quinta-feira, 1 de setembro de 2011

AUTORES PORTUGUESES DE BANDA DESENHADA #1 – JOSÉ PIRES (1) – PARA UMA BIO-BIBLIOGRAFIA

Iniciamos hoje uma nova rúbrica no Kuentro: Autores Portugueses de Banda Desenhada, onde pretendemos, não só apresentar as biografias dos ditos autores como, pelo menos, uma obra completa (não álbuns, obviamente) que queiram disponibilizar para o efeito. A ideia é fazer um “retrato” de autores portugueses, alguns deles veteranos, à mistura com outros mais jovens. Começamos por José Pires porque a ideia nos ocorreu enquanto fomos seguindo a sua história A Morte do Lidador, de dez pranchas, no jornal Alentejo Popular. Começamos por apresentar a biografia do autor, tendo em apêndice uma lista das histórias realizadas e dos livros editados, tão exaustiva quanto possível – na linha do que fizemos no BDjornal para Diniz Conefrey e Fernando Relvas – seguindo-se um outro post com a história disponibilizada pelo autor.

A história de José Pires que vamos publicar aqui amanhã na íntegra, será exactamente A Morte do Lidador, com argumento de M. Tecedeiro, baseado num conto de Alexandre Herculano (em Lendas e Narrativas, vol. 2) e que foi inicalmente publicada no Tintin belga, com o título La mort du batailleur (em 1987), depois, já recolorida em computador, no jornal Alentejo Popular e presentemente também em publicação no Jornal do Exército. Acrescente-se que já havia um versão de “A Morte do Lidador”, de Eduardo Teixeira Coelho, publicada em O Mosquito em 1950.

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QUEM É JOSÉ PIRES

Jorge Magalhães, Geraldes Lino, José Pires e Nuno Simões Nunes - Salão MouraBD 2000

Nascido em Elvas, a 10 de Outubro de 1935, José Augusto Direitinho Pires começou a trabalhar na Gráfica do Ultramar aos catorze anos, tendo passado a sua infância no Monte Estoril e depois em Lisboa. Estreou-se no final do Cavaleiro Andante, em 1961, com duas histórias assinadas simplesmente "Zé", tendo feito também capas para essa revista e para aquela que a continuou, o Zorro (1962). Só voltaria a aparecer na BD na 5a série do Mundo de Aventuras, em 1980. A partir de 1985 começou a colaborar com o argumentista Jean Dufaux, e depois com Benoit Despas elaborando várias histórias para o Tintin francófono – iniciando-se com a série Irigo, com texto de Dufaux –, para o Kuifje flamengo, assim como para Hello Bédé (1993), de dominantes western ou medieval. Em 1988 teve pequenas histórias no fanzine Eros e no Almada B.D. Fanzine. Desde 1989, constitui a equipa Serafim & Malacuéco, Inc., juntamente com o argumentista Jorge Magalhães e a desenhadora Catherine Labey, editando diversos fanzines temáticos: Fandaventuras (1989), Fandwestem (1995), A Máquina do Tempo (1996). A personagem Will Shanon, que já aparecera em francês na série "Irigo", foi publicado pela Editorial Futura, juntamente com outro álbum de Homens do Oeste (1989). Com argumento de Despas, as Éditions du Lombard publicaram de José Pires o álbum Les Templiers: Le Sang et la Gloire, que também teve edição flamenga (De Tempeliers: Bloed en Glorie) com cores de Catherine Labey (1991). Para o Grupo de Trabalho do Ministério da Educação para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, executou os álbuns Gil Eanes e o Bojador: As Portas do Mito (1997) e A Viagem de Pedro Álvares Cabral: Ventos de Glória – Marés de Infortúnio (1998), este com edição da Terramar e com argumento de Nuno Calado. Em 1999, participou no livro-catálogo Uma Revolução Desenhada: O 25 de Abril e a BD. Fez colecções de cromos, carteiras de fósforos, capas e ilustrações de livros. Está ligado a uma agência de publicidade.

Biografia de José Pires, em Dicionário dos Autores de Banda Desenha e Cartoon em Portugal, de Leonardo De Sá e António Dias de Deus, NonArte – Cadernos do Centro Nacional de Banda Desenhada e Imagem, Novembro de 1999.
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Entretanto pedimos ao autor para completar a sua bio-bibliografia desde 1999, pelo que nos enviou o texto que se segue:

1999 marca o fim da minha forma antiga de fazer as coisas, onde eu era obrigado a desenhar com as canetas Rotring. Como estas tinham um traço regular: não afinavam nas pontas, como acontece com um aparo ou com um pincél, eu terminava os traços com uma série de pontinhos, para dar o fadding out exigido. Por causa deste pormenor do pontilhado não tardaram a surgir os «chicos experts» da nossa praça, que logo me ligaram ao Franco Capriolli, que até não fazia nada daquilo, embora usasse um pontilhado aleatório, à maneira dos antigos desenhadores litógrafos para obter a modelação. E este pontilhado esteve na base da asneira... Aqui, pelo nosso burgo, um gajo quando aparece a ofazer alguma coisa teve de certeza de copiar um qualquer mestre estrangeiro, pois os portugas não têm «gabarito nem estatura» para navegarem por si próprios!

