sábado, 26 de novembro de 2016

GAZETA DA BD #64 - “Tudo Isto é Fado!”, de Nuno Saraiva – MELHOR ÁLBUM DO ANO



Gazeta da BD #64 – Na Gazeta das Caldas
25-11-2016
Jorge Machado-Dias

“Tudo Isto é Fado!”, de Nuno Saraiva
Considerado Melhor Álbum Português do ano no 27º Amadora BD 2016


O 27º Festival Amadora BD escolheu o livro Tudo Isto é Fado!, de Nuno Saraiva, como o Melhor Álbum Português de 2016. Não é um troféu inédito na carreira do autor, que já o vencera em 1998, com As Aventuras Extra Ordinárias de Zé Inocêncio e em 1999 com o terceiro volume de Filosofia de Ponta.

Nuno Saraiva é um típico autor de banda desenhada “à moda antiga”. Isto porque se fez herdeiro da tradição inicial da BD (até às décadas de 1960/70), quando a esmagadora maioria da produção de histórias desenhadas era publicada, primeiro em páginas de jornais ou revistas e só mais tarde compilada em livros, quando o era. Deste modo Saraiva tem colaborado regularmente, com ilustrações e séries de BD para os jornais e revistas Público, Marie Claire, Elle, Notícias Magazine, O Independente, GQ, Maxmen, Máxima, Expresso, Record, Inimigo Público, Grande Reportagem, Atlântico, Sol, Visão, etc., etc., etc...

Assim, Tudo Isto é Fado! foi uma série publicada nas páginas iniciais da extinta revista Tabu, suplemento do semanário Sol, desde 28 de Novembro de 2014, e durante 13 semanas. O álbum, com 60 páginas, surgiu em co-produção com o Museu do Fado (onde está à venda). Nele conta o autor a História do fado, a “cantiga do destino implacável e dos amores impossíveis”, através de lugares, pessoas, intérpretes e poetas emblemáticos, que deram forma a este género musical que se tornou Património Imaterial da Humanidade em 2011.

Claro que Nuno Saraiva seria talvez actualmente, o único autor de banda desenhada com estaleca para se aventurar numa história destas, devido ao seu conhecimento do bas-fond lisboeta, das vivências das personagens típicas do fado e não só, dos seus ambientes, etc...

E como diz o prórpio autor: “Tudo neste livro é um music hall, uma banda-desenhada-sonora para se ouvir, lendo. Um contínuo namoro entre uma peixeira e um pescador. Uma criança que foge para ouvir cantar um Rei. Um homem na cidade. Um malcriadão que nem gostava de laranjas. A rua que embora suja bordava os temas ascendentes do desejo. O último copo na hora da despedida que foi também de reencontro. Um cantar que a deixou levar. Uma corrida de táxi até ao passado. Uma poética aos poetas. Dois ou três traços aos desenhadores. Um japonês que quer uma guitarra morta mas vivida. Um filme que dança em Angola, no Brasil, em Espanha e aqui. E ele que não chega e depois não a larga mais. E tudo isto é Fado. Ate um Tuk tuk feito mensageiro intermitente de paixões é aqui Fado antes de deflagrar em praga pelas ruas de Lisboa. Até a Ginginha do senhor António é Fado. Ou o Tintin passeando na Feira da Ladra. Atrevo-me mesmo a dizer que até o pincel de Carlos Botelho, que odiava o Fado, era em si Fado. Tudo isto é Fado!”


Quanto aos restantes premiados do Amadora BD deste ano, Mário Freitas, foi considerado o autor do melhor argumento para álbum português, com Fósseis das Almas Belas, desenhado por Sérgio Marques, sendo João Sequeira considerado autor do melhor desenho para álbum português com Tormenta, sob argumento de André Oliveira.

Destaque também para o galego Miguelanxo Prado, com Presas Fáceis, considerado o melhor álbum de autor estrangeiro. Revisão – Bandas Desenhadas dos Anos 70, uma coletânea de BD portuguesa publicada pela Chili com Carne e V de Vingança, de Alan Moore e David Lloyd, foram considerados, ex-aequo, os melhores clássicos da nona arte.

Shock foi o título do mítico fanzine criado e publicado durante anos por José Estrompa desde 1983, tendo sido considerado melhor fanzine do ano no Festival da Amadora de 1994. Shock-Tributo a Estrompa, o álbum agora editado pela El Pep Store & Gallery, como tributo ao seu criador, falecido em 2014, foi considerado “melhor fanzine” de 2016. O facto de esta edição não poder ser considerada um fanzine, dado que é um álbum publicado por uma editora, revela alguma displicência da organização do Amadora BD e do modo como são atribuídos estes prémios.

No que diz respeito a ilustração para a infância, Joana Estrela foi considerada autora do melhor desenho de livro português, com Mana, e a castelhana Ana Pez autora do melhor desenho de livro estrangeirao com O meu irmão invisível.






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