sexta-feira, 26 de março de 2010

BDpress #120 – J.M.LAMEIRAS SOBRE ALIX. MARIANO CHINELLI SOBRE OESTERHELD. PEDRO CLETO SOBRE ALGUNS LIVROS…


Diário As Beiras, 20 de Março de 2010

ASA E PÚBLICO RECUPERAM AS PRIMEIRAS AVENTURAS DE ALIX

João Miguel Lameiras

Depois de "Os Passageiros do Vento" a Asa e o jornal "Público recuperam mais um clássico da Banda Desenhada franco belga, a série "Alix" de Jacques Martin. Uma série de que a Asa já tinha publicado 4 álbuns, mas que, só agora, passados quase vinte anos depois da publicação pelas Edições 70, que, durante os anos 80, lançaram 19 títulos da série, volta a ter os primeiros volumes novamente disponíveis em português.

E são precisamente os álbuns já editados pelas Edições 70, alguns dos quais já tinham saído antes na versão portuguesa da revista “Tintin”, que vão ser distribuídos com o jornal “Público”. Ou seja, com a excepção de “O Príncipe do Nilo” e “O Filho de Espártaco”, já editados pela Asa de forma autónoma, estão nesta colecção todos os álbuns escritos e desenhados por Jacques Martin entre 1948 e 1988, antes deste, afectado por graves problemas de visão, passar inteiramente o desenho da série para as mãos dos seus assistentes, como Rafael Morales, ou Cristophe Simon.
Publicado originalmente no "Tintin" belga, em 1949, "Alix, o Intrépido" mostra um Jacques Martin ainda a apalpar terreno, à medida que vai estabelecendo as bases da série. Não só em termos gráficos, com a estrutura demasiado carregada de 4 tiras por página a dar lugar nos álbuns posteriores a uma planificação mais arejada, mas sobretudo em termos do argumento, que Martin confessa que foi inventando à medida que a história ia sendo publicada.

Uma das influências perceptíveis (e assumida por Martin) é a do livro "Ben Hur", de Lewis Wallace, onde Martin foi buscar a cena inicial em que Alix, ao apoiar-se num muro faz cair um pedra sobre um general romano, cujo nome "Marsalla" evoca imediatamente o de "Messala", um dos personagens principais de Ben Hur... Se a isso juntarmos a cena da corrida de quadrigas, também decalcada de Ben Hur, percebemos o peso que o romance de Wallace, que o filme de 1959 com Charlton Heston imortalizou, teve nesta primeira aventura de Alix.

Outro aspecto interessante deste álbum, em que Enak, o eterno companheiro de Alix, não está ainda presente, é a personagem ambígua de Arbacés, um indivíduo tão pérfido como inteligente, que não esconde o seu fascínio por Alix e que vai adquirir uma tal popularidade junto dos leitores que o próprio Martin, se vê obrigado a matá-lo no final de “A Ilha Maldita”, 3º álbum da série, para que ele não roubasse o protagonismo a Alix.

Paradigma da BD histórica bem escrita e desenhada e melhor documentada, a série “Alix” merece ser descoberta por quem se interessa pela história da Antiguidade, tanto mais que alguns destes álbuns, como “As Legiões Perdidas”, O Espectro de Cartago”, ou “Iorix, o Grande”, são excelentes. Só resta saber se, para além dos leitores que cresceram com a revista “Tintin” e que provavelmente já terão a edição anterior das Edições 70, haverá, entre as novas gerações, leitores suficientes para garantir o sucesso desta nova colecção Público/Asa…

("Alix, o Intrépido”, de Jacques Martin, Edições Asa/Público, 64 pags, 4,95 € Todas as quartas-feiras, de 17 de Março a 30 de Junho de 2010, em venda conjunta com o jornal "Público")
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Voz de Ermesinde, 15 de Março de 2010

