segunda-feira, 13 de junho de 2011

BDpress #267: O IMPÉRIO ROMANO NA BD (I): AS ÁGUIAS DE ROMA – João Miguel Lameiras no Diário As Beiras.

Diário As Beiras, 4 de Junho 2011

MARINI REGRESSA COM 
AS ÁGUIAS DE ROMA

João Miguel Lameiras

Num mercado, como o da BD nacional, em que os números de vendas são tratados como segredos de Estado, a única maneira de atestar o sucesso de uma série, ou autor, é ver se a editora continua a apostar nele, lançando com regularidade os seus livros.

Por esse prisma, o desenhador suíço Enrico Marini, de quem a Asa já publicou em Portugal as séries “Rapaces”, “Gipsy” e “O Escorpião”, tem certamente leitores fieis em Portugal, como o prova a saída, com apenas um mês de diferença dos dois volumes disponíveis de “As Águias de Roma”, série que assinala a estreia de Marini, como autor completo, assinando simultaneamente o texto e os desenhos desta série ambientada no Império Romano na época do Imperador Augusto.

Protagonizada por dois jovens, Marcus, filho de um oficial romano e Ermanamer, filho de um príncipe da Germânia, levado para Roma como refém e rebaptizado Caius Julius Arminius, que são criados juntos como irmãos, a história de “As Águias de Roma” segue esses dois personagens que, é fácil de perceber desde o começo, o destino vai colocar em confronto, tendo como pano de fundo a história de Roma, reconstituída com rigor e detalhe por Marini, aqui ao seu melhor nível em termos gráficos, tanto do desenho, sempre magnífico, como da aplicação da cor.

Apesar do evidente rigor da pesquisa histórica e da reconstituição da Roma Imperial, o ambiente histórico funciona sobretudo como pano de fundo, para uma história de amizade, onde não falta a acção e o sexo.

Ao contrário de uma série como “Murena”, de Dufaux e Delaby, que procura trazer a história de Roma para primeiro plano, Marini dá primazia à acção. E a verdade é que não se sai nada mal, fazendo um trabalho eficiente como argumentista e superlativo como desenhador.

Claro que podemos sempre pensar que esta história poderia ter outra dimensão, se tivesse sido escrita por Dufaux ou Desberg, dois argumentistas com quem Marini já trabalhou (respectivamente, nas séries “Rapaces” e “O Escorpião”) mas, a verdade é que, mesmo sem surpreender, ou muito menos deslumbrar, Marini é bem capaz de contar uma história em BD, sem necessitar de um argumentista.

(“As Águias de Roma I”, de Marini, Asa, 64 pags, 16,50 €
“As Águias de Roma II”, de Marini, Asa, 64 pags, 16,50 €)

  



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Ver também o texto de Pedro Cleto sobre o mesmo livro no blogue As Leituras do Pedro!
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Nota do editor do Kuentro: Digamos que não concordo com J.M.Lameiras, quando diz que “Ao contrário de uma série como “Murena”, de Dufaux e Delaby, que procura trazer a história de Roma para primeiro plano, Marini dá primazia à acção”, porque a história que Marini conta faz parte, em primeiríssimo plano, da História de Roma pois é tão ou mais importante que a ascensão e queda de Nero Claudius Cæsar Augustus Germanicus (contada em "Murena"), vejamos porquê: J.M.Lameiras não chega a dizê-lo, mas será preciso dar atenção a alguns pormenores neste livro, até para se perceber onde vai chegar a história, sendo que a última prancha do primeiro álbum já nos dá a pista. Este jovem Ermanamer (ou Armanamer), que é adoptado, por ordem de Augusto, por um antigo centurião, Titus Valérius Falcus, e rebaptizado Caius Julius Arminius, é nem mais nem menos que o Arminius que, depois da educação à romana, chegando mesmo a tribuno do exército romano e regressado à Germania com as tropas do general Publius Quinctilius Varus, sob cujo comando se prepara uma nova invasão da Germania a leste do Reno. Arminius entra em conflito com os romanos e regressa para o lado dos seus conterrâneos, comandando-os e aniquilando, numa embscada, as três legiões romanas completas (20.000 homens), que sob o comando de Quinctilius Varus invadiram a Germania, na famosa batalha da Floresta de Teutoburg – em 9 D.C., ou, se quisermos, em 763 Ab Urbe Condita...

Por causa dessa batalha e dessa derrota, Cæsar Augustus desiste da conquista da Germânia e deixa mesmo como testamento aos seus sucessores, que defendam a fronteira e não tentem passar o Reno. Como teria sido diferente a história da Europa, se a Germanicus e Tiberius tivesse sido permitido que continuassem a senda de vitórias que conseguiram na desforra de Teutoburg (para castigar os germanos e reaver as "águias" das legiões derrotadas), conquistando para Roma todo o território até ao Rio Elba, como estiveram prestes a conseguir...

Depois, o pormenor delicioso de o autor indicar sempre as datas segundo o calendário romano da época: Ab Urbe Condita, ou seja “depois da fundação da cidade”. E usar sempre a grafia romana Cæsar, em vez de César...

Por outro lado, o nome Armínius (versão latina derivada de Ermanamer) viria a transformar-se em Armin e mais tarde em Hermann, havendo até uma estátua, inaugurada em 1875, do herói germanico, em Teutoburg.
Resta dizer, para já, que Enrico Marini, terá seguido de perto a obra Germânia, do historiador romano Tácito. Este historiador designou Armínio como "Libertador da Germânia".

Mas tudo isto ficará para mais tarde, quando estiver concluido o texto “O Império Romano na Banda Desenhada”, que estamos a preparar.

Monumento a Arminius (Hermann) na Floresta de Teutoburg
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As imagens são da responsabilidade do Kuentro
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