quinta-feira, 5 de julho de 2018

O ESPIÃO ACÁCIO DE FERNANDO RELVAS LANÇADO NO XIV FESTIVAL DE BD DE BEJA


O ESPIÃO ACÁCIO 
DE FERNANDO RELVAS 
LANÇADO NO XIV FESTIVAL DE BD DE BEJA 

Edição Turbina/Mundo Fantasma 
120 págs – 24 x 32 cm – € 26,29

Depois de uma conversa com Fernando Relvas, no Festival da Amadora de 2010, abordei o José Manuel Vilela, alfarrabista com estaminé montado numa loja das escadinhas da Calçada do Duque, para lhe pedir emprestados todos os exemplares da revista Tintin que continham O Espião Acácio. Eram 57 revistas do Tintin publicadas de 15 de Julho de 1978 a 15 de Março de 1980, tendo sido interrompida por três vezes com histórias de Corto Maltese. Iniciei, logo no início de 2011, a digitalização de todas as páginas d’O Espião, prosseguindo depois com a morosa limpeza digital das mesmas.

A previsão era editar aquilo tudo em livro, num formato igual aos de Asterix.

A certa altura, tinha eu feito um largo intervalo na limpeza e restauração das páginas – já estavam concluídas 75 – propus ao Rui Brito a edição d’O Espião Acácio em álbum, numa edição conjunta da Polvo e Pedranocharco. Mas acabámos entretanto por saber que a Mundo Fantasma, do Porto, ia editar brevemente o livro.

Assim O Espião Acácio foi apresentado no XIV Festival Internacional de BD de Beja, pela Mundo Fantasma/Turbina. Capa dura, 24,5 x 32 cm – 120 págs. Na minha opinião, apesar da excelência da edição, a impressão em papel ligeiramente amarelado reduz um bocado o contraste apresentado em relação ao preto e branco original.

Lendo todas as páginas d’O Espião Acácio montadas em livro, não podemos deixar de notar a coerência gráfica de Relvas na produção desta história, ao ritmo de duas pranchas por semana, ao longo de cerca de dois anos.

Aqui fica a apresentação do livro. 


Página de apresentação:


APRESENTAÇÃO 

Nascido em 1952. Fernando Relvas chega ao 25 de Abril de 1974 com a simbólica idade de 20 anos. Se não foi com ele que se deu o 25 de Abril da BD Portuguesa – esse chegara seguramente com a revista Visão – foi dele então o seu "processo revolucionário em curso" e não será fácil. portanto. separar a obra do homem e das circunstâncias em que foi produzida.

Dono de um traço esfuziante e experimentador insatisfeito. era também dotado de conteúdos e ideias: tinha olhar crítico e uma escrita mordaz. ironia e lucidez. olho clínico e diagnóstico rápido. Tinha verve e humor. acidez e ternura. acutilância e descontracção e foi com estas qualidades que Relvas espalhou pranchas por todas as publicações que souberam aceitar a sua imensa liberdade e a sua enorme independência intelectual. O que tinha que dizer, dizia-o e sabia fazê-lo, fosse o que fosse, saltava sempre à vista o seu grande talento e o explosivo e inebriante prazer da criação.

Desde as primeiras experiências no Estripador. na revista ecológica a Urtiga, ou no Chico – que desenhou para o semanário de esquerda "A Gazeta da Semana" – passando por este icónico e mítico Espião Acácio. e chegando ao irrequieto Cevadilha Speed e ao prodigioso Karlos Starkiller, ou à inconfundível Violeta, ou a dezenas de personas "relvianas" com que nos inquietou e seduziu, o autor produziu (instigado por uma jorna e uma paga semanal) centenas e centenas de páginas de uma banda desenhada aguçada, actual. e inovadora. Do policial negro à ficção científica, do humor desenfreado à candura dum traço destinado ao olhar infantil; da sua imensa paixão pela história (que ocasionou algumas das suas obras mais planeadas e mais sofridas) à caricatura do momento, da sátira politicamente incorrecta ao nonsense mais nonsense que qualquer outro nonsense. o autor a tudo nos sujeitou. a tudo se sujeitou, a tudo se entregou e tudo nos entregou.

Assim, Relvas trilhou um caminho que ainda hoje é raro na BD Portuguesa, foi o profissional único e indiscutível que atravessou o fim dos anos 70 e as prodigiosas décadas de 80 e 90 e, desde então, resistiu o mais que pode ao deserto, experimentando e criando os seus oásis. Nunca abdicou do acto corajoso e visionário de procurar viver da sua arte. Numa luta permanente pela dignificação da sua profissão – e esse foi o seu feito maior: combinou uma vida bem vivida com uma obra intensa e imensa no seu significado simbólico e desbravador para a BD em Portugal.

Fernando Carlos Nunes de Melo Relvas foi, é e será, infindavelmente, um autor de uma imensurável qualidade, deixando escrito na História de Portugal o seu maior testemunho: a sua múltipla obra (ainda hoje, por alguns, pouco conhecida e valorizada) que urge redescobrir e divulgar no infinito do seu legado.