Marca também a minha entrada no uso dos computadores, forçado pela coloração páginas, que era, na época, o grande problema dos autores. Na Lombard eu via esse problema resolvido com os «bleus» que eles me mandavam, que eram as minhas páginas impressas sobre cartolina de aguarela, em tons azul pálido, onde se metia a cor. E foram perto de 200!

Mas em Portugal eu não dispunha de nada disso. No álbum sobre o Gil Eanes - As Portas do Mito - para o M.E.N., (1997) tratei de imprimir as minhas páginas sobre papel cavalinho, em azul claro. Quem meteu as cores foi a Catherine Labey, que já me vinha a fazer esse serviço para a Lombard, pois as mulheres conseguem sempre uma suavidade cromática superior à dos homens. Mas agora em vez de cartão de aguarela, ela tinha papel cavalinho! Como ela coloria as páginas com recurso a "aguadas", o papel cavalinho ficou todo tão alterado como uma batata frita! Resultado: os desgraçados da gráfica tiveram de fazer as selecções das páginas vinheta a vinheta! Um bico de obra!

Foi este «desastre» que me fez virar para os computadores, com os quais eu começava a familiarizar-me na agência de Publicidade, onde trabalhava desde 1964. O primeiro álbum colorido por este processo foi o primeiro Pedro Álvares Cabral - Ventos de Glória, Marés de Infortúnio (1998). Mas os tipos da gráfica onde o álbum fora impresso não estavam familiarizados com o processo digital e o resultado não foi o melhor: ficou uma bela bosta!

Nessa altura, a Âncora Editora - por influência do meu amigo José Ruy - contactou-me para eu fazer mais um álbum sobre o Pedro Álvares Cabral, com o patrocínio da Região de Turismo da Serra da Estrela. Por isso o álbum tinha como sub-título Da Serra da Estrela à Costa do Descobrimento (1999). Este álbum foi também colorido por processo digital, mas o resultado foi ainda mais catastrófico! A gráfica encarregada da produção meteu os pés pelas mãos e estragou-me os efeitos todos! Protestei mas como a coisa já estava impressa, não é?...

Seguiu-se a História de Gouveia (2001) - com o mesmo patrocínio e editada pela Âncora. Aqui, como as gráficas «trabalhavam mal», eu vi-me forçado a mudar de processos para ver se elas «trabalhavam bem». Mais um desastre, maestro, pois os tipos continuavam a fazer asneira. E como eu não controlava a impressão...

Depois, com a História de Celorico da Beira (2004) (com os mesmos parceiros) voltei a mudar de processos e a coisa já saiu um pouco melhor. Mas antes as Selecções BD publicavam As Asas da Coragem (2002). Como a gráfica deles estava acostumada a receber o material que vinha de França, a impressão já saiu bem melhor.

Depois tive uma experiência falhada com um tal Patrick Lizé, um francês que estava em Portugal e trabalhava para a Glenat. Contactou-me e eu comecei a fazer um álbum sobre Piratas que ele escrevera.

Mas o tipo tinha «a mania» e até era um bocado inexperiente, pois a história alongava-se quase até às 80 páginas! Como o formato standard dos álbuns francófonos, por razões económicas, tinham apenas 46, eu re-escrevi a história, fazendo dois álbuns de 46 páginas em vez de um único. O director da Glenat concordou com a minha versão e eu estava já na página 44 do primeiro álbum, quando o Lizé me aparece com nada menos de uma dúzia de páginas já executadas, alteradas a seu bel-prazer, sem que se vislumbrassem melhoras nenhumas! Como as alterações que ele pretendia me obrigavam a refazer tudo – em informática trabalha-se com pixeis – 300 por polegada quadrada – de maneira que não se podem fazer nenhumas dramáticas mudanças de formato! Chateei-me com o Lizé de tal forma que resolvi abandonar o trabalho que até já fora anunciado pela Glenat. A Glenat até me pediu uma declaração onde eu declarava que não tinha nenhuma reclamação de carácter financeiro a fazer à maison d'edition. Mas fiquei mal visto por ali, claro!

Tive um período curto de inactividade mas logo me surgiu a encomenda para fazer um álbum sobre o pai do Alexandre Dumas – Le Diable Noir – para as Editions Orphie, de França, (2009) com guião do meu velho amigo e conhecido Benoit Despas. Fiz o álbum relativamente depressa, pois a minha destreza com os computadores não cessara de aumentar. Ficou o meu álbum mais bem impresso até à data, pois era sobre papel couché e tudo. Ficou uma verdadeira maravilha - a impressão, já se vê. Mas aquela editora é uma daquelas que só se dedica a personalidades francófonas «d’autre-mer». Ainda me fez uma segunda proposta mas depressa desistiu porque a tal personagem não era tão impecável como eles imaginavam.

