segunda-feira, 12 de setembro de 2011

JOBAT NO LOULETANO – 9ª ARTE - MEMÓRIAS DA BANDA DESENHADA (VII e VIII) – ILUSTRADORES PORTUGUESES NAS PÁGINAS DE “O MOSQUITO” – VITOR PÉON, O AMIGO E O ARTISTA (2 e 3)



9ª ARTE
MEMÓRIAS DA BANDA DESENHADA (VII)


NOSTALGIA (7)
ILUSTRADORES PORTUGUESES NAS PÁGINAS DE “O MOSQUITO” 

VITOR PEON, O AMIGO E O ARTISTA – 2

por José Batista

Na sequência de "Falsa Acusação" e "O Juramento de Dick Storm", publicados n' "O Mosquito", respectivamente nos anos de 1943/44, Vítor Péon desenha seguidamente, ainda em 44, "O Enigma da Mão Enluvada", entre os n.°s 503 e 515 (19 de Abril a 31 de Maio); "Flibusteiros", do n.° 516 ao 531 (3 de Janeiro a 26 de Junho); "Frank do serviço Secreto", do 538 ao 550 (19 de Agosto a 26 de Julho), e "O Explorador Perdido" entre os n.°s 551 e 592 (4 de Outubro de 1944 a 24 de Janeiro de 45).

Constatei, jovem caloiro em 1947, na António Arroio, que a opinião dos meus colegas, na disciplina de litografia, não era de modo algum favorável em relação às ilustrações de Vítor Péon. Havia motivos óbvios para que tal acontecesse, sendo os mais notórios a ligeireza no acabamento de determinadas páginas, o plágio de ilustrações publicadas na altura, bem como a variedade de estilos utilizados, conforme o autor que inspirava a sua febril e extensa produção.

Porém, estas seriam apenas as consequências visíveis de uma situação ignorada pelo comum dos leitores. Colaborador assíduo d' "O Mosquito" a partir de 1943, com ilustrações de BD e simultaneamente colorista nas chapas de zinco que imprimem o jornal, Vítor Péon é convidado por Roussado Pinto, em 45, a colaborar na edição d' "O Pluto" um jornal infantil em tudo similar aquele. A publicação deste, ilustrado quase inteiramente por Péon, força-o a deixar "O Mosquito".

A vida de "O Pluto" é porém efémera e, como se isso não bastasse, o nascimento de uma filha em 47 – Péon, casara em 1944 – a juntar aos dois que já tinha, agudiza a sua já precária situação económica. A mesma situação – convite, saída e fracasso – vivida por ambos (Péon e Roussado Pinto) repetir-se-à quando deixam a Agência Portuguesa de Revistas pela Fomento de Publicações, e depois, após o encerramento desta.

É em relação às pranchas que produz nesse período, por vezes dez por semana, que a opinião é crítica em relação à sua BD. "O Diabrete", semanário infantil dirigido por Adolfo Simões Muller, jornal para onde colabora, pagava um preço irrisório por página, o que exigia de Péon uma produção que secundarizava os caprichos de acabamento que se notavam nalgumas das suas melhores vinhetas.

Regressado a "O Mosquito" em 1949, devido ao afastamento de Cardoso Lopes do jornal, Péon desenha a mais emblemática história aos quadradinhos da sua extensa carreira: "A Casa da Azenha". É notória nesta BD a profunda influência de Will Eisner , tanto no enquadramento das vinhetas como na caracterização de alguns personagens e da técnica desse ilustrador americano. São também desse período "A Vingança do Jaguar", "Tormenta" e "Na Pista da Aventura", que não chega a terminar por entretanto ter sido convidado por Roussado Pinto para com ele relançar "O Mundo de Aventuras", aquando da sua mudança de formato, a partir do n.° 45.

(continua...)

Ilustração de Vitor Péon publicada n' "O Mosquito" n.° 1059, de 17 de Agosto de 1949. "A Casa da Azenha" teve início no n.° 1027 (27/05/1949) e terminou no n.° 1085 (15/11/49). A carga de verismo nalgumas das suas páginas atinge, por vezes, pelo seu excesso, uma amálgama dispensável que de forma alguma as favorece. Daí o notório contraste entre o aligeiramento de umas e a sobrecarga de desnecessários pormenores noutras. 

"O Enigma da Mão Enluvada", entre os n.°s 503 e 515 de O Mosquito (19 de Abril a 31 de Maio) e "Flibusteiros", do n.° 516 ao 531 (3 de Janeiro a 26 de Junho)...