Júlio Eme + Margarida Mesquita

Prancha 1 - pág. 8 do livro
Pág. 30

Bibliografia do autor:


BIBLIOGRAFIA FERNANDO RELVAS

1975 participação no fanzine-revista "O Estripador" e publicação do fanzine "O Gorgulho"

1976 Chico no semanário Gazeta da Semana, publicado posteriormente em livro com o título Gazeta da banda – Água Mole, Sociedade Cooperativa. SCARL

1977 Uki, o Pequeno Esquimó · Espaço 99112 · Chin Lung, o Justiceiro do Rio Amarelo revista Fungagá da Bicharada
1978 As Cabras de Isaac na revista ecológica A Urtiga

1978-80 O Espião Acácio na revista Tintin

1980 Viagem ao Centro da Terra · Rosa Delta Sem Saída, na revista Tintin. Esta última publicada em álbum, incluindo também Slow Motion, com edição da Polvo em 2013 · O Controlador Louco · O Povo de Ferro, revista Mundo de Aventuras

1981 L123 · Cevadilha Speed, na revista Tintin, recolhidos em 1998 num álbum publicado pela Associação do Salão Internacional de Banda Desenhada do Porto

1982 Slow Motion · Kriz 3, revista Tintin · Os Planetas Mostram-lhe o Misterioso Mundo da Astrologia revista Pão Com Manteiga

1982·83 Concerto para Oito Infantes e Um Bastardo no semanário Sete, republicado parcialmente em 2002 com o nome do personagem Jaca na revista Comix da Devir

1983 Niuiork · Sabina, no semanário Sete

1983-84 Ai, Este Chavalo Seria Tão Barilo Se... · Herbie de Best · Sangue Violeta · Tax Diver, no semanário Sete. As duas últimas e Sabina recolhidas em álbum da EI Pep em 2012

1984 VAST em O Mosquito (53 série)

1984-85 Karlos Starkiller · A Sombra de Xizhakt Rabin, no semanário Sete, republicado em álbum pelas Edições Baleia Azul e Bedeteea de Lisboa em 1997

1985 Participação na colectiva As Fantásticas Aventuras de Godofredo Leitefresco no jornal Pau de Canela

1985/86 Nunca Beijes a Sombra do Teu Destino no semanário Sete

1986 A Noite das Estrelas · Soviet Sex, no semanário Sete

1987 O Diabo à Beira da Piscina, no semanário Sete

1987 Edgar, O Mistério da Travessa dos Meninos de Deus · A Costa do Marisco · Karlos Starkiller & El Papagaio · A Perversa Sobranceria do Hermetismo no Saber · O Atraente Estranho · A Missão, no semanário Sete

1988 O Umbral Lumioso, no semanário Sete

1989 O Rei dos Búzios, na revista Sábado, retomado e republicado em 1999 em CD·Rom, editado por Boa Memória Produções Multimédia e incluído na revista Biblioteca publicada pela Câmara Municipal de Lisboa

1990 África Nossa no jornal O Combate

1991 Gulf Stream na revista LX Comics

1993 Em Desgraça Edições Asa

1993/94 Fecho de Emissão na revista TV Guia

1994 Testos Torres Contra Cara Dread · Cacilda, O Regresso do Hipopótamo, no jornal O Inimigo. A primeira foi remontada e republicada na revista Quadrado em 1995

1995 O Nosso Primo em Bruxelas, Livros Horizonte · Çufo, Grupo de Trabalho do Ministério da Educação para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses · O Ananás que Ri auto-edição

1997 Retoma O Ananás que Ri no Diário de Notícias

1998 Participa na exposição que representou a Banda Desenhada Portuguesa no Festival de Angoulême. No respectivo catálogo publica-se uma prancha inédita: Malubambu Chez Marreco no jornal GrandAmadora, republicados posteriormente em 2001 na Phylactêre, newsletter da Livraria Dr.Kartoon

1999 Pai, pisa? participação no livro comemorativo dos 25 anos da revoluço · Uma Revolução Desenhada o 25 de Abril e a BD, editado pelas Edições Afrontamento, Bedeteca de Lisboa, Centro de Documentação 25 de Abril da Universidade de Coimbra e Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra

2000 publica uma história sem título na revista Selecções BD

2001 Palmyra publicação em print-on·demand na Lulu, de uma história inédita anteriormente designada Iva Jau e o Dr. Manga Ink Flow · O Urso Vai a Espanha (novela) · The Green Fish, The Hanging Man, Gospodin Sofer e Skarpin, na revista Costa, tudo publicações originais em blogs e depois publicadas em print-on-demand na Lulu

2003 Fernando Relvas parte para a Croácia com a artista plástica croata Nina Govedarica – com quem havia casado em 2002

2008 The Chinese Master Spy e The Persian Ambassador, também publicações originais em blogs, depois reunidas e publicadas em print·on·demand na Lulu com o título Li Moon Face, em 2010 e editado em 2011 em português pela Pedranocharco

2010 Regresso a Portugal para realizar a curta metragem Fado na Noite

2010 The World of Miss Li – web comic

2012 Realização da curta de animação Fado na Noite

2014 Nau Negra – The Last Black Ship, álbum publicado em inglês pela El Pep

Links para matérias sobre Fernando Relvas publicadas aqui no Kuentro2:

http://kuentro.blogspot.com/2017/04/gazeta-da-bd-71-herois-da-bd-portuguesa.html
http://kuentro.blogspot.com/2017/11/morreu-fernando-relvas-1954-2017.html
http://kuentro.blogspot.com/2017/12/gazeta-da-bd-86-na-gazeta-das-caldas-em.html
http://kuentro.blogspot.com/2017/12/ainda-sobre-relvas-resposta-de-viriato.html
http://kuentro.blogspot.com/2017/11/o-regresso-do-urso-entrevista-com.html
http://kuentro.blogspot.com/2014/05/fernando-relvas-para-uma.html
http://kuentro.blogspot.com/2017/01/reportagem-retrospetiva-fernando-relvas.html


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