando que a emigração fosse um escape para os perseguidos por Franco. Era uma via seguida sobretudo pelos homens, jovens, muitos recém-casados, que acudiam ao Instituto Espanhol de Emigração para obter o visto, passaporte e uma licença de trabalho que lhes permitiria chegar, como proclamava o regime, com um contrato debaixo do braço. O franquismo soube vender a emigração como uma vitória da sua política exterior, perfeitamente pensada para gerar retorno de riqueza, mas a realidade era bem diferente. Essa emigração organizada era apenas a ponte do icebergue de outra, clandestina, que talvez duplicasse, ou mesmo triplicasse, os números oficiais, num fluxo descontrolado que o regime sabia estar relacionado com mais situações que a procura de um trabalho. Os espanhóis e as espanholas emigravam fugindo à fome, procurando trabalho, mas também em busca de uma liberdade desconhecida.

Mas sem papéis, a realidade era bem distinta: os emigrantes chegavam à Alemanha para cair numa exploração ainda maior da que sofriam os compatriotas "legais", e principalmente ficavam indefesos face às lucrativas redes de tráfico de mão-de-obra. A história real era muito diferente do retrato embelezado e de sorriso forçado que se emitia nos noticiários.

Kim foi um desses jovens, que partiu à procura de oportunidades e se encontrou sem papéis numa Alemanha tão paradoxalmente acolhedora como hostil.

E, como bom contador de histórias que é, relata com lucidez a sua experiência, deixando que o tempo filtre as emoções e sejam as recordações a falar. Desse jovem que ao chegar à fronteira alemã se encontrou com uma palavra no seu passaporte que lhe abriu a porta do país, mas que lhe fechou a do trabalho. Um turista involuntário, que decide converter-se em testemunha daqueles que, como ele, não tiveram a sorte de ir com um contrato de trabalho na mão.

A história, com minúsculas, da emigração espanhola na Alemanha, vista não através dos olhos do desenhador, mas sim da sua memória. Uma memória que já não entende a raiva que sentiu à época, mas que devolve as recordações depois de a passar pelo crivo do juízo da reflexão, possivelmente reescrita involuntariamente para deixar para trás o pior, mas com a sinceridade como estandarte.

Assim, a vinheta converte-se num pequeno teatro de sombras do passado por onde desfilam outras histórias, as de homens e mulheres que deixaram o seu país por medo, por fome, por justiça ou liberdade.

Com a mesma extrema generosidade que teve o Altarriba ao converter-se no alter ego invisível do guionista em A Arte de Voar e em A Asa Quebrada, Kim coloca-se à parte para ceder os seus desenhos aos que nunca puderam falar; à mulher que teve de fugir de abusos ocultados, ao homem que era agredido por causa de uma sexualidade perseguida, aos que fugiram de um futuro a que nos queriam submeter. Pouco a pouco, esses relatos não só contam a história não escrita dos emigrantes espanhóis na Alemanha, como no seu conjunto, compõem um retrato perfeito da Espanha que não podia ser dita, aquela de que não se podia falar.

Da verdadeira.

Álvaro Pons

Joaquim Aubert Puigarnau (Barcelona, 1941), mais conhecido como pseudónimo Kim, é um autor de banda desenhada catalão.

Formado em Belas Artes e interessado em pintura, cedo se viu embrenhado na banda desenhada e ilustração para publicações do underground de Barcelona. As suas primeiras vinhetas foram publicadas na revista musical Vibraciones, dirigida por Àngel Casas. Em 1977, começou a desenhar para a revista satírica El Jueves, e coube-lhe logo uma personagem que ninguém queria desenhar, "um rosto". Então ele fez a primeira página de Martínez el Facha, que se tornou a única personagem que apareceu ininterruptamente nas páginas desta revista desde a primeira edição até 2015. As suas sátiras contra a ultra-direita espanhola mais extrema e reaccionária ocorrerão através dos infortúnios Martinez, seu amigo Adolfito, e filho do primeiro, que sempre prende o cabelo.

As histórias em BD de Martínez el Facha foram compiladas em mais de vinte álbuns. Kim também colaborou em revistas como Por Favor, Mata Ratos, Rambla, El Víbora e Makoki.

Em 1995, foi premiado com o Grand Prix da Comic Fair de Barcelona e em 2007, com o International Humor Award Gat Perich. Em abril de 2010, recebeu o Prémio Nacional de BD (Còmic), concedido pela CoNCA , pela obra El arte de volar, em conjunto com Antonio Altarriba. No mesmo ano também recebeu o Notary of Humor Award na Universidade de Alicante.

2019 : Quarenta maneiras de cartão, Dibbuks, Madrid.
2018 : Neve nos bolsos, Norma, Barcelona.
2016 : A asa quebrada, argumento de Antonio Altarriba, Norma, Barcelona.
2012 : A arte de voar, argumento de Antonio Altarriba, EDT, Barcelona.


















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