sábado, 1 de fevereiro de 2020

O ÚLTIMO ENCONTRO COM GERÓNIMO A FECHAR A SAGA DE BLUEBERRY COM O PÚBLICO


DUST
O ÚLTIMO ENCONTRO COM GERÓNIMO 
A FECHAR A SAGA DE BLUEBERRY 
COM O PÚBLICO
por Carlos Pessoa


Álbum 10
Dust
Colecção Blueberry
Quinta-feira; 30 de Janeiro
Por+7,90€


BDpress #531 Recorte do artigo publicado no Público de 25/1/2020

Texto de Carlos Pessoa

Durante o tiroteio em OK Corral, Blueberry salva Dorée Malone do assassino Johnny Ringo. Este consegue escapar, mas é morto mais tarde pelo herói. Entretanto, a história contada a Campbell é revelada: preso no Forte Mescalero com Gerónimo e os seus homens, Blueberry é libertado e visita, com a professora Caroline Younger, um orfanato onde há crianças índias retidas. Uma delas, a quem chamam "Dust", é Natché, filho de Gerónimo. Blueberry ajuda este último a fugir com o filho e os seus guerreiros, mas, durante a fuga, o reverendo Younger, director do orfanato, atinge mortalmente a filha por acidente... Este é, em resumo, o enredo de Dust (texto e desenho de Jean Giraud), décimo e último álbum da colecção Blueberry, que será distribuído com o Público na próxima semana.

À data da publicação desta história, Dust foi um dos acontecimentos editoriais do ano, fechando o ciclo Mister Blueberry, mais conhecido como ciclo OK Corral. E é fechado com chave de ouro: uma história de 68 páginas, rematando todas as pontas soltas do enredo desenvolvido por Jean Giraud, investido na dupla função de argumentista e desenhador do episódio.

Do desenho não há muito mais que possa ser acrescentado ao que foi dito ao longo da apresentação dos álbuns desta colecção Blueberry: é magnífico e, tantos anos depois, conserva a frescura e modernidade que caracterizaram o estilo gráfico do autor. As cores de Scarlett Smulkovski ajudam à excelência do resultado final, mas se fosse possível aceder às pranchas a preto e branco de Giraud, o leitor poderia ficar com uma ideia mais precisa e cabal do enorme talento do ilustrador, tão magníficas e precisas são cada prancha, cada vinheta e, dentro destas, cada personagem finamente desenhada.

Se a crítica é bastante consensual no que diz respeito ao grafismo, já o mesmo não se pode dizer da avaliação do argumento deste álbum. É necessário dizer, antes de mais, que a "sombra" de Jean-Michel Charlier paira constantemente sobre a série. Este último tinha o dom de saber criar uma narrativa caracterizada por uma densidade dramática fantástica a partir de uma trama linear (mas não forçosamente simples) de recorte clássico. É esta característica, aliás, que está na base do enorme sucesso deste western.

Após a morte de Charlier, Giraud pegou nas rédeas da série por inteiro inoculando-lhe o seu próprio estilo e filosofia, certamente mais contemporâneos e ajustados às exigências dos actuais leitores de banda desenhada: multiplicidade de histórias paralelas, transição sem aviso de umas para outras com a dose precisa de suspense para manter o mesmo nível (bem elevado) de atenção, fechando-as todas num desenvolvimento final. Entre o genial contador de histórias (Charlier) e o artífice subtil de enredos (Giraud), deixamos ao leitor a total liberdade de escolha.

Quer a acção se passe nas ruas empoeiradas de Tombstone, quer num saloon saturado de fumo de tabaco ou nas planícies áridas perseguindo índios, Dust leva às últimas consequências a arte de construir ambientes e de contar uma história, embora nem sempre com a fluidez que seria mais desejável – o ritmo de algumas sequências é um pouco irregular,

tornando-as quase dispensáveis; em contrapartida, o último encontro de Blueberry com Gerónimo, narrado a Campbell, é um momento culminante e final nesta longa e vibrante história.