HECTOR GÉRMAN OESTERHELD - O HOMEM COMO UNIDADE DE MEDIDA

Mariano Chinelli*

O Centro Nacional de Banda Desenhada e Imagem – CNBDI - levou a cabo a realização de um encontro que teve lugar no passado dia 6 de Março, para assinalar o encerramento da exposição Hector Gérman Oesterheld, O Homem como Unidade de Medida, mostra que abordou a vida e obra de um dos maiores argumentistas de banda desenhada de sempre, desaparecido em 1978, em Buenos Aires, às mãos da ditadura militar argentina.
Pretendeu-se nesse Encontro – que através de videoconferência contou com a participação dos comissários da exposição que se encontram nas cidades de Buenos Aires e Milão – abordar um conjunto de questões no âmbito da banda desenhada, designadamente, o argumento na BD, a relação entre escritores e desenhadores, a arte de narrar de HGO, a sua importância na historieta argentina e a influência que teve em sucessivas gerações de artistas em todo o mundo, mas não ficar apenas por aí.
Tendo em conta também a vida de HGO, o seu empenhamento cívico e político, durante a ditadura nos anos 70, e o trágico desfecho do seu desaparecimento, o convite foi alargado à participação de outras pessoas e entidades como, por exemplo, a Casa da América Latina e a Amnistia Internacional, que enriqueceram o debate trazendo um conjunto de outros temas à discussão, no âmbito da história da Argentina e dos direitos humanos, que permitiram um melhor conhecimento das múltiplas dimensões da obra de Herman Germán Oesterheld.
Sob moderação de Pedro Mota, intervieram no encontro Melina Gatto (Milão), Mariano Chinelli, Fernando Ariel Garcia, Hernán Ostuni e Martin Mortola Oesterheld, este último neto do grande cenarista (todos de Buenos Aires), David Soares, António Amaral, João Miguel Lameiras, Domingos Isabelinho, Nuno Franco e Pedro Moura, e ainda os autores José Ruy, José Garcês,Baptista Mendes e José Pires.

BIOGRAFIA DE HECTOR GÉRMAN OESTERHELD

Nasceu a 23 de Julho de 1919 em Buenos Aires, de mãe de ascendência basca e pai de ascendência alemã. A leitura é a sua primeira paixão, e intercala a carreira universitária em geologia - pesquisas na Patagónia - com o estudo de outras ciências. A antropologia, a história e a agronomia rapidamente se misturam com os romances clássicos de aventuras e ficção científica - FC.
Com 23 anos, publica no diário La Prensa o seu primeiro conto “Truila y Miltar”, uma fábula onde já se distinguem os traços característicos da sua obra. A partir daí começa a trabalhar nas Editoras Abril e Códex, em publicações infantis e de divulgação científica.
No início dos anos 50, a Editora Abril, de Cesare Civita, convida-o a escrever guiões de BD. Sem experiência nesta área, aceita o desafio e surgem “Bull Rockett”, “Sargento Kirk” e “El Indio Suárez”, nas revistas Rayo Rojo e Misterix.
Na lendária revista de FC Más Allá, publicou os contos “Cuidado con el Perro” e “Inocente Maquiavelo Reforzado”.
Em 1956, Oesterheld, com o seu irmão Jorge, cria a Editora Frontera e publica romances como Sargento Kirk e Bull Rockett. Um ano mais tarde, lança-se no mercado da BD com guiões próprios e desenhos de Solano López, Arturo Del Castillo, Hugo Pratt, Alberto Breccia e Carlos Roume, entre outros, que dão vida a: Rolo, Ticonderoga, Randall, Ernie Pike, Patria Vieja e El Eternauta. O êxito é tão grande que um ano depois conseguem publicar: Frontera Extra e Hora Cero Extra e venderiam ainda as revistas infantis Mamita Me Cuenta e Papito Me Cuenta.
Mas, a inexperiência empresarial dos Oesterheld leva à falência da empresa.
Alguns títulos continuam em outras editoras, onde Héctor se mantém como guionista, e em alguns casos como director das revistas. São disso exemplo Coleción Batallas Inolvidables, o Libro de Hierro e a primeira compilação de El Eternauta em 1961.
Oesterheld regressa a Misterix e Supermisterix, revistas da Editora Yago. Ali nascem Mort Cinder, Marcianeros e Watami, e dirige ainda El Eternauta e Geminis, ambas semi-científicas, idênticas à revista Más Allá. Nesta época renova-se a sua faceta literária, com os episódios romanceados de El Eternauta e contos como “El Árbol de la Buena Muerte”. Em 1965, é anunciado o romance de El Eternauta, que nunca chegou a concretizar-se.