"Frank do serviço Secreto", do 538 ao 550 (19 de Agosto a 26 de Julho), e "O Explorador Perdido" entre os n.°s 551 e 592 (4 de Outubro de 1944 a 24 de Janeiro de 45)
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NOSTALGIA (8)
ILUSTRADORES PORTUGUESES NAS PÁGINAS DE “O MOSQUITO” 

VITOR PEON, O AMIGO E O ARTISTA – 3

por José Batista

O primeiro contacto pessoal que tive com Vítor Péon, – que desde criança comecei a admirar –, foi numa já longíqua noite de 1967, durante uma sua exposição de pintura na Sociedade Nacional de Belas Artes. Cimentámos desde essa data, sempre que o tempo disponível o permitia, uma sólida e cúmplice amizade que se prolongaria até 5 de Novembro de 1991, quando uma fulminante síncope pôs termo a uma brilhante, extensa e acidentada carreira.

Brilhante porque os desenhos que lhe saiam das mãos o saiam também do coração; tinham um fulgor, uma chama – mesmo quando neles se detectava um ligeiro alinhavar face ao tempo que eles próprios exigiriam – a que nenhum dos leitores ficava alheio ou indiferente. Eram vivos, vibrantes, tinham nervo e trepidavam plenos de acção.

Extensa, porque foi sem dúvida o desenhador, no seu tempo – não havia nessa altura um José Carlos Fernandes! – que mais pranchas ilustrou e publicou. Semeou por todos os jornais infantis o seu traço inconfundível – "O Mosquito", "Diabrete", "Pluto", "Faísca", "Camarada", etc... etc... – mas "O Mosquito", foi, sem sombra de dúvida, o jornal infantil que mais fortemente o marcou.

Acidentada, porque Péon só parecia estar bem onde não estava. Quando estabilizava num determinado lugar, depois de acidentadas andanças, a sua cabeça e vontade magicavam novos rumos, novas experiências que, por vezes, traziam, inclusivé, a insegurança até à própria família.

Finda a experiência na Fomento de Publicações, em 1956, Péon inícia o seu períplo pela Europa – Escócia e Londres. Regressa seguidamente a Portugal decidido a enveredar pelo cinema de animação –, e de novo ruma à estrada, desta vez a Paris onde publica BD na editora "Mon Journal". Em 1967, através da "Palirex", Péon realiza, talvez, a melhor colecção de cromos editada em Portugal: "A História das Descobertas", com pesquisa e textos seus.

Retorna definitivamente a Portugal em 1974. É a partir desta data que o nosso convívio se torna mais frequente e, as suas visitas ao meu atelier – pois tinha residência em Carnaxide, fora de Lisboa – mais assíduas. Tardes inteiras, por vezes durante semanas, partilhávamos animada permuta de ideiais, da ilustração à política, da pintura às técnicas narrativas, com a exuberância e vivacidade que lhe eram peculiares. Que tardes de alegre e franca camaradagem não passámos no conturbado periodo do P.R.E.C.! Quis participar "no progresso revolucionário em curso" apostando forte em Pinheiro de Azevedo, mas a repentina morte deste candidato frustou-lhe os intentos e ilusões.

Colaborei com ele na edição de dois ou três números do "Magazine Vip", onde reeditou vário material do "Tomahawk" Tom, que, graças a mim, não se perdeu na voragem do tempo e do descuido. Já o narrei em texto anteriormente publicado.

Ao dar-lhe a novidade que tinha em meu poder alguns originais seus, salvos de uma inapelável destruição, ficou de tal maneira grato que me autorizou, quando o quisesse, a publicá-los, minimamente não contestando a minha propriedade sobre os mesmos. Ele próprio mos devolveu após a sua publicação nesses magazines, fazendo uma referência reconhecida ao amigo que o tornou possível.

(continua...)

Ilustração de Vitor Péon publicada n' "O Mosquito" n° 1165, de 27 de Agosto de 1950, como capa de "Na Pista da Aventura", a sua última história publicada neste jornal, a qual não chegou a completar. Saíram apenas 15 páginas, a última das quais no n° 1184, de 28 de Outubro de 1950.

Página de "A Casa da Azenha", n' O Mosquito nº 1047
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ULISSES (IV e V)
Texto e desenhos de Jobat



Como se pode verificar, a numeração da prancha 5 saíu errada nesta página do Louletano, ostentando o nº VI...
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Agradecemos a Jobat, pelo envio das imagens.
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