Seja qual for a avaliação, de uma coisa não há dúvidas: todos os episódios são de uma enorme riqueza e densidade, propiciando uma fruição dificilmente igualada no panorama da banda desenhada contemporânea, e esta última aventura não foge a essa regra.
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Tombstone, 28 de Outubro de 1881. O duelo entre os irmãos Earp e os Clanton/ Mc Laury está prestes a ter um desenlace. Entretanto, no Dunhill Hotel, um tiro de revólver destrói a porta do quarto onde Doree se encontra como prisioneira de Johnny Ringo, o assassino psicopata.
O escritor Campbell desiste de escrever a biografia de Blueberry e regressa a Boston... Mas, durante alguns segundos, os destinos destes personagens vão estar em jogo. E Blueberry vai ser alvo de uma verdadeira ressureição... Quando já não se dava nada por ele no ínicio do ciclo de Tombstone, renasce um novo Blueberry. Agora, é um homem novo e decidido a retomar o caminho da grande aventura. "Arruinado, mas vivo!" Blueberry desfruta do prazer do seu renascimento e do fim da sua busca introspectiva. Finalmente, libertou-se do peso do passado.
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Jean Giraud (Nogent-sur-Marne, 8 de maio de 1938 – Paris, 10 de março de 2012) foi um autor francês de banda desenhada, que também colaborou na produção de diversos filmes. Giraud é também conhecido pelos pseudónimos Moebius e Gir. Começou a publicar as suas primeiras tiras de BD aos 18 anos, tornando-se logo um dos ilustradores mais consagrados da Europa.

As idades de Jean Giraud

Jean Giraud nasceu numa família humilde, em 8 de maio de 1938, na cidade francesa de Nogent-sur-Marne.

A sua primeira história em banda desenhada publicada foi Frank et Jeremie, para a revista Far West, em 1956, publicada antes dos 18 anos. Ainda na década de 50, escreveu e desenhou para as revistas Sitting Bull, Fripounet et Marisette, Âmes Vaillantes e Coeurs Vaillants. A sua carreira foi interrompida pelo serviço militar, que prestou na Argélia (que era uma colónia da França), durante a guerra da independência argelina, que decorreu entre 1954 e 1962.

Ao retornar do serviço militar, começou a trabalhar com Joseph Gillain, mais conhecido por "Jijé", um dos principais autores de BD europeus da época, com quem colaborou na revista Jerry Spring. Giraud foi indicado por Jijé para desenhar a série cujas histórias se desenrolam no oeste americano – Blueberry – e que seriam inicialmente publicadas pela revista Pilote.

Em 1963, é publicado pela primeira vez na revista Hara Kiri, assinando com o pseudónimo Moebius. Nela, foram publicadas 21 tiras em 1963/64, e só quase uma década depois é que este pseudónimo foi utilizado de novo. Em geral, Giraud assina como Moebius nos seus trabalhos de ficção científica e fantasia, que costumam ser mais experimentais.

Este célebre pseudónimo de Giraud, tem origem no nome de August Ferdinand Möbius, que foi um matemático e astrónomo alemão, célebre pela sua fita de Möbius, um espaço topológico obtido pela colagem das duas extremidades de uma fita, após efectuar meia volta numa delas.

 A fita de Möbius 

Em 1974, Giraud formou os Humanoïdes Associés com Jean-Pierre Dionnet, Philippe Druillet e Bernard Farkas. No mesmo ano, lançaram a revista de fantasia e ficção científica Métal Hurlant, uma publicação que se tornaria muito influente no meio da BD. Logo no seu primeiro número, a capa era de Moebius e Philippe Druillet, e continha as primeiras histórias de Arzach e Major Grubert. A maior parte do seu trabalho na revista foi republicada depois em álbuns.


A sua parceria com o escritor chileno Alejandro Jodorowsky iniciou-se em 1975. Com ele, lançou muitos trabalhos, sendo O Incal o mais conhecido.

Nos anos 1980, produziu a graphic novel Surfista Prateado, parábola em colaboração com Stan Lee. Recebeu a condecoração das Artes e das Letras, distinguido pelo presidente francês, em 1985.

Giraud morreu de cancro, aos 73 anos, em Paris.

Pode ler-se o texto de Carlos Pessoa sobre a morte de Jean Giraud, aqui: https://www.publico.pt/2012/03/12/culturaipsilon/noticia/morreu-jean-giraud-o-autor-que-mais-influenciou-os-criadores-do-seu-tempo-301807



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