O Zé das papas, de Raphael Bordallo Pinheiro
ZÉ DAS PAPAS (35 e 36)
A DIETA IDEAL
Pe..perdão... não sei como este desenho veio aqui parar...
Gazeta das Caldas, 18 de Outubro de 2013
Na sequência das opiniões que lhes tenho trazido sobre as dietas e qual a "preferível", proponho hoje, que a escolha incida na que consagra cinco "refeições" diárias.
É uma afirmação consensual entre os "entendidos". Por dia o corpo precisa ingerir quantidades de nutrientes sem os quais o nosso organismo irá ressentir-se e, por isso, se não comemos de forma adequada, a tendência é para ficarmos doentes.
Os especialistas em nutrição recomendam fazer cinco refeições por dia, mais leves do que se fossem apenas três – como sucede com a grande maioria das pessoas – mas utilizando todos os alimentos necessários para uma alimentação sã e saudável.
Um dos truques para o conseguir é "picar" – como fazem os nossos vizinhos – isto é comer algo saudável, mas leve, no intervalo das "tradicionais e principais" refeições. O que não significa que essa refeição mais leve seja menos deliciosa. Bem pelo contrário, em cada uma devemos encontrar os alimentos saudáveis, que nos apeteceria ingerir nos intervalos, sem ter que recorrer aos bolos ou a produtos gordos, embora não venha mal ao mundo consumi-los, de vez em quando, mas sempre com moderação e sem que esta prática se converta em costume.
Há muitos alimentos saudáveis que nos podem ajudar a passar a manhã ou a tarde e que sabem tão bem como os não recomendados para a dieta adequada.
De uma lista comprida, a título de exemplo, menciono os seguintes:
– Fruta: tanto pode ser uma peça ou, se quisermos um sabor doce, basta fazer una papinha de frutas, batendo as de que gostamos mais, com um pouco de laranja. Não devemos deitar açúcar. Além disso, se a deixamos refrescar, sabe melhor.
– Cenoura crua: é muito boa para a saúde e muito saborosa.
Como também é claro este meu "conselho" assenta na convicção de que esta dieta é para quem não sofre de qualquer disfunção.
Entrados no outono, realizadas as eleições autárquicas, lembrei-me de outras "dietas" alimentares, próprias de eleições de outros tempos, e do chamado carneiro com batatas.
Em época de carência, o que era comum no séc. XIX, uma das formas de obter um determinado sentido de voto, por parte dos caciques locais, era oferecerem aos eleitores, após votarem, uma refeição quente, que ficou conhecida como carneiro com batatas!
As eleições em Lisboa: um pontapé magistral no "carneiro com batatas"
Rafael Bordalo Pinheiro
In: O António Maria, 1884
João Reboredo
joaoreboredo@gmail.com
No fim de semana em que sai esta crónica termina o 33º Festival de Gastronomia de Santarém.
Na nota "explicativa" desta minha colaboração escrevi:" Julgo ter sido aqui nas Caldas que Rafael Bordallo Pinheiro criou o boneco "Zé das Papas", em boa hora aproveitado como símbolo do aludido Festival".
Mas o que é gastronomia e para que servem as festas a ela ligadas?
Para responder à primeira questão lanço, com a devida vénia, mão de extractos da comunicação ao 1º Congresso de Gastronomia pelo José Quitério, o conhecido jornalista, crítico gastronómico, ele também, membro do Conselho Técnico de Gastronomia, criado por deliberação do Conselho de Ministros de através da resolução nº 169/2001, para intensificar as medidas de preservação, valorização e divulgação da gastronomia nacional, enquanto valor integrante do património cultural português.
"Ao propor-me vir dizer-vos algumas palavras sobre Gastronomia e identidade cultural, talvez valha a pena começar pela definição dos conceitos.
A mais breve noção do que é a gastronomia, reza assim: A gastronomia é a arte de bem comer, que tem como técnica, a boa culinária.
Concisa, mas precisa, apenas necessita dum ligeiro desenvolvimento.
A dita arte de bem comer envolve toda uma série de actos que ultrapassam as alquimias que ocorrem em caçarolas e fogões. Tal é o caso das matérias primas e dos elementos complementares, avultando nestes o papel dos queijos e dos vinhos e no caso a mesa, campo de acção por excelência da gastronomia, com tudo o respeita aos seus componentes (panejamentos, loiças, faqueiros, cristalaria, decoração) e ao seu serviço ou ritual.
Quando damos as facetas históricas, antropológicas, geográficas, sociológicas ou outras da alimentação e da cozinha, é ainda no conceito englobante de gastronomia que as vamos encaixar.
A cozinha ou culinária é apenas uma parte, embora a mais importante, do que é a gastronomia".
"Considerar a gastronomia, como um dos elementos da cultura, cultura material se se quiser, e portanto um dos capítulos definidores da nossa identidade, a par das supra estruturas que são o sistema estelinguístico, moral, etc, já não é ousadia nem novidade.
