quinta-feira, 18 de julho de 2019

BDpress #502 - NOVELA GRÁFICA 2019 - EM URBICANDA, NO REGRESSO ÀS CIDADES OBSCURAS


BDpress # 502 – Recorte de imprensa sobre BD – jornal Público de 13-07-2019


NOVELA GRÁFICA 2019 
EM URBICANDA
NO REGRESSO ÀS CIDADES OBSCURAS 

A Febre de Urbicanda
Argumento - Benoit Peeters e François Schuiten
Desenhos - François Schuiten
Quinta-feira, 18 de Julho
10,90€

Depois de Marjane Satrapi na semana anterior, na próxima quinta-feira, 18 de julho, é a vez da colecção Novela Gráfica abrir as suas portas a Schuiten e Peeters, com A Febre de Urbicanda, um dos títulos fulcrais da série As Cidades Obscuras. Único título desta colecção que não é inédito, pois o livro já tinha sido objecto de uma primeira edição nacional, pelas Edições 70, no final da década de 80 do século XX, o clássico de Schuiten e Peeters regressa agora numa edição definitiva que, para além da superior qualidade de impressão e encadernação, conta com 18 páginas inéditas, distribuídas entre um dossier final sobre a Lenda da Estrutura e a história breve A Última Visão de Eugen Robick, feita em 1997 para o número final da revista (A Suivre) onde a série nasceu.

Com efeito, a ligação deste livro à revista (A Suivre) é incontornável, pois, ao contrário do álbum anterior da série, As Muralhas de Samaris, que segue o modelo tradicional do álbum franco-belga de 48 páginas a cores, A Febre de Urbicanda é a história que melhor corresponde ao conceito de "roman BD". Este termo surge associado à revista (A Suivre) que em França designou inicialmente a novela gráfica, com histórias a preto e branco de longo fôlego, estruturadas em capítulos e marcadas pela ausência de um limite de páginas pré-estabelecido. É o caso deste e de outros títulos publicados em anteriores colecções, como Aqui Mesmo e Foi assim a Guerra das Trincheiras, ambos ilustrados por Tardi.

Refira-se que A Febre de Urbicanda é o segundo título das Cidades Obscuras, mas esta série é constituída por livros autónomos, que podem ser lidos autonomamente.

Com um ponto de partida tão simples como engenhoso, introduz-se o caos numa estrutura rígida e geométrica, através da história de Eugen Robick, o urbitecto responsável pelo plano de urbanização que pretende restituir a simetria à cidade de Urbicanda.

Robick é confrontado com a descoberta de um misterioso cubo, feito de uma matéria desconhecida, cujo crescimento geométrico vem perturbar e transformar profundamente a imagem da própria cidade e a vida dos seus habitantes. Schuiten e Peters constroem uma obra complexa, que desafia o leitor. Este álbum foi justamente galardoado com o prémio de Melhor Álbum no Festival de Angoulême de 1985.

Para além da espectacularidade do desenho de Schuiten e da forma como a arquitectura dominante (neste caso, a arquitectura fascista e os projectos utópicos de Boulée e Ledoux) condiciona a narrativa, a própria planificação das páginas obedece a uma reflexão rigorosa. Compare-se, por exemplo, a primeira e a última página de BD da história – verifica-se que são totalmente simétricas. Como refere Peeters: "Começamos numa página de direita, com algum tipo de movimento imaginário da câmara que nos leva do objecto enigmático colocado na mesa para uma visão geral do gabinete de Robick. E a última página de BD, uma página da esquerda, pega no mesmo movimento na direcção oposta, partindo de um plano de conjunto para terminar no simulacro de cubo que o urbitecto tenta esculpir." Uma experiência narrativa inovadora que François Schuiten levaria ainda mais longe, anos mais tarde, com o seu irmão Luc em Nogegon, um livro integrado na série Les Terres Creuses, que é totalmente simétrico, da primeira à última página.

Série maior da BD franco-belga, que cedo ultrapassou os limites da própria banda desenhada, para dar origem a livros ilustrados, documentários, um guia de viagens, exposições, intervenções cenográficas, um congresso que teve lugar em Coimbra em 1998 e até a estações de Metro, em Paris e Bruxelas, as Cidades Obscuras são um marco incontornável na história da banda desenhada e A Febre de Urbicanda é o título ideal para descobrir ou regressar a esse universo fascinante.

João Miguel Lameiras 







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Como curiosidade, acrescento que A Febre de Urbicanda foi o último livro de banda desenhada que legendei para as Edições 70 (onde trabalhei entre 1985 e 1989), em 1987, depois de ter legendado em 1986 A Torre, também de Schuiten e Peeters.

Jorge Machado-Dias 





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