Publica, ainda, BD na Editora Dayca e também no Chile. Esta é uma das épocas mais prolixas. Oesterheld não recusa nenhum tema, pois tem de trabalhar para viver, e no final dos anos 60, o seu sucesso é grande. Em 1968, publica os contos Sondas, com Mujica Láinez, Pablo Capanna e Alfredo Grassi na antologia Los Argentinos en la Luna e uma outra selecção de contos, Ficção Científica - Novos Contos Argentinos.
Motivado pelas dificuldades do país, assume uma militância política que influencia a sua obra e publica a Vida del Che e Evita e La Guerra de los Antartes, e a nova versão de El Eternauta desenhada por Alberto Breccia.
Héctor continuou com os seus contos e BD nas revistas Gente, Top, El Tony, Fantasia, Skorpio, Pif Paf, Corto Maltés, Patoruzito Escolar, Billinken, e a sua obra militante era publicada nas revistas como El Descamisado, Evita Montonera e o diário Noticias. As últimas criações mais populares foram Roland El Corsario e Brigada Madeleine na Editora Columba e Nekrodamus e Loco Sexton em Edições Record.
Em plena ditadura militar, meados de 1976, é reimpressa em fascículos a versão original de El Eternauta, e sai na revista Skorpio, a sua ansiada sequela. Escrita por Oesterheld na clandestinidade, e desenhada por Solano López, esta continuação é mais directa e controversa que a original. Os ideais do guionista reflectem-se na história, já não há lugar para metáforas subtis, Oesterheld não é o mesmo e Juan Salvo também não.
Héctor foi sequestrado em 1977, no fim de Abril, em La Plata. O seu nome, o das suas filhas Estela, Diana e Marina, o dos dois genros e dos dois netos, fazem parte da lista de desaparecidos durante a última ditadura militar. O corpo de Beatriz, a terceira das suas quatro filhas, foi entregue à esposa do escritor, e dois outros netos foram recuperados com vida.
Nos anos seguintes foram publicadas algumas histórias de BD de Héctor, sem que muitos leitores conhecessem o trágico destino do autor e da sua família.
Héctor Germán Oesterheld é um dos maiores e mais prolíxos guionistas mundiais e um dos mais célebres da Argentina. As suas histórias humanas, calorosas e realistas, não só entretinham, como também ensinavam.

(*) Investigador e coleccionista. Organizou em 2007 a Exposição: 50/30: 50 anos com El Eternauta, 30 anos sin Oesterheld. Texto do catálogo da exposição.
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Jornal de Notícias (suplemento IN), 13 Março 2010

ZONA FANTÁSTICA

Vários Autores, Zona

Pedro Cleto


Terceiro tomo de um projecto alternativo nacional, desenvolvido especialmente através da internet, que pretende promover e divulgar o trabalho de novos autores, é desta vez dedicado à temática fantástica, explorada em banda desenhada ou ilustração, com diversas técnicas, formas e estilos, por quase quatro dezenas de novos talentos.
Disponível em lojas especializadas ou em http://zonabd.blogspot.com/.


INCAL FINAL - 1. OS QUATRO JOHN DIFOOL

Alejandro Jodorowski e José Ladrónn, VITAMINA BD


Pedro Cleto

Se os seis volumes da saga do Incal, com que Jodorowsky e Moebius revolucionaram a BD de ficção científica nos anos 1980, tiveram várias sequelas, esta é uma continuação directa, pois começa exactamente no ponto em que aquela terminou. Previsto em dois volumes, explora quatro estádios paralelos do desenvolvimento espiritual de John Difool e deverá pôr um ponto final na trilogia do Incal.


KRAZY + IGNATZ + PUPP – UMA KOLECÇÃO DE PRANCHAS A KORES KOMPLETAMENTE RESTAURADAS

George Herriman(argumento e desenho, LIBRIIMPRESSI

Pedro Cleto


Este é um dos grandes lançamentos deste ano, por vários motivos.
Desde logo, embora razão menor, porque a «marca» Libri Impressi/Manuel Caldas é sinónimo de qualidade e excelência, patente nesta edição cuidada e esmerada, que conta com uma competente tradução de João Ramalho Santos - e quão difícil traduzir pode ser, como se pode comprovar pelos diálogos originais incluídos na edição...
Depois, principalmente, porque Krazy Kat, publicada entre 1913 e 1944, é um clássico dos quadradinhos absolutamente incontornável, de uma modernidade surpreendente.
Apesar de as personagens se limitarem praticam.ente aos três vértices de um estranho triângulo de amor/ódio composto por uma gata (às vezes gato?!) - Krazy Kat apaixonada por um rato - Ignatz -, que só deseja atirar-lhe tijolos à cabeça, o que faz que seja preso pelo cão guarda - Pupp - que por sua vez suspira por Krazy. E apesar de a sua trama se reduzir (?) à exploração das várias formas como um tijolo pode ser lançado e das várias maneiras como pode atingir o(s) seu(s) alvo(s) - um belo tratado de relações pessoais, diriam alguns -, sendo que no final de cada prancha autoconclusiva Ignatz acaba (quase, quase) sempre na cadeia.
E tudo (ou só) isto decorre no cenário surreal de Coconino County, cuja paisagem muda de aspecto e configuração a cada vinheta.
Literalmente. Pelo meio, o autor consegue jogar com os códigos da própria banda desenhada, pondo as personagens a desenharem-se a si mesmas ou à própria história, dando o protagonismo a. um capacho onde se lê «Bem Vindo», usar pirilampos para iluminar a acção durante um eclipse ou não ser capaz de concluir a numeração das vinhetas... Um belo exemplo de surrealismo aos quadradinhos, servido por um humor desconcertante e irresistível.
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IMAGENS DA RESPONSABILIDADE DO KUENTRO.
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