E mergulhar na cozinha regional portuguesa é percorrer toda uma rapsódia geográfica de sabores, odores e cores, de rescendências antigas e longínquas, arquétipos da memória colectiva.
Soubemos, com efeito, dar à luz, na mesquinhez de 90.000 Km2, vários tipos individualizados de culinária, mosaicos que compõe o painel da cozinha portuguesa.
Temos, seguramente, um riquíssimo número de pratos regionais, criações anónimas (na sua esmagadora maioria) e carregadas de sabedoria, fixadas ao longo dos tempos e depuradas, por inúmeras gerações, sínteses perfeitas de paladares ancestrais.
São estas criações, que constituem o nosso património gustativo e gastronómico. O qual, perdido o antigo elo de transmissão por via familiar de geração em geração, é fundamental que se encontre registado em livros".
Curiosamente, Oleboma (António Maria de Oliveira Belo - a quem já me referi em textos anteriores) preparou uma intervenção para o 1º Congresso Nacional de Turismo (1935) em que sublinhava "a cozinha portuguesa é saborosa, higiénica, substancial e muito característica. As matérias primas empregadas são culinariamente perfeitas. A condimentação é variada mas sem exageros".
Em crónica futura dir-lhes-ei para que servem, em minha opinião, as festas de gastronomia.
João Reboredo
joaoreboredo@gmail.com
_________________________________________________________
Gazeta das Caldas, 1 de Novembro de 2013
O PORQUÊ
No fim de semana em que sai esta crónica termina o 33º Festival de Gastronomia de Santarém.
Mas o que é gastronomia e para que servem as festas a ela ligadas?
Para responder à primeira questão lanço, com a devida vénia, mão de extractos da comunicação ao 1º Congresso de Gastronomia pelo José Quitério, o conhecido jornalista, crítico gastronómico, ele também, membro do Conselho Técnico de Gastronomia, criado por deliberação do Conselho de Ministros de através da resolução nº 169/2001, para intensificar as medidas de preservação, valorização e divulgação da gastronomia nacional, enquanto valor integrante do património cultural português.
"Ao propor-me vir dizer-vos algumas palavras sobre Gastronomia e identidade cultural, talvez valha a pena começar pela definição dos conceitos.
A mais breve noção do que é a gastronomia, reza assim: A gastronomia é a arte de bem comer, que tem como técnica, a boa culinária.
Concisa, mas precisa, apenas necessita dum ligeiro desenvolvimento.
A dita arte de bem comer envolve toda uma série de actos que ultrapassam as alquimias que ocorrem em caçarolas e fogões. Tal é o caso das matérias primas e dos elementos complementares, avultando nestes o papel dos queijos e dos vinhos e no caso a mesa, campo de acção por excelência da gastronomia, com tudo o respeita aos seus componentes (panejamentos, loiças, faqueiros, cristalaria, decoração) e ao seu serviço ou ritual.
Quando damos as facetas históricas, antropológicas, geográficas, sociológicas ou outras da alimentação e da cozinha, é ainda no conceito englobante de gastronomia que as vamos encaixar.
A cozinha ou culinária é apenas uma parte, embora a mais importante, do que é a gastronomia".
"Considerar a gastronomia, como um dos elementos da cultura, cultura material se se quiser, e portanto um dos capítulos definidores da nossa identidade, a par das supra estruturas que são o sistema estelinguístico, moral, etc, já não é ousadia nem novidade.
E mergulhar na cozinha regional portuguesa é percorrer toda uma rapsódia geográfica de sabores, odores e cores, de rescendências antigas e longínquas, arquétipos da memória colectiva.
Soubemos, com efeito, dar à luz, na mesquinhez de 90.000 Km2, vários tipos individualizados de culinária, mosaicos que compõe o painel da cozinha portuguesa.
Temos, seguramente, um riquíssimo número de pratos regionais, criações anónimas (na sua esmagadora maioria) e carregadas de sabedoria, fixadas ao longo dos tempos e depuradas, por inúmeras gerações, sínteses perfeitas de paladares ancestrais.
São estas criações, que constituem o nosso património gustativo e gastronómico. O qual, perdido o antigo elo de transmissão por via familiar de geração em geração, é fundamental que se encontre registado em livros".
Curiosamente, Oleboma (António Maria de Oliveira Belo - a quem já me referi em textos anteriores) preparou uma intervenção para o 1º Congresso Nacional de Turismo (1935) em que sublinhava "a cozinha portuguesa é saborosa, higiénica, substancial e muito característica. As matérias primas empregadas são culinariamente perfeitas. A condimentação é variada mas sem exageros".
Em crónica futura dir-lhes-ei para que servem, em minha opinião, as festas de gastronomia.
João Reboredo
Ops... lá vêm estes outra vez...
_________________________________________________________
Sem comentários:
Enviar um comentário