Entretanto surgiu a encomenda para a Batalha do Bussaco, (2010) por ocasião do seu 200º aniversário, com patrocínio da Câmara da Mealhada e edição da Âncora. Eu supervisionei a selecção de cores e a impressão – a Multitipo, passe a publicidade (são excepcionais!) e ficou o meu melhor álbum publicado em Portugal. Encontra-se completamente esgotado.

Agora estou a tentar BD comercial mas para o mercado estrangeiro, pois por aqui não há hipótese! Trata-se de uma série western à maneira do Tex, mas que nada tem a ver com esta famosa personagem. A série é «interminável» e os albuns vão pegando nos argumentos uns dos outros, acabando ainda não sei como. Serão álbuns de 50 páginas impressas a sépia – para tornar a edição mais acessivel – e três álbuns anuais, o que dará 150 páginas anuais, se encontrar editor interessado, claro. Será uma escravatura, mas quem quer bolota, trepa, não há safa!

Entretanto ainda colaborei num álbum colectivo, editado pela Câmara de Moura, sobre a lenda da moura Salúquia, a figura emblemática da cidade. Por acaso até ficou muitissimo bem impressa, pois o Carlos Rico é um rapaz que sabe como fazer as coisas. Isto para além de uma versão de A Morte do Lidador, história que publiquei em fins dos anos 80 no falecido Tintin (o belga, claro) que o Jornal do Exército esta a publicar.

Tenho em carteira e quase a sair um álbum sobre a história de A Portuguesa - o Hino Nacional - integrado no primeiro centenário da república e uma nova versão colorida a computador do álbum sobre o Gil Eanes, O Herói de Lagos, que a Âncora vai também editar, oportunamente.

E é tudo, so far. Vou fazer em breve 76 anos mas não me apetece parar ainda. Acho que vou ficar por cá a mexer por mais uns tempos. On va voir!

No almoço do 80º aniversário de José Rui - Maio 2010:
José Pires, Luís Diferr, José Ruy e João Amaral

No Salão MouraBD 2011: Victor Mesquita, José Pires e José Ruy

BIBLIOGRAFIA SUMÁRIA DE JOSÉ PIRES
Texto em construção

Irigo, revista Tintin (belga), 1985 a 1987
La mort du batailleur, com argumento de M. Tecedeiro, Tintin, 1988
Will Shannon, O Poço da Morte, Editorial Futura, 1989
Homens do Oeste, Editorial Futura, 1989
Les Templiers: Le Sang et la Gloire, argumento de Benoit Despas, Éditions du Lombard, 1991
Gil Eanes e o Bojador: As Portas do Mito, Grupo de Trabalho do Ministério da Educação para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses,1997
A Viagem de Pedro Álvares Cabral: Ventos de Glória – Marés de Infortúnio, argumento de Nuno Calado, Grupo de Trabalho do Ministério da Educação para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, Edições Terramar, 1998
Pedro Álvares Cabral – Da Serra da Estrela à Costa do Descobrimento, Âncora Editora, 1999
As Asas da Coragem, revista Selecções BD, 2000
História de Gouveia – A Princesa da Serra, Âncora Editora, 2001
História de Celorico da Beira – Terra de Granito e Férrea Vontade, Âncora Editora, 2007
Alexandre Dumas – Le Diable Noir, Benoite Despas (arg) e José Pires (des), Éditions Orphie, 2009
A Batalha do Bussaco – A Derrota Fatal dos Marechais de Napoleão, Câmara Municipal da Mealhada e Edições Âncora, 2011
A Portuguesa – História de um Hino, Âncora Editora, (a editar)
Gil Eanes – O Herói de Lagos, Âncora Editora, (a editar)


Prancha de Fumo de Pólvora em Gallows Crossing - Cavaleiro Andante, 1962

 Capa da revista Tintin (belga) e prancha de Irigo - Le jeu du Pecher, Tintin, 1985 

Irigo - L'or des McGlide, Tintin, 1986

 La Mort du Batailleur, Tintin, 1987

Bertrand du Guesclin, Kuifje, 1988



 Prancha de Les Templiers - Le Sang et la Gloire, Éditions du Lombard, 1991


Prancha inicial de As Asas da Coragem, Selecções BD, 2000


Saluk Hiah, in A Lenda da Moura Salúquia, Câmara Municipal de Moura, 2009



 Prancha de A Batalha do Bussaco, Âncora Editora, 2011

Capas dos álbuns ainda não editados...

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Agradecemos ao autor, a paciência que teve para nos aturar
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